29 de julho de 2010

Uma Noite em 67

A Folhona finalmente soltou hoje uma matéria consistente sobre música/cinema ( pois vem apanhando do Estadão nesta área por meses). O tema é o aguardado filme "Uma Noite em 67" de Ricardo Calil e Renato Terra, que tenta resgatar o clima de um dos festivais mais disputados de todos, o III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, aquele que teve violão jogado na platéia e levou para a final Chico Buarque e MPB-4 (Roda-Viva), Caetano Veloso e Beat Boys(Alegria, Alegria), Edu Lobo e Marília Medalha ( Ponteio) e Gilberto Gil e Mutantes ( Domingo no Parque). Teve também Roberto Carlos surpreendendo ao levar para a final "Maria, Carnaval e Cinzas" do ex-lavrador Luis Carlos Paraná. Fora as vaias, muitas vaias. O documentário foca na noite da finalíssima, incluindo a apresentação ( completa, não só do arremesso) de Sérgio Ricardo ( já mostrada aqui), além de preciosas declarações dos envolvidos, que ao que parece, longe do calor dos acontecimentos, finalmente desanuviam historicamente detalhes cruciais do festival e consequências posteriores. Pena que muitas das declarações, como as de Maria Medalha e Arnaldo Baptista, só constarão no DVD. O filme já foi visto em abril no festival É Tudo Verdade e teve pré-estréia na segunda (26), mas a estréia comercial é amanhã (30), no Frei Caneca Unibanco Augusta (tels: 3288-6780 -salas 1 a 3 e 3287-5590 -salas 4 e 5), Espaço Unibanco Pompeia (Tel: 3673-3949), Frei Caneca Unibanco Arteplex (Tel: 3472-2365), Cine UOL Lumière (Tel: 3071-4418) e Cine Bombril (Tel: 3285-3696). Segue a matéria da Folha + uma esclarecedora entrevista com Sérgio Ricardo na Folha.com.

26 de julho de 2010

Anima Mundi

Aos 18 anos de idade, o festival internacional de animação Anima Mundi reflete bem a maturidade alcançada pelo setor no Brasil. E foi o próprio festival um dos vetores que alavancaram a animação a um nível nunca antes visto. Se lá no início, em 93, o festival idealizado pelos animadores Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães, tinha o objetivo de mostrar e divulgar os diversos trabalhos nacionais e internacionais, tanto os cults como os que não conseguiam botar a "cara" pra fora em circuito comercial, hoje ele pode ser considerado um verdadeiro catalisador do setor, por difundir, debater e atrair empresas e patrocínios. Estão aí os longas em produção, as parcerias com emissoras de tv, as produtoras independentes e os contatos externos que comprovam a excelente fase. A versão carioca do festival fechou agora e a partir de quarta, 28, começa a maratona paulistana, que segue até o dia 1º de agosto.
Neste ano, além de mestres e escolas de todas as partes do globo, haverá a participação ao vivo nos debates de Stephen Hillemburg, o criador do fenômeno Bob Esponja.
Mais informações - horários, locais de exibição e preços - no site oficial do evento.
http://www.animamundi.com.br/

24 de julho de 2010

A arte de Gonçalo Pavanello

Na semana, estava andando em Santo André com as crianças, quando resolvi mostrar-lhes o belo casarão antigo que comporta a Casa do Olhar, um belo espaço próximo à igreja do Carmo, totalmente dedicado às artes e tombado desde 1992. Além da bela arquitetura da casa, a criançada se deliciou com a exposição presente, do artista plástico e designer gráfico Gonçalo Pavanello. Sua arte chama a atenção pelas múltiplas cores, a visão surrealista e as colagens surpreendentes. Pena que estou postando tarde e a mostra só vai até hoje. Quem não conseguir ver ao vivo, pode visitar a página do artista e conhecer sua trajetória e obras, pelo menos até uma outra oportunidade de presenciar seu trabalho in loco. Vale a pena e alegra o espírito.

