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foto: reprodução |
por Rogério Engelmann*
Ainda muito tocado com a passagem de Al Jarreau.
Virtuose, fez como poucos a ponte entre a música jazzística mais elaborada e o pop, tendo como instrumento sua voz incrivelmente versátil, de timbre inconfundível, límpido, além de potente.
Conhecia Al Jarreau do vídeo clip 'Mornin’, de 1983. Não tinha prestado muita atenção, achava muito “levinha”.
Não ligava muito porque, com a história do som e dos bailes, que bombavam naqueles dias, eu prestava mais atenção no potencial dançante, ia atrás de som mais “pegado”, o que até então eu não sentia, no pouco que eu tinha ouvido de Al Jarreau.
Porém, fui fisgado para sempre, em 1985, pela sonoridade jazzy da faixa mais pop do álbum Al Jarreau In London, a balada "I Will Be Here For You", que rodou nas rádios naquela época. Me chamou atenção o fato de ser ao vivo. “Esse canta mesmo... Banda afiada...”
Fui atrás do álbum, que aos poucos ganhou espaço no prato do toca discos. Fui realmente arrebatado pela sonoridade. Som muito elaborado, bem jazzístico, arranjos impecáveis. Depois descobri que George Benson teve sua origem também como guitarrista de jazz. Curtia muito "Give me The Night', álbum de Benson, produzido por Quincy Jones. E o mestre produtor também tinha o seu álbum, The Dude, de 1981, impecável. Nesse, descobri a cantora Patty Austin, que pra mim foi uma espécie de musa na época.
Foram esses álbuns e mais alguns desses virtuoses, que, como num batismo ou iniciação, me ligaram de forma inescapável ao universo da música negra, do soul, do jazz, do blues. Definiram meu gosto musical, me ensinaram a Ouvir, a prestar atenção.
Depois vieram outros: Stanley Clarke, Marcus Miller, Chic Corea, Jean Luc Ponty, George Duke, mais “elétricos”; Paco De Lucia, John Mc Laughlin, Al Di Meola, Crusaders, Winton Marsalis, e um posterior e natural aprofundamento no jazz clássico: Art Blakey, Chet Baker, Miles Davis, Dave Brubeck... E o jazz brasileiro: Zimbo Trio, Vitor Assis Brasil, Teco Cardoso, Pixinga, e o trio Arismar do Espírito Santo, Silvia Góes e Roberto Sion, que tive o privilégio de ouvir ao vivo muito proximamente, inclusive na mesa de som, numa casa de jazz em que trabalhei como sonoplasta e dj em 1987. Rodei muito Al Jarreau lá.
Então, numa espécie de confissão eu rabisco aqui a minha homenagem pessoal a Al Jarreau. Seu grande papel ou missão, e arrisco a dizer, o seu legado, talvez até maior do que sua música, ao longo dos seus cinquenta anos de carreira, com sua voz e carisma únicos, foi a de criar a ponte do pop para uma sonoridade mais sofisticada e ligada ao jazz. Sonoridade que, no caso dele, é lírica.
Não tenho dúvida de que Al Jarreau está lá em cima, no Paraíso, cantando "Roof Garden", perguntando no refrão:
“Does anyone wanna go
waltzing in the garden?
Does anyone wanna go
dance up on the roof?
( E lá no fundo, o backing vocal: “Party…” )
* Rogério Engelmann é arquiteto e um grande construtor de textos, principalmente quando o assunto é música de boa qualidade.