31 de janeiro de 2016

Human


Foi só eu assistir um depoimento - o de Francine Christophe, ex-prisioneira de um campo de concentração nazista - graças a um compartilhamento da Cris, e já fiquei completamente abduzido pelo documentário "Human" de Yann Arthus Bertrand, que coletou entrevistas, depoimentos, histórias pessoais e desabafos de dezenas de pessoas , desde famosos ( como Cameron Diaz) até pessoas comuns e anônimas espalhadas pelo mundo todo ( o Brasil está representado pela cearense Maria, uma guerreira do dia-a-dia). Selecionei os comoventes depoimentos de Francine e de Maria e a página do documentário no Facebook (áudios originais) e no Youtube  (traduzidos) com todos os vídeos individuais disponíveis.

https://www.facebook.com/NaoKahlo/videos/532540296919641/?pnref=story

ou https://www.youtube.com/watch?v=s5zpv-JyBAk

https://www.youtube.com/watch?v=0a9DdaIazjI

https://www.facebook.com/humanthemovie/videos?fref=photo 

https://www.youtube.com/channel/UC4mGRD3WLYVVc4JI5LrXxUw

30 de janeiro de 2016

Dia do Quadrinho Nacional!

Por todo o Brasil pipocam hoje eventos que comemoram o Dia do Quadrinho Nacional. Acompanhem alguns deles:

Os vencedores do prêmio foram estes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_ganhadores_do_Pr%C3%AAmio_Angelo_Agostini 

A partir das 14hs, com exposição de originais do Floreal. http://www.vitralizado.com/hq/sabado-3001-16h-na-ugra-uma-conversa-sobre-as-hqs-nacionais/ 
https://www.facebook.com/events/1654819821472230/ 

E tem muito mais! procurem eventos nas bibliotecas. gibitecas, livrarias e espaços da sua região! Viva os Quadrinhos Nacionais!

27 de janeiro de 2016

20 anos sem Caio Fernando Abreu

As atrações, exposições, saraus e outras manifestações em homenagem ao grande escritor Caio Fernando Abreu já começam a pipocar, menos de um mês antes do vigésimo ano de sua morte. Foi em 25/02/1996, de AIDS, doença que ele encarou de frente com muita esperança de cura - se fosse nos dias atuais, talvez o escritor conseguisse essa sobrevida tão cara a ele. Abreu adorava a vida e a viveu intensamente - mergulhou na contracultura hippie, no misticismo, nas drogas, na liberação sexual, na boemia - e talvez tenha sido o escritor de sua época que mais mostrou em suas crônicas, contos e poesias as angústias e inquietações de uma geração. Foi um dos pioneiros ao unir literatura e jornalismo ( e assim foi em todas as redações que passou - como repórter em Nova, Manchete,Veja e Pop e colaborador do Estadão, Correio do Povo, Zero Hora e Folha). O primeiro romance é de 1970, ainda cru, mas já mostrando toda a sua visão de mundo. Um pouco antes, perseguido pelo DOPS, refugiou-se na chácara da intensa Hilda Hirst  - e por toda sua vida, esse caminho até o refúgio da escritora seria um pouso constante e importante. Resolveu se auto-exilar e perambulou pela Europa no início dos 70. Retornou mais alternativo e transgressor do que nunca. Escreveu teatro, jogou tarô, mergulhou na astrologia, ficou louco, desbundou  e adentrou os anos 80 confuso como todo mundo, mas forte e destemido, gerando sua obra prima "Morangos Mofados", um ícone literário da nossa contracultura, que em seus contos irrequietos cobertos de cultura pop e rebeldia, recolocou nos trilhos a literatura jovem que venerava a geração beat. Estranho pensar que ele não conheceu a internet - ele, que acabou virando mito para a geração virtual. Essa atemporalidade da sua obra tem a ver com a sua visão dramática e nevrálgica mas também com a facilidade de rir de si mesmo. Na internet pipocam frases suas ( e nem sempre são suas) de otimismo latente, mas o recheio de sua obra é um caldo viscoso e grosso salpicado de morte, solidão, dilemas, medo.

