Essas belas embalagens de fósforos eu consegui há alguns anos no excelente sebo "Poesia & Arte" de Santo André. Escolhi as quatro em uma vitrine, e a minha seleção privilegiou a "ilustração", como vocês podem notar. Só hoje percebi em um deles que há dois endereços icônicos da literatura e da arte americana: o hotel Algonquín, célebre recanto de escritores da estirpe de Dorothy Parker, que presidiu ali no bar a barulhenta confraria da Round Table, grupo essencial de escribas, jornalistas, atores, dramaturgos e editores que moldaram o roteiro da louca Nova York da segunda década do século passado, entre eles, Harpo Marx (um dos irmãos Marx), o editor Harold Ross (que fundou a revista New Yorker no prédio em frente), a atriz e musa da época Thallulah Bankhead e F.P.Adams, jornalista mais admirado da cidade, entre outros fidalgos rebeldes. E na mesma embalagem, tem outro endereço antológico, o excêntrico hotel Chelsea, do século XIX, morada de dezenas de artistas e escritores, (como Bob Dylan, Jane Fonda, o pintor Diego Rivera e o roteirista e ator Sam Shepard), que teve em seu currículo várias mortes obscuras, como a da punk Nancy Spungen, encontrada morta pelo seu namorado, o músico Sid Vicious, depois de ser brutalmente esfaqueada no banheiro do quarto em que o casal estava hospedado. Coincidentemente, hoje mesmo acabei de ler um livro fantástico - "Só Garotos" - autobiográfico, da poetisa e compositora Patti Smith (que eu já coloquei dentro do meu top 100 assim que encerrei a leitura), que narra seus tempos antes da fama em Nova York, ao lado do seu amigo fotógrafo e artista plástico Robert Mapplethorpe, que viraria sua alma gêmea para o resto da vida. Algonquín e Chelsea são locais recorrentes na história, sendo que o segundo foi lar da dupla por muito tempo. Seguem então os simpáticos fósforos, para atiçar a memória dos que percebem o passado como uma bruma estimulante do presente.
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