24 de junho de 2020

Adeus, banca!

Sempre fui um daqueles chamados "ratos" de sebos e bancas de jornais. Nos bons tempos de infância e adolescência e mesmo depois, já marmanjo, adorava ficar "descobrindo" novas revistas, e no caso das bancas, amava saber dos lançamentos ou achar por acaso um grande lançamento sobre música ou de algumas daquelas editoras nanicas dos anos 80, que sem aviso prévio, inundava as bancas com gibis cheios de quadrinhos brasileiros ou com HQs internacionais (quase sempre na base da pirataria). Bem pequeno eu ia com meu pai e minha mãe, mas quando comecei a ganhar meu próprio dinheiro,passei a ir com minhas próprias pernas às bancas próximas da minha casa. Na época tinha pelo menos quatro bancas próximas ( hoje tem uma!) e uma delas era a do Carlão, próxima à padaria Canoa (essa proximidade de padarias era comum - comprava-se pão, tomava-se café e comprava-se jornal e revista - esse era o pacote habitual). No Carlão, fiz minha primeira coleção completa de fascículos - Os Bichos - e comprei muitas revistas de rock, gibis da Disney e Marvel, edições especiais e as já citadas revistas de editoras menores, que geralmente não passavam do número 2. O tempo passou e as coisas mudaram bastante. As revistas de música ainda saem, mas bem esporadicamente e ainda resta a Rolling Stone, a Rodie Crew e mais uma ou duas sobre o tema. Me lembro quando comprava na banca pelo menos duas ou três revistas de música diferentes - incluindo aquelas revistas-pôsteres da Editora Três que fez muito sucesso por um tempo. Comprei também muita revista Roll, Som Três e Música. Quadrinhos nem fala! Completei minha coleção da Animal em banca! A revista especial Monga, editada pela dupla explosiva Jal & Gual, comprei em banca. Terror da D-Arte, dezenas de lançamentos da Sampa, da Press, comprei em banca. Conan, Spirit, Aventura & Ficção, completei em banca. E a banca do Carlão era a que eu mais visitava. Como não sou muito de mudar meus hábitos, continuei indo às bancas, mesmo que soubesse que as revistas já não vinham com muita regularidade. Aos domingos continuo indo em outra banca próxima, a do Fernando, seguindo a tradição do meu pai, falecido no ano passado, que ia lá nesse mesmo dia comprar seu jornal. Na do Carlão, onde sempre fui muito bem atendido pelo próprio e por suas irmãs, comprava ultimamente algumas avulsas da Disney (Culturama) e J. Kendall, Aventuras de uma Criminóloga, da Mythos, que sai bimestralmente (tenho do nº1 até hoje, 16 anos de revista, todas compradas no Carlão). Então, eu fui ontem buscar minha "criminóloga sagrada" e soube que a banca - que nos últimos tempos já reformada como loja, vendia muita coisa de papelaria, brinquedos e lembranças - não ia mais vender revistas. Ou seja, a banca tradicional não existiria mais a partir dessa semana. Fiquei triste, muito triste. Embora saiba que essas mudanças são inexoráveis, que o consumo mudou, as editoras mudaram, as revistas mudaram (o filão das editoras são as edições especiais e de luxo em livrarias), me senti sem chão, depois de tantos anos. Ainda vou insistir nesse hábito, afinal ainda existem revistarias maiores que ainda aguentam o tranco, caso da excelente Casinha das Letras na minha cidade, bem grande, e que para sobreviver também vende livros e tem uma cafeteria interna. E ainda vou continuar prestigiando a única banca próxima que me resta - a do velho Fernando. Quanto à banca do Carlão, só tenho a agradecer por todo esse tempo como assíduo freguês e por tantas edições fantásticas adquiridas. E torcer para que eles continuem no bairro, vendendo o que seja mais em conta nesses tempos tão estranhos e enigmáticos para o comércio em geral. Abaixo, uma foto em que atravesso a rua rumo à banca do Carlão (oficialmente, Banca Oriente), no início dos anos 90.

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