30 de junho de 2010

O rarefeito Paulo Vanzolini circulando nas bancas

A Folha continua com sua coleção de discos em banca, Raízes da Música Popular Brasileira, e o homenageado da semana é o raro e único Dr. Paulo Vanzolini, zoólogo de profissão, sambista de intuição. Raro sempre - pelo seu próprio jeito esquivo, sempre passando ao largo dos holofotes - compôs poucas músicas, e as que viveram pra contar história, viraram standards, clássicos, jóias do nosso cancioneiro e do chamado samba paulista. No disquinho estão duas que chegaram ao grande público, Ronda e Volta por Cima, em interpretações definitivas de Márcia e Mauricy Moura, respectivamente. Grande parte das canções selecionadas para a coleção saiu no antológico disco Onze Sambas e Uma Capoeira, lançado por Marcus Pereira, ainda em fins dos anos 60, pelo selo Jogral. Jogral, pra quem não sabe, foi um pequeno grande reduto da melhor música do período (bons tempos de festivais e espetáculos em botecos) onde Marcus Pereira e o próprio Vanzolini frequentavam assiduamente e mantinham uma cota mínima na sociedade. Luis Carlos Paraná, ex-lavrador, compositor e intérprete participante de festivais, abriu o bar em meados dos anos 60, já com o intuito de abarcar a MPB que despontava desses inflamados concursos engendrados pelas emissoras de TV. O Jogral fez um sucesso enorme e corroborou para que Marcus Pereira se empolgasse e resolvesse homeagear um dos mais ilustres frequentadores da casa, o Dr. Paulo, que com o seu humor sempre afiadíssimo, rapidez de raciocínio e verve de cronista, já era considerado um gênio da raça. Pro disco foi um pulo. O selo saiu como Jogral mesmo, distribuido como brinde de fim de ano pela agência de publicidade Marcus Pereira em tiragem limitada. Para a homenagem, vários amigos e comparsas da boêmia - Adauto Santos, Cristina Buarque, o próprio Paraná - tocaram e cantaram canções que já conheciam, saídas de uma boca com cachimbo entre mesas apertadas e privilegiadas.Conto tudo isso, porque de lá pra cá, Paulo Vanzolini continuou saindo em tiragem limitada, mesmo com sua ilimitada genialidade. O disco de estréia foi reeeditado umas três vezes nos anos 70, sempre pelo selo Marcus Pereira ( a gravadora que sucedeu o selo Jogral e manteve a aura do bar e de LC Paraná, morto precocemente em 1970) além de outros lançamentos esporádicos até a caixa definitiva de 4 CDs lançada em 2003 com todas as suas 60 composições. Agora, depois de séculos, Paulo Vanzolini retorna em disco e desta vez é para os mortais. Entre apitos e vuvuzelas, dou vazão ao velho boêmio e comemoro.Golaço.

O AcervoSorve 1: Era Uma Vez Uma Capa - Alan Powers





Como já disse uma vez, esta página está ficando seriada, já que eu adoro inventar "capítulos" em série, como "Baú do Malu", "Discos que nos Tocam", etc. Aliás, preciso reviver este último, que revelou textos excelentes de grande repercussão e que acabei esquecendo em algum lugar de 2009. O Baú serve para desenterrar relíquias, mas eu sentia falta de uma série que mostrasse os itens novos que chegam aos montes. Há muito tempo, amigos especialíssimos que sabem dos meus guardados culturais, acabam me abastecendo com um livro aqui, uma enciclopédia ciclópica cá, um 78 rotações acolá. Só neste ano, duas coleções soberbas de LPs foram incorporadas ao acervo: a do meu cunhado Zé, ancorada no melhor da MPB e uma segunda, vinda do meu outro cunhado Flávio, na verdade uma conservada seleção do seu sogro Marcos com destaque para originais da Jovem Guarda e Beatles. Inauguro esta nova série com um item fantástico, saído da sacola mágica do meu chapa Paulico 7 Lagoas, sempre surpreendente, com petardos fantásticos que aterrissam em seu território cultural estratégico, e que me faz tê-lo como “conselheiro vitalício” do acervo e futuro curador do futuro centro cultural de um futuro próximo. Dêem uma sacada no visual deste livro em destaque! A obra é da Cosac Naify (2008), do original inglês Children’s Book Covers. O autor, Alan Powers, fez uma extensa pesquisa sobre capas de livros infantis através da história, com destaque para as européias,revelando mudanças técnicas ao longo do tempo e curiosas histórias dos autores, artistas e outros envolvidos. As páginas escolhidas lá no alto trazem surpresas: o urso Rupert, que até hoje freqüenta as matinées da TV Cultura, apareceu em livro na década de 20 e m coletânea de suas tiras de jornais!! O outro personagem em foco é nada mais nada menos que o Pequeno Stuart Little, o ratinho que foi adaptado para Hollywood e freqüentador de sessões vespertinas na TV – ele é originário da década de 40! Torço para que algum editor brasileiro tope com esta obra e resolva fazer um projetos desses por aqui. Já imaginaram?

