Eu já tinha o progressive jazz "Sol do Meio-Dia", LP que Egberto Gismonti gravou em 1978 com Jan Garbarek, Collin Walcott e Ralph Towner. Agora, graças a minha visita à Feira Livre de Santo André, mais precisamente na banca mágica do grande Carlinhos, em um feliz sabadão da metade deste mês, consegui os dois álbuns anteriores: "Dança das Cabeças" ( com o parceiro para todas as horas, Naná Vasconcelos) e "Carmo", ambos de 1977. É desse último, que resolvi "pescar" a capa do mês. Carmo/RJ é a cidade natal do compositor/multiinstrumentista, e a sua embalagem traz justamente esse ambiente aconchegante de infância: becos/esquinas, família reunida à mesa, sinos/igreja matriz, ar puro/sossego. Janela escancarada pra rua. Música ao vento. Se escutar esse disco nos remete ao coração do Brasil, essa bela capa dupla, que generosamente abre seu portal recheado de fotos e lembranças, completa o conjunto e prova mais uma vez que a arte e o layout proporcionados por esses LPs setentistas extrapolam e tergiversam qualquer discussão comparativa ao CD. Enquanto a capa se abre para nós, que tal a audição de uma lírica faixa do próprio disco, com letra de Geraldinho Carneiro?
http://www.youtube.com/watch?v=IMxKFYkfXSk
31 de julho de 2014
Poesias na Agenda Cultural de São Caetano do Sul
Pra fechar julho com chave de diamante, além do lançamento do livro de poesias, também fui premiado com a inclusão de duas poesias curtas de minha autoria na Agenda Cultural mensal da Secretaria Municipal de Cultura de São Caetano do Sul (foto acima). Essa seção "Se Liga no Texto" é uma parceria com a Academia Popular de Letras, já incluída em pelo menos três edições passadas do informativo e é uma boa forma da população ter fácil acesso à literatura e aos trabalhos dos autores da região.
A agenda toda está aqui file:///C:/Users/marcos/Pictures/agenda2014_julho_final_web.pdf
A agenda toda está aqui file:///C:/Users/marcos/Pictures/agenda2014_julho_final_web.pdf
29 de julho de 2014
Foto do Mês: João Massolini e Lourdes Pareja no início dos anos 60
Essa graciosa foto da época de namoro dos meus pais foi tirada no quintal da casa que meu avô Ricardo construiu em 1948 em São Caetano. Detalhe: essa casa, que já completou 66 anos de idade, ainda existe e é nela que eu resido desde 2004, junto com meus filhos e esposa. E se eu olhar pra foto e lá pra fora, posso ver que a residência mudou bem pouco dessa época pra cá. Meu pai acredita que essa imagem foi tirada por volta de 1963. Uma coisa é certa: minha saudosa mãe era mesmo de uma beleza hollywoodiana, ainda mais quando escancarava um sorriso. Mas deve-se acrescentar também o charme, o Vulcabrás bem engraxado e o furinho no queixo do jovem João Massolini.
Fiquei muito contente quando vi essa foto entre as selecionadas da seção "Em Foco" na última edição da revista Raízes (nº49/ Julho de 2014 - capa abaixo). Ela é uma imagem muito representativa para mim.
Fiquei muito contente quando vi essa foto entre as selecionadas da seção "Em Foco" na última edição da revista Raízes (nº49/ Julho de 2014 - capa abaixo). Ela é uma imagem muito representativa para mim.
28 de julho de 2014
Aura de Heróis - o lançamento
Na última quinta-feira, 24, fiz o lançamento de meu último rebento literário, o livro de poesias "Aura de Heróis", no salão da biblioteca Paul Harris, na minha cidade São Caetano do Sul. A meteorologia até tentou melar, com previsões de rajadas de ventos, trovoadas e temporal, e até certo ponto amedrontou alguns amigos meus da capital e cidades vizinhas, mas no fim, fui agraciado com uma noite sublime, profunda, rodeado de amigos e familiares queridos. Sob a batuta da intensa e ativa Ana Maria Rocha Guimarães, responsável pelo sistema de bibliotecas da cidade e presidente da Academia Popular de Letras, da qual faço parte, alguns membros escritores abrilhantaram o evento com justas homenagens aos recém-falecidos Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna. Declamei duas poesias publicadas no livro, alternando-as com algumas selecionadas e citadas pela Ana Maria, e entre uma e outra dedicatória, papeei com gosto junto aos confrades que me prestigiaram. Obrigado a todos os presentes, ao Wilsão, que fez a trilha do evento tirando sons clássicos de seu violão e à Ana Maria e sua equipe ( excelente!). E obrigado aos meus filhos e a minha esposa, que me ajudaram em tudo, desde o clarear do dia. Toda essa força, empenho e energia, fizeram a noite se tornar inesquecível.
A foto lá em cima foi tirada pela minha sobrinha Fernanda Dávila. A primeira aqui embaixo também é dela. As últimas seis imagens são da minha mana Helô.
A foto lá em cima foi tirada pela minha sobrinha Fernanda Dávila. A primeira aqui embaixo também é dela. As últimas seis imagens são da minha mana Helô.
Ariano Suassuna (1927-2014)
Na última semana faleceu tanta gente boa, que eu acabei paralisando um pouco as efemérides, estático que fiquei com tanta perda importante na cultura. Ariano Suassuna foi o último, falecido no dia 23/07, aos 87 anos. Ariano, antes de qualquer coisa, foi um dramaturgo, e dos melhores: acabou criando "Auto da Compadecida" em 1955, peça que para Sábato Magaldi seria considerada o "texto mais popular do moderno teatro brasileiro".A sua essência sempre foi o teatro, e nele criou grandes trabalhos entre os anos 40 e 60. A literatura, os ensaios, a pintura, o movimento Armorial ( criado por ele em 1970, com a intenção de unir o erudito à arte popular nordestina) foi consequência de sua genialidade teatral, embora na primeira tenha se tornado um romancista de primeira, principalmente depois de botar no mundo o "Romance d'A Pedra do Reino", livro primoroso de 1971. Adorava conversar, explicar, opinar e tentar entender o mundo - dessa necessidade e dom, virou professor por longos anos e palestrante danado de bom. Até na política se meteu ( mas como se pode ver em sua biografia, de um modo seu, bem peculiar). Ariano Suassuna foi criador/escritor e artista único, portanto não deixa seguidores de seu estilo. Foi também um protetor e defensor ferrenho das raízes e tradições brasileiras, indo às vezes às raias da teimosia. Ariano foi múltiplo, e por toda a vida, um forte.