O sexo e a espiritualidade sempre de soslaio, apontando para todos os lados. Levantou bandeiras corajosas sob o jugo da ditadura. A busca da felicidade, do amor, sempre presente em sua obra. Foi amigo de um monte de amigos e escreveu cartas para muitos deles - e os documentários estão aí para comprovar esse seu poder de agregar almas. Vi os dois que saíram quase ao mesmo tempo em 2014: "Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes", de Bruno Polidoro e Cacá Nazario, é fragmentado, cortante, intenso, emocional; já "Pra Sempre Teu, Caio F.", de Paula Dip e Candé Salles, é mais direto, linear, tradicional, mas também emocional ( esse foi baseado no livro de mesmo nome de sua amiga Dip). Gostei dos dois e recomendo uma dupla sessão, pois juntando essas dualidades presentes nas películas, temos um Caio Fernando Abreu quase por inteiro. Várias obras suas foram filmadas e viraram peças. As obras e sua vida sempre deram um nó na cabeça daqueles que tentaram adentrar o caos quieto de sua persona. Caio foi cidadão do mundo - morou no Rio, São Paulo, Paris,  Espanha, Inglaterra, e nos seus últimos dias acabou voltando pra sua terra Rio Grande do Sul - nasceu em Santiago, cidade que tem uma Rua dos Poetas por causa sua, e faleceu em Porto Alegre, na casa de seus pais, no início do ano que também veria a morte de Renato Russo. Um cometa incandescente, que incendiou sem intervalos, os anos 60, 70, 80 e 90.
Fiquem ligados pois muitas homenagens rolarão a partir de agora. Caio Fernando Abreu, que adorava holofotes, mas podia meditar em cima de uma árvore por dias, vai ligar seu plug, esteja onde estiver!
( Separei matérias, estudos, cenas e declamações para apreciação logo abaixo)


Um filme com um amigo de Caio F. - https://www.youtube.com/watch?v=iriImtzfFak 


Um poema:

O médico perguntou: 
— O que sentes?
E eu respondi: 
— Sinto lonjuras, doutor. Sofro de distâncias.

(Caio Fernando Abreu)

22 de janeiro de 2016

Crônica futebolística histórica na revista Raízes ( dezembro/2015)





Como prometido, eis a crônica histórica que escrevi na última revista Raízes de São Caetano do Sul ( dezembro/2015). O tema é futebol, mas não esse futebol atual cheio de cifrões, brigas de torcidas, jogadores milionários, times falidos, roubalheiras por baixo do pano. Não... este futebol que eu trato na crônica é aquele da minha infância, quando ainda se mantinha preservado o olhar ingênuo e o amor inabalável por seu time, mesmo que já se esboçasse o mercantilismo desavergonhado que se vê hoje; quando ainda se tinha várzea e futebol na rua, mesmo que já descaracterizados; quando um jogador ficava anos e anos no mesmo time e a paixão falava mais alto do que qualquer bilhão na China ou seja lá onde for. Adorei fazer essa crônica - que não tem nada ficcional, só mantém o formato do gênero -  pois citei grandes amigos da infância, alguns que nunca mais vi, outros que ainda mantenho contato, revivi paisagens e passagens incríveis daqueles tempos, e pude citar figuras marcantes para mim, como meu primo Roberto, meu pai João Massolini e meu avô Antônio Massolini ( que só conheci por três anos, mas é como se eu o conhecesse por toda a vida). E também a menção à vários times históricos, como o Corinthians de 1977, o São Paulo do mesmo ano, a Academia do Palmeiras - papa títulos em plena era Pelé - e os times heroicos do meu bairro, como o São Paulinho e o Bandeirantes. Aliás, graças ao acervo de um grande apaixonado pela várzea e figura antológica do meu bairro, o Lamparina, pude ver publicada uma foto histórica da A.A. São Paulo, time conhecido como São Paulinho, que fez história na várzea de São Caetano entre os anos 50 e 60 ( a foto é de 1964 e está devidamente creditada). A próxima missão agora é entrevistar outra legenda do futebol amador da Vila Barcelona/São Caetano, Seu Wilson, fundador de vários times na época, entre eles o citado A.A. São Paulo. Aguardem.
Agradeço à familia Engelmann pelo uso da foto dos irmãos Rogério & Leo com a bandeira do Corínthians ( imagem crucial para o contexto). E agradeço mais uma vez a oportunidade que me foi dada pela equipe da revista Raízes, em especial pela editora e jornalista responsável Paula Fiorotti.
Nas imagens acima ( que podem ser aumentadas com um clique) a matéria na íntegra.