28 de junho de 2010

Música brasileira e músicos brasileiros em filmes estrangeiros

A lista deve ser grande, ainda mais se pensarmos na Bossa Nova, que contagiou os EUA dos anos 60 pra cá. Sem pretensão em fazer uma varredura completa - mas claro, aberto a comentários que lembrem outros casos - selecionei de cabeça alguns filmes estrangeiros que incluíram música brasileira/músicos brasileiros em sua trilha. A maioria pende para a bossa mesmo, mas há também uma queda pelo tropicalismo. De quebra, um link com cena de 'Alta Fidelidade', filme com John Cusack sobre um dono de loja de discos, em que aparece o disco Tropicalia entre vários LPs de rock onde predomina o pop inglês. Não é trilha, mas vale a curiosidade. Aliás, quem gosta de disco, rock, LP, listas e referências pop, não pode perder este filme, um clássico instantâneo baseado em livro cultuadíssimo nos States.
As músicas:
* Nacho Libre (2006) – Irene – Caetano Veloso ( não achei a cena mas o áudio é da trilha sonora original) – comédia com Jack Black, que tenta trazer o clima das famosas lutas mexicanas. Muy Estranho.
http://www.youtube.com/watch?v=3N7Z0wTx0R4
* Shrek (2001) – Meditação – Tom Jobim e Newton Mendonça http://www.youtube.com/watch?v=PtQqt37n9cM
* Closer (2004 ) – videoclip da música Lonely de Bebel Gilberto, da trilha original do filme. No mesmo filme, Bebel canta também: Samba da Benção (Baden Powell e Vinicius – versão de Pierre Elie Barough), Tanto Tempo ( Bebel Gilberto e Suba) e Mais Feliz ( Bebel Gilberto, André Cunha e Cazuza).
http://www.youtube.com/watch?v=veVBOZnVa2I
*High Fidelity ( Alta Fidelidade - EUA) - cena em que aparece o LP Tropicália, disco chave do movimento sessentista ( entre os 36 e 42 segundos à esquerda).
http://www.youtube.com/watch?v=UgcAz50jsKU
*A Vida Marinha com Steve Zissou (2004) – nesta doidona comédia parodiando Jacques Cousteau, a trilha também é maluca e traz o nosso, o teu, o Seu Jorge cantando várias versões próprias do repertório de David Bowie, entre outras. Seu Jorge interpreta no filme o marujo Pelé dos Santos e canta bizarras e incríveis versões para a tripulação. http://www.youtube.com/watch?v=YnAiDA46DjE
http://www.youtube.com/watch?v=cn-L7FTfGzg&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=ykghg4E9nzw&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=575oLZdxfow&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=QHgSTJ93ztM&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=UvhGvxuOREw&feature=player_embedded http://www.youtube.com/watch?v=Pnkf-9sqEuc&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=w6l8zrsf4LY&feature=related
*** Frida (2003) – Caetano Veloso e Lila Downs – Burn it Blue – Frida levou o Oscar de melhor trilha, e Caetanão se esbaldou no palco do Seu Oscar.
http://www.youtube.com/watch?v=YTMSojPcF1g&feature=player_embedded
Outras :
***V de Vingança ( 2005) - The Girl from Ipanema (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e Norman Gimbel) c/ Stan Getz, Astrud Gilberto e João Gilberto. Corcovado (Antonio Carlos Jobim) e Quiet Nights of Quiet Stars ( Antonio Carlos Jobim e Gene Lees) c/ Stan Getz, Astrud Gilberto e João Gilberto.
*** Be Cool – O Outro Nome do Jogo ( 2005) – Sexy (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, e Will i Am) - The Black Eyed Peas (?!!?!!) e Roda (Gilberto Gil, Joao De Campos) c/ Elis Regina – Um ótimo resgate de uma antiga música d e Gil na sempre pungente interpretação de Elis. Mas que raio de versão é essa que o TBEP fez, que mudou até o nome de uma canção de Tom e Vinicius?
***Sem Folego (Blue in the Face)( 1995)– De Mais Ninguém (Arnaldo Antunes e Marisa Monte) c/ Marisa Monte .
***Fale com Ela( Hable con Ella)-( Espanha, 2002) – de Pedro Almodóvar – Logo no início, em emocionante cena de tourada, a inebriante Por Toda a Minha Vida (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), na voz de Elis Regina, estremece a tela e os espectadores. Ainda na trilha: a participação de Caetano Veloso, que aparece no filme cantando Cucurrucucu Paloma, de Tomás Mendez Sosa e Amor em Paz (Tom Jobim).

