7 de agosto de 2025

Na Flip 2025

                       Minha visão do Ruy Castro em sua palestra na Flip, à beira da porta de entrada

Eu e a tropa aqui de casa (com a sempre presente sogra, claro), esticamos até a Flip 2025, que esse ano homenageou o grande Paulo Leminski, o poeta brasileiro que mais conseguiu aproximar a poesia do leitor brasileiro, sem baixar a guarda de sua escrita afiada e aguçada. Leminski estava em todas as partes - saraus, casas parceiras, na praça popular, nas estantes, nas rodas de conversa, nas palestras e naturalmente, nas rodas de violão. Afinal, ele se aproximou também da música popular e se tornou um letrista de mão cheia (vide as dezenas de músicas compostas com Moraes Moreira, entre elas, "Decote Pronunciado", "Promessas Demais" e "Desejos Manifestos"; "Xixi nas Estrelas", com Guilherme Arantes, talvez a maia famosa entre elas; e tantas outras, muitas que eram versos e foram musicados, como "Dor Elegante", com Itamar Assumpção e "Verdura", com Caetano Veloso). Em Paraty, além das filhas de Leminski, Áurea e Estrela (que fazem um trabalho estupendo de preservação do legado do pai) e da viúva e mãe delas, Alice Ruiz, que participaram de conversas e oficinas durante todo o evento, estava também em outras rodas o biógrafo Toninho Vaz, que fez o ótimo "O Bandido que Sabia Latim", biografia do escritor. Infelizmente, por conta de alguns trechos do livro que desgostaram a família, eles não são convidados para um mesmo encontro/recinto. Não encontrei nem a família, nem o Toninho na Paraty lotada, mas Leminski estava no ar, no folheto na mão da criança, no sarau repleto da praça e nas inúmeras conversas, prosas e palestras em que seu nome foi proferido. Em uma delas, logo no primeiro dia, o poeta e compositor Arnaldo Antunes emocionou a plateia quando recitou e cantou Leminski, depois de dizer que conheceu a escrita dele muito antes de se conhecerem e que para ele, o poeta curitibano era um elo muito visível entre o Concretismo e a Tropicália. Sem me prender à agenda oficial, planei pelas ruas e poças a base da intuição, o que me foi muito útil. Conheci poetas na rua, troquei livros, ouvi batuques, cantorias, rituais indígenas. Na Casa Sesc, fui contemplado com uma conversa cheia de piados e cantos misteriosos da maravilhosa Tetê Espíndola, cada vez mais jovial com suas medeixas brancas reluzentes, ao lado do biógrafo Fábio Schunck, na mesa "Observação de Aves e Preservação da Natureza". Foi nesse clima de "Pássaros na Garganta" que encontrei, depois de muitos anos, o jornalista Celso Masson, ex-Veja. Horas depois, já estava na porta da Casa Folha ( e ali fiquei, pois cheguei atrasado e não consegui entrar) assistindo o magnífico Ruy Castro - sou fã de carteirinha do seu texto há décadas - numa conversa intensa sobre o seu novo livro "Trincheira Tropical" (Companhia das Letras - 2025), que destrincha a Segunda Guerra no Rio de Janeiro. Nessa de ficar um tempão na entrada do evento, fui "encontrado" pela minha colega de jornalismo da Metodista (lá se vão quase 40 anos), Marina, com seu sorriso e simpatia intactos. Com o final da palestra, vieram grandes momentos. Na fila do autógrafo, conheci o Claudio Miranda, enteado de Ziraldo, e proseamos com gosto. E na hora da dedicatória, aproveitei pra bater um papo supimpa com Ruy (apesar da longa fila de espera atrás da gente) - falamos do Joselito e de seus personagens (que ele lia na infância); do quanto ele apreciou a biografia que fiz sobre esse mesmo artista; da Ebal e o seu encontro com o artista Max Yantok - Ruy ainda menino. Estava tão extasiado com a conversa, que acabei não vendo na hora a dedicatória: "Para Marcos, nosso historiador da caricatura, abração do R.C - Paraty - 2025". Que emoção!

Depois desses momentos inesquecíveis, faltava a cereja do bolo: curtir o passeio ao lado da patroa, dos filhos e da sogra - afinal, há 30 anos atrás, cá estávamos, eu e a Cris, curtindo uma maravilhosa lua-de-mel nessa cidade tão acolhedora e cultural. O ciclo se fecha? Nem pensar...a ideia é voltar sempre que possível, de preferência em outra edição mágica da Flip (nessa, só faltou encontrar o velho chapa Belinho, que mora e trabalha na região - na próxima dá certo!)