Separei alguns links que dão uma ideia do pensamento e dos movimentos de Ariano, lúcido até o fim. Vale a pena também procurar as suas aulas-espetáculos na rede. Mas antes de tudo, leiam os livros do mestre...
https://www.youtube.com/watch?v=fdIj4ryzOyo
https://www.youtube.com/watch?v=FkR_qqmaLk8
https://www.youtube.com/watch?v=5MDYKt7Bb0g
Separei alguns links que dão uma ideia do pensamento e dos movimentos de Ariano, lúcido até o fim. Vale a pena também procurar as suas aulas-espetáculos na rede. Mas antes de tudo, leiam os livros do mestre...
https://www.youtube.com/watch?v=fdIj4ryzOyo
https://www.youtube.com/watch?v=FkR_qqmaLk8
https://www.youtube.com/watch?v=5MDYKt7Bb0g
26 de julho de 2014
Conteúdo da Revista Acrópole está na rede
O grande chapa Rogério Engelmann mais uma vez vem com uma dica preciosa para esse blog: o conteúdo completo da Revista Acrópole, verdadeira referência e uma das publicações mais importantes sobre arquitetura já produzidas no país, está inteiramente disponível na internet. Segundo matéria do IABSP, a FAUUSP digitalizou mais de 27,5 mil páginas publicadas entre 1938 e 1971 e disponibilizou-as gratuitamente no site do projeto. O link para viajar nessa História da arquitetura paulista, brasileira e mundial é esse: www.acropole.fau.usp.br .
25 de julho de 2014
Previews - GraphicMSP Bidu - Caminhos
Sidney Gusman, o incansável Sidão, organizou mais um dos seus famosos previews com uma nova edição da excelente GraphicMSP,que iniciará sua segunda série em breve. 'Bidu - Caminhos', de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, traz uma aventura repleta de emoções, dramas e obstáculos em um tempo em que Bidu e Franjinha ( primeiríssimos personagens de Maurício de Sousa) ainda não eram melhores amigos. Além dessa obra, Astronauta II ( continuação da aventura que iniciou a série GraphicMSP) também tem previsão de lançamento para esse ano. Em 2015, a coleção continuará com Turma da Mônica II ( sequência dos irmãos Cafaggi), Papa-Capim, de Marcela Godoy e Renato Guedes, Turma da Mata, de Arton Fujita e Davi Calil ( o desenhista ainda será anunciado) e Turma do Penadinho, de Cristina Eiko e Paulo Crumbin. As imagens selecionadas por Sidão dão sinais que o álbum manterá a qualidade das obras anteriores, com cores bem distribuídas, contrastes e ângulos inusitados e cenas de puro lirismo - a começar pela capa (acima). Confiram:
23 de julho de 2014
"Aura de Heróis" - Finamente minha segunda cria poética vem à luz
Em 2001, último ano de minha querida mãe na Terra, lancei com muita alegria o livro de poesia "Borboletas Abissais", totalmente independente, ao lado de vários amigos e minha numerosa família. O tempo passa num piscar de olhos e depois de algumas participações em coletâneas, publicações e concursos, eis que 13 anos após, finalizei mais um volume recheado de poemas de várias épocas de minha vida. "Aura de Heróis" também surge independente, embora eu tenha contado com a força inconteste de alguns profissionais, a começar por essa expressiva capa, com arte e layout de Gonçalo Pavanello, artista plástico, designer e músico do ABC, fora de série também como pessoa. O Fárlei da Juizforana Gráfica e Editora e a Ana da Voilà! Estúdio Criativo também se empenharam demais da conta no processo gráfico e de diagramação, o que eu agradeço imensamente. No lado mais pessoal do projeto, contei com o apoio de sempre da minha musa Cristina, e não por menos, incluí na obra uma penca de poemas que fiz em sua homenagem durante toda a nossa união. Tive a felicidade também de contar com o texto precioso e elegante do jornalista e amigo de longa data Ricardo Berlitz, que gentilmente prefaciou o livro. E pra fechar com arte e chave de ouro, propositalmente selecionei para a obra, três fotos tiradas pela minha filha Letícia, que tem um foco e um enquadramento incrível desde pequerrucha, e dois desenhos, um do meu pai e outro do meu filho Gabriel, finalizando um ciclo de três gerações e cinco décadas. Os livros chegaram de Minas na semana e já amanhã aportarão na Biblioteca Paul Harris, da minha city São Caetano, para o lançamento oficial. Mais detalhes do evento, com horário e endereço, podem ser capturados na matéria que o blog da Academia Popular de Letras fez sobre o lançamento. Espero vocês lá!
http://academiapopulardeletras.wordpress.com/2014/07/23/marcos-massolini-lanca-aura-de-herois-nesta-quinta-em-sao-caetano/
http://academiapopulardeletras.wordpress.com/2014/07/23/marcos-massolini-lanca-aura-de-herois-nesta-quinta-em-sao-caetano/
21 de julho de 2014
Mestre Itamar Assumpção no Ensaio da TV Cultura ( íntegra do programa de 1999)
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divulgação/TV Cultura |
link: https://www.youtube.com/watch?v=uiQxFFWrx-Y
18 de julho de 2014
João Ubaldo Ribeiro (1941 - 2014)
Semana difícil.... Johnny Winter, Vange Leonel ( "calada noite preta...") e agora João Ubaldo Ribeiro. O homem que ocupava a cadeira 37 da ABL, que venceu uma penca de prêmios (incluindo internacionais), que não gostava muito de vírgulas ( vide "Viva o Povo Brasileiro") e que deixa uma obra brasileiríssima, original, de suma importância para a história do romance nacional. Também gostava de hablar, com sua voz grave e suas opiniões contundentes e nem sempre otimistas, embora como pessoa, transformasse qualquer recinto em uma reunião festiva e movimentada. Sargento Getúlio ( que virou filme), O Sorriso do Lagarto ( que virou série televisiva), além do citado Viva o Povo Brasileiro são clássicos imediatos, trabalhos de grande relevo, e merecem estar em toda biblioteca que presta.Por muito tempo, foi jornalista em jornais da Bahia, seu estado de nascença. Também colaborou com jornais na Europa, principalmente na Alemanha, onde morou, e ultimamente tinha coluna semanal em jornais do Rio e São Paulo. Tradução também foi seu ganha pão por um bom tempo. Ele vinha escrevendo um novo romance há alguns anos... esperemos que tenha dado tempo para um desfecho publicável. Caras como João Ubaldo Ribeiro deixam um enorme vazio na nossa literatura, já tão cheia de vazios. Mas sua rica obra, ainda bem, fica entre nós.
