Voltando com a série 'Baú do seu João" depois de um tempão (sorry, pai!), eis um item daqueles que eu apreciava na estante de casa desde os primeiros anos da década de 1970, na minha tenra primeira infância. É uma primeira edição, publicada pela "Livraria Fittipaldi Editora" e deve ser do final dos anos 1960 (não tem referência de ano na obra). Na última capa, aparecem outros lançamentos dessa série popular vendida em banca, no estilo 'manual', como "O Mistério dos Sonhos", "Curso Completo de Rádio", "Chofer em 20 Lições sem Mestre" e até "Para Evitar a Gravidez". No miolo, ilustrado, os truques de mágicas ligeiras mais conhecidas em shows são revelados, numa seleção de 'spoiler' que deve ter feito os mágicos profissionais da época imaginarem esse tal de Shu Lyng (certamente, um pseudônimo de algum colaborador da editora) sendo serrado (pra valer) no centenário truque de "serrar uma mulher ao meio", um clássico da categoria.
17 de julho de 2025
11 de julho de 2025
Livrarias podem se consolidar como ponto de encontro (Coluna Mauro Calliari - Folha de S.Paulo 11/07/2025)
O Mauro Calliari é administrador, doutor em urbanismo e escreveu o livro "Espaço Público e Urbanidade em São Paulo". Vale a pena ler o que ele acha sobre os espaços literários e porque eventos ligados a esse gênero atraem tanta gente. Concordo e é por isso que acredito nos 'saraus de bairro', em bibliotecas públicas, centros culturais e pequenas livrarias, um polo crucial para atrair novamente a vizinhança para o mundo cultural.
Livrarias podem se consolidar como ponto de encontro (Mauro Calliari )
Que os brasileiros leem pouco, parece quase senso comum. Mas estamos lendo cada vez menos. A média de quatro livros por ano é a mais baixa da série histórica. Pela primeira vez, o número de leitores ficou abaixo dos não-leitores. Isso significa não ter nem encostado em nenhum livro nos últimos três meses. Talvez esse dado não seja suficiente para levar uma passeata de protesto à avenida Paulista, mas para mim gera arrepios saber que um terço dos universitários não leu nem um trecho de livro nenhum, físico ou digital nos últimos três meses.Por isso tudo, causa espécie quando se constata a superlotação dos eventos literários. A Feira da USP leva 50 mil pessoas todo ano, em busca dos 50% de desconto. A Feira de Livro realizada no Pacaembu no mês passado estava bonita com a multidão ouvindo palestras sobre temas algo áridos sentadas no gramado como se estivessem numa praia. A Bienal do Livro do Rio de Janeiro levou 740 mil pessoas –quase dez Maracanãs lotados– para passear num verdadeiro parque do livro. A Flip vem aí e promete lotar a cidade de Paraty.
Como explicar essa aparente contradição?
A primeira constatação é que as feiras vão muito além da venda de livros. Na feira do Pacaembu, eu assisto a palestra do autor canadense que me interessou, pesco alguma história divertida, compro o livro, ganho um autógrafo e quem sabe ainda posto uma foto minha com o sujeito. De quebra, vejo gente bacana, como um pão de queijo, e pronto, o programa durou uma tarde inteira. Se estiver na Bienal do Rio de Janeiro, consigo até andar de roda-gigante.
Isso explica a estratégia das livrarias. Tudo virou experiência. Para concorrer com a compra online (que hoje já abocanhou 32% do mercado de livros no Brasil), a palavra de ordem hoje no varejo é a experiência do consumidor.
Algumas livrarias nasceram para atrair pessoas. El Ateneu, em Buenos Aires, montada num antigo teatro, é uma estrela de primeira grandeza nos guias de turismo. A Cultura do Conjunto Nacional atraía gente do Brasil inteiro, interessados na arquitetura generosa e na oportunidade de sentar perto do dinossauro. Minha preferida sempre foi o Shopping Ática, que tinha a ambição de ter todos os livros em catálogo no Brasil, acabou vendida e o prédio foi ocupado pela FNAC, até ser ocupado pela Prevent Senior.
As pequenas livrarias conseguem emular apenas parte dessa experiência, mas todas fazem bem para a cidade.
É saudosismo? Talvez.
Livrarias fazem parte daquela categoria que o sociólogo americano Ray Oldenburg chamou de third place, ou terceiro lugar, aquele lugar privado que funciona como espaço público, onde vizinhos se encontram regularmente, como o cabeleireiro ou boteco. Nesses lugares, nunca falta assunto e as ideias ganham vida própria.
Vender livros é um business arriscado. Que haja mil livrarias e quase 5 mil farmácias no estado de São Paulo não é um acaso.
Num país em que quase 60% dos municípios não têm sequer um ponto de vendas de livros, as cidades deveriam estender o tapete para cada empreendedor que desafia a racionalidade econômica e abre uma nova livraria.
10 de julho de 2025
"Giga Superman" em São Caetano do Sul (1978)
Nessa semana em que as palavras mais faladas são 'taxa' (graças às estapafúrdias taxas de 50% que Trump anunciou para vários produtos brasileiros) e "Superman', por conta da estreia em terras brasilis do novo longa do Superman dirigido por James Gunn, me deparo com essa cena icônica: a montagem de um Superman gigante em frente ao cine Vitória de São Caetano do Sul, na estreia do primeiro filme do super herói kryptoniano em 1978. Eu, do alto de meus 10 anos, fui assistir a clássica película e quase caí pra trás na fila que se formava na calçada, quando vi ao vivo essa "escultura" inflável com estrutura de madeira e capa esvoaçante. Vale ressaltar, principalmente para quem não vivenciou a época, que essas filas eram supernormais e chegavam a preencher todo o quarteirão ao redor do cinema - presenciei essas filas quilométricas em filmes como "Tubarão", "ET' e "Contatos Imediatos do Primeiro Grau", só pra ficar nas obras spielberguianas. (obs: não encontrei o crédito do fotógrafo para essa imagem - se alguém souber, por favor, me avisa e faço o devido registro).
7 de julho de 2025
"Rebobinando Memórias" com o incrível Gilberto Charada
Nesse fim de semana, rolaram as primeiras filmagens do documentário "Rebobinando Memórias", produzido pela Murmur Filmes e dirigido por Jefferson Mendes, que conta a fantástica história do Gilberto e sua heroica e resiliente Charada, um misto de locadora, centro cultural e núcleo cinematográfico de resistência. Participei como um dos personagens-chave desse doc e adorei, tanto pela maneira como fui tratado pela equipe toda da Murmur, como pela oportunidade - já era em tempo - de conhecer o incrível Gilberto, que vem realizando um trabalho não só de resistência, mas de "iluminescência" cultural por décadas. Viva a Murmur, Viva Gláuber, Viva Elis, Viva Taiguara, Viva Claudete Soares, Viva os irmãos Barnabé, Viva Carlão Reichenbach, Viva Gilberto Charada!
Música de Manivela (Oswald de Andrade)
Passei em branco em junho - revisões, revisões e mais revisões - mas pra começar bem esse julho friorento, nada como um bom disco na vitrola e uma poesia para acompanhar. Essa aí embaixo, do primeiro livro de poesias de Oswaldo de Andrade, vem bem a calhar.
Música de Manivela
Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida
Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma
Discos a todos os preços
(Oswaldo de Andrade - do livro "Pau-Brasil", de 1925)