Aproveitando o gancho do Noel, deixo também o meu desabafo. Li no Estadão ( aliás, ótima matéria do Lucas Nobile, na segunda-feira, que meu deu subsídios para este e também o post anterior), que o livro Noel Rosa - Uma Biografia, de João Máximo e Carlos Didier, está embargado! é isso mesmo: embargado, impedido, paralisado; o que nos faz relembrar, e não tem como não relembrar, o caso da biografia do Roberto Carlos.
A biografia de Noel, que eu comprei assim que saiu, é uma das obras mais completas e detalhistas sobre a vida de um músico brasileiro e embora passe longe do sensacionalismo, incomodou as herdeiras do legado do compositor carioca, filhas do seu irmão Hélio Rosa. Resultado: a obra ficou em catálogo até 1994 e por culpa deste embrólio, nunca mais foi reeditada, tornando-se artigo de colecionador - alguns exemplares à venda na internet chegam a R$400,00.
A biografia, de 534 páginas, resgatou momentos obscuros e mal explicados na carreira do Poeta da Vila, e tanto fez emergir composições até então perdidas, como trouxe à tona episódios polêmicos de sua vida - daí certamente a intervenção da família. Pra piorar a situação, os autores Didier e Máximo não se falam desde 1997, o que dificulta ainda mais uma negociação amigável ( na matéria ao menos, parece que há uma chance de reaproximação de ambas as partes).
A lei a respeito das biografias precisa ser revista no Brasil, pois enquanto autores, herdeiros e advogados digladiam-se nos tribunais, fãs, alunos, historiadores, pesquisadores, jornalistas e amantes da história cultural brasileira são impedidos de ter acesso à tão rica e profunda informação. Noel, Cartola, Adoniran ( que tem pelo menos sua ótima biografia feita pelo Celso de Campos Jr, reeditada em 2010), Nelson Cavaquinho, Silas de Oliveira, Geraldo Filme e tantos outros deveriam na verdade entrar no currículo das escolas primárias e secundárias e seus livros e biografias, livres de ameaças e tribunais. Eles e suas obras são maiores do que qualquer desavença terrena.