21 de janeiro de 2016

"Hans Grotz - Mais Opiniões Descartáveis", de Lucas Libanio


Feliz da vida, por ter chegado ontem meu exemplar de "Hans Grotz - Mais Opiniões Descartáveis", mandado pelo caríssimo autor Lucas Libanio, direto de Belo Horizonte, via Catarse, devidamente embalado e autografado com direito à dedicatória ilustrada! O volume, independente, é sequência do primeiro "Hanz Grotz - Opiniões Descartáveis", lançado também na raça em 2012. O personagem é um ranzinza adorável, beberrão, fumador de cachimbo, filósofo mundano, que vive praguejando e lamentando o caos da vida moderna, mas também é espirituoso, autêntico e safo. Como diz o grande Marcelo Alencar em seu feliz texto introdutório,  nesses "tempos em que o politicamente correto vem ditando as normas e estabelecendo o humor insípido e inodoro como padrão, as posturas polêmicas de Hans Grotz são um alento". Assino embaixo. Precisamos cada vez mais de Grotz, Edibar, e outros baluartes do humor "fora de moda" para escaparmos da chatice crônica que assola o mundo.
O exemplar também veio com um belo cartão postal, um marcador e páginas extras com galeria de convidados retratando suas visões particulares do personagem. Boa, Lucas Libanio!
* Para quem quer acompanhar as tiras mais recentes de Hanz Grotz, acesse o blog: hansgrotz.blogspot.com 




20 de janeiro de 2016

Quase famosos: as duas "Stillwater"


Assisti mais uma vez o filme "Quase Famosos" ( Almost Famous, 2000), de Cameron Crowe ( acho que já vi umas cinco vezes), um dos filmes de ficção mais legais sobre rock que já pude botar a vista. A obra na verdade tem muito da vida do diretor, que foi repórter da Rolling Stone ainda muito jovem ( tal qual seu protagonista) e viveu todo aquele clima entre o fim do "sonho" hippie e os novos, secos e cortantes ventos que sopravam na primeira metade da década de 70. Para a personagem Penny Lane, vivida por Kate Hudson em grande atuação, Crowe misturou sua paixão real de adolescência, cujo apelido era mesmo Penny Lane e o mito entre as groupies, Bebe Buell, que foi caso de vários artistas - George Harrison, Jimmy Page, Mick Jagger, Rod Stewart, John Taylor, Todd Rundgren, entre outros - e teve sua filha Liv com Steven Tyler ( que na verdade só descobriu ser pai anos depois).

Elenco de Almost Famous com a banda Stillwater fictícia
Já a banda fictícia Stillwater é uma miscelânea de três grupos primordiais para o diretor: Led Zeppelin, The Almann Brothers Band e Lynyrd Skynyrd ( todas as três de alguma maneira são mencionadas ou tocadas em algum momento do filme), mas também consta que a verdadeira banda de nome Stillwater foi das primeiras a serem citadas nos artigos do imberbe Cameron em início de carreira. A banda Stillwater real nasceu justamente no ano em que a história do filme foi centrada, 1973, e embora não tenha feito sucesso constante, conseguiu colocar em 1977 sua música Mind Bender na 77ª posição da Billboard e só encerrou a carreira em 1982. Em 1997 a banda se reuniu para mais um disco. Crowe pediu aos remanescentes da banda autorização para uso do nome, que não se opuseram.

