30 de janeiro de 2010

Dia dos Quadrinhos: maratona, celebração e consolidação

Exemplo de "atemporariedade" nos quadrinhos: Aventuras de Zé Caipora, do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, por volta de 1880 (abaixo). A sua obra, além do visual excepcional , colocou o Brasil entre os pioneiros mundiais da arte sequencial : em 1867, com "As Cobranças" no "O Cabrião"(SP), Agostini já fazia HQ.
Hoje comemora-se mais um Dia do Quadrinho. Entre trancos, barrancos, crises, perseguições e perdas durante toda a sua história, o quadrinho brasileiro pode comemorar esse dia 30/01/2010 com mais esperança e fôlego. Muitas incompreensões e desestímulos continuarão pairando sob a cabeça de artistas, roteiristas, letristas, capistas, diagramadores, editores, leitores e pesquisadores, mas pela movimentação constante dos últimos tempos, pelos quadrinistas que divulgam e enriquecem cada vez mais a internet com seus trabalhos independentes, pelas editoras que apostam na nona arte, pelo espaço alcançado pelos quadrinhos na mídia e sua incrível invasão às estantes e seções das livrarias, só podemos brindar e comemorar. Um grande brinde a esta arte maravilhosa, pejorativamente apontada como "coisa de criança" durante anos.
E para provar que as HQs estão vivenciando um momento especialíssimo em sua longa história, nada melhor do que ver com os próprios olhos: pelo terceiro ano, o Blog dos Quadrinhos, do incansável Prof. Paulo Ramos, realiza a Maratona dos Quadrinhos, com trabalhos do Brasil todo. Basta uma rápida olhada para perceber a explosão de talentos, o ecletismo dos temas e a riqueza de estilos. E uma constatação fulminante: todos ali tem o seu espaço próprio de divulgação na internet, o que já evidencia uma conquista digital escancarada.
Um viva aos quadrinhos!

28 de janeiro de 2010

Baú do Malu 17 - Capas dos anos 50

Aventuras Heróicas nº1 - La Selva - Abril de 1954 - Capa de Jayme Cortez

Epopéia nº 27 - Outubro de 1954 - EBAL - Capa de Antonio Euzébio

Epopéia nº 2 - Setembro de 1952 - EBAL - capa de Monteiro Filho

Os anos 50 foram anos de ouro para os quadrinhos brasileiros, quando a Ebal de Adolfo Aizen, a Rio Gráfica do Roberto Marinho e a Cruzeiro de Chateaubriand, todas cariocas, se estapeavam pelo rico mercado das comics magazines. Essa guerra iria se estender até os anos 60, período em que a Ebal se estabilizou como a maior produtora e distribuidora brasileira de quadrinhos, Marinho chegou à sua "pedra filosofal" Rede Globo de Televisão - graças principalmente à sua trilha anterior, aberta a facão na imprensa escrita e nos quadrinhos - e Chateaubriand adentrou já em queda livre, com a saúde debilitada e as finanças em risco. A Abril nos heróicos anos 50 crescia na surdina, aumentando sua estrutura longe dos rapinas, tijolo por tijolo. E correndo por fora, a paulistana La Selva, que já compunha uma linhagem tradicional de gráficas instaladas nos bairros italianos da Mooca, Brás e Cambuci, investiu com força na produção de revistas.
Este cenário fértil escancarou o mercado para jovens revelações e artistas consagrados dos quadrinhos. E o aumento das publicações e das histórias importadas fez com que alguns desses profissionais se tornassem verdadeiros experts em capas. Jayme Cortez, lusitano de nascimento e artista completo, além de maior incentivador de novos talentos que o mercado já viu, foi certamente um dos maiores capistas de todos os tempos. Sua versatilidade abria um leque que ia do desenho infantil à cenas heróicas ou de terror. Antonio Euzebio foi por anos, exclusivo da Ebal, e suas capas são de uma plasticidade única. Monteiro Filho, mestre dos mestres, batalhador dos quadrinhos desde os anos 30 e múltiplo homem da cultura , enriqueceu e transpôs com sua bela arte mais este terreno deslumbrante. Lá no alto, capas produzidas pelos três profissionais citados, dão uma boa noção da excelência alcançada no período. Os 50 também foram anos de ouro para as capas de revistas em quadrinhos.