Mais sobre sua morte e sua carreira, aqui: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/morre-no-rio-o-escritor-joao-ubaldo-ribeiro.html e aqui: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2014/07/videos-relembre-carreira-do-escritor-joao-ubaldo-ribeiro.html
Mais sobre sua morte e sua carreira, aqui: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/morre-no-rio-o-escritor-joao-ubaldo-ribeiro.html e aqui: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2014/07/videos-relembre-carreira-do-escritor-joao-ubaldo-ribeiro.html
17 de julho de 2014
Johnny Winter (1944-2014)
Morreu um ícone da guitarra e lenda do blues, aos 70 anos. Johnny Winter sempre surgiu em listas especializadas como um dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos. Eu, que curti muito o albino endiabrado a partir dos anos 80 ( ouvindo seus primeiros discos dos anos 70, claro), sempre o coloquei entre os 50. O cara era phoda e mesmo nos últimos anos, esfacelado pelas drogas pesadas que consumiu em parte da sua vida, tocando numa cadeira de rodas de cabeça baixa, continuava estraçalhando as cordas de sua guitarra, evocando o bom e velho blues de sempre. Eu gostava tanto de seus primeiros discos, que acabei comprando no pacote trabalhos do seu irmão Edgar Winter, que também não era fraco não e adorava o blues também, embora tenha se perpetuado como multi-instrumentista - teclado ganhando - e durante a carreira irregular arriscou até uma fusion mais jazzistíca que seu irmão sempre ignorou. O curioso é que os irmãos chegaram a formar uma dupla vocal nos anos 50, no estilo dos Everly Brothers - alguém consegue imaginar essa cena? Em 1962, já totalmente "enterrado" no blues e frequentando os clubes negros com o irmão, participou em um deles do show de B.B.King e foi aplaudido em pé - B.B se arrependeu até o fim de seus dias por ter deixado aquele branquelo petulante de 17 anos subir em seu palco. Johnny até podia misturar rock britânico, country e rhiythm no caldo de seu blues, mas o resultado final sempre descambava para a pura raiz do Delta do Mississipi e para o essencial rock and roll. Edgar, embora com carreira própria, sempre o acompanhou de perto. Muddy Waters o chamava de filho e tanto ele como outro ídolo de Johnny, John Lee Hooker, acabaram sendo produzidos pelo pupilo, que também tocou em seus discos. Participações aliás, sempre foi rotina em seus discos - os guitarristas sempre adoraram Johnny, incluindo Hendrix, que tocou com ele ( foto abaixo) e o elogiou bastante.
O último disco gravado por Winter, e que deve sair em setembro, conta com as ilustres presenças de Eric Clapton, Ben Harper, Billy Gibbons, Dr.John, Brian Setzer, Joe Perry e Leslie West. Bem acompanhado até o fim. Que o Deus da Guitarra cuide bem de Johnny Winter.
Mix no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8Tyg5SJDpiQ&list=PL6824BF48B097B53C
O último disco gravado por Winter, e que deve sair em setembro, conta com as ilustres presenças de Eric Clapton, Ben Harper, Billy Gibbons, Dr.John, Brian Setzer, Joe Perry e Leslie West. Bem acompanhado até o fim. Que o Deus da Guitarra cuide bem de Johnny Winter.
Mix no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8Tyg5SJDpiQ&list=PL6824BF48B097B53C
14 de julho de 2014
Revista da Cultura 84
http://www.revistadacultura.com.br/home.aspx
13 de julho de 2014
Revista de História da Biblioteca Nacional na internet
A excelente Revista de História da Biblioteca Nacional, com certeza a melhor publicação sobre a História do Brasil em bancas, também vem disponibilizando seus apurados textos no site www.rhbn.com.br. Artigos ensaios, reportagens, dossiês, todos escritos por historiadores e especialistas em áreas como política, economia, música, dramaturgia, quadrinhos, editoração, sociologia, costumes, entre tantos assuntos ligados à historiografia. Confiram lá.
10 de julho de 2014
Baú do Malu 47 : Folhetos originais do Teatro de Bolso de Ipanema, com arte de Millôr Fernandes
Esses preciosos folhetos originais acima são do famoso "Teatro de Bolso" de Silveira Sampaio, cuja trupe revirou do avesso a cultural Ipanema do início dos anos 50. Com direção e texto do próprio Silveira Sampaio, as duas encenações são de 1953, sendo "Da Necessidade de Ser Polígamo", remontagem de um estrondoso sucesso de 1949 do mesmo teatro, marcando seu 5º ano de funcionamento. Destaque para Rosamaria Murtinho em um de seus primeiros papéis ( a atriz, outra que não revela por aí sua idade, aparece em muitas fontes como nascida em 1939. Se fosse vero, ela estaria encenando essa peça com 13 ou 14 anos). Em ambas, Silveira Sampaio aparece também como ator. E nos dois folhetos, o inconfundível traço de Millôr Fernandes enriquece a divulgação, mesmo sem a sua assinatura: em "Deu Freud Contra", escreve na lateral: "Este programa é uma produção Vão Gogo"; já no flyer de "Da Necessidade de Ser Polígamo", aproveita para divulgar sua própria peça: "e por falar em estréia, vá ao Dulcina ( onde é permitido o traje esporte) ver a de Vão Gôgo, na interpretação de Armando Couto e Ludi Veloso. A peça se chama "Uma Mulher em Três Atos". Millôr, um dos grandes do traço, mas que também jogava em outras dez posições ( jornalista, cronista, humorista, produtor, ilustrador, jogador/inventor do frescobol, haikaista, diretor, roteirista e teatrólogo), era amigo, incentivador e colaborador da turma do Teatro de Bolso, e por isso tinha essas liberdades.