Stillwater
Um detalhe curioso é que para a banda fictícia o nome do vocalista acabou sendo Jeff Bebe ( vivido por Jason Lee), mais uma homenagem de raspão à Bebe Buell. As músicas tocadas no filme pela banda foram escritas em sua maioria por Crowe mesmo ( não creditado) e compostas por Peter Frampton e outros artistas, entre eles a esposa de Crowe na época, Nancy Wilson, da banda Heart ( sim, aquela mesmo que emocionou Page e Plant em uma homenagem ao Led no Kennedy Center Honors em 2012). Já entre as curiosidades da película, são muitas: uma aparição relâmpago de David Bowie ( fictício), dois papéis com personagens que existiram - o guru do jornalismo de rock, Lester Bangs, interpretado pelo grande Philip Seymour Hoffman, e o editor da Rolling Stone Ben Fong-Torres, e uma miríade de roadies de bandas explosivas da época ( Allman Brothers, Humble Pie, UFO, entre outras), além de uma curiosa aparição do baterista do Bad Company ( e ex-Free) Simon Kirke, tomando sol na piscina de um hotel ( um ator, claro). Fora uma das cenas mais incríveis para quem adora discos e rock como eu: o momento crucial em que a irmã do protagonista ( o futuro jornalista William Miller, interpretado por Patrick Fugit) sai de casa e dá todos os seus discos que estão escondidos embaixo da cama: da pilha de vinis surgem "Tommy" do The Who (1969), " Get Yer Ya-Ya's Out!" ao vivo dos Rolling Stones (1970), "Pet Sounds", do Beach Boys (1966 - o disco que fez explodir a veia compositora de Paul McCartney), "Axis: Bold as Love" de Jimmi Hendrix (1967), "Blue" de Joni Mitchell (1971), etc. Aqui houve uma licença poética do diretor, que deve ter colocado na cena seus discos preferidos sem se preocupar com a cronologia da história, já que nesse caso o ano deveria ser 1969. Mas que tinha bom gosto a mana, isso tinha!
O filme eu recomendo. As músicas do filme são bacanas e dão conta do recado ao retratar o clima da época ( lembra muito o Bad Company). E o material da real e até então "escondida" Stillwater merece uma ouvida - é um southern rock bem tocado e auspicioso. Vamos a eles:

O disco da fictícia Stillwater : https://www.youtube.com/watch?v=kxjCMxrEMV0
O disco de 1977 da verdadeira Stillwater: https://www.youtube.com/watch?v=ATvVQkAmI7c
"Mind Bender" - Stillwater : https://www.youtube.com/watch?v=bt1io_Z2WOQ
Stillwater ao vivo em 1976 - https://www.youtube.com/watch?v=O6goTHSJH30
A cena dos "discos" da mana: https://www.youtube.com/watch?v=vmVaCbxkd34
Cena deletada com o Stillwater fake: https://www.youtube.com/watch?v=2Kmb4SxZs3I

19 de janeiro de 2016

Foto do Mês: uma mosca


Essa mosca" diferentona" apareceu no meu jardim no final de 2015 e eu resolvi registrar para a posteridade. Eu não entendo nada de espécies de insetos, mas essa mosca era diferente de qualquer parente sua que vi na vida: ela dava pequenos pulos, coçava as asas, preferia andar no chão à voar, e se repararem bem, tem um recorte corporal bem peculiar. Uma mosca cool que resolveu dar uma passadinha lá em casa num certo entardecer de dezembro.

15 de janeiro de 2016

Baú do Malu 61: Programa original de My Fair Lady ( Minha Querida Lady) com assinaturas do elenco ( 1962)

Em 1962, Marília Pêra, com 19 anos, era mais dançarina e circense que atriz. Ao fazer teste para o monumental musical My Fair Lady, protagonizado por Bibi Ferreira, conseguiu o papel duplo de bailarina e criada porque como disse anos depois, "os diretores estavam procurando alguém que fizesse acrobacias, o que era bem raro naquela época". Há alguns anos atrás, em uma de minhas várias trocas culturais, consegui um item bem peculiar: o programa impresso completo desse musical de 1962. O item por si só já é bem interessante, com sua capa chamativa (assinada por Hirschfeld, provavelmente Al Hirschfeld, assíduo ilustrador do New York Times) , papel de qualidade e muitas informações do elenco e da produção (são 52 páginas!), mas esse programa especificamente veio com um bônus incrível: as assinaturas originais de praticamente todo o elenco de My Fair Lady, incluindo colaboradores e diretores estrangeiros ( só não achei a assinatura do Paulo Autran. Se alguém ver me avise). Outro fato curioso que soube pelo programa é que embora os papéis de Marília fossem pequenos, ela acabou aparecendo em primeiro lugar na lista oficial do elenco, por ser a primeira a entrar em cena! Nada mal para quem praticamente estreava em um grande espetáculo.
Abaixo, destaquei algumas páginas ( incluindo um zoom na assinatura de Marilia) para apreciação desses detalhes descritos.








