29 de maio de 2015

Clássica livraria carioca Leonardo da Vinci vai fechar aos 63 anos

Carlos Drummond de Andrade na Da Vinci nos anos 80 
Uma das últimas livrarias clássicas do Rio de Janeiro, a Leonardo da Vinci, que foi frequentada pela nata literária e intelectual, principalmente entre os anos 60 e 80, vai encerrar suas atividades nesse ano de 2015. Drummond foi um desses ilustres frequentadores e acabou fazendo uma poesia em homenagem à livraria ( que pode ser lido no final do post). Ocupando quatro salas de um edifício histórico da avenida Rio Branco, a livraria, fundada pelo romeno Andrei Duchiade há 63 anos, já cerrou as portas de duas delas e a partir de 1º de junho começará a liquidar seu estoque de livros de 60 a 80 mil títulos ( entre obras raras e estrangeiras). Seu espírito sempre foi o de uma empresa familiar - a herdeira Milena Duchiade é descendente do fundador - e sua especialidade a de manter à venda raridades e lançamentos fora da lista dos best sellers. Esse viés rebelde e autêntico não estava mais sendo rentável, frente à oferta fácil de livros na internet e as facilidades das megas livrarias instaladas nos shoppings. Nada contra as grandes lojas multimídia atuais, mas estabelecimentos como a Da Vinci deveriam ser considerados patrimônio histórico-cultural-intelectual e assim sendo, deveriam ser tombados, para quem sabe, permanecerem alicerçados como ícone cultural de uma época.

Livraria ( Carlos Drummond de Andrade)

Ao termo da espiral
que disfarça o caminho
com espadanas de fonte,
e ao peso do concreto
de vinte pavimentos,
a loja subterrânea
expõe os seus tesouros
como se defendesse
de fomes apressadas.
Ao nível do tumulto
de rodas e de pés,
não se decifra a oculta
sinfonia de letras
e cores enlaçadas
no silêncio dos livros
abertos em gravura.
Aquário de aquarelas,
mosaicos, bronzes,
nus,
arabescos de Klee,
piscina onde flutuam
sistemas e delírios
mansos de filósofos,
sentido e sem-sentido
das ciências e artes
de viver: a quem sabe
mergulhar numa página,
o trampolim se oferta.
A vida chega aqui
filtrada em pensamento
que não fere; no enlevo
tátil-visual de idéias
reveladas na trama
do papel e que afloram
aladamente dançam
quatro metros abaixo
do solo e das angústias
o seu balé de essências
para o leitor liberto.

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