Nos links abaixo, um pouco mais de Teatro de Bolso no blog de um iluminador que fez parte dessa trupe e a íntegra do livro de Rosamaria Murtinho que saiu pela ótima coleção Aplauso, com trechos importantes dessa fase áurea do teatro carioca.
http://www.elbufon.com.br/03_bolso.html
http://livraria.imprensaoficial.com.br/media/ebooks/12.0.813.010.pdf
3 de julho de 2014
Bobby Womack (1944-2014)
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Divulgação |
O Rogério deu a dica da boa matéria do Jazzmaster a respeito, com vídeos, e aproveitou pra complementar com a sua seleção também. Todas essas fontes seguem abaixo:
A matéria : http://jazzmasters.com.br/materias/bye-bobby/
It's All Over Now - https://www.youtube.com/watch?v=KiC9d7JvD3A
If You Think You're Lonely Now - http://www.youtube.com/watch?v=sbbZ_k1Z8gU&feature=kp
That's the Way I Feel About 'Cha - https://www.youtube.com/watch?v=Uyt106EA9w0
Across 110th Street - trilha do filme Jackie Brown - https://www.youtube.com/watch?v=HyjhOxqPmjI
Breezin, com George Benson - https://www.youtube.com/watch?v=O8ysfBys4cg
I Wish He Didn't Trust Me So Much - https://www.youtube.com/watch?v=ovmS20sc2_U
30 de junho de 2014
Histórias Secretas do Rock Brasileiro
E aproveitando a deixa do post anterior, estou em mãos com o último livro do Nelio Rodrigues, "Histórias Secretas do Rock Brasileiro", mais uma obra saborosa e milimetricamente pesquisada pelo jornalista. Os bastidores do rock brasileiro dos anos 60/70 são revelados a partir dos passos dos principais músicos da época e toda a movimentação que gerou formações essenciais como Analfabitles, O Terço, A Bolha, O Som Nosso de Cada Dia, Os Lobos, entre outros. Uma geração das mais criativas que acabou nebulizada pela censura militar,segregada comercialmente e para o bem e para o mal, voltada para novas experiências físicas e emocionais. Nelio Rodrigues mais uma vez ilumina essa era escura com sua escrita esclarecedora.
29 de junho de 2014
Jorge Amiden, cofundador de O Terço, por Nélio Rodrigues
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Amiden ( com sua guitarra de três braços) no O Terço |
JORGE AMIDEN: UMA HISTÓRIA RESUMIDA
Nélio Rodrigues
Esquecido num sítio na
periferia do Rio, o compositor, guitarrista e fundador de O Terço e do Karma,
Jorge Amiden, tenta recuperar a saúde abalada pelo uso de drogas e das
(pouquíssimas) viagens que fez com LSD no início dos anos 1970. "Foram
muito boas, mas custei a voltar delas", diz o nosso afável Syd Barrett.
Jorge é o compositor da inesquecível 'Tributo ao Sorriso' (em parceria com
Hinds) e de tantas outras canções geniais do repertório de O Terço (1970 a
1971) e do Karma (1972). Era ele o principal arquiteto dos vocais harmoniosos
de ambas as bandas. Além do mais, gravou um antológico LP com o Karma,
participou do disco 'Sonhos e Memórias' de Erasmo Carlos e integrou a banda de
Milton Nascimento. Depois, com o cérebro golpeado, se afastou dos palcos. Seguiu-se,
então, um longo e indesejável ostracismo. Mas Jorge quer voltar, quer a música
"viva" de volta a sua vida. E nós, órfãos de sua brilhante
musicalidade, torcemos para que ele encontre o fio da meada, a luz no fim do
túnel, a glória de um final feliz.
Jorge Geraldo Amiden nasceu em Campinas, SP, no dia 9 de janeiro de 1950. Com três anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, de onde partiu para Brasília, em 1962, quando seu pai, Jamil Amiden, se elegeu deputado federal.
Por conta dos caprichos da mãe, o menino Jorge começou a estudar piano clássico, com eventuais desvios em direção à bossa nova. Levava jeito, tinha bom ouvido musical e uma especial sensibilidade para a música. No entanto, o piano só resistiu até Jorge entrar em contato com a música dos Beatles. Encantado com o conjunto inglês, que invadia o mundo com seus 'yeah yeah yeahs', Jorge trocou o piano pelo violão, Bach por Lennon e McCartney. Mas não sossegou até conseguir uma guitarra - uma Sound de 12 cordas.
Ainda em Brasília, ajudou os amigos Bina, Edson e Armandinho a montar uma banda. Na verdade, uma das primeiras de Brasília e que veio a ser batizada como Os Primitivos. Amiden, porém, não fez parte do grupo, já que mais uma mudança se encarregou de afastá-lo da cidade ao mesmo tempo que o trouxe de volta ao Rio, no início de 1967.
Amiden chegou decidido a montar sua própria banda. Com Jorge Roberto, na guitarra e vocal, Guilherme Cataldi, no baixo, e Sérgio, na bateria, Jorge criou Os Medievais e logo entrou no circuito de bailes da cidade. No repertório, muito Beatles e Byrds, além de temas de sua autoria.
Já com Vinícius Cantuária ocupando o posto de crooner da banda, os Medievais gravaram um compacto simples para a Diacuí Discos. Num lado, gravaram a otimista 'Hey de Vencer', uma das primeiras composições de Amiden. No outro, serviram de banda de apoio para a cantora Therezinha Côrtes, que colocou no acetato mais uma canção de Amiden: 'Rosa'. A pequena gravadora, no entanto, confeccionou apenas 10 cópias em acetato que mandou distribuir para algumas estações de rádio a fim de testar o potencial dos desconhecidos artistas. Como não aconteceu nada, a companhia não investiu na prensagem do disco.
