Elifas Andreato partiu aos 76 anos. Mais um grande artista gráfico brasileiro que nos deixa recentemente - nesse último mês, tivemos a partida de Gepp (1954-2022), da inesquecível dupla Gepp & Maia (como esquecer a série do Pinóquio-Maluf do JT?) e do Luscar (1949-2022), um dínamo do nosso humor gráfico. Elifas foi editor, compositor, ilustrador e principalmente design gráfico, se consagrando como um dos mais prolíficos capistas de discos do Brasil. E em todas essas atividades, nunca deixou de lado sua veia democrática e sua luta em favor dos desfavorecidos. A sua arte cativante e vívida certamente ficará em evidência para gerações futuras, assim como atingiu seus contemporâneos de forma tão profunda. Muitos textos bem feitos sobre sua longa carreira podem ser lidos de ontem pra hoje na internet ( o texto do Mauro Ferreira no G1 e o trecho da entrevista dada ao ótimo Marcelo Pinheiro, sobre o jornal Opinião, cofundado por ele, são bons exemplos), mas quero deixar aqui alguns momentos em que o Elifas passou por minha vida e deixou marcas indeléveis.
- Ainda na minha infância, tive o privilégio de manusear e escutar a coleção "História da Música Popular Brasileira", da Editora Abril, que meu pai pacientemente completou comprando os fascículos mensais na banca de jornal. Além de conhecer a nata da música brasileira nos textos de especialistas e nas faixas dos discos que vinham encartados, apreciei com gosto pela primeira vez a arte única de Elifas, nas artes, nas fotos e na composição das capas dos fascículos - um dos primeiros trabalhos gráficos de sua lavra.
- Segui na vidas como colecionador de HQs e discos e um grande apreciador da arte nas capas dos LPs, um dos objetos sagrados da nossa cultura que propiciou momentos únicos do design brasileiro. Elifas, um dos capistas mais atuantes, aparecia sempre em minhas aquisições, com destaque para suas obras-primas para discos de Martinho da Vila e Paulinho da Viola. Foram muitos (em sua carreira, aproximadamente 500 capas).
- Quando fui trabalhar no Dedoc da Abril no início dos anos 90, tive a honra de ajudar a equipe do Almanaque Brasil em suas pesquisas mensais sobre a cultura brasileira. O Almanaque é uma das mais importantes obras culturais feitas no país e ainda carece de um estudo mais aprofundado. São anos e anos de publicação, primeiro como revista de bordo da TAM e depois seguindo independente. Conheci na ocasião a querida fotógrafa Iolanda Husak, ex-esposa e amiga para toda vida de Elifas - ela também uma insaciável batalhadora da democracia - Bento, o editor (e filho dos dois) e a ótima equipe da revista.
- No ano passado, consegui o telefone do Elifas e liguei na raça. Estava escrevendo a biografia do Joselito Mattos (outro grande capista) e queria saber alguns detalhes de sua produção no mercado fonográfico. Ele foi de uma simpatia e docilidade extrema e nosso papo acabou se alongando por mais de meia hora! Um grande momento que não esquecerei jamais.
Por essas e outras, Elifas permanecerá em nossa mente, coração e claro, em nosso olhar. Basta olharmos uma ilustração editorial, um cartaz, uma capa de livro ou uma capa de disco desse artista magnífico, que sua sensibilidade artística nos acalentará sempre.
Para ver sua obra e carreira, aqui: http://www.emporioelifasandreato.com.br/main.asp
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