22 de julho de 2010

Chega ao fim a longa história impressa do Jornal do Brasil


O JB impresso faria 120 anos em 2011, mas conforme o dono, Nélson Tanure, o velho jornal não estará mais nas bancas para comemorar a data. Em setembro, segundo o mesmo Tanure, permanecerá em atividade somente a redação do JB online. Triste fim para um jornal que viu três séculos diferentes em sua existência e revolucionou a imprensa brasileira pelo menos uma vez, em sua reforma gráfica iniciada em 1956 e consolidada nos anos 60. De 1891, ano de fundação até meados dos anos 50, o Jornal do Brasil se transformara numa grande tribuna popular, com classificados enchendo as páginas e as notícias cotidianas tomando o lugar da cobertura política mais ostensiva. Se o jornal nascera totalmente intelectual, primeiro com Joaquim Nabuco e logo depois com Rui Barbosa, sofrendo reveses políticos, invasões e até fechamento temporário, ao entrar no século XX, assumiu uma postura popularesca - a até sensacionalista em algumas ocasiões- mas sem tomar partido em movimentos políticos, como o da Revolta da Chibata. Assim o jornal permaneceu por 50 anos: popular, carregado de classificados, voltado para a periferia e os esportes. No primeiro período, os irmãos proprietários Mendes passaram o controle para o Conde Pereira Cordeiro, que seguiu no leme até a sua morte no início dos anos 50. E foi a partir daí que o Jornal do Brasil começou de fato a marcar história na imprensa nacional. Primeiro, a viúva, Condessa Maurina, assumiu, trazendo para o comando o já veterano de jornal Aníbal Freire e o genro Manuel Francisco do Nascimento Brito. Em seguida, com a vinda do poeta Reynaldo Jardim, que já tinha programa na rádio JB, inicia-se o Suplemento Dominical, embrião do Caderno B, que iria misturar em suas páginas, poesia com ciência, artes plásticas, música e literatura, tudo com um grafismo concretista inédito. O CDJB, iniciado em 1956 foi o primeiro caderno da imprensa brasileira exclusivamente dedicado à variedades e cultura e tornou-se modelo para todos os segundos cadernos e cadernos culturais subsequentes. Foi em suas páginas que o movimento concretista cravou o seu manifesto inaugural. A transformação do caderno incentivou a Condessa a mexer graficamente em todo o jornal. Nesse período de transformação gráfica passaram pela chefia editorial Odylo Costa Filho ( 57 a 59), Janio de Freitas (59 a 61) e Alberto Dines, que foi quem consolidou a reforma editorial e permaneceu no jornal por 12 anos. Os nomes que passaram pelo Suplemento e Caderno B ( desde 09/1960) impressionam: Reynaldo Jardim, Mário Faustino, Ferreira Gullar, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Mário Pedrosa, Amílcar de Castro, Drummond, Clarisse Lispector, Fernando Sabino, Henfil, Ziraldo, Carlos Leonam. Sem falar nos colunistas de outros cadernos, como João Saldanha, Carlos Castelo Branco, Armando Nogueira e Alceu Amoroso Lima. Outro grande feito no período foi a implementação por Dines, do Departamento de Pesquisa ( depois CPDoc) que também serviria de modelo para outros bancos de dados que viriam. Bom... depois foi depois. Veio a ditadura, houve algumas represálias políticas e a censura de praxe. O último grande acontecimento em termos editoriais foi o surgimento em 1976 do Caderno Domingo, que fez até um certo estardalhaço. Quanto aos bastidores, os proprietários sempre bateram na tecla que durante a ditadura houve boicote econômico intenso ao jornal, que inclusive foi prejudicado em várias concessões para emissoras de TVs. Independente do que houve realmente, o jornal começou a ficar mal das pernas ainda nos anos 70 e nunca mais se estabilizou. A Condessa morreu nos anos 80, Nascimento Brito se afastou nos anos 90 e o jornal ficou nas mãos de Nelson Tanure a partir de 2001. Nos últimos tempos, diminuiu de tamanho, enxugou páginas, demitiu medalhões e até as tirinhas de quadrinhos sumiram. Triste fim para um jornal que deixou marcas.

16 de julho de 2010

Almanaque do Malu - Ano 1

Hoje o blog completa 1 ano. Agradeço a todos que compartilham este espaço, seja comentando, dando dicas, replicando no twitter, colaborando com idéias e textos. A todos que ajudam e seguem o blog, meu muito obrigado. Para comemorar a data, pensei num post bem almanaqueiro. Selecionei alguns aniversariantes do dia, o que deu pano pra uma ótima miscelânea de música e cinema:
*Ginger Rogers ( nasceu em 16/07/1911)-http://www.youtube.com/watch?v=HYHZh-xnqhE&feature=related
*Elizeth Cardoso (nasceu em 16/07/1920)-http://www.youtube.com/watch?v=MTpDo6SWEy0&feature=related
*Bola Sete (nasceu em 16/07/1923)- http://www.youtube.com/watch?v=iD1eUStbuUY
*Eliane Lage (nasceu em 16/07/1928)-http://www.youtube.com/watch?v=NHGDszwz7Fc
*Stewart Coperland (nasceu em 16/07/1952)-http://www.youtube.com/watch?v=q3QXA0Ki-RI

