29 de abril de 2022

100 anos de Toots Thielemans (Doodle)

Hoje o Google homenageou o grande músico belga Toots Thielemans, que completa 100 anos hoje, com um 'Doodle' muito bem desenhado. Toots, considerado um dos maiores gaitistas de todos os tempos, chegou a tocar ao vivo no Brasil e participou de projetos com brasileiros ao longo da carreira (Sivuca, Elis Regina e Astrud Gilberto foram alguns deles). Começou a carreira como guitarrista, e além da gaita, foi também um grande assoviador profissional.

25 de abril de 2022

"50 Poemas de Revolta"



Aqui pertinho de casa, uns quatro quarteirões pra cima, uma lojista resolveu colocar na calçada um simpático móvel com livros sortidos para retirada grátis. O famoso "deixe um, pegue outro". Hoje levei lá cinco livros do meu acervo e peguei três: um infantil do escritor João Carlos Marinho - "O Conde Futreson" - com a turma do Gordo; um volume da série "Viagem pelo Brasil", "Qual é o seu Norte - Almanaque da Amazônia", de Silvana Salerno com ilustrações do ótimo Gonzalo Cárcamo; e um livrinho de antologia poética, "50 Poemas de Revolta" (Cia das Letras), com uma seleção bem escolhida de poemas indignados, daqueles que põe o dedo na ferida, cutucam, gritam aos quatro ventos, ironizam a hipocrisia, subvertem o estabelecido. Entre os poetas, luminares como Ferreira Gullar, Hilda Hilst, Drummond, Vinicius, Roberto Piva, Zuca Sardan, Chacal, Ana Cristina César, Torquato Neto, Leminski, Alice Ruiz, Jorge de Lima e muitos outros. Nesses tempos em que se trocam as mãos pelos pés como se troca de roupa, se indignar, se revoltar, é como respirar! Seguem dois versinhos singelos da antologia citada:


ERRO DE PORTUGUÊS

Oswald de Andrade


Quando o português chegou

Debaixo d'uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

o português



OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu 

                                                                    {Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa que venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos 

                                                                      {edifícios.

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.


(no correr do ano, posto mais desses versos subversivos)




24 de abril de 2022

Cartões comerciais no armarinho



Fui acompanhar minha sogra em suas caçadas por boas linhas para tricô/crochê e nessa expedição paramos em um armarinho no centro de São Caetano. Tudo muito colorido e cheio de surpresas (ainda mais para um leigo como eu), incluindo pincéis, papeis colantes, miniaturas de todo tipo, etc. Na saída, no caixa, vi esses cartões comerciais e trouxe comigo - achei o design bem criativo em ambos. O primeiro, capturando imagem de algum anúncio bem antigo, onde as mulheres lindas desenhadas imperavam e outro com um bem resolvido lettering, onde a agulha perpassa o título. Ei-los aqui, para apreciação.

2 de abril de 2022

Ruy Maurity (1949-2022)

     (crédito: Pinterest/Silvana Regina)

Ultimamente, principalmente na pandemia, passei a escutar sons recorrentes quando escrevia a trabalho no computador: Nick Drake, Elton John, Donny Hathaway, Astrud Gilberto, Johnny Alf, entre outros. E o querido Ruy Maurity era um deles - ouvi muito, muito, sua música profundamente brasileira, rural, que funde com perfeição folclore, crença, natureza e um olhar bem próximo daquele brasileiro que mora lá no fundo do Brasil, fora das mídias e das estatísticas. O som de Maurity me acompanha desde a infância, quando assobiei e cantarolei muito "Nem Ouro, Nem Prata" ("Eu vi chover, eu vi relampear") e "Marcas do que se Foi", que a família toda cantava anualmente nas festas de réveillon. O compositor, ao lado do seu parceiro José Jorge, foi figura carimbada nas trilhas de novelas por toda a década de 1970 e surgiu para a música no Festival Universitário do Rio de Janeiro com a música "Dia Cinco", dele e de Zé Jorge, no início da década. Além de "Nem Ouro Nem Prata" e "Marcas do que se Foi", outras músicas de seu repertório acabaram na boca do povo, como "Serafim e seus Filhos" (regravada por vários artistas e com direito a continuação) e "Menina do Mato". Os amigos e conhecidos são unânimes em dizer que Maurity era uma pessoa muito tranquilo e doce. Eu pude presenciar isso quando há uns quatro ou cinco anos atrás, resolvi ligar para ele, com a intenção de entrevistá-lo. Ele foi muito solícito e simpático, mas recusou meu convite: "Marcos, no momento eu só quero curtir os meus bichos e minha aposentadoria". Realmente, esse amor pelos bichos era latente em suas postagens nas redes sociais, geralmente com fotos de cães de todos os tipos. Até que no dia 01/04, no portal do seu irmão, o também compositor Antonio Adolfo, veio a notícia de seu desencarne, aos 72 anos. Que sua doçura ecoe na imensidão e sua entrada no outro plano venha com a tranquilidade que você sempre procurou colher aqui nessa vida.

Aqui, full, um dos grandes discos de Ruy Maurity: 

https://www.youtube.com/watch?v=q0LyE9WDExU