27 de abril de 2012

Qua saudade, Itamar!

Itamar Assumpção foi um dos maiores artistas que este país já viu: bom compositor, boa voz, bom instrumentista, performático - o homem era artista completo. Por fazer um som totalmente único, misturado com samba/rock/mpb/poesia concreta e experimentalismos vários, Itamar foi como tantos outros, erroneamente tachado de "maldito" ( ô rótulo maldito esse). Me sinto privilegiado por ter sido contemporâneo seu e pertencer a um seleto grupo que acompanhou sua carreira e discografia a fundo. Hoje, quase nove anos de sua morte, quando boto seus LPs para tocar em minha surrada pickup, percebo o quanto falta de inspiração/ irreverência e presença de espírito na nova música brasileira que toca por aí. É aquela mesma coisa de sempre: os caras mais surpreendentes, inusitados e originais existem ainda e estão fazendo sua música, só que de forma independente, em gravações e vídeos caseiros que triscam a internet, mas logo somem diante da profusão de novidades que transbordam a mesma web. Se Itamar estivesse vivo, certamente ele estaria firme e forte no underground paulistano, lançando discos esporádicos, fazendo shows inesquecíveis, encontrando outros benditos amigos como Naná Vasconcelos, Alice Ruiz e Jards Macalé, ajudando seus rebentos a fazer um "som". Embora em outro plano, o compositor ainda é mestre para muitos, um grande farol iluminando essa turma nova da periferia que busca a música própria, despoluída da moda induzida e dos hits pré-fabricados. Itamar Assumpção está presente como sempre, mas ouvindo suas ricas e libertárias obras que passam sob a agulha de diamante, um pensamento me escapa e não tem como: "que saudade, Itamar".

Cenas do documentário "Mapas Urbanos ( Grifa Filmes/GNT 1999 - diretor: Daniel Augusto):
http://www.youtube.com/watch?v=M-jVdtAUvNs
http://www.youtube.com/watch?v=E0iUjM-PAVo&feature=channel&list=UL
http://www.youtube.com/watch?v=_nzA4ZzYQFw&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=E-cHryKMMfw&feature=relmfu

Programa Mosaicos ( TV Cultura-2009):
http://www.youtube.com/watch?v=Z5kN_eLXBtk
http://www.youtube.com/watch?v=dGvhqzpwkUw&feature=channel&list=UL

25 de abril de 2012

Grampá vê Dylan

Dica boa do Léo Engelmann, como sempre. O quadrinhista Rafael Grampá, recebeu convite da Folha de S.Paulo para registrar em forma de quadrinhos a sua visão sobre o recentíssimo show ao vivo de Mister Bob Dylan em São Paulo. Detalhe: o homem tinha vetado jornalistas e repórteres em sua turnê por aqui. Vejam como ficou:
Rafael Grampá relata em quadrinhos show do Bob Dylan em SP

13 de abril de 2012

Baú do Seu João 5 - Revista da Escola Panamericana de Artes - Curso dos Famosos Artistas (1962)

Sempre que mexo nas caixas do Seu João, surge uma surpresa daquelas! Hoje não foi diferente: ao procurar alguns exames seus em uma velha mala ( o coitado está de molho no hospital, aguardando para colocar um pino em seu fêmur, que quebrou), eis que surge uma interessante revista institucional da Escola Panamericana de Artes, anunciando um grandioso "Curso dos Famosos Artistas". A revistona, de 15 páginas e medida 21x30cm, é inteiramente direcionada para o tal curso, mas chama a atenção por destacar os "grandes artistas" que lhe dão nome, incluindo pequenas biografias de cada um e as respectivas assinaturas. Interessante também notar Ziraldo como diretor da instituição (aos 32 anos), e como tal, assinando o editorial. Entre os "grandes", célebres artistas plásticos, ilustradores renomados da publicidade e do meio editorial e cinco grandes nomes dos quadrinhos: Jayme Cortez, Getúlio Delphin ( que logo cairia na publicidade também), Flavio Colin ( um dos poucos que foram pra publicidade mas acabaram voltando para as HQs), Ivan W. Rodrigues ( um dos maiores ilustradores de nossa historiografia - depois de anos na Ebal e outras editoras, voltou-se para ilustrações de livros) e o próprio Ziraldo. Destaquei algumas páginas da publicação para apreciação ( a capa é do Vieytes):