                           Paraty, oh, Paraty!

                         Nas praças e vielas, a literatura abraça a cidade

                           
                              No recinto lotado, Tetê solta seus pássaros da garganta.

                            Eu e Cris, em Paraty, trinta anos depois.


17 de julho de 2025

Baú do seu João nº40: Manual das Mágicas por Shu Lyng


Voltando com a série 'Baú do seu João" depois de um tempão (sorry, pai!), eis um item daqueles que eu apreciava na estante de casa desde os primeiros anos da década de 1970, na minha tenra primeira infância. É uma primeira edição, publicada pela "Livraria Fittipaldi Editora" e deve ser do final dos anos 1960 (não tem referência de ano na obra). Na última capa, aparecem outros lançamentos dessa série popular vendida em banca, no estilo 'manual', como "O Mistério dos Sonhos", "Curso Completo de Rádio", "Chofer em 20 Lições sem Mestre" e até "Para Evitar a Gravidez". No miolo, ilustrado, os truques de mágicas ligeiras mais conhecidas em shows são revelados, numa seleção de 'spoiler' que deve ter feito os mágicos profissionais da época imaginarem esse tal de Shu Lyng (certamente, um pseudônimo de algum colaborador da editora) sendo serrado (pra valer) no centenário truque de "serrar uma mulher ao meio", um clássico da categoria.


11 de julho de 2025

Livrarias podem se consolidar como ponto de encontro (Coluna Mauro Calliari - Folha de S.Paulo 11/07/2025)

 O Mauro Calliari é administrador, doutor em urbanismo e escreveu o livro "Espaço Público e Urbanidade em São Paulo". Vale a pena ler o que ele acha sobre os espaços literários e porque eventos ligados a esse gênero atraem tanta gente. Concordo e é por isso que acredito nos 'saraus de bairro', em bibliotecas públicas, centros culturais e pequenas livrarias, um polo crucial para atrair novamente a vizinhança para o mundo cultural.

Livrarias podem se consolidar como ponto de encontro (Mauro Calliari )

Que os brasileiros leem pouco, parece quase senso comum. Mas estamos lendo cada vez menos. A média de quatro livros por ano é a mais baixa da série histórica. Pela primeira vez, o número de leitores ficou abaixo dos não-leitores. Isso significa não ter nem encostado em nenhum livro nos últimos três meses. Talvez esse dado não seja suficiente para levar uma passeata de protesto à avenida Paulista, mas para mim gera arrepios saber que um terço dos universitários não leu nem um trecho de livro nenhum, físico ou digital nos últimos três meses.Por isso tudo, causa espécie quando se constata a superlotação dos eventos literários. A Feira da USP leva 50 mil pessoas todo ano, em busca dos 50% de desconto. A Feira de Livro realizada no Pacaembu no mês passado estava bonita com a multidão ouvindo palestras sobre temas algo áridos sentadas no gramado como se estivessem numa praia. A Bienal do Livro do Rio de Janeiro levou 740 mil pessoas –quase dez Maracanãs lotados– para passear num verdadeiro parque do livro. A Flip vem aí e promete lotar a cidade de Paraty.

Como explicar essa aparente contradição?

A primeira constatação é que as feiras vão muito além da venda de livros. Na feira do Pacaembu, eu assisto a palestra do autor canadense que me interessou, pesco alguma história divertida, compro o livro, ganho um autógrafo e quem sabe ainda posto uma foto minha com o sujeito. De quebra, vejo gente bacana, como um pão de queijo, e pronto, o programa durou uma tarde inteira. Se estiver na Bienal do Rio de Janeiro, consigo até andar de roda-gigante.

Isso explica a estratégia das livrarias. Tudo virou experiência. Para concorrer com a compra online (que hoje já abocanhou 32% do mercado de livros no Brasil), a palavra de ordem hoje no varejo é a experiência do consumidor.

Algumas livrarias nasceram para atrair pessoas. El Ateneu, em Buenos Aires, montada num antigo teatro, é uma estrela de primeira grandeza nos guias de turismo. A Cultura do Conjunto Nacional atraía gente do Brasil inteiro, interessados na arquitetura generosa e na oportunidade de sentar perto do dinossauro. Minha preferida sempre foi o Shopping Ática, que tinha a ambição de ter todos os livros em catálogo no Brasil, acabou vendida e o prédio foi ocupado pela FNAC, até ser ocupado pela Prevent Senior.