12 de janeiro de 2016

32º Trofèu Angelo Agostini



A votação para os melhores de 2015 nos Quadrinhos Nacionais encerra-se no dia 15/01. O 32º Troféu Angelo Agostini será entregue no dia 30/01 no Auditório da Biblioteca do Memorial da América Latina (SP), a partir das 13hs e qualquer um pode votar lá no blog da AQC (Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas) e ajudar a eleger seu artista preferido. Para votar, é fácil: Entre com seu login no gmail ou Google ( ou cadastre-se) e em seguida entre no blog da AQC ( aqcsp.blogspot.com.br ). É só acrescentar o nome de sua preferência ( não há indicações prévias)nas categorias disponíveis no formulário de votação e voilá.


11 de janeiro de 2016

David Bowie (1947-2016)


A notícia da morte de David Bowie hoje veio como uma bomba pra muita gente boa que curtia/respeitava ou cultuava o grande mestre da música britânica. Quando minha esposa me ligou cedo pra me dizer que soube de sua morte pelo rádio, demorei pra acreditar: "mas ele não lançou um disco agora?", foi minha reação imediata. "E o vídeo novo.... agora caiu a ficha". Pelo que vinha mostrando nos últimos anos, ele tinha ainda muitas surpresas e invenções em seu baú sempre cheio de criatividade e pérolas. A primeira lembrança que me veio logo depois da notícia foi do seu show em 1990 no Palestra Itália em São Paulo ( já comentado aqui no blog) onde pude presenciar um molecote de 12 anos no máximo chorando nos ombros de seu pai e cantando de cor todas as músicas. Mister Bowie sempre causou essas reações pelo mundo. Chego a pensar se ele não tivesse enfiado o pé na jaca nos anos 70 como enfiou, mergulhado em química, principalmente durante sua trilogia em Berlim, talvez tivesse mais alguns anos a frente, mas realmente isso é egoísta demais da minha parte ( além de ser uma suposição nada fundamentada: quem não enfiou o pé na jaca naquela época? Iggy Pop que caiu em abismos mais profundos, está aí, firme) e Bowie foi Bowie justamente porque ele fez o que fez, do jeito que tinha de ser, deixando como legado sua genialidade, sua liberdade criativa e sua independência na composição que acabou mudando todo o jeito de se fazer canções e lançar discos das gerações posteriores. Sua partida desse planeta é uma grande lástima para a música e a arte mundial. VAMOS OUVIR DAVID BOWIE HOJE E SEMPRE. É o que nos resta.
Como homenagem, deixo aqui o link de um post de 2012 do Almanaque sobre "Hunky Dory", um disco que eu amarei até meu último suspiro.

http://almanaquedomalu.blogspot.com.br/2012/07/hunky-dory-primeira-obra-prima-do.html

aqui, o disco full: https://www.youtube.com/watch?v=YQTENuQYgjM

9 de janeiro de 2016

Lendo: "A Noite do Meu Bem - A História e As Histórias do Samba Canção"


