2 de dezembro de 2009

Milton Andrade - uma vida dedicada à cultura


Foto: Luzia Maninha/Livraria Alpharrabio

Hoje cedo, bati o olho no Diario do Grande ABC pendurado na banca do Carlão e logo vi a notícia, no rodapé da primeira página: "Morre aos 72 anos, Milton Andrade". Já sabia que ele lutava contra um câncer, mas essas notícias sempre nos pegam no contrapé e nos derrubam. Para quem não sabe, Milton foi um dos maiores ativistas culturais da região do ABC, produzindo e incentivando diversas manifestações artísticas e literárias. Nascido em Itapira e formado em Direito e Letras, adotou o ABC como lar e celeiro de idéias e projetos nos anos 60, logo mostrando ao que veio. Montou grupo de teatro, organizou o Salão de Arte Contemporânea de Sao Caetano em 1967 e um ano depois, foi o artífice da Fundação das Artes de São Caetano, entidade que dirigiu por 16 anos e transformou em parâmetro para a área. Nas ocasiões em que desgarrava-se da região, também deixava marcas: coordenou o Festival de Inverno de Campos de Jordão,em 1980, criou a Orquestra Sinfônica Juvenil do Estado de Sao Paulo e foi diretor-técnico do MAM de São Paulo. Lecionou Literatura, escreveu matérias literárias e teatrais para jornais e depois de muita relutância, lançou "O Inventor de Paisagens", seu único livro de poesia, em 2001, pela Alpharrabio Edições. Como ator e diretor, participou de diversas peças, muitas delas premiadas, e dos anos 90 pra cá apareceu nacionalmente em novelas e minisséries da TV Globo como Terra Nostra, Esperança e Os Maias. A sua figura distinta direcionava-o para papéis de juíz, padre ou executivo e foi assim, elegantemente, que o Brasil conheceu-o. Tive o privilégio de estudar na segunda turma do Colégio Eduardo Gomes em 1983, na gestão dele como diretor. 10 anos depois, reencontrei-o algumas vezes na porta do Chaplin Bar, altas horas da noite: eu com minha turma de rock alcoólico, ele, vizinho da balbúrdia, pedindo encarecidamente que fizéssemos menos barulho- mantinha a elegância até nessas horas. Nos anos seguintes, batemos papos rápidos em encontros esporádicos no bairro e eu sempre fiquei com uma baita vontade de me convidar pra ver sua lendária biblioteca particular de 10 mil volumes. Por vergonha, nunca mencionei-a, mesmo sabendo que as portas de sua casa estavam sempre abertas para estudantes, pesquisadores e eventuais caçadores de sabedoria. A sua intenção nunca foi guardar sabedoria, mas transmití-la. Por isso essa ânsia em ensinar e essa militância cultural perene. É por essas e outras, que Seu Milton vai deixar saudade...

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