31 de janeiro de 2018

"A Indústria Fonográfica Paulista Através de Discos de 78 rpm"

Acervo Gilberto Inácio Gonçalves ( divulgação)
Antes de acabar o mês, quero deixar registrado aqui o prazer de ter participado do curso "A Indústria Fonográfica Paulista Através de Discos de 78 rpm", ministrado nos dias 23 e 24 no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Nos encontros, eu e um grupo de 20 pessoas (que no segundo dia baixou para 15) vimos/escutamos/lemos o percurso da história do disco em São Paulo por meio de suas gravadoras e seus personagens mais importantes. Nessa reconstituição histórica, o ponto forte foram as audições de discos originais em 78 rpm, tanto os pioneiros, manuais, quanto os elétricos, sendo que alguns deles, raríssimos, nunca tinham sido tocados ao vivo em um curso. Esse acervo espetacular veio da coleção do próprio palestrante, o colecionador Gilberto Inácio Gonçalves, um dos maiores do Brasil no gênero, que além de colaborar intensamente com a historiografia musical - o outro palestrante do curso, o pesquisador e historiador Bruno Sanches Baronetti utilizou muitas informações do seu acervo para seu livro e artigos - tem um extenso e democrático canal no Youtube ( para procurá-lo lá, basta pesquisar pelo seu nome) e colabora com grupos específicos no Facebook. Outro destaque foram as peças e discos ( alguns com a assinatura de Thomas Edison datam do século XIX) expostos na mesa à nossa frente.

Itens raríssimos sob a mesa ( aqui e abaixo)







No primeiro encontro o foco foram os discos prensados por diversas gravadoras independentes que surgiram na cidade de São Paulo entre 1910 e 1920, como Phoenix, Imperador, BrasilPhone, Arte-Fone, Ouvidor, Parlophon, além da ponte que se manteve por algum tempo entre o mercado gaúcho e o paulista e a entrada de multinacionais como Odeon e Columbia em São Paulo. Neste bloco, ouvimos gravações pioneiras e raras de canções regionais, folclóricas, instrumentais e até hinos políticos e músicas patrióticas à sombra das revoluções de 1924 e 1932. No dia seguinte, o mote foram os sambas e desfiles de carnaval em bairros de imigrantes como o Brás e o carnaval negro dos cordões carnavalescos. Desta vez a audição nos trouxe pérolas do repertório de Nabor Camargo, Januário de Oliveira, Isaurinha Garcia, Linda e Dircinha Batista, Henricão, Carmen Costa, Germano Mathias, Adoniran Barbosa (em gravação raríssima), Demônios da Garoa, Geraldo Filme, Paulo Vanzolini, Talismã, Osvaldinho da Cuíca e Toniquinho Batuqueiro.


Os palestrantes Bruno Baronetti ( acima) e Gilberto Inácio Gonçalves
Os palestrantes entremearam as escutas com curiosidades, achados e detalhes históricos, enquanto passavam na roda obras primordiais para se entender o período. Dois dias foram pouco - ficou um gosto de quero mais. Afinal, quanto mais gostamos e nos distraímos com o que gostamos, mais o tempo passa depressa. Coincidentemente, acabei me sentando ao lado do baterista Gabriel Marotti, que mora em Santo André, cidade vizinha à minha, e trocamos várias figurinhas sobre o que estávamos vivenciando. Gabriel me surpreendeu com sua vontade em pesquisar as raízes musicais, o que não é lá muito comum para sua geração ( pós-90). Batalhador e perseverante, atualmente dá aula e toca na noite ( e em breve colocará no ar seu blog sobre bateria brasileira - assim que sair divulgo aqui). Quanto ao professor Bruno Baronetti, está, assim como o Gilberto, ativo no Facebook e nas redes sociais, e quem quiser adquirir seu ótimo livro "Transformações na Avenida: História das Escolas de Samba da Cidade de São Paulo ( 1968-1996) ( Ed. Liber Ars) é só entrar em contato por lá. E para quem não conseguir achar o Gilberto no Youtube, deixo abaixo o caminho das pedras ( ou das bolachas!):



29 de janeiro de 2018

Mort Walker ( 1923-2018)