O grupo seguiu tocando em bailes e acompanhando gente como os cantores Edson Vander e Serguei. Aliás, era o grupo favorito de Serguei, como conta Mário, irmão de Amiden. Mário, por sinal, logo se tornaria o novo baixista da banda. Sua entrada coincidiu com o processo de reformulação do grupo engendrado por Jorge Amiden. Os Medievais deixaram então de existir, entrando em cena o Joint Stock Co., um septeto inicialmente formado por Jorge Amiden (guitarra de 6 e 12 cordas, violão e vocal), o futuro baterista do Peso, Geraldo D'Arbilly (guitarra e vocal), João (bateria), Mário (baixo), Renato Terra (teclado e vocal), Vinícius Cantuária (vocal) e Jorge Roberto Sá (vocal). O ano de 1968 estava em progresso.
Nasce o Terço
Jorge queria uma banda tão boa quanto os Analfabitles ou The Outcasts, mas seguindo estilo próprio. E o Joint Stock Co. tinha nos vocais uma de suas melhores armas. Afinal, haviam cinco para dividir as vozes. Com o instrumental também afiado, a banda encarou os Analfabitles no palco do Casa Grande e, na Zona Norte, dividiu vários shows com as principais bandas da região, os Red Snakes e os Famks (futuro Roupa Nova).
No início de 1969, com a saída de Mário, que foi estudar teatro, e de Jorge Roberto Sá, o Joint Stock Co. agregou Sérgio Magrão e César de Mercês. Mas a nova fase não foi muito longe. Magrão, que integraria aquela clássica formação de O Terço, com Flávio Venturini, Sérgio Hinds e Luiz Moreno, teve que servir o exército, deixando o grupo capenga.
Insatisfeito com a situação, Jorge se encontra com o guitarrista Sérgio Hinds e com o baixista Robertinho (ambos do trio Os Libertos), a fim de tê-los como parceiros em sua nova empreitada. Da conversa, resulta porém um reformulado Os Libertos, que vira um quinteto com a exclusão de seu baterista e a entrada de Jorge, Vinícius e João (todos ex-integrantes do Joint Stock Co.). Mas, ao longo do ano de 1969, vários acontecimentos levariam o grupo a se transformar no trio que se lançaria pela etiqueta Forma (da Philips); teria participações memoráveis em festivais; e se consagraria, mais tarde (e com mudanças em sua formação), como uma das maiores bandas do rock brasileiro, O Terço.
Para abreviar uma longa história, o grupo seguiu para Corumbá, MS, onde passou meses se apresentando numa boate local, com esticadas eventuais à Bolívia e Campo Grande. Mas João e Roberto não ficaram muito tempo por lá. Mário voltou a assumir o baixo, posição que ocuparia temporariamente até o retorno do grupo ao Rio, no início de 1970. O fato é que os remanescentes Jorge, Sérgio e Vinícius já tinham um compromisso agendado com Paulinho Tapajós, com quem Sérgio Hinds se encontrara numa breve visita ao Rio. Paulinho estava começando a trabalhar com produção na Philips e mostrou-se interessado em ouvir o grupo.
Contudo, como o nome Os Libertos não havia sido do agrado de Paulinho, inclusive por soar desafiador em plena ditadura, o grupo resolveu se auto-intitular Santíssima Trindade. Enquanto ainda estavam em Corumbá, num encontro do grupo com o Padre Ernesto, velho conhecido da família de Amiden, ouviram dele que Santíssima Trindade não era um nome adequado para uma banda de rock. Na verdade, o padre deu um tremendo esporro (desculpe, Padre) em Jorge por causa disso. Quando acabou o sermão, olhou para o rosário que segurava nas mãos e disse: "Que tal batizar a banda com o nome O Terço?".
Embora Jorge tenha gostado do nome, Santíssima Trindade prevaleceu até cerca de abril de 1970, quando o primeiro LP do trio já estava quase pronto para ser lançado. Mas, por conta de um veto atribuído à censura, a banda finalmente passou a adotar o nome defendido por Amiden, O Terço, em substituição ao censurado Santíssima Trindade.
Junto com o novo epíteto, veio o LP de estréia, o primeiro e único de Amiden com o Terço (Forma VDL 116). Amiden assina nove de suas 12 faixas. Cinco em parceria com Hinds e as demais com diferentes parceiros. Um dos destaques é o apurado vocal do trio, preocupação constante de Jorge, cuja voz, em tom mais alto, completava o terceto.
Com um LP nas costas e o benefício de excelentes apresentações nos prestigiados festivais de Juiz de Fora (em junho de 1970) e no Internacional da Canção Popular (em outubro de 1970), a ascenção de O Terço foi muito rápida. No primeiro, venceram o certame com uma canção de Guttemberg Guarabyra e Renato Corrêa, 'Velhas Histórias'. E no segundo (o V FIC), obtiveram o 9o lugar com a lindíssima 'Tributo Ao Sorriso', de Amiden e Hinds.
Em 1971, seguindo no embalo dos festivais, com 'Mero Ouvinte', de Amiden e Cézar de Mercês, o Terço levou o prêmio de melhor arranjo (de Amiden) do IV Festival de Juiz de Fora. Já no VI FIC, o grupo obteve o 7o lugar com 'Adormeceu', também de Amiden e Cézar de Mercês. Foi nesse FIC que o quarteto (Cézar já fazia parte do grupo) apresentou ao público seus novos instrumentos: uma guitarra de três braços (tritarra) e um violoncelo eletrificado. A 'tritarra' foi idealizada por Jorge. Ele queria explorar diferentes timbres e possibilidades sem precisar ficar trocando de instrumento durante as apresentações. Sérgio entrou na onda de Amiden e também quis inovar, introduzindo o violoncelo eletrificado. Talvez assim os holofotes não apontassem apenas para Jorge.
Estranhamente, os desentendimentos começaram a brotar no núcleo do grupo, criando um antagonismo entre Sérgio e Amiden. Nessa época, Jorge Amiden era quem mais sobressaía, certamente gerando ciúme nos companheiros. Aos poucos, começou a se sentir isolado dentro do grupo. Sérgio e Vinícius, por exemplo, queriam enveredar pelo rock mais pesado e isso contrariava os desejos de Amiden. Além disso, Sérgio Hinds decidiu registrar a marca 'O Terço' em seu nome e sem o conhecimento de Amiden.
A atitude de Sérgio e dos companheiros deixou o guitarrista profundamente abalado. Encostado na parede, não teve alternativa senão largar o grupo que ajudou a fundar e lhe dar uma cara. "Fiquei traumatizado", diz Amiden depois de tanto tempo. Na verdade, um trauma jamais superado e de graves conseqüências, a começar pelo uso cada vez mais freqüente das drogas em sua fase pós-Terço.