24 de junho de 2010

A volta do Ferrorama

As redes sociais venceram mais uma. Após incontáveis e-mails, correspondências e depoimentos pressionando a Estrela à reviver o clássico Ferrorama, finalmente a empresa cedeu aos apelos. Mas o caminho para esse ressurgimento foi árduo e tortuoso. Que o digam as comunidade do Ferrorama na internet, que toparam e cumpriram um louco desafio idealizado pela fabricante: se em três dias, os fãs do brinquedo conseguissem percorrer com o trenzinho em movimento contínuo, os últimos 20 km do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, utilizando apenas 110 metros de trilhos do Ferrorama, a empresa se comprometia a relançá-lo. E não é que os caras toparam, foram para lá ( com tudo pago pela Estrela, claro) e conseguiram finalizar a estapafúrdia prova? Os desafiantes inscritos tiveram que criar uma logística perfeita para recolocar ‘trocentas’ vezes os trilhos na parte dianteira da linha de ferro, sem causar descarrilamento, enfrentando ainda por cima, chuva, frio e terrenos íngremes. Prova cumprida, promessa idem: a Estrela já se comprometeu e colocará à venda em agosto, a novíssima versão do Ferrorama, que em 2010 completa 30 anos. Para a empresa, foi uma jogada estratégica infalível, pois a ação viral partiu de um movimento social espontâneo e conseguiu camuflar o aparato marketeiro por detrás. Para os participantes do desafio e fãs espalhados pelo Brasil, uma aventura inesquecível e com vitória. A prova, que teve início em 07 de junho, pode ser conferida nos seguintes endereços: no site oficial, no facebook.com/voltaferrorama, no twitter.com/voltaferrorama e no flickr.com/voltaferrorama.

21 de junho de 2010

Grandes discos ao vivo (1)– 1969/1970/1971

Confesso que disco ao vivo me deixa com a pulga atrás da orelha. Até que a audição me prove o contrário, eu tenho uma predisposição automática de achar que a maioria dos discos "live" não captam o clima e as nuances técnicas dos shows. Tudo bem que a tecnologia melhorou muito esta captação, mas nada que me surpreenda - ver/ouvir ao vivo é muito, mas muito melhor. Mas ao longo da história, alguns lançamentos viraram ícones justamente por capturar a alma e o ambiente das performances ao vivo. E quando os fonogramas conseguem esta proeza, entram para o seleto clube dos discos essenciais. Selecionarei no ano alguns deles, que no correr dos meus 42 anos me fisgaram de jeito. Começando por estas três pérolas abaixo, lançadas entre 1969 e 1971:

MC-5-Kick out the Jams -(1969) - ao lado dos Stooges, do lunático Iggy Pop, o MC-5 foi uma das bandas mais 'sujas' e barulhentas surgidas no final dos anos 60. A história deles é uma profusão de lances extravagantes e radicais (leia aqui: http://www.beatrix.pro.br/mofo/mc5.htm ) e o disco em questão captura com precisão uma performance esporrenta ( um termo que cai bem ao legado do MC-5) do final de 68. Para quem acha que os sixties eram só paz e amor, eis uma mostra de que a pancadaria sonora já era burilada muito tempo antes do punk setentista. Esse disco, com seu ataque direto, palavrões e discursos inflamados, captura com exatidão esse abscesso inflamado que atingiu a frágil pele rosada do flower power. As cenas abaixo não correspondem ao show do disco mas são as mesmas músicas tocadas na mesma época. http://www.youtube.com/watch?v=iM6nasmkg7A http://www.youtube.com/watch?v=6Cg0qJ-ieRk http://www.youtube.com/watch?v=LEi1-FSec24&feature=related