As pequenas livrarias conseguem emular apenas parte dessa experiência, mas todas fazem bem para a cidade.

A Livraria da Vila, a Megafauna, a Martins Fontes, a Travessa, os sebos e as livrarias de bairro como a Simples, a Bibla, a Zaccara e a NoveSete, e até a Drummond, que ocupou um pedacinho do conjunto Nacional, entregam ambientes agradáveis, cafés, lançamentos, eventos e até clube de leitura.

É saudosismo? Talvez.

Livrarias fazem parte daquela categoria que o sociólogo americano Ray Oldenburg chamou de third place, ou terceiro lugar, aquele lugar privado que funciona como espaço público, onde vizinhos se encontram regularmente, como o cabeleireiro ou boteco. Nesses lugares, nunca falta assunto e as ideias ganham vida própria.

Vender livros é um business arriscado. Que haja mil livrarias e quase 5 mil farmácias no estado de São Paulo não é um acaso.

Num país em que quase 60% dos municípios não têm sequer um ponto de vendas de livros, as cidades deveriam estender o tapete para cada empreendedor que desafia a racionalidade econômica e abre uma nova livraria.

10 de julho de 2025

"Giga Superman" em São Caetano do Sul (1978)

 

Nessa semana em que as palavras mais faladas são 'taxa' (graças às estapafúrdias taxas de 50% que Trump anunciou  para vários produtos brasileiros) e "Superman', por conta da estreia em terras brasilis do novo longa do Superman dirigido por James Gunn, me deparo com essa cena icônica: a montagem de um Superman gigante em frente ao cine Vitória de São Caetano do Sul, na estreia do primeiro filme do super herói kryptoniano em 1978. Eu, do alto de meus 10 anos, fui assistir a clássica película e quase caí pra trás na fila que se formava na calçada, quando vi ao vivo essa "escultura" inflável com estrutura de madeira e capa esvoaçante. Vale ressaltar, principalmente para quem não vivenciou a época, que essas filas eram supernormais e chegavam a preencher todo o quarteirão ao redor do cinema - presenciei essas filas quilométricas em filmes como "Tubarão", "ET' e "Contatos Imediatos do Primeiro Grau", só pra ficar nas obras spielberguianas. (obs: não encontrei o crédito do fotógrafo para essa imagem - se alguém souber, por favor, me avisa e faço o devido registro).

7 de julho de 2025

"Rebobinando Memórias" com o incrível Gilberto Charada

                   Murmur a postos, na Charada - e o Gilberto, com pose de "O Pensador"

Nesse fim de semana, rolaram as primeiras filmagens do documentário "Rebobinando Memórias", produzido pela Murmur Filmes e dirigido por Jefferson Mendes, que conta a fantástica história do Gilberto e sua heroica e resiliente Charada, um misto de locadora, centro cultural e núcleo cinematográfico de resistência. Participei como um dos personagens-chave desse doc e adorei, tanto pela maneira como fui tratado pela equipe toda da Murmur, como pela oportunidade - já era em tempo - de conhecer o incrível Gilberto, que vem realizando um trabalho não só de resistência, mas de "iluminescência" cultural por décadas. Viva a Murmur, Viva Gláuber, Viva Elis, Viva Taiguara, Viva Claudete Soares, Viva os irmãos Barnabé, Viva Carlão Reichenbach, Viva Gilberto Charada!

Música de Manivela (Oswald de Andrade)


Passei em branco em junho - revisões, revisões e mais revisões - mas pra começar bem esse julho friorento, nada como um bom disco na vitrola e uma poesia para acompanhar. Essa aí embaixo, do primeiro livro de poesias de Oswaldo de Andrade, vem bem a calhar.


Música de Manivela

Sente-se diante da vitrola

E esqueça-se das vicissitudes da vida

Na dura labuta de todos os dias

Não deve ninguém que se preze

Descuidar dos prazeres da alma

Discos a todos os preços

(Oswaldo de Andrade - do livro "Pau-Brasil", de 1925)




31 de maio de 2025

"Fábulas de La Fontaine": edição ilustrada clássica da Ebal está de volta!

