10 de abril de 2021

Marcelo Tieppo (1967-2021). Adeus, meu aguerrido e doce amigo-gêmeo!

 


Marcelinho (era assim que a gente o chamava) ficou amigo meu logo nos primeiros dias de aula da turma de Jornalismo da Metodista, em 1987. Com seu jeito discreto (sem ser tímido), seu sorriso doce (sem ser melado) e sua paixão desmesurada pela vida (e pelo Corínthians, pelo rock, pela política, e pelos esportes em geral) me cativou e cativou boa parte da classe (há alguém daqueles tempos que pode dizer: "Eu não gostava do Marcelo Tieppo?"). E como detestava panelinhas - assim como eu -, passou a ser visto em quase todas as turminhas formadas dentro da classe - os que faziam trabalhos juntos; os que gostavam de ficar no Honda's Bar, os mais politizados, os mais "rock and roll", os que simplesmente gostavam de papear com ele, etc. A nossa afinidade foi imediata e as coincidências brotaram: mesmo dia, mês e ano de nascimento (somos de 04/09/1967), corinthianos, ligados na política, apaixonados por rock (eu, Rolling Stones como banda preferida, ele, Beatles) e poesia. Daí para as noitadas no Bixiga e na região da Paulista ( Deus abençoe os 20 anos!), shows inesquecíveis ( Golpe de Estado no Projeto SP, David Bowie no estádio do Palmeiras, entre outros) e rodadas intermináveis de violão no Honda's Bar (com o grande Edgar protagonizando as cordas), foi um pulo. Chegamos a fazer até aniversário juntos (acho que foi 1988) no Café Pedaço no Bixiga, onde apinhamos o bar com as nossas turmas de bairro e da Metô. Em 1989, eu, ele e o Micali (também da nossa classe) fizemos uma viagem ao Rio de Janeiro que marcou muito nossa vida. Aconteceram tantas coisas na cidade maravilhosa em uma semana que daria pra escrever um livro: alugamos um ap em Copacabana, que dependendo do horário, tinha rajada de balas no banheiro do fundo; vimos o gigante Eduardo Dussek andando aceleradamente na madrugada de Copa; andamos tanto descalços no calçadão e nas ruas do bairro que criamos uma casca impenetrável nos pés; assistimos a final da Copa América - Brasil e Uruguai (1x0)- em um Maracanã lotado (132.743 almas), tendo a honra de ver o primeiro título da Seleção depois da Copa de 1970; e conhecemos pessoas incríveis no Rio. Eu tive que voltar antes, mas o Tieppo e o Micali acabaram a viagem em Angra. Na volta, as noitadas continuaram à toda. Em uma delas, na Consolação, eu, o Tieppo e mais uma renca saímos de fininho pra não pagar a conta de um bar, mas esquecemos de avisar um dos nossos, que acabou ficando e pagou a conta toda (não citei nome porque o prejudicado fica puto até hoje quando ouve essa história). Finalmente formados no Jornalismo, ainda saímos juntos por um bom tempo, até que a geografia (eu no ABC, ele no Brás/Pari) e o trabalho (ele no Diário Popular e Gazeta Esportiva, eu na Abril) acabou nos distanciando um pouco. Ficamos um período trocando figurinhas por e-mail e ele começou a namorar firme. Num belo dia anunciou seu casamento. A festa, na Cantareira, foi incrível - Tieppão fez questão de servir um vinho especial da adega do tio na taça de cada um dos amigos da Metô presentes - o Ricardinho lembra o gosto dele até hoje. Batalhador e profissional que só, Marcelito foi galgando a profissão com muito entusiasmo e  competência - e conquistando amigos em todas as redações por onde passou. Teve quatro filhos - dois no primeiro casamento (Gabriel e Luísa) e dois no segundo (Felipe e Camila). Depois que eu casei e tive dois filhos, voltamos a nos encontrar, principalmente nas festinhas de aniversário dos nossos rebentos. Houve um encontro de dez anos da formatura em 2000, mas nesse eu não fui. A partir de 2008 esses encontros ficaram frequentes e começamos a reunir parte da turminha da Metô nos bares próximos ao seu ap, na Vila Mariana - ele sempre foi um dos que mais agitaram para que nos encontrássemos frequentemente. Também tivemos a oportunidade de ir juntos, num domingão, visitar o maior acervo particular sobre futebol do Brasil, também na Cantareira. Uma tarde saborosa. Até que em 2014, ele descobriu um câncer agressivo e a real extensão do que ele passou nesse período só fomos descobrir mesmo em seu livro lançado no ano seguinte, "Tocando a Vida - Uma Travessia para Continuar na Briga" (Editora Letras do Brasil), onde narrava com muita sensibilidade sua luta contra a doença e como a música dos Beatles o ajudaram nesse processo. Uma grande vitória que muitos da velha turma da Metô fizeram questão de brindar e prestigiar no lançamento do livro. Após a doença, mudou a sua frequência: passou a administrar o trabalho com mais tempo ao lado da esposa Érica e seus filhos, começou a jogar tênis e curtir cada precioso momento. Mais sereno do que nunca, quando veio a pandemia, chegou a me mandar umas poesias que estava fazendo. Muito boas, por sinal. Mas no final de 2020, o câncer voltou e mais uma vez os amigos só souberam que algo não estava bem quando o viram de cabelo raspado em um post. Liguei imediatamente para ele e expus minha preocupação, mas ele, sempre bom driblador (na conversa, porque no futebol mesmo, sempre foi perna de pau) desviou minha atenção para a política, para o futebol, e outras amenidades. Antes de desligar, ainda cogitei que ele poderia escrever outro livro. Ontem, o baque, o murro no estômago, a dor inenarrável: em um post no grupo da turma de jornalismo, a notícia de que o querido Marcelo Tieppo tinha falecido. Por mais que soubesse que ele estava lutando mais uma vez contra a doença, a impressão que eu tinha comigo é que ele venceria mais uma vez, por mais difícil que fosse. Não deu. Passado um dia do ocorrido, a dor ainda lateja muito no peito e a saudade contorce, mas a sensação de que ele está muito melhor agora, sem a doença, longe dessa pandemia e das tantas mazelas do mundo, acaba sendo um alento. Quando soube pelo Bob e o Nilson, que foram ao enterro, que seus últimos dias foram ao lado da família, sem sofrimento e bem cuidado, isso também me confortou. Nosso aguerrido e doce amigo Marcelinho, com certeza tem uma missão importante a cumprir, para se desvencilhar do seu corpo na Terra, assim, tão precocemente. Aqui, nos deu a honra de sua amizade e lealdade e semeou amor e generosidade por onde passou. "Here, There and Everywhere", estaremos sempre com você, nobre amigo. 