Mort Walker, o criador de Recruta Zero ( Beetle Bailey) e sua turma, faleceu no sábado aos 94 anos. Mort criou um dos personagens mais conhecidos do mundo, e suas tirinhas se espalham pelo mundo todo ainda hoje - no Brasil, uma pesquisa recente revelou que Recruta Zero é o segundo personagem mais querido pelos leitores de jornais ( atrás de Hagar, o Horrível). Calcula-se que sejam 200 milhões de leitores pelo mundo em 1,8 mil jornais em 50 países diferentes. O recruta atrapalhado que nunca gostou de "trabalho" foi gerado em 1950 e por todos esses 68 anos teve a mão de seu criador Mort Walker ( precisa checar, mas acredito que seja um recorde). Desde os anos 70, ele tem a ajuda de seus filhos Brian e Greg, que já anunciaram que vão dar continuidade ao personagem. Mort Walker criou outras tiras de sucesso, como Hi & lois ( Zezé e Cia no Brasil) e Arca de Noé, e chegou a abrir em 1974 um museu nos EUA dedicado aos cartoons - projeto que não teve prosseguimento.
Como colecionador, sempre tive a turma do Recruta Zero por perto, desde as edições antigas da Rio Gráfica ainda em formato americano, passando pelos formatinhos da mesma empresa, os livrinhos amarelos da Saber nos anos 70 e os lançamentos mais recentes em formato álbum pela Pixel. Um dos itens que mais tenho apreço é o álbum que saiu pela LP&M com a história da criação do personagem e a sua trajetória pelos anos seguintes ( "O Melhor do Recruta Zero") - foi aí que soube que Zero começou nas tiras como universitário, entrando para o exército um pouco depois ( para não sair mais). A galeria de personagens que foi sendo construída desde então dentro do quartel Swampy é uma das mais bem elaboradas das HQs: do irascível mas pândego Sargento Tainha ao seu cão esperto e folgado Otto, do amigo do peito e mulherengo Quindim ao Dentinho ( o abobalhado e puro amigo que curiosamente é Zero no batismo original), passando por dezenas de "chefes" na hierarquia, o cozinheiro "esculachado", outros amigos recrutas do quartel, a secretária que causa desmaios no pelotão, e assim vai. Recruta Zero certamente vai continuar por muito tempo divertindo leitores de gibis, jornais e álbuns, pois tem na sua essência a mais pura e legítima diversão!

Abaixo algumas tiras memoráveis entre milhares produzidas:

O começo, tal qual foi publicado no álbum da LP&M







28 de janeiro de 2018

Walter Franco no Centro Cultural Vergueiro (SP)


Fui com minha turma de casa no meio do mês assistir Walter Franco no Centro Cultural Vergueiro em Sampa. Que show intenso, forte, vibrante! A começar pela banda, muito bem azeitada, com integrantes bem entrosados, incluindo aí o filho Diogo Franco, multi-instrumentista como o pai. O roteiro do show era para centrar nas músicas do clássico "Revolver", LP de 1975, mas acabou incluindo outros sucessos como "Canalha" e "Respire Fundo". Walter, em pé, no centro do círculo formado pela banda, estava à vontade e muito concentrado em seus "mantras", embora só vocalizando, pois sua guitarra teve a corda quebrada logo no início da apresentação. No grand finale com "Coração Tranquilo", chamou o público para cantar junto com ele, transformando o palco em uma grande massa ondulante. Aos 72 anos, Walter Franco - emocionado, entusiasmado, anárquico, experimental - está mais Walter Franco do que nunca!









23 de janeiro de 2018

Encontro do Pererê com o Amigo da Onça ( revista O Pererê setembro de 1963)


Ontem, folheando um exemplar de Pererê ( de setembro de 1963) deparei com esse encontro de dois gigantes do universo hagaqueano brasileiro: Pererê de Ziraldo e Amigo da Onça de Péricles. Os dois personagens eram publicados pela mesma empresa ( O Cruzeiro dos Diários Associados de Assis Chateaubriand) e já tinham se encontrado na famosa página mensal do Amigo da Onça na revista O Cruzeiro três anos antes, com olutros personagens da casa ( essa eu soube ontem também, em postagem do antenado Luiz Carlos Rodrigues compartilhada pelo sempre atento Quim Thrussel - imagem abaixo) . Péricles faleceu em 1961. Ziraldo continua firme aos 85 anos. E Pererê e Amigo da Onça, embora não estejam sendo publicados há muitos anos, viverão ad eternum na mente e no coração dos que amam a arte,a poesia e a criatividade humana.