22 de janeiro de 2010

Tesouro escondido de Minas: Eustáquio Sena


Eustáquio Sena. Até uma semana atrás, não conhecia este nome. Mas quando tive acesso a vários (vários mesmo - praticamente todos) discos originais das novelas da Globo nos anos 70, a época mais fértil e experimental da Som Livre, logo notei este nome que insistia em aparecer em diversos discos iniciais da gravadora global. Cacoete automático: fui pesquisar. Descobri que ele foi muito atuante entre o final dos anos 60 e o meio dos 70, como produtor e compositor da Som Livre. E que embora tenha sido o produtor de um dos maiores discos da MPB de todos os tempos, o Acabou Chorare, dos Novos Baianos (1972), tenha composto para muita gente no período e gravado LPs e compactos até os anos 80, não houve sensatez ou ímpeto de atualizar sua biografia na internet e nem pesquisar ou se aprofundar um pouquinho mais, como eu fiz agora, para escrever estas linhas. Admiro muito o dicionário digital de MPB do Cravo Albin, uma referência inconteste, mas alguns ítens do site estão defasados e assim permanecem. Eustáquio Sena, compositor do Vale do Jequitinhonha, aparece lá como produtor da Som Livre, tem o seu trabalho no clássico Acabou Chorare citado, assim como o aplaudido LP de 1982, Cauromi, mas faltou contar que ele fez diversas canções para novelas, participou de festival, lançou um segundo LP ainda nos anos 80 e antes da Som Livre foi produtor na Elenco (veja lista abaixo). Todos esses detalhes eu recolhi na internet, mas são citações, retalhos, pescados - não há matéria focando o compositor mineiro, quiçá entrevista. No máximo, linhas sobre o Cauromi. Entre investigações e clicadas na web, pude fazer um pequeno painel de sua carreira - passível de correção ou acréscimo, pois muitas descobertas tiveram uma só fonte e certamente há lacunas:
* Eustáquio Sena nasceu na região do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.
* Em 1964 consta pela primeira vez nos créditos de um disco: no raro Samba na Onda de Miguel Angel, como participante do coro.
* Participou do I Festival de Música Popular Brasileira, em 1968, com a música Abandono.
* A sua primeira gravação aparece num compacto do festival, junto a outras músicas que não fizeram parte do LP oficial.
* Teve três músicas gravadas pelo cantor Paulo Sérgio em 1969: Minha Madrinha (c/Paulo Sérgio), Vou Pedir Outra Vez e Você Não é Como eu Quis. (fonte: webSite oficial do compositor Paulo Sérgio). O xaxado Minha Madrinha fez muito sucesso na época.
* Dirige a produção de um dos mais importantes discos de nossa MPB: o engajado e belo Deixa Estar do MPB-4, em 1970, pelo selo Elenco. (Fonte: A Historia da MPB/Luiz Américo).
* Irmãos Coragem, no mesmo ano, é a primeira novela da Globo com uma música sua na trilha: Amor Maior. Outra novela do mesmo ano, Assim na Terra como no Céu tem em sua trilha a composição de Eustáquio, Que Sonhos são os Meus?, com interpretação de Milton Santana.
* Participa do psicodélico disco de Ronnie Von de 1970, Minha Máquina Voadora, com a composição Cidade ( em parceria com Paulinho Tapajós)
* A sua música Eu Nunca Pensava entrou no disco de maior sucesso do intérprete Evaldo Braga, "O Ídolo Negro", de 1971(Fonte: Site Memória da MPB)
*Outra música em outro disco de sucesso no mesmo ano: A Minha Madrugada ( c/ Carlos Odilon e Jair Rodrigues) no LP da Philips Festa Para um Rei Negro, de Jair Rodrigues.
* Fechando 1971, os Originais do Samba gravam Mas que Menininha ( Eustaquio Sena- A.Soares) em seu disco Samba Exportação.
* O tema de abertura da novela Bicho do Mato ( Rede Globo, 1972), a música homônima Bicho do Mato, de sua autoria, trazia versos como: “Não sou potro que se doma/ não sou vara que se vergue/ não sou fruta que se coma/ não sou flor bela que cheira/ não sou água que se beba/ não sou vento sem poeira/ não sou cobra sem peçonha/ não sou planta sem espinho/ eu sou muito sem vergonha/ sem amor e sem carinho/ não sou milho de pamonha/ nem canto de passarinho/ (...) Ê, bicho-do-mato/ tu me bate e eu te rebato!” ( fonte: Memória Globo).