 Aniversário do Felipe (2005): Érica com Felipe, Tieppo, eu, Gabriel, Cris e Letícia


                                                    Tieppo, Nilson e eu - 2011

 Um dos encontros da turma: Tieppo, Bob, eu e Ilsão (2018)


    Lançamento do livro "Tocando a Vida" no bar Genuíno (dez/2015): Bob, Rai, Tieppo e eu

       

                               Tieppo, eu e Vivi - final de 1987 (foto: Adriana Gomes)

                            

    Encontro da turma em 2014: Bob, Burghi, eu, Beth, Cidoka, Tieppo, Luti e Rai



8 de abril de 2021

Mestre Rubens Cordeiro (1934-2020), quanta honra!

 Essa foto, que o Baraldi me enviou na semana, é muito preciosa para mim. Captura o momento em que tive a honra de trocar algumas palavras com um dos grandes mestres do quadrinho nacional, um ás da arte-final, insuperável: Rubens Cordeiro. Esse momento aconteceu no evento "Sketchcon III, promovido em 13/10/2019 pela Editora Criativo na Vila Mariana -SP. Foi um dia memorável em que 65 autores de quadrinhos lançaram ou relançaram suas publicações pela editora citada, incluindo aí grandes mestres da nona arte como Julio Shimamoto, Osvaldo Talo, Edu Pereira, Franco de Rosa, Walmir Amaral, Ignácio Justo, e muitos outros. Entres eles, Rubens Cordeiro, um gentleman, que na ocasião já contava com 85 anos e estava radiante ao encontrar colegas das antigas. Rubão, como era chamado pelos mais íntimos, faleceu um ano e dois meses depois, em dezembro de 2020, e vendo em retrospecto, aquele evento acabou sendo uma despedida dele para muitos amigos e admiradores. Agora em 2021, uma surpresa muito boa a ver com o mestre Rubens está sendo gerada e quando eu puder, compartilhei aqui no blog. Segue em paz, mestre, em sua nova jornada, e obrigado por esse momento único, devidamente fotografado, naquele dia tão especial. (na foto, eu, mestre Rubens Cordeiro e Baraldi).