22 de janeiro de 2018

Capa do Mês: Revista do Rádio nº 99 - 31/07/1951


Esse abraço apertado na capa da Revista do Rádio nº 99, entre dois dos maiores intérpretes da época, não era pelo visto mero marketing. Há pistas da amizade sincera, como na volta de Orlando Silva à Rádio Nacional no início do mesmo ano ( mais exatamente 27/02/1951), quando Francisco Alves recepcionou Orlando chamando-o de "velho e querido amigo" e recebeu de volta um "você é um grande amigo". Curtam acima essa que é uma das mais expressivas capas da famosa revista e a gravação desse encontro, em vídeo do Adilson Flavio Santos da Confraria do Chiado ( de 2015), que gravou direto do LP "Francisco Alves - E Suas Composições"

https://www.youtube.com/watch?v=wdJpeQRdKko 


19 de janeiro de 2018

Exposição Renato Russo ( MIS - janeiro de 2018)


Voltando do recesso, desejo a todos os leitores do Almanaque um ótimo 2018!

Nas minhas mini-férias, acabei visitando a exposição do Renato Russo no MIS/SP, junto à minha família escudeira. Para o primeiro post do ano então, seguem as imagens dessa grandiosa exposição, que não só procurou capturar Renato Russo na sua produção conhecida, mas adentrou com propriedade lados de sua criatividade pouco explorados, como sua porção cineasta, artista plástico, desenhista e escritor. Claro, estavam lá os discos de ouro/ platina, o auge do Legião, os discos solos, mas foi bem interessante conhecer o autor em toda sua magnitude, incluindo, claro, sua infância/adolescência, que já davam mostras de sua explosão criativa futura, como seus anos punk ao lado da seminal Aborto Elétrico e sua verve folk como trovador solitário ( um pouco antes da formação da Legião Urbana). As letras originais, rascunhos, cadernos, cartas, diários e objetos pessoais deram um belo upgrade. E saber que ele desenhava muito e constantemente, me deixou bem impressionado.













O pequeno Renato Manfredini Jr. toca prato na cerimônia de entrega dos diplomas no jardim de infância - 1964







"Não devo rasgar caderno do colega" ( escreva 100 vezes...)






Renato Russo lia em inglês desde a mais tenra idade...


Caderno com perfil e toda "futura" carreira da banda imaginária criada por Renato Russo quando caiu doente por dois anos na adolescência


Caderno universitário de Renato Manfredini Jr., aluno de Comunicação Social do CEUB ( Centro de Ensino Unificado de Brasilia) - 1978  



Lista de programação do programa "With the Beatles" da FM Planalto, apresentado e produzido por Renato Russo (1983)..
Carta elogiosa de ouvinte parabenizando Renato pelo programa semanal "With the Beatles" ( 1983)



Baixo usado por Renato Russo no Aborto Elétrico e início do Legião Urbana

Lista escrita à mão com músicas do Aborto Elétrico para possíveis demos

Letra original rascunhada de "Química"

Uma das primeiras apresentações ao vivo da Legião Urbana no "Food's", mítica lanchonete de Brasília que abria espaço para a música "jovem" desde o início da década de 1980.




Folder artesanal criado por Renato Russo com a letra de "Petróleo do Futuro" da Legião Urbana, 
Miolo do folder
Apresentação impressa criada por Renato Russo para  a música "A Dança"
Fanzine da época

Original da matéria escrita por Renato Russo para o Jornal da Feira, do Ministério da Agricultura
1986





Jornal do dia seguinte ao trágico show do Legião no Estádio Mané Garrincha em Brasília, quando 231 pessoas ficaram feridas (18/06/1988)







Alguns cadernos fac-similares podiam ser manuseados


Esboços para roteiro de cinema
Roteiro para cinema

Artes assinadas por Renato Russo

Mais um projeto inédito para cinema
Filme com participação do "ator" Renato Russo
Renato Russo em cena do mesmo filme

Esboço para possível adaptação de Faroeste Caboclo para o cinema
Legião no Programa Livre ( SBT - 1991)
Nesta foto e nas dez fotos abaixo, obras e discos que influenciaram Renato Russo e ficavam em seu escritório/biblioteca do apartamento do Rio.















Telas assinadas por Renato Russo



Setor das cartas: milhares de missivas do chão ao teto.
carta e desenho do artista e fã Juarez
Essa eu não consegui identificar o autor...o desenho parece conhecido!
Um dos seus diários. Chegou a  completar mais de vinte deles.
Outro.
"apetrechos" da mesa do seu escritório