* Ainda em 1972, fez relativo sucesso com a música Mariana, na trilha da novela O Primeiro Amor (trilha com composições de Antonio Carlos e Jocafi). Interpretou ao lado de Angela Valle, Simone de Marcos e Paulo Sérgio Valle na trilha da novela Selva de Pedra. E ao lado do experiente Aloysio de Oliveira, produziu a trilha da novela Carinhoso, que teve grande repercussão.
* A sua música Quem me Dera entra no disco de 1972 de Leno & Lílian.
*O ano de 1972 também viu a sua participação em mais um disco de festival: cantando "Cabeça" de Walter Franco e o sucesso de Sérgio Sampaio "Eu Quero é Botar meu Bloco na Rua", ambas finalistas do VII Festival Internacional da MPB (FIC). E o lançamento de um compacto simples (Som Livre) com as músicas Amém/ Nem de Mim Eu Sei.
* Para a novela Cavalo de Aço no ano seguinte, mais uma que também produziu, Eustáquio colaborou com a música "Um Sol na Noite". A trilha da novela O Bofe, só com composições de Erasmo e Roberto, também teve a sua produção. Nela, participou como intérprete na música Perdido no Mundo.
* 1973 foi o ano do lançamento da trilha sonora do programa Chico City, com composições de Arnauld Rodrigues e Chico Anysio. Eustáquio interpreta a canção Testamenteiro.
* A trilha sonora da novela Os Ossos do Barão, de 1974, inclui E Tem Mais, de sua autoria. Outras duas novelas do ano, incluíram músicas suas: em Corrida do Ouro, a música Laranja da Terra e em SuperManoela, com Oi, Lá.
* A trilha da novela Fogo Sobre Terra com composições de Toquinho e Vinicius tem a produção sua em parceria com João Mello e participação na faixa Divinéia como intérprete.
* Produz o primeiro disco solo de Alceu Valença, em 1974: Molhado de Suór, pela Som Livre (Site Oficial de Alceu Valença).
* Neste mesmo ano, lança pela Som Livre o compacto simples Simples Estória. E faz a produção da ótima trilha sonora da novela Cuca Legal lançada em LP pela Som Livre.
* Participa em 1980 da faixa Pra Você Gostar de Mim, de Vital Farias, em seu LP Taperoá. Um clássico instantâneo.
* Lança o melhor disco de sua carreira e talvez um dos melhores discos da música mineira: Cauromi, também em 80, pela Epic. As faixas: Cauromi (Terra do Nunca) - Ringo (Um Bandoleiro Qualquer) - Amor Cigano - Pelo Chão Que é Seu - Como Se Fosse Mágica - Posso Te Morder - Todo Amável - Conte Uma Estória Prá Mim - Laço de Fita - Esses Meninos (Êh!Gente Perigosa) - Olhar Profundo - Prá Repousar. Além da participação especialíssima de Zé Ramalho na faixa-título, participam da obra feras como Robertinho do Recife, Jorge Mautner, Chico Batera, Paulo Braga, Jamil Joanes, Manduka, Lincoln Olivetti e Róbson Jorge, entre outros.
* Lança o LP Brasil Riqueza em 1983, pela RCA Victor, com as músicas: Vamos Ver como é que Fica (Uirapuru) - Morena - Flor de Laranjeira - Dez Mil Anos Luz - Maxacalis - Brasil Riqueza - Muito Prazer - Remanso - Terra dos Homens - Valsinha (Bem Mais Amor).
* Foi parceiro musical de Eduardo Araújo nas músicas A Aventura Não Termina ( no CD Pegadas, 1994 ) , Chora, chora, coração e Nada Valeu te Amar (LP Pé na Estrada, 1990)
* Tem sua música Reggae Bom gravada por Oswaldinho em lançamento do selo Kuarup.
* Participa do Projeto Nosso Canto Vale Mais Jequitinhonha, um kit fonográfico/biográfico composto de DVD, CD-ROM e revista , aprovado pelo Fundo Cultural do Estado de MG em 2007, com 40 artistas da região. (fonte: Vale Mais.org)
*Falece em abril de 2007 (citação em O Tempo/MG - 07/05/2007).
Pois é, deixei esta pro final. Ele faleceu e eu não vi nenhuma linha sobre o ocorrido. Para o Dicionário Cravo Albin, ele está vivo.
Finco aqui portanto, esta homenagem ao compositor mineiro: uma matéria inteira a seu respeito, com começo, meio e fim.

