"Vinyl", de Martin Scorsese, série exclusiva da HBO que vem alcançando grande alvoroço por parte do público, está com seu primeiro episódio disponível no Youtube. E não é pouco: esse piloto tem quase duas horas de duração! A série mostra a cena do rock americano no início dos anos 70 pela ótica de um empresário de gravadora que passa por uma fase turbulenta pessoal e profissionalmente. Nesse turbilhão, o diretor consegue colocar no mesmo caldeirão com muita temperança, conflitos pessoais, drogas, jabás, bastidores musicais, negociações conflitantes, e muita, muita música, tanto em flashes do início da carreira do empresário como em sua busca por talentos verdadeiros que podem salvar os negócios e restaurar sua própria convicção com o meio. Os tempos (1973 em diante) são de mudanças nos campos do rock and roll e muita referência primordial passa pela história - nesse primeiro episódio, se destacam dois grupos que chacoalhavam as estruturas na época: Led Zeppelin e New York Dolls. A trilha não fica só no rock, trazendo também muita música negra e trechos de sucessos que despontavam nas paradas - ABBA, por exemplo. Mas o rock é o dono do filme: Bo Didley, Black Sabbath, Slade, Humble Pie, Peter Frampton, e até uma banda fictícia com repertório punk precoce ( uma tal de Nasty Bits). A edição, os cortes, as cenas urbanas ( New York, New York), a truculência das ruas, a ganância e os conflitos capitalistas, a família tentando se estruturar no caos - ganchos, truques e recheios do cinema de Scorsese estão todos aí. Algumas resenhas estão batendo na tecla que Mister Martin pesou a mão, foi megalomaníaco, está repetindo fórmulas, mas eu já acho que esse exagero de cores e movimentos tem tudo a ver com o foco e o diretor fez tudo propositalmente. A série é criada e escrita por ele, mais Mick Jagger, Terence Winter e George Mastras. A produção é de Jagger/Scorsese, que já trabalharam juntos no filme dos Stones "Shine a Light" (2008).
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A gravadora |
Terence Winter, no material de divulgação da HBO diz tudo: "Foi no ano de 1973, especificamente, que o punk, a disco e o hip-hop foram inventados, com seis meses de diferença um do outro e a menos de 10 quilômetros em Nova York". O ator protagonista (Bobby Cannavale) dá um show a parte nesse primeiro episódio, esbanjando feeling e canastrice na medida certa - e os atores que interpretam seus sócios também. Mais uma vez os especialistas não se deram conta que a canastrice faz parte do jogo. O Robert Plant do filme é bem menos chamativo que o Plant original parecia ser em seu auge. Já os New York Dolls estão perfeitos! E a série, se continuar nessa frequência, certamente se tornará um marco na televisão. Os próximos capítulos terão a mão de diretores experientes da telinha e talvez venham com menos doses sensoriais e explosivas. Mas Scorsese estará ali, como sombra, salpicando o projeto de alma, para arrepio dos calculistas de plantão.
https://www.youtube.com/watch?v=oJMm2qMX3H4