Depois de um reveillon que praticamente não existiu para mim - às 10h30 do dia 31/12 eu, minha esposa e meus dois filhos fomos abordados por quatro indivíduos armados que acabaram levando o carro e também nossos pertences - e depois da burocracia decorrente do caso ( correria pra tirar documentos, bloqueio e pedido de novo cartão, bloqueio na operadora do celular, trâmites do seguro do carro), finalmente as coisas começam a entrar no eixo, o susto vai ficando um pouco mais distante e já dá pra voltar aos pequenos prazeres cotidianos, como ouvir um bom disco, tomar uma brejinha gelada nesse calor colossal e ler um bom gibi e um bom livro. Esse "A Noite do Meu Bem", última obra do Ruy Castro, eu ganhei de Natal, e pelo que já percebi nos primeiros capítulos, é mais um delicioso e fluído livro do autor que não só conta detalhes históricos de uma gênero musical - no caso o samba-canção - mas como é de seu feitio, adentra principalmente a alma e o coração dos que fizeram essa história acontecer. Eu sempre tive essa impressão, e este último não a tira: é como se o Ruy Castro tivesse vivido a época, sentando ao lado dos personagens citados, conversado com eles, participado de tudo aquilo descrito. Quando li os primeiros livros de sua autoria e depois descobri que ele tinha nascido em 1948, ou seja, mais ou menos a época que ele adora descrever, tive um susto, pois eu achava que ele era bem mais velho, principalmente por essa característica latente de contar a história como se fosse testemunha ocular.


O que já li deste último já me deixou entusiasmado: os primeiros capítulos já informam que foi graças à derrocada dos cassinos por lei do presidente Dutra no final dos 40, que houve uma debandada dos músicos, intérpretes e produtores para as nascentes boates, que por suas características próprias, acabaram absorvendo essa mão de obra e adaptando-a para um mundo mais cool, mais sussurrado, mais de penumbra. Essa nova adequação deu luz ( ou meia-luz) ao samba-canção, que acabou transformando toda a música brasileira subsequente. Muitos dessa fase de boates - Dick Farney, Antonio Maria, Dolores Duran, Doris Monteiro, Johnny Alf, Lucio Alves, Sylvia Telles, Tito Madi e um jovem compositor e pianista da noite chamado Antonio Carlos Jobim - foram os grandes alquimistas e precursores do fenômeno mundial que viria já no final da década seguinte: a Bossa Nova. O samba canção não pode ser injustamente "colado" à Bossa Nova, como se fosse um balão de ensaio desta, mas sua influência é inconteste. O biógrafo-cronista Ruy Castro continua nos brindando com histórias fantásticas e saborosas da noite, do Rio e de artistas além da média ( seus temas preferidos desde sempre) e nesse balaio sempre há informações precisas e bem pesquisadas das obras tramadas e lançadas no período contemplado. Lê-lo é estar junto com ele nessa época de ouro.


7 de janeiro de 2016

Os que se foram em Dezembro de 2015

Marília Pêra (1943-2015)

Em A Moreninha, um de seus primeiros papéis na TV Globo (1975) ( Divulgação TV Globo)
Marília foi um verdadeiro monumento do TTT ( Teatro, TV e Telona). Onde passou deixou marcas com sua interpretação arrebatadora e única. Por isso o choque generalizado no meio quando foi anunciado o seu falecimento no dia 05/12. Seu currículo é grandioso: 50 peças, quase 30 filmes, mais de 40 novelas, minisséries e programas especiais. Seu berço/casa/território era mesmo o teatro, onde recebeu dezenas de prêmios, inclusive como diretora ( O Mistério de Irma Vap, estreou em 1986 e ficou em cartaz com sucesso por longos anos. Já o longa adaptado da peça e dirigido por Carla Camurati foi um fracasso que Marília chegou a "comemorar" na época). Foi no teatro também que teve um dos seus dias pessoalmente mais dramáticos: em 1968, a peça de Chico Buarque de Hollanda "Roda Viva", encenada por Marília ( na segunda temporada), foi invadida por cerca de 100 membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e teve seu cenário e figurino destruídos e o elenco hostilizado e vítima de agressões. Um pouco antes, a atriz já tinha contrato com a nascente TV Globo, emendando novelas como Rosinha do Sobrado ( 1965) e A Moreninha ( 1965). Marília continuou brilhando no teatro ano a ano mas direcionou suas baterias para a televisão com mais veemência na primeira metade da década de 70, obtendo alguns de seus melhores momentos na telinha, via Rede Globo.
Em Uma Rosa Com Amor (1972) com Grande Otelo ( Divulgação TV Globo)

