Meu confrade Rick Berlitz, parceiro musical e comparsa de boas coisas desde os anos 80, me apareceu com uma descoberta absolutamente crucial e eu a achei tão imprescindível que aproveitei para abrir mais uma série aqui no blog: "Dos Arquivos Originais de...". O compositor Sérgio Ricardo já tinha aparecido em um post no Almanaque do Malu uns tempos atrás ( devidamente linkado no texto do Rick) mas agora, nessa escavação à importante publicação sessentista InTerValo, da Editora Abril - uma das revistas que mais mergulharam no comportamento cultural e midiático da época - , o compositor ressurge um ano depois da famosa "violada", em um momento de redenção pouco documentado até agora.
VAIA, VIOLÃO, ESTROFE, REDENÇÃO
(Rick Berlitz)
Crédito: página da revista InTerValo de 09/11/1968 ( Editora Abril) |
Alguns achados nas gavetas. Mas nada
de novo no fronte. Tudo o que já sabemos – e se não sabemos, recorremos aos
livros, ao Google, etc. Ponto.
A foto é da semanal (há muito
extinta) revista InTerValo, da Editora Abril, em sua edição de 3 a 9 de
novembro de 1968.
Destacava em uma de suas matérias a briga de Sérgio Ricardo com a justiça para liberar “Dia da Graça”, finalista do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record - a música substituída seria “Rojão da Canoa”, de Carlos Castilho e Vitor Martins.
Destacava em uma de suas matérias a briga de Sérgio Ricardo com a justiça para liberar “Dia da Graça”, finalista do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record - a música substituída seria “Rojão da Canoa”, de Carlos Castilho e Vitor Martins.
Para saber mais, leia Aqui sobre “um certo violão vilão que violou vaias”.
“Quando
bate a nostalgia
bate
noite escura
mãos
no bolso e a cabeça
baixa,
sem procura
Beto
vai chutando pedra
cheio
de amargura
num
terreno tão baldio
o
quanto a vida é dura
onde
outrora foi seu campo
de
uma aurora pura.
Chão
batido, pé descalço
mas
sem desventura.
Contusão,
esquecimento
glória
não perdura.
Mas,
se por um lado o bem se acaba,
o
mal também tem cura”.
“Dia da
Graça” foi parcialmente censurada pelo governo militar. Durante a execução, o cantor permaneceu em silêncio nas
estrofes proibidas. A redenção de Sérgio Ricardo foi
a remissão dos erros do público, que cantava parte dos versos censurados: “Faz um dia claro e eu saí pela rua / Pra ver
a cidade diferente / da normalidade / Nenhum militar de arma em punho”. “Dia
da Graça” foi interpretada por Sérgio Ricardo e o Modern Tropical Quintet. Ficou
com o quinto lugar. O Festival tinha dois júris: um
Oficial e outro Popular, este com participação dos leitores da InTerValo, que
publicava cupons semanais para o público escolher as finalistas.
Das mais de
1.000 músicas inscritas no IV Festival de Música Popular Brasileira, apenas 36 foram selecionadas
para as eliminatórias, entre elas: 2.001 (Rita
Lee Jones/Tom Zé), com Os Mutantes; A Grande Ausente, (Francis Hime/Paulo Cesar Pinheiro),
com Taiguara; Madrasta (Renato
Teixeira/Beto Ruschel), com Roberto Carlos; Bonita (Hilton Acioly/Geraldo Vandré), com
Trio Marayá; Cajueiro Velho (Luiz
Roberto Oliveira/Milton Eric Nepomuceno), com Eduardo Conde; Descampado
Verde (Maranhão), com
Maranhão e MPB-4, e Dia da Graça
(Sérgio Ricardo), com Sérgio Ricardo e Modern Tropical Quintet.
Classificação
final do Júri Oficial:
1º lugar: SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR (Tom Zé),
com Tom Zé
2º lugar: MEMÓRIAS de MARTA SARÉ (Edu
Lobo/Gianfrancesco Guarnieri), com Edu Lobo e Marília Medalha
3º lugar: DIVINO, MARAVILHOSO (Gilberto
Gil/Caetano Veloso), com Gal Costa, Ivete e Arlete
4º lugar: 2.001 (Rita Lee/Tom Zé), com Os
Mutantes
5º lugar: DIA DE GRAÇA (Sérgio Ricardo),
com Sérgio Ricardo e Modern Tropical Quintet
6º lugar: BENVINDA (Chico Buarque) Chico
Buarque e MPB-4
Classificação
final do Júri Popular:
1º lugar: BENVINDA (Chico Buarque), Chico
Buarque e MPB-4
2º lugar: MEMÓRIAS de MARTA SARÉ (Edu
Lobo/Gianfrancesco Guarnieri), com Edu Lobo e Marília Medalha
3º lugar: A FAMÍLIA (Chico Anísio/Ari
Toledo), com Jair Rodrigues e Golden Boys
4º lugar: BONITA (Geraldo Vandré/Hilton
Accioly) com Trio Marayá
5º lugar: SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR (Tom Zé),
com Tom Zé
6º lugar: A GRANDE AUSENTE (Francis
Hime/Paulo César Pinheiro), com Taiguara
Prêmio
de Melhor Intérprete Masculino: JAIR
RODRIGUES (Júri Popular)
Prêmio
de Melhor Intérprete Feminino: ELZA
SOARES (Júri Oficial)
Prêmio
para Melhor Letra: 2.001 (Rita
Lee/Tom Zé)
Prêmio
para Melhor Arranjo: Edu Lobo por MEMÓRIAS DE MARTA SARÉ
Sobre Vandré – Nesta mesma edição, a
InTerValo anunciava que o cantor e compositor paraibano “cobrou cachê considerado excessivo pela direção da emissora (TV Record)”.
Bonita, em parceira com Hilton Accyoli, foi interpretada pelo Trio Marayá, de
que Accyoli era um dos integrantes.
Em 13 de dezembro de 1968 foi decretado o
AI-5. O resto é história. Tudo o que já
sabemos. Fim.
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