21 de janeiro de 2010

Pérolas do Vinil 4: Paranga - Chora Viola, Canta Coração (1982)


Eu comprei este disco em meados do ano passado, na feira de vinil de Santo André, mais uma vez pelas mãos do glorioso Carlinhos. Ele, que sempre dá ótimas dicas, me mostrou esse disco entre outros, e eu, embora conhecesse o grupo Paranga de nome mas não conhecesse sua música, acabei levando-o no pacote. Botei na vitrola e de lá pra cá virou uma das bolachas mais assíduas em meu velho prato giratório.
O grupo Paranga já é importante referência na história da música regional do Estado de São Paulo. Surgido lá no meio dos 70 por um bando de cabeludos da cidade de São Luiz do Paraitinga, logo chamou atenção por misturar a cultura tradicional caipira com o rock e outros gêneros. Moldando a sua essência, a obra de Elpídio dos Santos, famoso compositor das trilhas dos filmes de Mazzaropi e pai de quatro integrantes da banda ( Negão, Pio, Parê e Nena), dando o prumo e a direção, como bússola.
Para chegar ao seu primeiro disco, o Paranga absorveu influências diversas e enveredou-se pelas raízes de Paraitinga: primeiro, embrenhando-se pelos bairros rurais da cidade, das folias de reis e moçambiques; em seguida, mergulhando no velho baú de guardados de Elpídio dos Santos. Enquanto isso, a formação crescia, com a inclusão de instrumentistas de sopro oriundos das fanfarras locais. Rapidamente o grupo passou a ser conhecido como "big band caipira", composto de violões, violas, cavaquinho, percussão e sopros, além das vozes femininas. No caldo, música de raiz, rock, MPB, foxtrot, choro e marchinhas carnavalescas. Toda esse caldeirão cultural fumegante vindo da serra interiorana, chamou a atenção do selo Lira Paulistana, que já tinha em seu cast, os mais inquietos e experimentais músicos da época, como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Rumo, Premeditando o Breque e Língua de Trapo, todos eles virando do avesso a estética vigente. Em 1982, o Paranga se juntou aos bons e fez parte do movimento batizado de "Vanguarda Paulista", com shows no lendário teatro Lira Paulistana e a gravação do aguardado primeiro LP, "Chora Viola, Canta Coração". O disco ficou do jeito que a banda queria: reverência às raízes, resgate da bela obra de Elpídio, pitadas de rock e choro, sopros dando o ar fanfarresco necessário, rodízio de vozes. Um amplo, belo e singelo trabalho, que conquistou seu lugar entre as mais importantes obras da discografia paulista.
Trinta anos depois, o Paranga segue firme e forte, mesmo depois de várias mudanças de integrantes, graças à obstinação do casal Negão dos Santos e Renata Marques. Depois de ressuscitar o carnaval de Paraitinga no início dos 80, hibernado por anos, o grupo uniu com mais fervor a marchinha junina e a marchinha carnavalesca e lançou um disco momesco em 95 (Porque Hoje é Carnaval), quando o carnaval de rua da cidade já virara atração turística. Nos anos 2000, intercalando pesquisas musicais e a evolução natural de sua face carnavalesca, o Paranga chegou à 2009 com a força necessária para a homenagem aos 100 anos de Elpídio dos Santos, que levou à São Luiz do Paraitinga uma multidão para ver o show com Zé Geraldo, Renato Teixeira, Zeca Baleiro e Fafá de Belém, entre outros, transmitido em rede nacional pela Bandeirantes e que deve virar DVD em breve.
Hoje, depois da tragédia das chuvas, a cidade tenta se reconstruir. Ouvindo o velho Paranga em minha vitrola, com suas modinhas e raízes embutidas de emoção e encantamento, tenho certeza que a cidade se reerguerá, pois reconstrução e renovação sempre fizeram parte do ciclo natural de sua história.
(imagens: Capa do disco "Chora Viola, Canta Coração"; e retrato de Elpídio dos Santos)
Atualização (em 12/05/2015) - ver nos comentários...
http://www.paranga.com.br/

Um comentário:

  1. Em maio de 2015, a integrante do grupo Paranga, Lia Marques, escreveu no blog sobre o post acima. Além de ter comentado que o grupo ficou muito feliz com o que foi escrito sobre o disco, aproveitou para incluir informações sobre a discografia oficial da banda: o grupo Paranga lançou entre 2000 e 2006, mais dois discos - "Em Nome do Pai, do Filho, do Elpídio dos Santos (2000) e "Carnaval é Bom, com Você é Bem Melhor" (2006). Agradeço muito à Lia pelo contato e vou ouvir atentamente o novo disco do Paranga lançado em 2015! Como se vê, o grupo prossegue firme na labuta!

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