O raro Karma
Todavia, Amiden logo encontrou novos parceiros. Com Luiz Mendes Junior (violão e vocal) e Alen Cazinho Terra (baixo e vocal), irmão de Renato Terra, o guitarrista daria início a sua trajetória de pouco mais de um ano como líder do Karma. Ramalho Neto, da RCA, não teve dúvidas em contratar a banda antes mesmo de ouví-la. Reconhecia o talento de Amiden e antevia um belo disco do Karma para a RCA.
E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, a RCA distribuía na praça o LP homônimo do Karma, uma obra antológica que merece constar de qualquer lista dos melhores discos da história do rock brasileiro. Com uma sonoridade predominantemente acústica servindo de base para a primorosa vocalização do trio, 'Karma' é recheado de canções brilhantes, como 'Do Zero Adiante' (Amiden e Mendes Junior), 'Blusa de Linho' (Amiden e Rodrix) e a revisitada 'Tributo Ao Sorriso' (Amiden e Hinds). Esta, levada quase até seu final em a capela, servia para realçar ainda mais a força vocal do conjunto. Vale destacar a participação do baterista Gustavo Schroeter (então integrante da Bolha), que ajudou a abrilhantar o disco com sua batida sempre consistente, arrojada e precisa.
E foi com Gustavo na bateria que o Karma fez o show de lançamento do disco no Grajaú Tênis Clube. Lamentavelmente, este pequeno tesouro concebido por Amiden jamais foi reeditado. Possivelmente hiberna nos arquivos da RCA desde o seu lançamento, em 1972, como hibernam tantas outras obras importantes nos arquivos das gravadoras brasileiras.
Em sua curta vigência sob a liderança de Amiden, o Karma ainda participou do VII Festival Internacional da Canção Popular, em setembro de 1972. Foi quando defendeu 'Depois do Portão' (Amiden e Mendes Junior). Em 1973, nos primeiros meses do ano, durante um show no Clube de Regatas Icaraí, em Niterói, depois de misturar bebida com drogas, Amiden perde o controle do próprio cérebro. O solo de guitarra parece interminável... Depois, sentado à beira da praia com Mário, se perde em plano existencial paralelo, vagando inseguro e solitário pelo lado escuro da lua.
Jorge só encontra a saída do enovelado e desconhecido labirinto no dia seguinte, quando percebe que o mundo não é mais o mesmo, o Karma não é mais o mesmo, a música não é mais a mesma...E nem sua vida seria mais a mesma. Dos palcos, se afasta...para na calma do tempo, quem sabe uma luz como guia, em dado momento, conceda algum dia seu retorno sereno.
Agradecimentos: Jorge Amiden, Mário Amiden e Mendes Junior.
Jorge Geraldo Amiden nasceu em Campinas, SP, no dia 9 de janeiro de 1950. Com três anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, de onde partiu para Brasília, em 1962, quando seu pai, Jamil Amiden, se elegeu deputado federal.
Por conta dos caprichos da mãe, o menino Jorge começou a estudar piano clássico, com eventuais desvios em direção à bossa nova. Levava jeito, tinha bom ouvido musical e uma especial sensibilidade para a música. No entanto, o piano só resistiu até Jorge entrar em contato com a música dos Beatles. Encantado com o conjunto inglês, que invadia o mundo com seus 'yeah yeah yeahs', Jorge trocou o piano pelo violão, Bach por Lennon e McCartney. Mas não sossegou até conseguir uma guitarra - uma Sound de 12 cordas.
Ainda em Brasília, ajudou os amigos Bina, Edson e Armandinho a montar uma banda. Na verdade, uma das primeiras de Brasília e que veio a ser batizada como Os Primitivos. Amiden, porém, não fez parte do grupo, já que mais uma mudança se encarregou de afastá-lo da cidade ao mesmo tempo que o trouxe de volta ao Rio, no início de 1967.
Amiden chegou decidido a montar sua própria banda. Com Jorge Roberto, na guitarra e vocal, Guilherme Cataldi, no baixo, e Sérgio, na bateria, Jorge criou Os Medievais e logo entrou no circuito de bailes da cidade. No repertório, muito Beatles e Byrds, além de temas de sua autoria.
Já com Vinícius Cantuária ocupando o posto de crooner da banda, os Medievais gravaram um compacto simples para a Diacuí Discos. Num lado, gravaram a otimista 'Hey de Vencer', uma das primeiras composições de Amiden. No outro, serviram de banda de apoio para a cantora Therezinha Côrtes, que colocou no acetato mais uma canção de Amiden: 'Rosa'. A pequena gravadora, no entanto, confeccionou apenas 10 cópias em acetato que mandou distribuir para algumas estações de rádio a fim de testar o potencial dos desconhecidos artistas. Como não aconteceu nada, a companhia não investiu na prensagem do disco.
O grupo seguiu tocando em bailes e acompanhando gente como os cantores Edson Vander e Serguei. Aliás, era o grupo favorito de Serguei, como conta Mário, irmão de Amiden. Mário, por sinal, logo se tornaria o novo baixista da banda. Sua entrada coincidiu com o processo de reformulação do grupo engendrado por Jorge Amiden. Os Medievais deixaram então de existir, entrando em cena o Joint Stock Co., um septeto inicialmente formado por Jorge Amiden (guitarra de 6 e 12 cordas, violão e vocal), o futuro baterista do Peso, Geraldo D'Arbilly (guitarra e vocal), João (bateria), Mário (baixo), Renato Terra (teclado e vocal), Vinícius Cantuária (vocal) e Jorge Roberto Sá (vocal). O ano de 1968 estava em progresso.
Nasce o Terço
Jorge queria uma banda tão boa quanto os Analfabitles ou The Outcasts, mas seguindo estilo próprio. E o Joint Stock Co. tinha nos vocais uma de suas melhores armas. Afinal, haviam cinco para dividir as vozes. Com o instrumental também afiado, a banda encarou os Analfabitles no palco do Casa Grande e, na Zona Norte, dividiu vários shows com as principais bandas da região, os Red Snakes e os Famks (futuro Roupa Nova).