Em família, na emocionante Exposição Quadrinhos'51

No final de março, tive o prazer de visitar a Exposição Quadrinhos '51(já comentada aqui). E melhor ainda, acompanhado de minha esposa e filhos.Ver in loco, como obra de arte que são, originais dos maiores mestres dos nossos quadrinhos, além de revistas raríssimas, foi uma experiência única. Exemplares nº 1 ( Mickey, O Pato Donald, Pererê, Bidu, Tio Patinhas, Zaz Traz, etc), primeiros desenhos e o primeiro gibi inteiramente feito pelo mestre Álvaro de Moya ainda criança, o raríssimo acervo do grande José Lanzelotti ( material que sobreviveu a um grande incêndio), originais de terror e guerra ( de Rodolpho Zalla, Homobono, Collonese, Ignacio Justo) artes antológicas para capas ( principalmente dos especialistas Jayme Cortez, Miguel Penteado e Gutemberg), autógrafos e artes diversas do imenso acervo de Moya, memorabilia de Tex (homenagem à Sergio Bonelli), originais autografados de grandes artistas internacionais ( Mort Walker, Will Eisner, Andre Le Blanc, Breccia) . Para aficionados como eu, um passeio inesquecível pela história da nona arte. Parabéns a todos que participaram da idealização e da produção da mostra - a idéia das mapotecas foi genial . As fotos falam por si ( e a atenção e a curiosidade dos meus, me proporcionaram um particular e imenso orgulho):
Original de Rodolpho Zalla


Original de André le Blanc 

Original de Rubens Cordeiro 
Original de Jayme Cortez 
idem 
Gibi raro com capa de Lanzelotti ( Curupira nº1) 
Originais de Lanzelotti que escaparam de um incêndio
Revista da La Selva com capa de Jayme Cortez 
Meus rebentos "pirando" nos gibis antigos
Mais gibis da La Selva com arte de J.Cortez 
Arte de Spacca 
Gibi raríssimo
Gibi artesanal do "Gavião Fantasma", feito pelo "guri" Álvaro de Moya
Original de Primaggio Mantovi 
Almanaque Zaz Traz, Zaz Traz e Bidu: os primeiros gibis com personagens de Maurício de Sousa
O famoso e raro O Pato Donald nº1 (1950)
Arte original de Antonino Homobono 
Troféu HQ Mix 96 (com Pererê do Ziraldo) do acervo de Álvaro de Moya 
Página original: Paulo Hamazaki/Julio Shimamoto
Tex - tributo ao recém falecido Sergio Bonelli
Meu amore, e os heróis
Arte para capa: original de Miguel Penteado

nºs 1

10 de abril de 2012

Chocarrice: um blog supimpa, bacana e do balaco

Em minhas "andanças" pela internet, topo sempre com blogs mui interessantes, principalmente voltados para meus assuntos favoritos: artes gráficas/quadrinhos/música. O "Chocarrice" do título é um blog extremamente rico de material editorial, com foco em quadrinhos/cartuns/charges do século XX. Tem de tudo um pouco: artistas europeus e americanos convivem no blog com geniais brasileiros do traço; e HQs de Hanna Barbera dividem espaço com cartuns mais acadêmicos. Nos marcadores do blog dá para se ter uma noção do nível: o grande Carlos Estêvão tem  25 entradas ( suas famosas páginas em O Cruzeiro e até um gibi inteiro do seu Dr. Macarra), J.Carlos 15 , EBAL também 15, Péricles 15 (Amigo da Onça, claro), Antonio Torres 9, Ziraldo e Fortuna 8 cada, e por aí vai. E tem as surpresas/raridades: Flavio Colin ( com o seu Vizunga), Dr. Fraud ( do Canini), George McManus, Pichard, Kurtzman, Barbarella, Eduardo Ferro, Millôr (como Vão Gogo), etc, etc. Um acervo riquíssimo, que pelo que soube em matéria do O Globo, é tocado pelo entusiasta colecionador de imagens antigas, Rafael Monte ( que assina Venceslau Gama e tem outros blogs nessa pegada). Um tesouro gráfico realmente. Um único porém, que não estraga a iniciativa, mas deixa os maníacos por datas/arquivos/catalogação/História ( como eu) um tantinho frustrados: a falta de qualquer referência à datas e nomes das publicações ( estas dá até pra avistar nos rodapés das imagens). Se tivesse mais esse atrativo, o blog não só permaneceria volumoso e sortido, mas também uma referência completa para estudiosos, colecionadores e historiadores. O intuito é mesmo formar um grande painel de "recortes" do século passado, e aí o blog acerta em cheio.
O blog: http://chocarrice.blogspot.com.br/

4 de abril de 2012

Ocupação Angeli

A "Ocupação Angeli", espaçosa exposição do cartunista/chargista/quadrinhista no Itaú Cultural segue até o final deste mês e merece ser vista com calma e acuidade, pois o material selecionado é imenso. São 800 obras (80 originais), além de fotos, objetos e documentos tirados de seu acervo pessoal com 30 mil obras (sua produção artística de 40 anos). A "ocupação" também inclui uma publicação com quadrinhos, charges e ilustrações de Angeli ao lado de textos da produção e do amigo Laerte, especialmente para o evento. A curadoria ficou a cargo da designer Carolina Guaycuru e o projeto expográfico é da cenógrafa Patrícia Rabbat, que procurou recriar com bastante detalhes o estúdio de criação do artista. A mostra vai até 29/04 e é de graça.
Entrevista recente para a revista Brasileiros:http://www.revistabrasileiros.com.br/2012/03/26/confissoes-de-um-cartunista/
Angeli sobre Millôr: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/34113-maioral-ele-inventou-o-humor-moderno-brasileiro.shtml