(Atualização: esse post, em janeiro de 2016, já passa das 1500 visualizações, além de vários comentários oportunos. Todas as músicas lembradas nos comentários são acrescentadas no texto depois de serem pesquisadas. Agradeço imensamente todas as intervenções e lembranças que fazem o post ficar cada vez mais completo!)

21 de janeiro de 2010

Pérolas do Vinil 4: Paranga - Chora Viola, Canta Coração (1982)


Eu comprei este disco em meados do ano passado, na feira de vinil de Santo André, mais uma vez pelas mãos do glorioso Carlinhos. Ele, que sempre dá ótimas dicas, me mostrou esse disco entre outros, e eu, embora conhecesse o grupo Paranga de nome mas não conhecesse sua música, acabei levando-o no pacote. Botei na vitrola e de lá pra cá virou uma das bolachas mais assíduas em meu velho prato giratório.
O grupo Paranga já é importante referência na história da música regional do Estado de São Paulo. Surgido lá no meio dos 70 por um bando de cabeludos da cidade de São Luiz do Paraitinga, logo chamou atenção por misturar a cultura tradicional caipira com o rock e outros gêneros. Moldando a sua essência, a obra de Elpídio dos Santos, famoso compositor das trilhas dos filmes de Mazzaropi e pai de quatro integrantes da banda ( Negão, Pio, Parê e Nena), dando o prumo e a direção, como bússola.
Para chegar ao seu primeiro disco, o Paranga absorveu influências diversas e enveredou-se pelas raízes de Paraitinga: primeiro, embrenhando-se pelos bairros rurais da cidade, das folias de reis e moçambiques; em seguida, mergulhando no velho baú de guardados de Elpídio dos Santos. Enquanto isso, a formação crescia, com a inclusão de instrumentistas de sopro oriundos das fanfarras locais. Rapidamente o grupo passou a ser conhecido como "big band caipira", composto de violões, violas, cavaquinho, percussão e sopros, além das vozes femininas. No caldo, música de raiz, rock, MPB, foxtrot, choro e marchinhas carnavalescas. Toda esse caldeirão cultural fumegante vindo da serra interiorana, chamou a atenção do selo Lira Paulistana, que já tinha em seu cast, os mais inquietos e experimentais músicos da época, como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Rumo, Premeditando o Breque e Língua de Trapo, todos eles virando do avesso a estética vigente. Em 1982, o Paranga se juntou aos bons e fez parte do movimento batizado de "Vanguarda Paulista", com shows no lendário teatro Lira Paulistana e a gravação do aguardado primeiro LP, "Chora Viola, Canta Coração". O disco ficou do jeito que a banda queria: reverência às raízes, resgate da bela obra de Elpídio, pitadas de rock e choro, sopros dando o ar fanfarresco necessário, rodízio de vozes. Um amplo, belo e singelo trabalho, que conquistou seu lugar entre as mais importantes obras da discografia paulista.
Trinta anos depois, o Paranga segue firme e forte, mesmo depois de várias mudanças de integrantes, graças à obstinação do casal Negão dos Santos e Renata Marques. Depois de ressuscitar o carnaval de Paraitinga no início dos 80, hibernado por anos, o grupo uniu com mais fervor a marchinha junina e a marchinha carnavalesca e lançou um disco momesco em 95 (Porque Hoje é Carnaval), quando o carnaval de rua da cidade já virara atração turística. Nos anos 2000, intercalando pesquisas musicais e a evolução natural de sua face carnavalesca, o Paranga chegou à 2009 com a força necessária para a homenagem aos 100 anos de Elpídio dos Santos, que levou à São Luiz do Paraitinga uma multidão para ver o show com Zé Geraldo, Renato Teixeira, Zeca Baleiro e Fafá de Belém, entre outros, transmitido em rede nacional pela Bandeirantes e que deve virar DVD em breve.
Hoje, depois da tragédia das chuvas, a cidade tenta se reconstruir. Ouvindo o velho Paranga em minha vitrola, com suas modinhas e raízes embutidas de emoção e encantamento, tenho certeza que a cidade se reerguerá, pois reconstrução e renovação sempre fizeram parte do ciclo natural de sua história.
(imagens: Capa do disco "Chora Viola, Canta Coração"; e retrato de Elpídio dos Santos)
Atualização (em 12/05/2015) - ver nos comentários...
http://www.paranga.com.br/