The Who - Live at Leeds - 1970 - O The Who atingiu o seu auge após a gravação do clássico "Tommy", de 1968, ópera rock saída da cabeça efervescente de Pete Townshend. A banda logo se movimentou para gravar ao vivo aquela fase mágica de performances cruciais. Dois locais foram escolhidos e para a gravação do vinil acabou prevalecendo a apresentação perfeita na Universidade de Leeds. Perfeita ao extremo, não só porque enquadra a banda em seu melhor momento, como flagra versões ao vivo estendidas superiores às originais. Discaço. http://www.youtube.com/watch?v=9g30nwCpyaA http://www.youtube.com/watch?v=ea0759BeJ2U&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=Sg3fmZyE3cg&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=uY9sDk6NyQY http://www.youtube.com/watch?v=Y9kP5_NAsBw&feature=related

Allman Brothers - At Fillmore East (1971) - Este álbum gravado ao vivo em Manhattan foi a obra-prima desta grande banda de blues e southern rock. Com 7 músicas e 70 minutos de duração, foi o canto de cisne do genial Duane Allman que morreria no mesmo ano - o disco posterior de estúdio (Eat A Peach) contou com sua participação, mas não em todas as faixas. É um raro momento em que as gravações ao vivo suplantam as de estúdio. As improvisações surpreendentes, o clima crescente do disco, as tabelinhas precisas entre os riffs de Duane e os outros instrumentos ( incluindo as duas baterias) e o tesão de todos os integrantes por estarem ali, tocando com muito suór e sangue, alçam este disco ao panteão dos grandes álbuns ao vivo de todos os tempos.
http://www.youtube.com/watch?v=KHhKnc0XZrs
http://www.youtube.com/watch?v=5K8SYmWjV6w

18 de junho de 2010

Álbum Branco: os Beatles desnudos

Uma capa branca, simples, apenas com o nome da banda, discretamente em relevo, como se os Fab Four quisessem enxotar o clima colorido/circense do anterior Sgt Pepper's. Um conteúdo transparente, à flor da pele, onde finalmente os Beatles se mostravam individualmente, cada um com seu grito/desabafo lancinante. Em nenhum outro momento na curta carreira da banda, John, Paul, George e Ringo se mostraram tão humanos e fragilizados, ainda que geniais e intensos. E em nenhum outro álbum deles, couberam tantas influências e confluências musicais. O chamado White Album ( na verdade The Beatles) foi lançado no final de 1968, depois de longas sessões de gravações durante o ano. Era o início das divergências estéticas e pessoais que levariam a banda ao seu fim em menos de dois anos. O ano por si só já se mostrava o mais conturbado da década – Vietnã, movimentos estudantis, Martin Luther – e o clima ao redor se refletiu nas composições do período. A viagem imediatamente anterior à Índia para meditação transcendental com o guru Maharishi Mahesh Yogi, só trouxe aborrecimentos e decepções, mas rendeu uma enxurrada de composições. Tão boas, que das quase 50 canções criadas no retiro, 30 entraram no disco e forçaram a banda a conceber um álbum duplo, na contramão dos lançamentos vigentes. Aquele ano, certamente era um ano diferente para eles: as mulheres definitivas, Yoko Ono (Lennon), Linda Eastman (Paul) e Patty Boyd (George), freqüentavam as sessões e chegaram a participar de algumas faixas no vocal ; Ringo, logo ele, o mais conciliador, sumiu das gravações por duas semanas, alegando falta de atenção dos companheiros – quando voltou, haviam rosas sobre sua bateria, cortesia do arrependido George, e pelo menos três gravações tiveram a presença do multi-instrumentista Paul nas baquetas; Algumas sessões foram finalizadas por um único membro – Macca tocou solo em Wild Honey Pie e Blackbird, John debulhou Julia acompanhado dele mesmo. Esse inédito clima caótico foi o início do fim, mas também presenteou os Beatles com seu álbum mais eclético e mais profundo. De seus sulcos, jorraram blues, country, baladas arrebatadoras, pops descomplicados, rocks puros, colagens e até esboços do que viria a ser o hard rock setentista.
O White Album está entre os 200 discos definitivos no Rock and Roll of Fame e sempre consta na lista das dez obras mais importantes do rock. Lennon o considera seu favorito.
Fiquem com algumas das incríveis criações do Álbum Branco:

9 de junho de 2010

As canções para o Rei...rejeitadas

Eu estou sempre lendo sobre música brasileira e atento aos mínimos detalhes da história. Concomitantemente, compro biografia pra burro. O livro de cabeceira do momento é "A canção do Mago - a trajetória musical de Paulo Coelho"(Editora Futuro- 2007). Muitos torcem o nariz pro tal "mago", que vende milhares de livros pelo mundo afora - eu pessoalmente, não tenho nada contra e acho que há muita inveja solta por aí ( é aquela velha mania de achar que pro cara fazer sucesso, tem que ser erudito, acadêmico ou algo similar - esquecem que existe também faro, caradura, coragem, bagagem, etc) - mas esse livro, da jovem e promissora jornalista carioca Hérica Marmo, traz subsídios importantes para meus escaninhos: os meandros políticos e culturais dos loucos e conturbados anos 70, detalhes curiosos e até então escondidos da vida de Raul Seixas, a indústria fonográfica de então ( e um destaque especial para o produtor Roberto Menescal, cuja participação neste processo precisa ser reavaliada), as várias composições espalhadas de Paulo Coelho ( que inclui Rita Lee & Tutti Frutti, Fábio Jr ainda saindo do ovo e muitos outros), entre outras tantas cositas más. O assunto deste post também surgiu de sua leitura: quantos e quantos compositores do período, consagrados e novatos, mandaram composições para apreciação do rei do disco Roberto Carlos; e quantos, muitos, tiveram suas canções rejeitadas. Esse tema já estava no meu córtex há um tempo, e quando li neste livro, que Paulo Coelho e Raul Seixas tinham mandado a música Bruxa Amarela ("Acabei de dar um check-up geral na situação/ o que me levou a reler Alice no País das Maravilhas"...) para Roberto Carlos, o assunto saiu da escotilha. Neste caso específico, os dois autores esqueceram completamente a índole de bom moço do rei ou mandaram a música pra incomodar mesmo, pois em sua letra há citações de cerveja, morte, e logicamente, da bruxa do título - temas óbvios para a lixeira imediata de Roberto. Mas em muitos outros casos, o cantor-compositor simplesmente rejeitou uma canção enviada, muitas vezes até encomendada, por detalhes pouco explicados, ou por encafifar com alguma palavra ( ele costuma pedir mudanças nas letras de seus compositores mais habituais). Abaixo, alguns casos sobre canções "reijeitadas", ou seja, rejeitadas pelo rei:
1) A citada "Bruxa Amarela", de Paulo Coelho e Raul Seixas, acabou sendo gravada pela Rita Lee no LP Entradas & Bandeiras, de 1976. A mesma música foi reescrita por Raul com o nome "Check-Up" e por descrever sem firulas, pílulas e remédios ( Discomel, Kilindrox, Ploct-Plux 25...), ficou censurada por anos.
2) Uma das mais famosas músicas rejeitadas pelo Rei foi "Se eu Quiser Falar com Deus", de Gilberto Gil. O excelente livro Todas as Letras, organizado por Carlos Rennó (Cia das Letras - 1996), traz detalhes do próprio Gilberto Gil e eu transcrevo aqui: " O Roberto me pediu uma canção; do que eu vou falar? Ele é tão religioso - e se eu quiser falar de falar com Deus? Com esses pensamentos e inquirições feitas durante uma sesta, dei início a uma exaustiva enumeração: 'Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro'. E saí. À noite voltei e organizei as frases em três estrofes. O que chegou a mim como tendo sido a reação dele, Roberto Carlos, foi que ele disse que aquela não era a idéia de Deus que ele tem. 'O Deus desconhecido'. Ali, a configuração não é a de um Deus nítido, com um perfil claro, definido. A canção (mais filosofal, nesse sentido, do que religiosa) não é necessariamente sobre um Deus, mas sobre a realidade última; o vazio de Deus: o vazio-Deus."
