No fim de semana, fui despreocupadamente em uma feirinha esotérica, acompanhado de minha amada Cris, aqui mesmo na minha cidade. Eu curto esse universo "São Thomé das Letras" e nesses eventos sempre tem alguma miniatura interessante ou impressos inusitados. De cara, conheci o quadrinista Alexandre Lince, um jovem artista que faz um trabalho interessante com aventuras em tiras de sua turminha "Blizys", além de projetos especiais, como a compilação que fez com histórias lendárias da cidade de Paranapiacaba. Vale a pena conhecer!
Um pouco mais adiante, me deparo com um pequeno móvel de duas prateleiras com um cartaz: "LIVROS LIVRES", com publicações doadas para o evento que podiam ser adquiridas gratuitamente, sem devolução. Claro que fui lá fuçar. Entre dicionários, folhetos bíblicos e alguns exemplares com temas de saúde, encontrei dois ótimos volumes: "Letras & Canções" de Ana Terra (1981) e "O Rapto da Mulher Barbada" (1978) de Cláudio Feldman. A primeira tem letras belíssimas que já viraram música com Danilo Caymmi, Joyce, Natan Marques, Angela Ro Ro, Milton Nascimento, Zé Renato, etc. - e esse primeiro livro de sua carreira traz quase todas elas, entre 1974 e 1980. Excelente! Já o livrinho do Claudio Feldman, autor são andreense de longa carreira, filho do grande cineasta Aron Feldman, é brilhante: com um humor telegráfico e direto, inclui centenas de mini textos transfigurando jornalismo em literatura e literatura das boas! A capa é de Moacir Torres, quadrinista de extensa carreira, que já morou em Santo André e atualmente está no interior de São Paulo - ele foi cocriador ao lado de Feldman do cultuado Jornal da Taturana, publicação independente que marcou a literatura na região. Feliz da vida, fui pra casa e quando bato o olho na dedicatória do livrinho do Feldman, "Para a Marisa, esta 'barbada', oferece Cláudio", me caiu a ficha. Minha saudosa amiga Marisa Déa, que desencarnou em junho deste ano (e que por conta da minha total paralisia na ocasião, acabei não homenageando no blog) - professora, tradutora, escritora, revisora e agitadora cultural - não era amiga da Ana Terra? E também, por conta de sua eterna cumplicidade com a literatura, depois de anos e anos dando aula de letras em Santo André, não conhecia também o Feldman? (quem do meio em Santo André, não conhece o Feldman?). Posso até estar viajando, mas é muita coincidência dois livros de dois amigos de Marisa na minha mão, vindos de uma cestinha de "livros livres" em nossa cidade natal! Na época em que ela foi subitamente para outro plano, estava combinando em mensagens de comprar seu último livro - a ideia era adiar até a pandemia melhorar, mas acabou não dando tempo de encontrá-la. Hoje, depois de cinco meses, por confluências do universo, acho que adquiri dois livros cativos do substancioso acervo de Marisa Déa, que assim como esses livros, deve estar LIVRE por aí, ensinando, escrevendo, corrigindo, declamando, e principalmente juntando gente em torno de arte/cultura/literatura, sua mais deliciosa armadilha. Viva Marisa!