Foi o caso da novela "Uma Rosa com Amor" de 1972/1973, contracenando com um elenco de primeira, destacando Paulo Goulart, Grande Otelo, Lélia Abramo, Felipe Carone, Yoná Magalhães e Tônia Carrero. O interessante é que eu, do alto dos meus 5 anos de idade, me lembro de quase tudo dessa trama: o cortiço, os bonecos de marionetes do Seu Pimpinoni (Grande Otelo), Yoná loira,etc. Nesse mesmo 1972 fez o especial Viva Marília, um termômetro da sua grande fase na emissora. A atriz, que também já mostrou inúmeras vezes seu dote de cantora e dançarina em musicais ( além de gravar um LP inteiro em 1975 pela Som Livre - "Feiticeira"), nunca deixou de ser contratada da Globo, mas com sua preferência natural para o teatro e suas atuações pontuais e perenes no cinema - a cena de Pixote com Marília Pêra amamentando o menor ficará para sempre entre as imagens mais marcantes da sétima arte - os papéis em novelas se tornaram bem espaçados e algumas vezes aquém de sua importância como intérprete. Houve sim bons e esparsos momentos - JK, Incidente em Antares, Elas por Ela ( outro especial à sua altura), O Primo Basílio, Quem Ama Não Mata - mas já a partir dos anos 70, o palco era definitivamente a casa sagrada de Marília. Não sei se talvez por conta desse distanciamento, a TV Globo pecou em não fazer um especial em homenagem a uma de suas mais genuínas e brilhantes atrizes. Pipocaram aqui e ali algumas retrospectivas na programação normal da emissora, mas nada relevante.

Seu último papel, em Pé na Cova ( divulgação TV Globo)
Seu último papel, ainda no ar, como a alcoólatra Darlene (desde 2013, mas com intervalos forçados pela sua saúde) em Pé na Cova, de Miguel Falabella, é mais uma de suas interpretações memoráveis. A série terá uma última temporada em 2016 e Marília, apesar da dificuldade que teve em gravar, estará presente em todos os capítulos. Uma despedida digna de uma diva genuína.

https://www.youtube.com/watch?v=y8ToEddXzbI


Lemmy Kilmister (1945-2015)


O baixista, cantor , compositor e líder da banda Motorhead faleceu no dia 28/12, depois de ter diagnosticado um câncer raro e agressivo dois dias antes. Sua saúde já andava abalada há uns anos e alguns compromissos da banda foram cancelados por conta disso, mas sempre que possível, lá estava ele à frente, tocando e cantando seus hinos pesados para a platéia sempre ávida e deixando uma impressão enganosa de que continuava inabalável. Lemmy é daqueles ícones do rock que acabam extrapolando o próprio rock em si e viram lenda viva - pelo seu modo de vida, pelo seu visual, pelas suas letras, pelos seus casos pessoais incríveis e principalmente por não ter medo de dar as caras e bater de frente sempre que possível com qualquer assunto que seja. O Motorhead, claro, anunciou seu fim logo depois do anúncio do óbito - Lemmy era o único integrante a passar por toda a trajetória do grupo que fundou. A banda foi seminal na evolução do gênero mais pesado do rock, injetando adrenalina e velocidade ao hard e ao heavy metal misturada à atitude estradeira e punk. Pelo menos três discos merecem ser exibidos no panteão das grandes obras de rock de todos os tempos: Bomber ( 1979), Ace of Spades (1980 - com a faixa título que virou assinatura da banda) e No Sleep'Til Hammersmith (1981 - considerado um dos grandes discos ao vivo do rock pesado). Não que os outros lançamentos não mereçam uma ouvida - todos tem seus grandes momentos. Lemmy estava na estrada do rock há tempos: começou em bandas obscuras dos anos 60, passou pelo exótico Sam Gopal entre 1968 e 1969 até se firmar na louca banda Hawkwind, de space rock, onde permaneceu de 1972 a 1975.

Motorhead original. O baterista Phil "Animal" Taylor, à direita, faleceu em novembro.

