Luiz Carlos Maciel morreu no dia 09/12 aos 79 anos e deixa o planeta e o Brasil nesta sua última existência com o epíteto de "Guru da Contracultura", título que não gostava, mas que não tinha como se livrar, já que ele foi sim o principal divulgador e perscrutador da Contracultura no país, desde o início. Se no começo de tudo, focou na Filosofia, formando-se e escrevendo ensaios sobre grandes pensadores, e caiu na direção e dramaturgia como ator, diretor e roteirista, ficando próximo de Gláuber Rocha ( que o chamou para protagonista de seu curta "A Cruz na Praça", filme considerado desaparecido) e vindo a morar em Salvador, foi durante a Tropicália, quando já no Rio e escrevendo para jornais e revistas, iniciou amizades perenes com Caetano Veloso, Helio Oiticica, José Celso, Torquato Neto, entre outros, que lhe deram subsídios preciosos para seu mergulho ininterrupto ao âmago da Contracultura. A censura irrestrita às suas peças - principalmente "Barrela" de Plínio Marcos, ajudou também nessa mudança de foco. Este "casamento" cultural pessoal o transformou no "colunista e escritor da contracultura" que surgia com tudo logo após o verão hippie de 1967 e se entranharia na sociedade brasileira até pelo menos a metade da década seguinte, dando trabalho e confundindo totalmente a Ditadura Militar. Escritos criados em redações como Fairplay, Correio da Manhã e JB deram combustível para o seu ápice como colunista fixo do Pasquim em sua fase primeira, à convite de Tarso de Castro. Sua coluna "Underground" fez história ao falar de temas tabus ( alguns são até hoje) , desmitificando e dando rasteira em hipocrisias crônicas da sociedade. Adentrou os anos 70 no Pasquim, mas na primeira mudança de direção e pouco depois de ser preso com quase todo mundo da redação ( saiu Tarso, entrou Millôr - e este não aceitava tanta contracultura assim) saltou para outros desafios na mesma vibe - criou o emblemático "Flor do Mal" ao lado de Torquato Neto, Tite Lemos e Rogério Duarte, que durou cinco edições mas revolucionou o jeito de se criar jornalismo underground, fazendo uma ponte concreta entre a esquerda não radical e o desbunde com o lema "A Liberdade da Loucura de Cada Um". Charles Baudelaire era "o cara".
Engatou a direção de redação na versão tupiniquim da Rolling Stone, que se mostrou tão independente e anárquica (tratando de ecologia, feminismo, macrobiótica, drogas, além da música) que fez a matriz deixá-la à deriva logo no início, o que ajudou na sua vida curta.
Continuou contra a maré da ditadura até o fim da década e início dos 80 em periódicos como "Enfim" e "Careta" ( não por coincidência projetos de Tarso de Castro) até que a Rede Globo ( a contra contracultura de nascença) o laçou e ele ficou lá como roteirista por 20 anos. Tudo bem que em projetos especialíssimos como a bio de João Gilberto, musical com Gal Costa, o programa Chico & Caetano, etc, mas a partir daí, o independente LCM se viu no outro lado da moeda. Continuou com seu texto primoroso, sempre desvendando a contracultura e revelando pensadores filosóficos. Escreveu ensaios, projetos especiais, colunas esporádicas, livros. Participou do Folhetim da Folha de S.Paulo ( de novo, Tarso). Seus últimos escritos na imprensa foram na Folha também, para o caderno Ilustríssima, entre 2015 e 2016. Foi consultor do seriado "Os Dias Eram Assim" depois de se ver desempregado por um ano. O efisema o pegou neste fim de 2017. Luiz Carlos Maciel, contracultural até a raiz, se foi com a mesma transgressão e o mesmo poder analítico que permeou sua vida toda.