29 de julho de 2009

Garimpagem 2


No outro post sobre garimpagem, destaquei a importante presença de Charles Gavin no campo da arqueologia discográfica. Citei também o pioneiro Marcelo Fróes, e seria tremenda injustiça não incluir aqui, detalhes de seu incessante trabalho de resgate e preservação da memória musical brasileira. Conheci o intrépido pesquisador carioca em meados dos 90 no Dedoc (Departamento de Documentação) da Editora Abril - onde tive o prazer de trabalhar por 12 anos e angariar bons amigos -, embora já topasse com sua assinatura em vários artigos, principalmente sobre os Beatles, uma de suas grandes paixões e responsável por sua entrada no jornalismo cultural. Também já tinha alguns exemplares do tablóide International Magazine, periódico musical fundado por Marcos Petrillo em 1990 e que contou com Marcelo Fróes como sócio e editor a partir de 1994. Aliás, não foi feito ou pelo menos não vi nenhum estudo sério sobre a importância deste veículo na história do jornalismo cultural, o que subestima o seu conteúdo irrepreensível. Suas longas entrevistas - que até viraram livro-, seu dinamismo editorial e a cobertura da música em todos os níveis e vertentes por quase duas décadas, fazem do IM uma primordial fonte de consulta sobre o período. O único porém é a sua distribuição, mas o jornal passa nesse momento por uma reestruturação que visa melhorar este e outros pontos. Mas voltando ao "agitador cultural" Marcelo Fróes, como ele mesmo prefere ser chamado, desde aquela época do nosso encontro ele já andava "fuçando" as gravadoras em busca de áudios originais, às voltas com a pesquisa de seu livro sobre a Jovem Guarda. Mas foi numa das visitas ao seu mestre e amigo George Martin, o homem por trás das inovações musicais dos Fab Four, quando presenciou seu trabalho nas fitas originais dos Beatles para o projeto 'Anthology', que ficou clara a sintonia com o seu trabalho no Brasil. O resultado deste 'insight' foi a produção da bem sucedida caixa de CDs "Ensaio Geral" pela Polygram, fruto de uma extensa garimpagem nas fitas originais de Gilberto Gil. A partir daí, seus projetos multiplicaram-se: em mais de 15 anos, quase duas centenas, entre livros, produções, CDs, DVDs e antologias diversas (ver aqui,cada projeto em detalhe: http://www.discobertas.com.br/projetos.php ).Toda essa ‘hiperatividade’ culminou no seu mais ambicioso e pessoal projeto até então: o selo Discobertas. Arquitetado em 2002 e lançado em 2006, só virou realidade em 2007, quando encontrou a providencial parceria da gravadora Coqueiro Verde, de Erasmo Carlos, capitaneada por Leo Esteves, seu filho. Ao longo de um ano, a empresa do Tremendão distribuiu os primeiros 20 produtos do selo, tornando-se imprescindível nesse período inicial de consolidação. Agora, a partir de agosto, Discobertas ganha ares de uma modesta gravadora, com fabricação e distribuição da Microservice, que já opera com gravadoras como Som Livre, MZA e Deckdisc. Já são vários lançamentos, onde destaco o primeiro projeto, “Zé Ramalho da Paraíba”, com registros históricos e inéditos do inicio da carreira do compositor nordestino e “O Trovador Solitário”, resgate em disco da antológica fita cassete gravada por Renato Russo em seu apartamento, só ele e o violão, no período entre o término do Aborto Elétrico e o início da Legião Urbana. Renato Russo, aliás, que virou amigo e confidente de Marcelo Fróes, dando-lhe o privilégio da última entrevista em vida.
Marcelo Fróes, que nunca se considerou pesquisador ou ‘arqueólogo discográfico’, preferindo o termo produtor, sempre foi multicultural, daí a dificuldade em classificar suas atividades. Advogado, escritor, editor, produtor, pesquisador. Pois, agora, Fróes, descobri mais uma: ‘discobridor’.

Conheça melhor o selo Discobertas.

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