10 de setembro de 2019

Cláudio de Souza Fragnan (1947-2019)

Soube hoje da morte de um dos maiores colecionadores de quadrinhos e discos do Brasil, que eu tinha também como amigo: Cláudio de Souza Fragnan. Ele morava no Rio de Janeiro e vinha lutando desde o ano passado contra um câncer. Uma das grandes felicidades minhas nesse meio do colecionismo foi ter conhecido o lendário Fragnan - lendário por ser um colecionador raro, dos que só colecionam itens impecáveis e preferencialmente com mais de 50 anos de idade. Essa peculiaridade cabia para os gibis e os LPs, embora no caso dos discos havia lugar também para os CDs. Fragnan colecionava revistas em quadrinhos dos anos 60 pra trás ( salvo raras exceções) e elas tinham que estar em "estado de banca". Se não estavam, ele fazia de tudo para trocá-las posteriormente, quando encontrava um exemplar melhor. O mesmo valia para seus discos: ele foi amigo pessoal de alguns músicos ligados à bossa nova e ao som instrumental da boemia carioca dos anos 60, entre eles, o eclético Ed Lincoln, e sua coleção de discos, impecável, logicamente, focava nesse universo musical. Tive alguns momentos excelentes com o Cláudio: em alguns telefonemas, chegamos a ficar conversando sobre quadrinhos e música por quase uma hora! E foi nessas ligações Rio-São Paulo que eu soube um pouco mais de sua vida: seus tempos de Banco do Brasil, sua aposentadoria, a fundação do Gibi Clube em 1983 e a abertura de sua própria loja de quadrinhos, sua longa amizade com Ed Lincoln. Outro momento sublime e pra mim inacreditável, foi quando ele me contatou para comprar alguns gibis de terror das editoras Chiodi e Novo Mundo que eu tinha encontrado em um sebo de São Paulo. E não era só mais uma troca do colecionador obstinado por um exemplar em melhor estado - do lote que eu adquirira, uma das revistas ele estava atrás há tempos. Foi realmente uma honra! Além dos longos papos na internet, o último grande momento com ele foi em abril deste ano no último Festival Guia dos Quadrinhos ( que acabou sendo o último mesmo). Ao lado do estande que eu, o Francisco Ucha e o Alexandre Morgado dividimos, lá estava a pequena mesa do Cláudio, com algumas dezenas de gibis incrivelmente intactos para os seus mais de 60 anos. Finalmente eu tinha a oportunidade de conhecê-lo ao vivo. Ele estava visivelmente debilitado, mas bastava aparecer em suas mãos algum gibi raro para imediatamente acender um brilho intenso em seus olhos de especialista e apaixonado. Foi a última vez que consegui conversar pra valer com ele - rimos, nos divertimos, ele me vendeu alguns gibis ( e ele me comprou alguns, mais por amizade que qualquer coisa...rs) e combinamos ali vários projetos ligados aos quadrinhos. Tentei contato em junho e julho, e ele me mandou uma mensagem breve, dizendo que estava resolvendo um assunto sério e que depois nos falávamos. O tempo, inexorável, infelizmente não permitiu. Espero, Fragnan, que a sua passagem para o outro plano seja da forma mais tranquila possível. Obrigado por sua amizade! E que seu legado para a história da História em Quadrinhos brasileira possa de algum modo ser apreciado pelas gerações futuras.
(da esquerda para direita: Francisco Ucha, Cláudio de Souza Fragnan e eu - FGdQ abril de 2019)

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