Pelas mãos do antenadíssimo Rick Berlitz, surgiu em meu e-mail um texto do Luis Antonio Giron, na penúltima Época ( http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI88360-15230,00-DELETE%20O%20MP%20DE%20SUA%20VIDA.html), polemista histórico, sobre o espalha-brasas MP3. Embora ficasse sempre com um pé atrás ao notar a assinatura de LAG nos tempos da Folha de São Paulo, pelo seu cacoete de polemizar a todo custo, de uns tempos pra cá, ando aceitando mais seus escritos "do contra" - mudei eu ou o Giron?
O texto em questão está muito bem construído e o assunto é periclitante. Foi só eu mandar pros amigos, ressaltando ter gostado, e a polêmica se instaurou. Um respondeu que eu estava de caso com as gravadoras; outro, que a Associação dos Produtores agradecia tantos gracejos técnicos; dois outros concordaram com o autor...
Aticei o fogo da fornalha de propósito. De minha parte, acho válida a discussão, pois até hoje, mesmo com o domínio total dos downloads , as grandes gravadoras não moveram uma palha para aliviar o lado dos consumidores. Continuam os preços exorbitantes, os caça-níqueis, o desleixo com o produto final. E se repararmos bem na matéria do Giron, o vilão apontado não é só o MP3 , mas o CD também. Daí, acho que para o bem geral da nação musical, musicista e musicólatra, devemos pesar bem a balança:
- Criticar as majors sim, mas sempre lembrando que existem os pequenos selos que merecem atenção: Dubas, Discobertas, Biscoito Fino, Revivendo...
- Democratizar os formatos. Cds, LPs, MP3 – há espaço para todos. Demonizar um para enaltecer o outro, não faz bem pra música.
- música é patrimônio, arte, criação, autoria, história, bem cultural.... ouvir música é muito mais que botar no iPod, mastigar e jogar fora como chiclete.
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Ia fechar o post assim, mas eis que me chega uma resposta instigante do meu amigo JM, botando mais lenha na fogueira e focando um ângulo inusitado, que eu sequer triscara em meus dilemas. Ele é advogado especializado em direito autoral, o que joga mais luz em seus comentários; Segundo JM, existe um movimento das gravadoras para a volta ao formato “bolachão”, não pelo som mais límpido ou nítido, mas pelo motivo de sempre: o lucro. As majors perceberam que deram um tiro no pé com o CD, já que não dá pra prensar LP em fundo de quintal, enquanto o disquinho laser sim – o formato portanto, atraiu a pirataria de forma irreversível. Para o meu amigo, portanto, esse argumento técnico é conversa fiada e só serve para cativar mentes e corações para a volta do LP que já vem sendo engatilhada.
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Com a labareda bem alta, fecho a discussão, mas não a questão. De tudo o que foi dito e escrito, só torço por uma coisa, que eu prezo e vou defender: a MÚSICA. Salvemos a música, razão desse bafafá todo.
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A outra metade dessa discussão pode ser conferida no blog do Rick Berlitz, o responsável por essa movimentação salutar de opiniões: http://foton-atomo.blogspot.com/
A analogia ( comparação ) usada pelo Giron é simplesmente clara. Ouvir mp3 - para quem já ouviu suportes mais antigos, como gravação A-Dat, fita de rolo e o velho e bom vinil - é como ver Scarlett O'Hara numa nanotela de cristal liquido na chacoalheira do ônibus. A imagem tem compressão para se chegar num ponto de caber num aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, às vezes até menor.
ResponderExcluirGlobalização sempre foi um termo muito usado na virada do século passado. Hoje não se fala mais nisso porque ela está no sangue de cada cidade. A globalização cumpriu a promessa de facilidade e acessibilidade digital. O mp3 é a prova disso. Discos dos anos 1970, 1960 e até anteriores a isso estão lá, postados em algum blog ou em um compartilhador de arquivos. Basta saber encontrá-los. E - de novo - a facilidade da divulgação através de email. Quem não tem um e-mail nos dias de hoje está morto.
A contrapartida dessa facilidade de acesso digital é que, no meu modo de ver - e ouvir - é que o original ficou valorizado ao menos sentimentalmente. Quem tem um LP da novela "Estúpido Cupido" com trilha sonora preservada e capa impecável procura o mp3 pra baixar na internet e deixa guardado o LP. Mas não se compara a qualidade sonora de um LP com o esdrúxulo mp3.
Todos conseguem diferenciar um som de mp3 para um CD, certo? Pois bem. Para colocar um som com a qualidade vinílica numa mídia digital é necessário um disco de DVD ( 4,7GB ) pois a qualidade não cabe num CD ( 800MB ).
Para quem quiser entender mais essa relação digital-analógico do áudio, escrevi um post no blog da Feira Livre do Vinil, aqui, ó: www.feiralivredovinil.blogspot.com