No início de 1969, com a saída de Mário, que foi estudar teatro, e de Jorge Roberto Sá, o Joint Stock Co. agregou Sérgio Magrão e César de Mercês. Mas a nova fase não foi muito longe. Magrão, que integraria aquela clássica formação de O Terço, com Flávio Venturini, Sérgio Hinds e Luiz Moreno, teve que servir o exército, deixando o grupo capenga.
Insatisfeito com a situação, Jorge se encontra com o guitarrista Sérgio Hinds e com o baixista Robertinho (ambos do trio Os Libertos), a fim de tê-los como parceiros em sua nova empreitada. Da conversa, resulta porém um reformulado Os Libertos, que vira um quinteto com a exclusão de seu baterista e a entrada de Jorge, Vinícius e João (todos ex-integrantes do Joint Stock Co.). Mas, ao longo do ano de 1969, vários acontecimentos levariam o grupo a se transformar no trio que se lançaria pela etiqueta Forma (da Philips); teria participações memoráveis em festivais; e se consagraria, mais tarde (e com mudanças em sua formação), como uma das maiores bandas do rock brasileiro, O Terço.
Para abreviar uma longa história, o grupo seguiu para Corumbá, MS, onde passou meses se apresentando numa boate local, com esticadas eventuais à Bolívia e Campo Grande. Mas João e Roberto não ficaram muito tempo por lá. Mário voltou a assumir o baixo, posição que ocuparia temporariamente até o retorno do grupo ao Rio, no início de 1970. O fato é que os remanescentes Jorge, Sérgio e Vinícius já tinham um compromisso agendado com Paulinho Tapajós, com quem Sérgio Hinds se encontrara numa breve visita ao Rio. Paulinho estava começando a trabalhar com produção na Philips e mostrou-se interessado em ouvir o grupo.
Contudo, como o nome Os Libertos não havia sido do agrado de Paulinho, inclusive por soar desafiador em plena ditadura, o grupo resolveu se auto-intitular Santíssima Trindade. Enquanto ainda estavam em Corumbá, num encontro do grupo com o Padre Ernesto, velho conhecido da família de Amiden, ouviram dele que Santíssima Trindade não era um nome adequado para uma banda de rock. Na verdade, o padre deu um tremendo esporro (desculpe, Padre) em Jorge por causa disso. Quando acabou o sermão, olhou para o rosário que segurava nas mãos e disse: "Que tal batizar a banda com o nome O Terço?".
Embora Jorge tenha gostado do nome, Santíssima Trindade prevaleceu até cerca de abril de 1970, quando o primeiro LP do trio já estava quase pronto para ser lançado. Mas, por conta de um veto atribuído à censura, a banda finalmente passou a adotar o nome defendido por Amiden, O Terço, em substituição ao censurado Santíssima Trindade.
Junto com o novo epíteto, veio o LP de estréia, o primeiro e único de Amiden com o Terço (Forma VDL 116). Amiden assina nove de suas 12 faixas. Cinco em parceria com Hinds e as demais com diferentes parceiros. Um dos destaques é o apurado vocal do trio, preocupação constante de Jorge, cuja voz, em tom mais alto, completava o terceto.
Com um LP nas costas e o benefício de excelentes apresentações nos prestigiados festivais de Juiz de Fora (em junho de 1970) e no Internacional da Canção Popular (em outubro de 1970), a ascenção de O Terço foi muito rápida. No primeiro, venceram o certame com uma canção de Guttemberg Guarabyra e Renato Corrêa, 'Velhas Histórias'. E no segundo (o V FIC), obtiveram o 9o lugar com a lindíssima 'Tributo Ao Sorriso', de Amiden e Hinds.
Em 1971, seguindo no embalo dos festivais, com 'Mero Ouvinte', de Amiden e Cézar de Mercês, o Terço levou o prêmio de melhor arranjo (de Amiden) do IV Festival de Juiz de Fora. Já no VI FIC, o grupo obteve o 7o lugar com 'Adormeceu', também de Amiden e Cézar de Mercês. Foi nesse FIC que o quarteto (Cézar já fazia parte do grupo) apresentou ao público seus novos instrumentos: uma guitarra de três braços (tritarra) e um violoncelo eletrificado. A 'tritarra' foi idealizada por Jorge. Ele queria explorar diferentes timbres e possibilidades sem precisar ficar trocando de instrumento durante as apresentações. Sérgio entrou na onda de Amiden e também quis inovar, introduzindo o violoncelo eletrificado. Talvez assim os holofotes não apontassem apenas para Jorge.
Estranhamente, os desentendimentos começaram a brotar no núcleo do grupo, criando um antagonismo entre Sérgio e Amiden. Nessa época, Jorge Amiden era quem mais sobressaía, certamente gerando ciúme nos companheiros. Aos poucos, começou a se sentir isolado dentro do grupo. Sérgio e Vinícius, por exemplo, queriam enveredar pelo rock mais pesado e isso contrariava os desejos de Amiden. Além disso, Sérgio Hinds decidiu registrar a marca 'O Terço' em seu nome e sem o conhecimento de Amiden.
A atitude de Sérgio e dos companheiros deixou o guitarrista profundamente abalado. Encostado na parede, não teve alternativa senão largar o grupo que ajudou a fundar e lhe dar uma cara. "Fiquei traumatizado", diz Amiden depois de tanto tempo. Na verdade, um trauma jamais superado e de graves conseqüências, a começar pelo uso cada vez mais freqüente das drogas em sua fase pós-Terço.
O raro Karma
Todavia, Amiden logo encontrou novos parceiros. Com Luiz Mendes Junior (violão e vocal) e Alen Cazinho Terra (baixo e vocal), irmão de Renato Terra, o guitarrista daria início a sua trajetória de pouco mais de um ano como líder do Karma. Ramalho Neto, da RCA, não teve dúvidas em contratar a banda antes mesmo de ouví-la. Reconhecia o talento de Amiden e antevia um belo disco do Karma para a RCA.