"Se eu Quiser Falar com Deus" foi gravada pelo próprio Gilberto Gil e por Elis Regina, ambos em 1980.
3) No mesmo livro, cita-se também a canção anterior de Gil "Nova Era", de 1976, como outra mandada para o cantor e não gravada. Sem mais detalhes...
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O livro sobre Roberto Carlos escrito por Paulo Cesar de Araújo (Editora Planeta - 2006), trouxe vários casos em seu capítulo sobre compositores. Uma pena que até hoje, esta preciosa obra, detalhada ao extremo, estaja embargada. Seguem alguns:
4)Sérgio Sampaio, nascido em Cachoeiro de Itapemirim, sempre tentou compor para o conterrâneo famoso, e acabou fazendo uma música, "Meu Pobre Blues" (1974), gravada por ele mesmo, falando sobre o assunto: "Eu queria tanto ouvi-lo cantar/ eu não preciso de sucesso/ eu só queria ouvi-lo cantar o meu pobre blues e nada mais".
5)Tom Jobim e Roberto se encontraram em 1973, em Nova York e o segundo revelou sua vontade em gravar "Ana Luísa". Tom mandou a letra inteira para o seu hotel mas por alguma cisma o cantor nunca gravou-a, assim como não gravou "Ângela", música de Tom oferecida a ele em outra oportunidade.
6)Zé Ramalho compôs em 1980 uma canção para Mister Braga gravar. "Eternas Ondas" falava em apocalipse e trazia metáforas políticas ("Quanto tempo temos antes de voltarem/Aquelas ondas.."). Um dos executivos da CBS na época achou que tinha tudo a ver com o rei e convidou o compositor paraibano para acompanhá-lo em um passeio no iate "Lady Laura". Lá, Ramalho cantou várias canções de seu repertório, menos a inédita, e no final, entregou uma fita cassete com a gravação de "Eternas Ondas" para apreciação do ídolo. Alguns dias depois, o empresário confirmou que Roberto gostara muito da música, mas achou a letra carregada e forte demais, com suas referências ao final dos tempos. Fagner acabou gravando a canção em 1981, com enorme sucesso nacional.
7)Caetano Veloso teve três composições suas gravadas por Roberto Carlos ( Como Dois e Dois, Muito Romântico e Força Estranha). A única que o intérprete não aceitou gravar foi "Ela e Eu", canção romântica gravada por sua irmã, Maria Bethânia, em 1979.
8)Chico Buarque também mandou música inédita para o rei. Depois que Roberto pediu-lhe uma música em 1978 e Chico lhe enviou a já famosa Cálice ( recusada por Roberto, obviamente), foi a vez de Chico lhe mandar em 1984, "Tantas Palavras" ( dele e Dominguinhos), não gravada e sem explicação direta por parte de Roberto.
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Passar pelo crivo de Roberto Carlos é realmente tarefa árdua, mas muitos conseguiram furar o bloqueio e outros até tiveram a honra de serem contactados pelo próprio. Centenas deles, anônimos ou consagrados, tentam até hoje, e dependendo do astral, da confluência cósmica dos planetas, da sorte, do momento, dos trâmites burocráticos, do tempo e disposição de Roberto Carlos, podem, pelo menos quatro ou cinco deles por ano, ao lado da dupla Erasmo-Roberto e outros habituais compositores, ver uma música inédita de sua lavra, em um disco novo do Rei.