20 de janeiro de 2010

Ruth + Jaguar

Quem conhece o Jaguar dos cartuns politicamente incorretos, do ratinho Sig, dos Chopnics, capitão do Pasquim ( que como tal, afundou junto com o barco) e explorador-mor dos botequins e pés-sujos, jamais imaginaria que o velho ilustrador carioca já colaborou com a literatura infantil. É isso mesmo que você leu: infantil. Explico: como eu tenho dois filhos, Letícia com 8 anos, e Gabriel, com 10, ambos com o "bichinho" dos livros/revistas/discos incrustado na essência, estou sempre comprando e (muito mais) ganhando livros infantis interessantíssimos. Entre os destaques, Ruth Rocha, que eu sempre adorei - e só por ter sido uma das mentoras da revista Recreio na Abril no início dos 70, já mereceria um grande prêmio de pioneirismo em educação infantil extra-curricular. Pois ontem me caiu às mãos um desses livrinhos curtos e geniais dela, intitulado "Dois idiotas sentados cada qual no seu barril..." (Editora Ática),obra original de 1996 que já se encontra na 5ª ou 6ª edição. A história é simples só na fachada, pois através da relação entre dois vizinhos, cada qual em seu barril, trata metaforicamente da antiquíssima guerra, que atormenta e fomenta a humanidade desde sempre. Um livro oficialmente infantil, mas que logicamente interessa a todas as idades. Tudo nos conformes, seguindo a linha sensível e ao mesmo tempo sem frescuras de Ruth Rocha, presente em outros livros de sua vasta carreira, a não ser por um detalhe: as ilustrações foram feitas pelo lendário Jaguar, que emprestou seu traço grosso em duas cores para dar um ar rústico, de "cais de porto" à tensa narrativa. Acima, a capa do livrinho, que conseguiu unir Ruth e Jaguar. Deu jogo.