E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, a RCA distribuía na praça o LP homônimo do Karma, uma obra antológica que merece constar de qualquer lista dos melhores discos da história do rock brasileiro. Com uma sonoridade predominantemente acústica servindo de base para a primorosa vocalização do trio, 'Karma' é recheado de canções brilhantes, como 'Do Zero Adiante' (Amiden e Mendes Junior), 'Blusa de Linho' (Amiden e Rodrix) e a revisitada 'Tributo Ao Sorriso' (Amiden e Hinds). Esta, levada quase até seu final em a capela, servia para realçar ainda mais a força vocal do conjunto. Vale destacar a participação do baterista Gustavo Schroeter (então integrante da Bolha), que ajudou a abrilhantar o disco com sua batida sempre consistente, arrojada e precisa.
E foi com Gustavo na bateria que o Karma fez o show de lançamento do disco no Grajaú Tênis Clube. Lamentavelmente, este pequeno tesouro concebido por Amiden jamais foi reeditado. Possivelmente hiberna nos arquivos da RCA desde o seu lançamento, em 1972, como hibernam tantas outras obras importantes nos arquivos das gravadoras brasileiras.
Em sua curta vigência sob a liderança de Amiden, o Karma ainda participou do VII Festival Internacional da Canção Popular, em setembro de 1972. Foi quando defendeu 'Depois do Portão' (Amiden e Mendes Junior). Em 1973, nos primeiros meses do ano, durante um show no Clube de Regatas Icaraí, em Niterói, depois de misturar bebida com drogas, Amiden perde o controle do próprio cérebro. O solo de guitarra parece interminável... Depois, sentado à beira da praia com Mário, se perde em plano existencial paralelo, vagando inseguro e solitário pelo lado escuro da lua.
Jorge só encontra a saída do enovelado e desconhecido labirinto no dia seguinte, quando percebe que o mundo não é mais o mesmo, o Karma não é mais o mesmo, a música não é mais a mesma...E nem sua vida seria mais a mesma. Dos palcos, se afasta...para na calma do tempo, quem sabe uma luz como guia, em dado momento, conceda algum dia seu retorno sereno.
Agradecimentos: Jorge Amiden, Mário Amiden e Mendes Junior.
http://www.youtube.com/watch?v=rDAaRBVt9-Q
Baú do Malu 46 - "Vestuário" - Folheto do SNES (Serviço Nacional de Educação Sanitária) - ano 1949 - desenhos de Luiz Sá
Esse simpático item de campanha pública ligada à sáude traz quadrinhas rimadas com dicas para o uso apropriado de roupas. Idéia do SNES (Serviço Nacional de Educação Sanitária), órgão lotado na ainda capital federal Rio de Janeiro, para o verão (creio eu, pelos temas abordados) de 1949. O grande charme do folheto são os desenhos sempre vibrantes de Luiz Sá (1907-1979), eclético profissional que trabalhou em vários jornais e revistas produzindo quadrinhos, cartuns, caricaturas e arte publicitária.
27 de junho de 2014
"Tá no Ar" volta em 2015
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reprodução |
Selecionei algumas cenas abaixo:
http://gshow.globo.com/programas/ta-no-ar-a-tv-na-tv/
https://www.youtube.com/watch?v=dMVgb3DtS0Y
https://www.youtube.com/watch?v=70h1rj7mo9c
https://www.youtube.com/watch?v=q6ndV5DBRp8
https://www.youtube.com/watch?v=T_hsnXeWcXI
https://www.youtube.com/watch?v=QKShUheA8b8
22 de junho de 2014
Dois poetas em carne viva e à flor da pele
Estou lendo simultaneamente dois livros com dois poetas que foram contemporâneos, amigos, e que ajudaram a moldar o movimento que ficou conhecido como Tropicalismo. Ambos poetas em carne viva/à flor da pele. Os poetas são Torquato Neto, piauiense e figura de proa da Tropicália ( ele não gostava de "ismos") e Waly Salomão, baiano de Jequié que se enturmou com os tropicalistas ainda em 1968 mas só viu seu trabalho lançado no começo da década seguinte em parceria com Jards Macalé, em um caminho pós-tropicalista. Quanto às obras que estou devorando, uma é a biografia reeditada agora pelo Toninho Vaz, que eu já havia assoprado em um post anterior ("A Biografia de Torquato Neto" - Editora Nossa Cultura) e a outra é uma antologia da obra de Waly Salomão, "Poesia Total", que saiu do forno pela Companhia das Letras. O primeiro livro traz a escrita elegante de Toninho Vaz, um especialista no gênero e mais um autor que penou nas últimas batalhas contra as biografias - a reedição de "O Bandido que Sabia Latim", biografia de Paulo Leminski, seu amigo, foi barrada pela família por causa de um capítulo adicionado. Em minuciosa pesquisa, Vaz destrincha a vida do perplexo poeta que não lançou livro algum em vida e tanto podia ser dândi como vagabundo, boêmio ou jornalista que varava madrugadas escrevendo, revolucionário de idéias e fãzaço de Chacrinha. E tenta desvendar a complexidade de seu comportamento e psique, que o fez acabar com a própria vida aos 28 anos. Já "Poesia Total" reúne pela primeira vez toda a obra de Waly Salomão, desde seu livro "Me Segura que eu vou dar um troço" de 1972 até suas experimentações multiconcretistas no final da vida (Waly faleceu em 2003 aos 59 anos), além de uma seção de canções inéditas em livro e um apêndice com os textos mais relevantes sobre sua obra. Um livraço com 550 páginas que finalmente joga luz sobre a importante obra de Waly Salomão. Aliás, tanto ele como Torquato foram um dos grandes responsáveis pela entrada da legítima poesia ao universo cancioneiro. Se antes haviam letristas apenas, depois desses dois, e do pioneiro Vinicius de Moraes, claro, e outros contemporâneos como Capinam, os poetas se sentiram mais à vontade para encaixar suas letras em músicas. E vale lembrar, que embora Torquato tenha se afastado dos baianos antes mesmo da foice do AI-5 passar pelas cabeças culturais do período, indo para a Europa com Helio Oiticica, e Waly produzir já com a cabeça no "pós aquilo tudo", ambos iriam arquitetar a revista Navilouca ainda em 1972, um dos mais essenciais e cultuados veículos literários da época.Torquato deu o último retoque antes de morrer, mas a revista tipo almanaque, com 16 poetas no bojo e disquinho com duas músicas, só saiu em 1974. Último suspiro criativo de Torquato, com a produção do sempre surpreendente Waly Salomão.
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