8 de junho de 2010

Baú do Malu 25 - Edição Especial 'A Arte de Rodolfo Zalla’ (1992)


Dedicatória exclusiva do mestre

Interna da edição especial, destacando técnicas e capas do artista

Tenho por este exemplar acima um grande apreço. Não bastasse ser uma edição especialíssima - tri-lingüe, direcionada para o tradicional Festival de Lucca, na Itália, com editoral de Álvaro de Moya, matéria biográfica e big entrevista engendradas pelo maior especialista da obra de Zalla, Wagner Augusto (incluindo também a história dos dez anos da Editora D-Arte, fundada pelo artista), ainda me deu o privilégio de uma dedicatória exclusiva e um dedo de prosa com o mestre em 1994. Rodolfo Zalla, argentino de nascença, adotou o Brasil em meados dos anos 60 e sedimentou aqui sua carreira como quadrinista, ilustrador e editor. O quadrinho de terror nacional não teria uma história tão substanciosa se Zalla não tivesse criado o Estúdio D-Arte, ainda nos anos 60 e a Editora D-Arte na década de 80. O estúdio contava com uma sagaz equipe de argumentistas e artistas e produziu um imenso material de terror de qualidade. Já a editora, entre trancos, barrancos e planos econômicos, conseguiu por mais de dez anos, segurar no mercado duas publicações de terror, Calafrio e Mestres do Terror e revelar novos talentos ao mesmo tempo em que mantinha na ativa grandes artistas veteranos. A caprichada edição em destaque traz ainda pequenos perfis de artistas fundamentais do terror nativo, momentos da vida do artista em fotografias de arquivo,cronologia, artes originais e histórias inéditas. E comprova que sua arte não se limitou ao terror, mas também passou pelo faroeste, guerra, aventura e até uma importante incursão ao universo Disney, onde desenhou por anos a fio o personagem Zorro para a revista Almanaque Disney da Editora Abril, com histórias produzidas no Brasil. Ativíssimo aos 78 anos de idade, Rodolfo Zalla participou recentemente do projeto ‘Sábados da Memória das Artes Gráficas’, no auditório da Biblioteca de São Paulo, em que gravou depoimento para um futuro caderno bibliográfico e deixou a marca de sua mão que será inserida em um totem da fama. Merecido.

5 de junho de 2010

As aparições relâmpagos de Stan Lee

Todos os filmes da Marvel adaptados dos quadrinhos trazem uma aparição relâmpago infalível: a do criador de 99% dos heróis marvelianos da era de prata ( como é chamado o período de retomada dos heróis no início dos anos 60), Stan Lee. Muitos espectadores não ligam o nome do grande autor/editor à figura simpática do velhinho coadjuvante que insiste em aparecer rapidamente em vários filmes recentes de heróis, mas é compreensível: quem não conhece sua cara jamais vai imaginar que esse senhor, de óculos, cabelo de algodão e olhar distraído, que se mistura nas cenas aos trauseuntes civis, é um dos maiores criadores e argumentistas da história dos comics. De sua cabeça surgiram personagens ícones como Homem-Aranha, Hulk, Quarteto Fantástico, X-Men, Demolidor, Namor, Thor, Homem de Ferro, Capitão América, Surfista Prateado, entre outros. Jack Kirby, artista estupendo, foi seu maior parceiro e co-autor de alguns destes heróis citados. Além das participações especiais na telona, que incluem outros filmes fora do universo Marvel, Stan Lee já foi personagem de quadrinhos, garoto(!?) -propaganda e freqüentou recentemente um dos episódios de Big Bang Theory, seriado televisivo de sucesso da Warner.

Ficha:
Stanley Martin Lieber
Nasc: 28/12/1922 – New York (87 anos!)

As participações no cinema:
*Homem de Ferro 2 (2010) (longa-metragem) - como Larry King
*Homem de Ferro (2008) (longa-metragem) - como Stan Lee (na entrada da festa, cumprimentado por Tony Stark)
* O Incrível Hulk (2008) (longa-metragem)- homem abrindo a geladeira (não creditado)
*Confissões de Super-Heróis (2007) (longa-metragem) - como Stan Lee (não creditado)
*Homem-Aranha 3 (2007) (longa-metragem) -conversando com o herói (não creditado)
*Moebius Redux: A Life in Pictures (2007) (longa-metragem) - como Stan Lee
*Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007) (longa-metragem) -convidado barrado no casamento
*X-Men - O Confronto Final (2006) (longa-metragem) – no meio dos objetos da rua levantados por Jean Grey
*Quarteto Fantástico (2005) (longa-metragem) - carteiro Willie Lumpkin
*Homem-Aranha 2 (2004) (longa-metragem), - homem se esquivando de destroços
*O Diário da Princesa 2 (2004) (longa-metragem)
*Demolidor - O Homem sem Medo (2003) (longa-metragem) – idoso sendo salvo
*Hulk (2003) (longa-metragem) - segurança
* Homem Aranha (2003) – cena de acidente envolvendo o Duende Verde
*Os Super-Heróis dos Quadrinhos (2002) - documentário
*Stan Lee: Mutantes, Monstros & Quadrinhos (2002) - documentário
*X-Men - O Filme (2000) (longa-metragem) - vendedor de cachorro- quente
*Barrados no Shopping (1995) (longa metragem)
Algumas cenas: