Como o quilométrico post anterior citou, as Cilibrinas do Éden eram Rita Lee e Lucia Turnbull nos idos de 1973, logo depois da primeira ter saído dos Mutantes. Na verdade, podemos considerar que Lucinha também saiu do grupo, pois no LP de 1972, O primeiro Dia do Resto de Sua Vida ( solo de Rita Lee, mas com toda a trupe mutante à tiracolo), participou cantando e tocando guitarra. A proposta da dupla relâmpago era fazer um rock acústico e baladeiro, e esta linha foi sua ruína: o público queria ver ao vivo um som parafernálico a la mutante e encontraram flautas, vocais suaves e theremin. Na estréia das Cilibrinas, no Phono 73, algumas vaias e um suspeito silêncio sobrepujaram os poucos aplausos. Lucia sentiu na pele o clima e Rita declarou na época que o som ficou uma droga. Será mesmo? Ainda assim, seguiram, e conseguiram gravar um disco pela Philips, mas como reza a lenda - e essa história de cilibrinas e éden está coberta de lenda - o boss André Midani interviu pessoalmente e abortou o projeto. E a lenda segue emocionante: em represália ao ato ditatorial do chefe, Rita se uniu a Tim Maia, desafeto recente de Midani, e destruiu seu escritório na gravadora em uma certa madrugada. Outra boa, e esta não é lenda: no seu disco solo, Arnaldo Baptista dá uma cutucada em Rita em trecho da música Ce tá pensando que eu sou lóki?: "cilibrinas pra lá, cilibrinas pra cá, eu tô velho mas gosto de viajar…"
O disco de 10 faixas tem um ar amador e desencanado que soa intencional, em oposição às suítes roqueiras de então. Há belos momentos vocais e sons que remetem à dupla hippie Luli & Lucinha ( contemporâneas, mas que só gravaram anos depois). O grupo acompanhante era o Persona, com Carlini, Marcucci e Emilson, um pouco antes de virar Tutti Frutti. Muitas músicas foram reaproveitadas anos depois: Mamãe Natureza foi recauchutada pela Philips e utilizada no disco de estréia do Tutti Frutti no ano seguinte; Bad Trip inspirou Shangri-lá, do repertório solo de Rita e Gente Fina é Outra Coisa transformou-se em Loco-Motivas, faixa da trilha da novela global homônima de 1977 com o Tutti Frutti.
Um disco descolado e bacana, simples até, que no distanciamento do tempo, ganhou sua aura de brilho. Virou lenda, mas está disponível pra quem quiser conhecer, graças à fãs incondicionais que o lançaram em LP e vinil em 2008 na Europa ( e inevitavelmente dowloadou pela internet) e disponibilizaram página no MySpace.
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