O assunto do momento e que certamente vai render pano pra manga no decorrer de dezembro é a estreia do documentário em três episódios “Beatles: Get Back”, de Peter Jackson (o aclamado diretor da trilogia Senhor dos Anéis), lançado pelo canal de streaming Disney+ nesse último final de semana de novembro e que deixou beatlemaníacos, curiosos e detratores da banda em polvorosa. Em um trabalho extenuante e hercúleo (com os nomes de Ringo, Paul, e as viúvas Yoko Ono e Olivia Harrison presentes na produção) que levou cerca de quatro anos para ser finalizado, Jackson filtrou com acuidade um material colossal a que teve acesso – 60 horas de imagens e mais de 150 horas de áudio até então inéditas, que sobraram do doc “Let it Be” (1970), de Michael Lindsey-Hogg – para chegar a quase oito horas de puro entretenimento/deleite/emoção/animosidades/conversas confessionais/desabafos/ gêneses de grandes composições/gracejos, com uma qualidade técnica incrível. É como se o telespectador puxasse uma cadeira e se sentasse ao lado do quarteto de Liverpool e sua equipe em torno, no centro de um gigantesco galpão (a acústica do local é duramente criticada pelo grupo), e não só se percebesse uma testemunha ocular desse último suspiro criador da banda, como começasse a duvidar de muita coisa que foi falada e gritada por aí sobre o fim de um dos maiores grupos musicais de todos os tempos. Yoko Ono, que era um dos principais focos negativos do documentário anterior, lançado em meio à fogueira das vaidades alimentada pelo fim definitivo do quarteto, não parece tão vilã assim no filme atual – o que se vê é mais um John aéreo e etéreo, sem muita bronca externada, levitando sem grandes aflições sobre as conversas mais pesadas dos outros e mais tocando do que externando suas opiniões. Paul aparece como aglutinador, mas ao mesmo desgastado e em certos momentos criticado por colocar suas ideias com muita incisão e ênfase ( George, o mais irritado com esse comportamento de chefe de Paul, lança frases irônicas ou reclamações sobre sua posição dentro da banda a todo tempo); Ringo, que sempre foi o mais divertido, e estava às voltas com filmagens ao lado de Peter Sellers, aparece na sua, sem muitos apartes, enquanto George (talvez o maior destaque do documentário) surge a toda hora (assim como Paul), ora sarrista, ora espirituoso, ora com o saco cheio e ora deixando claro que suas ideias novas não se encaixavam com o momento da banda (sob os olhares de dois de seus novos amigos hare-krishnas, sentados no chão do estúdio improvisado). Entre conversas, insinuações, improvisos e closes inusitados, o que mais emociona (principalmente para fãs como eu) é a execução das músicas ainda cruas, sem as letras definitivas e com algumas notas ainda desencaixadas – ou seja, a essência da criação de verdadeiras obras primas, ali, brutas, na nossa cara.
Eu falei
tudo isso, e só assisti a primeira parte (com pouco mais de duas horas). Ainda há
muito o que se ver nesse impressionante documento – o último capítulo, por
exemplo, é todo dedicado ao antológico e famoso show ao vivo “no telhado” em
Londres (a última aparição ao vivo da banda, que não tocava fora dos estúdios
desde 1966). Um colosso de filme que merece ser visto mesmo por quem não
conhece direito o legado ou a história da banda (talvez ver esse documentário
seja um bom começo para começar a conhecer – há inclusive uma pequena
introdução sobre a trajetória da banda até ali). Afinal, em pleno 2021, a
Beatlemania está definitivamente reinstalada!
Para quem
não tem assinatura da Disney, não se aflija. Com a repercussão do filme, logo,
logo serão disponibilizadas outras mídias – como DVD -, tenha a certeza disso.
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