19 de janeiro de 2010

Dossiê Janis no Consciarte

A grande dama do folk/rock está aniversariando hoje. E o Consciarte do nosso Rick Berlitz traz hoje uma bela homenagem a Janis Joplin, que em breve poderá ter a sua conturbada biografia filmada pelo cineasta brasileiro e cidadão do mundo Fernando Meirelles (segundo notas de ontem).
Confiram:
http://consciarte.wordpress.com/2010/01/19/janis-lynn-joplin/

18 de janeiro de 2010

Billboard Brasil: guitarrista do Metallica ama bossa-nova!

No finalzinho da grande entrevista de Kirk Hammett concedida à Billboard Brasil (última edição), uma surpresa: o experiente metaleiro diz que ama de paixão a nossa sossegada Bossa Nova, aquela mesma, do banquinho e do violão. Acompanhem o trecho em que o instrumentista se declara:

BB: Afinal, o que mais você escuta além do metal?
KH: Você vai adorar isso...Eu amo bossa nova! Na verdade, gasto bastante tempo tocando Jobim e João Gilberto. De qualquer maneira, eu toco muito jazz. E bossa nova e jazz são muito próximos. Eu amo sentir esse estilo de música. É muito romântico. Eu acho que Jobim é brilhante. Também gosto de Sérgio Mendes.

Quem diria, ein? por detrás da parede metálica, existe uma paisagem bucólica...

Baú do Malu 16 - Batman nº 14 (2ªsérie)


Este exemplar do Batman acima nem é tão raro assim - a 1ª série, a partir de 1953, é muito mais procurada pelos colecionadores. Mas esta edição de agosto de 1962 tem seus atributos únicos, a começar pela capa do hábil artista Aylton Thomaz, que por essa época voltara a colaborar com a Ebal, primeira casa editorial que o acolheu nos quadrinhos, ainda no início dos 50. A contra-capa, com anúncio do chicle Ping-Pong também se destaca, ao trazer o inconfundível traço "redondo" de Luiz Sá, em uma série protagonizada por um dos seus principais personagens, o Bolão (do trio Reco-Reco, Bolão e Azeitona). O exemplar está em ótimo estado, e nos dá uma boa mostra desses tempos heróicos, sem o help do computador, onde as mãos de geniais desenhistas criavam verdadeiras obras-primas.

13 de janeiro de 2010

Baú do Malu ( e da Cris) 15 - Festival de Boa Esperança (MG)

Dando sequência ao surpreendente achado anterior - ingresso de 1987 de um show do Zé Geraldo, eis que me aparece na mesma "caixa de sapato" um outro documento "histórico": o folheto do XXI Festival da Canção de Boa Esperança, ocorrido entre 06 e 08 de setembro de 1991 e dedicado a Gonzaguinha, recém falecido em um trágico acidente. Mais uma vez a relíquia vem do lado da Cris, que por essa época frequentava muitos shows e festivais, graças aos seus aventureiros e culturais irmãos mais velhos Zé e Magno. Segundo relato da Cris, foi um dos eventos mais emocionantes que pôde presenciar, graças à homenagem ao grande Gonzaga Jr: houve muita comoção quando os filhos do compositor adentraram o palco e interpretaram canções do pai.
Pesquisando sobre o festival, constatei que ele segue para sua 39º edição, sem interrupções, o que o faz um dos mais velhos festivais brasileiros ainda em atividade.
De 1971 pra cá, vários compositores conhecidos participaram do festival. Muitos, por sinal, ainda em início de carreira, conforme lista abaixo:
Jean Garfunkel - 1º em 1972; 2º em 1973; 3º em 1984 e 1985.
Marcus Viana ( aquele mesmo, das trilhas do Pantanal) - 1º em 1975.
Celso Adolfo - 1º em 1983.
Celso Viáfora - 2º em 1984.
Déo Lopes - 2º em 1986.
Lysias Ênio (irmão letrista de João Donato) - 1º em 1990.
Sueli Costa - 1º em 1993.
Tibério Gaspar - 2º em 1997.
Lula Barbosa - 2º em 2002.
Ainda vi por várias vezes os nomes Zé Renato e Zé Alexandre - fiquei em dúvida se são homônimos. Zé Alexandre é um dos maiores intérpretes da MPB - é dele a voz em Bandolins, em dupla com Oswaldo Montenegro.