"Ocupação Angeli"
Até 29/04
Terças a sextas, das 9h às 20hs
Itaú Cultural
Avenida Paulista,149 (Estação Brigadeiro do Metrô)
Grátis

3 de abril de 2012

Bau do Malu 36 - Diversões Escolares nº 3,6,7 e 9 (1960/1961)

A Editora Abril, em seus primeiros dez anos (1950-1960) lançou poucas revistas e nem todas alcançaram o sucesso desejado pelo boss Victor Civita. Se O Pato Donald (1950), Mickey (1952), Capricho (1952 - a primeira revista brasileira com fotonovelas), Ilusão (1958) e Manequim (1959) seguiram adiante com força (mesmo que o início de quase todas tenha sido aos trancos e barrancos), outras não tiveram sorte no mercado e sumiram em pouco tempo: Raio Vermelho (1950 - depois Misterix), Meu Bem ( 1952 - revista com quadrinhos românticos) ,Você (1958 - também com fotonovelas, mais requintadas) e Noturno (1959). A virada da década pareceu dar uma nova arejada na editora com o lançamento da pioneira Quatro Rodas (agosto de 1960). Diversões Escolares, outra dica do irmão argentino de Victor, Cesar Civita, começou muito bem neste mesmo ano de 1960 (e mesmo mês), apresentando uma revista em formatinho made in Itália (Fratelli Fabbri Editori, de Milão, mas produzida na Editorial Codex, da Argentina), no estilo "almanaqueiro" de Seleções, mas direcionada aos jovens em idade escolar. Com este foco, publicava seções educativas e de curiosidades, voltadas para as ciências, a natureza, trabalhos manuais e colecionismo - a seção sobre filatelia fez sucesso logo de início. Também incluía desde o começo, histórias em quadrinhos de dois personagens: Saturnino, um alienígena ("Saturnino descobre a Terra", de C.Solini) e o jovem índio canadense Alce Branco ( "Na aldeia dos índios", sem assinatura de autor). Detalhe curioso: no logotipo característico da editora nestes primeiros anos, junto à arvorezinha vermelha na capa, a inscrição "Editora Abril Didática". O intuito talvez fosse prosseguir com esta linha educativa ( o que só foi se concretizar mesmo com a Fundação Victor Civita, décadas depois).
Edição 3 - 15/10/1960
Anúncio de Quatro Rodas - ( edição 3)
Ainda em 1961, com as vendas aquém do esperado pela cúpula, houve uma reformulação na publicação, com o intuito de salvá-la. Cláudio de Souza, o "bombeiro" de plantão do seu Victor para resgates e salvamentos quase impossíveis, ficou encarregado das mudanças, que começaram com a troca de nome para "Diversões Juvenis". Mas os detalhes desta nova roupagem, vou deixar para o próximo Baú . Algumas dessas informações eu tirei das edições que aqui estão e que fazem parte do meu acervo, mas muitos detalhes preciosos e precisos vieram do excelente e pouco comentado livro "O Homem Abril - Cláudio de Souza e a história da maior editora brasileira de revistas", do historiador e jornalista Gonçalo Junior ( Opera Graphica Editora -2005), que assim como outras obras mais debatidas do autor ( Guerra dos Gibis 1 e 2) expõe todo o painel editorial de uma época, além de esmiuçar e investigar detalhes mal explicados ou esquecidos da história. Um dos melhores livros históricos/biográficos que já li e que ainda pode ser encontrado ( na Comix Book Shop, sai por R$49,00). Estas belas capas expostas aqui são made Italy, feitas por um tal de Cozzi A.
Edição 6 - 15/01/1961
HQ com Saturnino ( edição 6)

HQ com o jovem índio Alce Branco (Ed.6)
Edição 7 - 15/02/1961
Anúncio de Band-Aid ( edição 7)
Anúncio de Nescau ( ed.7)
Matéria sobre "os truques do cinema" (ed.7)
Anúncio da nova revista do Zé Carioca (ed.7)
Edição 9 (maio 61)
Seção "Os pequenos entrevistam os grandes" (ed.9). O entrevistador no caso,  Flávio de Souza, aqui com 7 anos, é filho do editor Cláudio de Souza. Flávio se tornou escritor, roteirista e produtor de TV ( é o criador do Castelo Rá-Tim-Bum)
idem
Seção " O Tio Filatelista" (ed.9)