Depois veio a avalanche chamada Motorhead, de onde nunca mais saiu ( paralelamente chegou a fazer um projeto de rockabilly chamado The Head Cat, desde 2000) e que mudou o rock pra sempre. Valeu, Lemmy, por devolver ao rock sua honestidade e rebeldia ainda dos tempos do rock and roll negro.

https://www.youtube.com/watch?v=H42FmyDBmWA


William Guest (1941-2015)

Cantor do grupo Gladys Knight & The Pips, uma legenda da música negra mundial, faleceu em 26/12. Por 36 anos ( 1953 a 1989) Guest integrou a banda, continuando na música depois através de sua produtora e trabalhando como CEO da Crew Records. Em 2013, coescreveu com seu irmão a autobiografia "Midnight Train for Georgia: A Pips Journey".

https://www.youtube.com/watch?v=HwbmufPphP0



John Bradbury (1953-2015)


Bradbury foi baterista dos Specials, um dos grupos ingleses que revitalizaram o Ska nos anos 80 e se engajaram na luta contra o racismo. Ele entrou dois anos depois da fundação da banda, em 1979, e se tornou um dos grandes instrumentistas do período, logo respeitado pelo meio, com um estilo todo próprio e inovador. Fez a passagem no dia 28/12.


https://www.youtube.com/watch?v=nxHcx7FO8nI


Tutuca (1932-2015)


Um dos últimos remanescentes da velha guarda do humor ainda ativos na TV de anos mais recentes, Tutuca começou a carreira nos anos 50. No programa Balança Mas Não Cai, simultâneo na rádio e TV criou o faxineiro que vivia de olho na mulherada, com o famoso bordão "Ah, se ela me desse bola...". Mais tarde outro bordão seu - "Xiiii" - caiu na boca do povo. Desde então, Tutuca frequentou dezenas de programas humorísticos na telinha, de Apertura á Praça é Nossa, de Sob Nova Direção à Zorra Total ( uma de suas últimas participações). No cinema, estreou junto com Jô Soares no "O Homem do Sputnik", de 1959 e se destacou no "O Homem que Roubou a Copa do Mundo" de 1962, ao lado de Ronald Golias. Nos últimos tempos esteve no elenco de "Os Normais" e "A Guerra dos Rocha", considerado por ele um dos mais importantes de que participou. Faleceu em 03/12.


https://www.youtube.com/watch?v=kgOy_-TKfYU


Paulo Hamasaki ( 1941-2015)

Da esquerda para a direita: Fausto Takaoka, Gilberto Firmino e Paulo Hamasaki, nos tempos da Noblet ( arquivo: Gilberto Firmino)
Desenhista, editor de HQs e diretor de arte, teve participação crucial na produção de quadrinhos na década de 60 e 70. Começou como estagiário na CEPTA ( Cooperativa Editora e Trabalho de Porto Alegre), iniciativa interessante de abertura da distribuição de autores nacionais que acabou abortada com o início da Ditadura Militar. Em seguida, passou a ser um dos primeiros colaboradores de Maurício de Sousa, tornando-se o primeiro diretor de arte em seu estúdio. Nessa época, Maurício ainda não tinha revistas em banca com seus personagens e o forte era a distribuição de tiras para jornais de todo país e a edição da Folhinha, suplemento da Folha de São Paulo com passatempos e quadrinhos. Uma de suas ideias originais, "Os Dez Ajustados", sobre uma família e seus problemas cotidianos, acabou sendo distribuída via Mauricio em 1967. 
Um de seus personagens em revista própria, pela Grafipar
Entre os anos 70 e 80, colaborou para a Editora Abril - onde chegou a publicar na revista Contigo, "Cris, a Repórter" - para a Noblet, a M&C (Mimani &Cunha) e para a Grafipar. A partir daí, virou editor independente, lançando revistas com seus antigos personagens, como Ágata, Torn, Caruncho&Caroço, Sanjuro, entre outros, e também novos talentos.
Aqui, uma daquelas minuciosas e saborosas entrevistas feitas por Tony Fernandes. Ele conversou com Hamasaki em 2011