12 de janeiro de 2010

Em inglês, a melhor música nacional de 2009 (segundo a Rolling Stone)

Deu na RS edição brasilis: a primeirona das músicas nacionais, entre 50 destaques do ano, foi "Favorite Way", dos surpreendentes goianos do Black Drawning Chalks. A mais grata surpresa de 2009, segundo a revista, canta em inglês, tem um quê de Red Hot Chili Peppers e mostra personalidade, como vocês podem checar com os olhos e ouvidos, no vídeo a seguir. Eu gostei deles, não só do punch, mas também de toda a produção gráfica envolvida na capa do disco (acima) e na animação do clipe. O nosso rock precisa largar esse "politicamente correto" pegajoso que anda brochando certas bandas promissoras e mandar o braço, como bem fez os BDC.

9 de janeiro de 2010

São Luiz do Paraitinga e a verdadeira mobilização cultural

São Luiz do Paraitinga é um patrimônio cultural de São Paulo e do Brasil e seu legado musical é inestimável. Terra de Elpídio dos Santos e capital das marchinhas de Carnaval, deveria constar sempre, ao longo do ano, nos principais eventos do calendário da Secretaria Estadual de Cultura e frequentar com mais assiduidade os cadernos culturais e telejornais da grande mídia. Eis que a cidade inicia 2010 entre as principais pautas jornalísticas, não por conta do Carnaval ou do centenário de Elpídio dos Santos comemorado em 2009, mas pelas vias trágicas das chuvas, que arrasaram a cidade e por consequência, destruíram seus acervos, documentos e monumentos culturais. Neste momento de consternação, muitos artistas, historiadores e profissionais da cultura, ligados à cidade ou mesmo sensibilizados com a situação, arregaçam as mangas e se mobilizam, cada um à sua maneira. Suzana Salles e Ná Ozetti, Arnaldo Antunes, o ator Walmor Chagas e o jornalista e produtor Israel do Valle, são alguns desses engajados. Israel, que foi da minha sacudida turma de jornalismo na Metô/São Bernardo, vai capitanear amanhã uma edição beneficente do seu projeto SamBaCana Groove: quem levar dois quilos de alimentos não perecíveis (exceto sal e açúcar) e duas peças de roupa entra de graça na festa, que ocorre na Livraria da Esquina, na Barra Funda. Acompanhem com mais detalhes, essa e outras movimentações em prol de São Luiz do Paraitinga:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,cultura-unida-em-prol-de-sao-luiz-do-paraitinga,492254,0.htm

Imperdível: Araquém Alcântara na Internet

Já está no ar o site de Aráquem Alcântara, profissional brasileiro mundialmente conhecido e merecidamente reconhecido como um dos maiores fotógrafos ambientais do Planeta. Além do banco de dados para uso editorial/comercial, a página conta com uma forrada galeria de imagens (divididas por temas), perfil, projetos e detalhes de seus preciosos livros. Araquém é único, pois retrata com a mesma espontaneidade, a beleza natural e a destruição da natureza, bem como as raízes do bicho homem amarrando o mundo. Suas imagens poéticas desvendam com pouco filtro, a nudez e a coragem de um país privilegiado por natureza mas também sofrido e em carne viva, em parte por causa de sua própria grandeza. Acompanhem as proezas e os registros deste bandeirante da imagem e colecionador de mundos. Brasis, principalmente:
http://www.araquem.com.br/

Beatles em raridade da Marvel

Eu já sabia por cima que George Perez, artista veterano dos quadrinhos americanos de heróis, famoso por grandes sagas dos complexos universos da Marvel e da DC, tinha desenhado em seu início de carreira toda a trajetória dos Beatles, em uma edição hoje bem rara e que não saiu no Brasil. Hoje topei sem querer com a íntegra e repasso a vocês o link. O desenho de Perez segue a linha psicodélica dos 60/70, com muitas mudanças geométricas e mistura de cores. Confira, via UOL/Vírgula:
Imagem: Reprodução capa Beatles Story - Marvel/1975

