22 de abril de 2016

Os que nos deixaram em março de 2016

Na correria, não consegui homenagear no tempo certo os que se foram em março de 2016. Aliás, esse vai ser o último obituário de mês todo, justamente pela sangria desatada que não permite posts especiais retroativos desta envergadura. A partir de agora, vou voltar a postar as efemérides de falecimento no mesmo período do ocorrido.
Vamos aos bravos que partiram no mês passado:


Severino Filho ( 1928-2016)


Maestro, cantor, arranjador e instrumentista, foi fundador de uma dos grupos mais longevos do mundo, Os Cariocas ( de 1942). Severino ainda se encontrava para tocar com os colegas ( que contava só com ele como fundador) quando foi internado no final do ano em São Paulo por causa de uma trombose pulmonar. Lúcido, pediu para ser transferido para o Rio em janeiro, e mesmo com o estado se agravando, ainda conseguiu ensaiar com Os Cariocas dentro do CTI. Deixou um legado de paixão e comprometimento com a música e agora se junta aos outros fundadores que já estão no andar de cima, a começar pelo lendário Ismael Neto, seu irmão que se foi prematuramente em 1956 mas antes, com suas composições e arranjos, elevou Os Cariocas a um status que jamais seria usurpado. (Dia 1º)

Programa MPBambas, produzido por Tárik de Souza para o Canal Brasil, homenageando o maestro Severino Filho: parte 1 https://www.youtube.com/watch?v=cB564NWlOc0
                          parte 2 https://www.youtube.com/watch?v=36x1oYQBWF8

George Martin (1926-2016)



Conhecido como o 5º Beatle, por levar os 4 de Liverpool ao estrelato, tanto por seu olhar clínico ( ele era diretor da gravadora Parlophone em 1962 quando ouviu uma fita dos Beatles e acreditou neles) como por seus arranjos, orquestrações e "pitacos" que alçaram o grupo ao mais alto patamar do pop. Sir George viveu bastante e ainda pode produzir muita gente boa ( Rolling Stones, Elton John, Earth Wind & Fire, Sting, entre outros), compor e lançar composições próprias em disco e reviver os tempos de estúdio com os Beatles ao participar ao lado de Paul, Ringo e o filho nas remasterizações de discos clássicos e descobertas preciosas de gravações que possibilitaram novos hits do grupo nas paradas. Valeu, Sir!


Naná Vasconcelos (1944-2016)


Ele está entre os dez maiores percussionistas do mundo - e não sou eu que disse isso, mas especialistas, músicos e enquetes sérias ( por oito vezes foi eleito o melhor do mundo pela revista Down Beat e chegou a levar pra casa oito Grammys). Naná, pernambucano da gema, já estava a todo vapor em meados dos anos 60, fazendo o circuito Minas-Rio-São Paulo e se mostrando um hóspede constante no famoso apartamento da família Borges no centro de BH, onde estreitou laços com Toninho Horta, Wagner Tiso e Milton Nascimento. Com esse último, participou de dois discos, um pouco depois de fazer parte do Quarteto Livre, ao lado de Geraldo Azevedo, que acompanhou Geraldo Vandré em shows e festival ( na mítica "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores"!). Logo depois estava acompanhando o grupo Som Imaginário, feito para acompanhar Bituca a partir de 1969. Com Maurício Maestro e Nelson Ângelo criou o efêmero Trio Bagaço que fez alguns shows e parcerias com Joyce. Na nova década de 70, com a ditadura apertando o cerco, foi cuidar da carreira internacional, já que os bons no exterior estavam de olho no seu orgânico e peculiar jeito de tocar e também atentos às suas escolhas exóticas de instrumentos, como a queixada de burro  e o berimbau. Foi a conta para tocar ao lado de ícones como Miles Davis, Tony Williams, Don Cherry, Art Blakey, B.B. King e Jean Luc-Ponty. Formou o Jazz Codona nos EUA, grupo que lançou três discos. Tocou no prestigiado festival de Montreaux, na Suíça e seguiu em parcerias de vários gêneros, de Paul Simon a Talking Heads, de Marisa Monte a Mundo Livre S/A. Com Egberto Gismonti ( Dança das Cabeças) e Jards Macalé ( Let's Play That) fez projetos essenciais, profundos, cheios de sutilezas. Neste século presente fez dupla em disco com o grande amigo Itamar Assumpção ( "Isso Vai dar Repercussão"- 2004) um projeto que acabou demorando anos pra sair devido à saúde abalada de Itamar ( o disco acabou sendo póstumo). Mas a sua grande contribuição para o mundo, e de forma naturalíssima, acabou sendo mesmo sua fé e crença em uma música universal, transformadora, que pode melhorar a vida das pessoas e por que não, salvá-las do limbo social. Essa sua persona humanitária fez com que criasse inúmeros projetos sociais como o "Língua Mãe", que reuniu crianças de três continentes diferentes, e oficinas para comunidades carentes da sua Recife. A capital de Pernambuco, aliás, abraçou com força seu filho nos últimos tempos, homenageando-o no Carnaval de 2013, o mesmo carnaval em que Naná religiosamente realizou a abertura por 15 anos ( 12 Maracatus, 600 Batuqueiros, além do coral Voz Nagô). Um espetáculo pungente e inesquecível para quem teve a sorte de acompanhar. Um dos últimos projetos do músico foi a trilha sonora de "O Menino e o Mundo" de Alê Abreu, aquela mesma animação indicada para o Oscar deste ano. Naná, guerreiro, descobriu o câncer em 2015, mas seguiu em frente, fazendo tratamento enquanto tocava por aí. Eis seu maior tratamento:a música. Seguiu tocando até o fim, o que não poderia ser diferente em se tratando do genial e visceral Naná Vasconcelos. ( Em 09/03)

álbuns completos de Naná:
Chegada (2005) - https://www.youtube.com/watch?v=_onoQnEBhsw
Saudades (1980) - https://www.youtube.com/watch?v=Xl7ONKSm0mI
Africadeus (1973) - https://www.youtube.com/watch?v=C_B97kDmK4M 
Joyce, Naná e Mauricio Maestro - Visions of Dawn (1976) - https://www.youtube.com/watch?v=I9qN1D81_wE
Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos - Duas Vozes - https://www.youtube.com/watch?v=PLk-nruiPe8


Keith Emerson (1944-2016)


Outro grande. Fundador do cultuado grupo progressivo Emerson, Lake & Palmer (ao lado de Greg Lake e Carl Palmer), o tecladista Keith Emerson mudou o jeito de se tocar teclados dentro do rock ao introduzir o sintetizador ( um trambolho monstruoso na época) e incorporar tintas eruditas às composições do grupo. Antes de arrebentar como integrante do ELP, Keith liderou por um bom tempo o grupo The Nice, também um sucesso. Com o sintetizador Moog, o órgão Hammond e um jeito todo peculiar de tocar ( ele fazia questão de movimentar todo o instrumento durante as apresentações incendiárias do ELP, parecendo muitas vezes que eles saíam do chão), deixou sua marca para sempre na história do Rock. (em 10/03).

Alguns dos discos revolucionários do ELP, aqui:

Emerson, Lake & Palmer (1970) - https://www.youtube.com/watch?v=SEtk-Rqjz38
Tarkus (1971) - https://www.youtube.com/watch?v=D2_a73goPa8
Trilogy (1972) - https://www.youtube.com/watch?v=epJ03N31MYk
Brain Salad Surgery (1973) - https://www.youtube.com/watch?v=pmtWExgQYs4


José Carlos Avellar ( 1936-2016)


Jornalista de formação, Avellar foi por mais de vinte anos crítico de cinema do JB. Sumidade no assunto, foi consultor de diversos festivais internacionais e desde 2006 curador do Festival de Gramado, ao lado de Sérgio Sanz. Além de estudioso do tema - escreveu vários livros a respeito - e gestor cultural, foi cineasta dos bons nos anos 60 e 70, estreando na direção com o curta Treiler ( 1965) e co-dirigindo dois filmes coletivos - Destruição Cerebral (1977) com Nick Zarvos e Joatan Vilela e "Viver é uma Festa" (1972) com Tereza Jorge, Isso Milan, entre outros. Também foi produtor e diretor de fotografia. Ou seja: respirou cinema até onde a vida o levou. (em 18/03).

Alguns textos do crítico na página Escrever Cinema:  http://www.escrevercinema.com/


Marcus Rampazzo (1954-2016)


Marcão como era conhecido pelos amigos era muito querido no meio e sua morte abrupta ( um AVC aos 61 anos de idade no dia 29/03) deixou muita gente estarrecida. Professor conceituado - sua escola era ponto de encontro de músicos - fundou a famosa Beatles For Ever ( conhecida até no exterior como uma da melhores bandas cover dos 4 de Liverpool) e sempre tocou milimetricamente como seu ídolo George Harrison, além de colecionar tudo a respeito dele ( sua coleção de instrumentos originais talvez seja a maior do mundo). Para falar mais e melhor sobre o já saudoso Marcus, vou colar aqui o link de um texto primoroso a seu respeito, feito pelo seu amigo Carlos de Oliveira do Blog Sonoridades:

http://cultura.estadao.com.br/blogs/sonoridades/se-george-martin-era-o-quinto-beatle-marcao-rampazzo-era-o-sexto/

Something com Marcão Rampazzo: https://www.youtube.com/watch?v=-Mh6P73-hPU
Here Comes the Sun com Marcão Rampazzo: https://www.youtube.com/watch?v=ZJ__9ycOJOU
Beatles 4Ever - apresentação na TV Gazeta em 2013: https://www.youtube.com/watch?v=dEORBztYlsE 

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