8 de maio de 2014
Jair Rodrigues (1939-2014)
Fiz questão de escolher essas foto acimas, com Jair Rodrigues de sorriso aberto, em homenagem a simpatia perene que permeou toda sua carreira. Jair Rodrigues sempre foi alegria pura, desde os tempos de juventude, em Nova Europa (SP) e São Carlos (SP), quando se virava como engraxate, pedreiro e mecânico, e arriscava suas primeiras participações em programas de calouros. Ou quando mais confiante, a partir dos 18 anos, rodou o interior do estado como crooner de casas noturnas. E já em São Paulo, um pouco depois, quando virou assistente de alfaiate e bem mais maduro, obteve a primeira colocação no Programa de Cláudio de Luna, na Rádio Cultura. O sorriso ia junto. Depois de alguns compactos e LPs mais contidos, Jair apareceu para o grande público em 1964, com a falada "Deixa isso pra Lá" (Alberto Paz e Edson Meneses), marcada pela sua "performance" com as mãos, cheia de ginga e gesticulação única. Essa música, anos depois, foi considerada precursora do rap brasileiro e virou uma das marcas registradas do cantor. Outra interpretação sua que atravessou o tempo incólume foi "Disparada" ( Geraldo Vandré e Teo de Barrros), que arrebatou a plateia do II Festival de Música Popular Brasileira (1966) e acabou dividindo o primeiro lugar com "A Banda", do jovem Chico Buarque de Holanda cantada por Nara Leão ( decisão que partiu do próprio Chico). Não foi pra menos: sua carga de emoção e ao mesmo tempo concentração nessa grande toada sertanista, só fez frente na época às inesquecíveis participações de Elis Regina. Não por coincidência, os dois já estavam estourados desde 1965 quando gravaram discos juntos ( Dois na Bossa) e protagonizaram um grande sucesso televisivo, "O Fino da Bossa". A partir daí, virou artista do mundo, gravando em Paris, Cannes, Portugal e se apresentando pela Europa toda + EUA, Japão, Argentina, Angola, entre tantos outros países, espalhando seu sorriso e carisma pelos quatro cantos do globo. Continuou ativo até o fim da vida - sua agenda estava coberta de shows para maio e junho - ágil, cantando muito, sem se preocupar com o gênero, embora fizesse questão de divulgar a música popular, principalmente o samba, a bossa e a música de raiz. Vieram os filhos artistas, Jairzinho ( depois Jair Oliveira) e Luciana Mello, e os shows, que nos últimos tempos contavam com inúmeras participações especiais de amigos como Dominguinhos, Jongo Trio, Cesar Camargo Mariano, começaram a ficar "em família". Avistei-o na televisão recentemente, se não me engano no "Altas Horas", ao lado do grande Paulo Dáfilin, exímio violonista/guitarrista da minha região, e adivinhem: lá estava o cantor sapateando, saracoteando, andando de um lado pro outro, gesticulando, curvando-se quase ao chão, e sorrindo muito, claro.
O velho sorriso até poderia estar no seu rosto ou mesmo em sonho quando partiu em silêncio nessa madrugada, mas para quem fica, a partida abrupta, sem despedida, é bem triste. Que a música alegre e emocionante de Jair Rodrigues possa nos confortar nessa hora.
Disparada ( Festival da Record 1966 - final): https://www.youtube.com/watch?v=C4AzxTlzyHw
Deixa Isso pra Lá (original - 1964): https://www.youtube.com/watch?v=LRkyLtoITNc
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