 

Em 1968, a Ebal (Editora Brasil -América), do visionário Adolfo Aizen, lançou com pompa e circunstância a edição de luxo "Fábulas de La Fontaine Ilustradas por Gustave Doré", chamando a atenção pela qualidade na impressão, a escolha do papel, a capa plastificada e o tamanho inusitado de 22x32 cm. Além do mais, não era uma edição em quadrinhos - a especialidade da Ebal - mas um lançamento "fora da curva", trazendo a poesia clássica de La Fontaine e as impressionantes ilustrações de Doré, numa caprichada variação de uma coletânea brasileira de 1886 com o melhor do material português, incluindo tradutores renomados. o título fez sucesso entre os leitores, o que fez com que ganhasse reedições em 1978, 1983, 1986, 1991 e 1996. Para comemorar os 80 anos da Ebal, o editor, designer e jornalista Francisco Ucha, trouxe de volta essa maravilha impressa, via campanha no Catarse. Esse lançamento é só o começo: além de um volume ilustrado com a história da Ebal ("Ebal - Uma História Ilustrada" - entrando no Catarse também), ainda há outros projetos ligados à efémeride da Ebal em produção, para lançamento até o final de 2025, com o apoio e produção de uma equipe afiada (Toni Rodrigues, Rogério Casacurta e eu) -  Aguardem!

Para colaborar ou divulgar as campanhas da Ebal, é só entrar nos links abaixo:

https://www.catarse.me/lafontaine 

https://www.catarse.me/ebal80anos


14 de maio de 2025

Paulo Borges segue arrasando na Europa


O digníssimo Paulo Borges, quadrinista, ilustrador e arte-educador, que eu tive a honra de entrevistar na última CCXP, tem longa história nas HQs (veja link abaixo). E sua arte exuberante, há algum tempo vem sendo cada vez mais conhecida no exterior, principalmente na Europa, onde já fechou contratos importantes para lançamentos de álbuns. Na sua última postagem nas redes, mais uma vez seus seguidores derrubaram o queixo com a publicação da capa do álbum "Le Royames des Sidhes", a sair em breve na França pela Kamiti Editions. Que capa! Para acompanhar todos os lançamentos do Paulo, é só segui-lo:  @pauloborges_art



13 de maio de 2025

Encarte do Pinduca na ABC Discos



Eu e meus amigos de longa data Rogério, Fabinho, Léo e Vevé passamos pela Feira do Vinil de Santo André neste último final de semana (Alô, Cesar Guisser e Carlinhos! abraços!) e entre conversas, garimpagens e risadas, paramos na digníssima loja do Mauricio, a ABC Discos (Praça do Carmo, 71 - loja 24 - Shopping do Carmo - Santo André). O Mauricio, além de manjar muito sobre qualquer gênero musical que a gente bota na conversa, também entende pacas de aparelhagem de som - sua loja trabalha com assistência técnica - e é o tipo de lugar que nós - os citados no início do post - podemos ficar facilmente por várias horas, sem cansar ou pestanejar. Além de babar no acervo da loja e nas raridades expostas nas paredes (como o "Aprender a Nadar" do Jards Macalé), fiquei parado num encarte inusitado, também exposto na parede (foto acima), que me deixou encafifado. No desenho - que parece ser dos anos 1950/1960, mas isso é um chutão de minha parte - o personagem das histórias em quadrinhos Pinduca (no original Henry, criado por Carl Anderson em 1932, chamado pela Editora Vecchi nos anos 1970 de Carequinha), muito famoso entre os anos 1940 e 1960, aparece em duas cenas: uma com um disquinho na mão (com o título 'Pinduca') e outra correndo com um microfone.(com o título 'Discoteca'). Curioso, perguntei para o Mauricio se ele lembrava em que LP ou 10 polegadas esse encarte veio, mas ele não soube precisar, pois adquiriu um lote há um bom tempo e esse encarte surgiu em meio a vários discos. A dúvida é se essa arte foi criada por alguma gravadora ou o próprio proprietário do vinil resolveu fazer artesanalmente esse encarte com o simpático personagem clássico. Se alguém souber, por favor, mande nos comentários. No link abaixo, o site da loja ABC Discos:

12 de maio de 2025

Uma baita coincidência na parede!


Nessa semana, andando pela Rua Pinto Ferraz, próxima ao Atende Fácil de São Caetano do Sul, levei um baita susto: me deparei com uma arte em azulejo, na parede de uma garagem, idêntica à pintura de um quadro assinado pelo meu avô, datado do final dos anos 60 (quadro, inclusive, que já foi mostrado aqui no blog). Eu sempre convivi com esse quadro na família e ver a mesma cena retratada na parede de uma casa, na mesma cidade, foi uma surpresa e tanto! Essa coincidência me deu ânimo para pesquisar a origem dessa imagem do quadro. Qualquer novidade, posto aqui. Acima, o mural da garagem; abaixo, o quadro pintado pelo meu avô Ricardo Pareja Marigo.