3 de janeiro de 2010

Bau do Malu (e da Cris) 14 - Seguindo o Zé II

Quando a minha querida Cris viu o post sobre o Zé Geraldo, comentou que já o tinha assistido ao vivo pelo menos uns cinco anos antes da minha experiência em São Thomé. A princípio fiquei meio assim. Cinco anos antes? pô, a Cris é cinco anos mais nova do que eu, acho que ela está enganada. Fui atrás. E eis que no meio das nossas caixas de sapato "históricas", surge este ingresso acima, comprovando a presença da Cris em um antológico show do Zé Geraldo em 1987, no velho bairro do Sacoman (Ipiranga), em seu colégio na época. Um outro Zé, tão grande quanto, estava também presente: o nosso Zé, irmão da Cris e por osmose, meu cunhado, também professor, mecânico, explorador, aficionado por carros antigos e futuro paizão.
Um brinde aos Zés que fazem a diferença!

1 de janeiro de 2010

Um Ano "Paulinho da Viola" para todos nós

Ao rever o documentário sobre o grande Paulinho da Viola no Canal Brasil, reforcei a visão que tenho deste que eu considero um dos nossos maiores compositores. Sereno, generoso, tranqüilo, sem estardalhaço, compenetrado, curioso, detalhista, amoroso, genial, simples. Pois eu espero que todos esses predicados de alguma forma se encaixem no ano que começa hoje. Que 2010 venha com muito trabalho, música e harmonia, sob os eflúvios pacíficos de Paulinho da Viola.
Seguem algumas preciosidades de sua obra singular:
http://www.youtube.com/watch?v=IEUPH1A7YkM
http://www.youtube.com/watch?v=6c64SRiUJEQ&feature=fvw
http://www.youtube.com/watch?v=sWDW90HEV1U
e trechos do documentário citado:
http://www.youtube.com/watch?v=N-6SMDK-jCo&feature=PlayList&p=EF774DB899E9E84A&playnext=1&playnext_from=PL&index=1
http://www.youtube.com/watch?v=xC-0VR3fpJU&feature=PlayList&p=7A0D7FB3E02958D6&playnext=1&playnext_from=PL&index=32 http://www.youtube.com/watch?v=jJj6JS7XLZY

Baú do Malu 13 - Editora Abril em 1948: antes do "Pato" e até do seu próprio parto


Ao mergulhar em meu acervo em busca de raridades que não vejo, como diria o R.Russo, há tempos, deparei-me com este curioso livrinho infantil datado de 1948, que narra as peripécias de Mickey, Donald e Dippy (conhecido depois no Brasil como Pateta) num certo "Vale Feliz" e traz capa dura e historinha com várias ilustrações complementando o texto corrido, nos moldes de outras coleções da época; nada demais, se não fosse por um detalhe intrigante: em destaque, na capa, aparece o nome "Editora Abril", o mesmo nome da editora que Victor Civita iria fundar somente dois anos depois, em 1950. Pelo que eu sei da história, a editora de Cesar Civita, irmão de Victor, sediada na Argentina, chamava-se Editorial Abril, a mesma que fez uma parceria com Adolfo Aizen em 1946 para editar no Brasil as hoje raras 'Seleções Coloridas', também com personagens Disney (conforme postado anteriormente por este blog: http://almanaquedomalu.blogspot.com/2009/08/bau-do-malu-6.html ). O que me faz supor que a Editora Brasiliense, que distribuiu a coleção, tenha traduzido equivocadamente o nome da editora. Mas é só uma suposição - quem souber mais detalhes deste lançamento, por favor, jogue luz sobre este fato histórico. As imagens acima comprovam: dois anos antes de nascer, a Editora Abril apareceu nas livrarias ( clique na imagem da contra-capa e veja a data de impressão).