Além destes, dois grandes das artes faleceram em 16/07. Oduvaldo Vianna Filho morreu em 16/07/1974 e Sidney Miller em 16/07/1980. Ambos antes dos 40 anos:
http://www.youtube.com/watch?v=cKZwbs24qXQ
http://www.youtube.com/watch?v=MsY0QsgTQyQ

O Cruzeiro na rede

O Léo Engelmann, sempre com dicas ducas, me mandou por e-mail link com a revista Cruzeiro n°1, de 1928, na íntegra para degustação. Pelo visto, é só um aperitivo do responsável pelo acerco, Dr. Douglas Ferrari. Não é a primeira vez que lançam a revista na internet. O site Memória Viva vem fazendo um trabalho primoroso de resgate, não só disponibilizando o conteúdo de verdadeiras jóias editoriais, mas adaptando as páginas para a leitura online. Lá tem várias edições do O Cruzeiro e otras cosas raras. Toda a iniciativa para capturar do limbo revistas como Cruzeiro e Senhor, só para citar as publicações mais relevantes, torna-se um oásis para os olhos. Estes dois exemplos aqui, pela qualidade, são oásis das mil e uma noites na paisagem árida da memória nacional.
http://www.memoriaviva.com.br/

13 de julho de 2010

Rock Rock Rock

No Dia Internacional do Rock, não vou ficar explicando o rock, nem conjecturando sobre. Rock é um estado de espírito, música velha para jovens, música jovem para velhos. Rock é Elvis, e também é Sex Pistols. É Beatles, Stones, Dylan, Led, Legião, Cássia Eller e Tinta Preta. É Bill Halley e Ramones. The Who e The Smiths. PIL, REM, ZZTop, 10CC, MC5, 365. Ira e Iron. Nirvana e Mutantes. Celly Campello e Autoramas. Stone Temple Pilots e Kães Vadius. Rock pode ser rural, punk, soft, hard, roll, progressivo, eletrônico, acústico, de garagem, de arena, farofa, surf, skate, de baile, de game, psicodélico, jovem guarda, instrumental, rockabilly, virtual. Rock é rock!
Top Rock 25 :
1- http://www.youtube.com/watch?v=tpzV_0l5ILI
2-http://www.youtube.com/watch?v=QFq5O2kabQo
3-http://www.youtube.com/watch?v=S1TKUk9nXjk
4-http://www.youtube.com/watch?v=PShb9YiCEy0&feature=related
5-http://www.youtube.com/watch?v=Ey64bKA2mKA&feature=related
6-http://www.youtube.com/watch?v=j157erDp3oM&feature=related
7-http://www.youtube.com/watch?v=uQYDvQ1HH-E
8-http://www.youtube.com/watch?v=76yQFV58-0o
9-http://www.youtube.com/watch?v=fN6XRwnYzL4
10-http://www.youtube.com/watch?v=QDoW1vFLJp4
11-http://www.youtube.com/watch?v=N9i2fqxSjTI
12-http://www.youtube.com/watch?v=RdyEEk5WrrI
13-http://www.youtube.com/watch?v=ICXdQR1VVhw
14-http://www.youtube.com/watch?v=PqwFfGgLPzM&feature=PlayList&p=34B71EE95C06B0B0&playnext_from=PL&index=0&playnext=1
15-http://www.youtube.com/watch?v=dNcjo28HU54
16-http://www.youtube.com/watch?v=kdqLt2A9STk
17-http://www.youtube.com/watch?v=1QP-SIW6iKY
18-http://www.youtube.com/watch?v=O90Hj75wJkw
19-http://www.youtube.com/watch?v=OVwXJZXam8k&feature=related
20-http://www.youtube.com/watch?v=5Fga738T4HI&feature=related
20-http://www.youtube.com/watch?v=jspgKZN5DjU&feature=related
21-http://www.youtube.com/watch?v=6cXZk7T0fwM
22-http://www.youtube.com/watch?v=7tDMbEeCHFA
23-http://www.youtube.com/watch?v=4R1TvVtBYbc
24-http://www.youtube.com/watch?v=oPAkELRTwb4&feature=related
25-http://www.youtube.com/watch?v=FqWYyBtKrx0&feature=related

Paulo Moura: Seis décadas de sopro que oxigenaram a música instrumental brasileira

Paulo Moura faleceu ontem e eu nem sabia que ele estava doente. Talvez porque a imagem que eu sempre tive dele era de vitalidade, vigor, super poder. Um super herói do sax e da clarineta, que podia estar de manhã gravando, à tarde participando de algum ensaio de orquestra e à noite, soprando magia em alguma gafieira de subúrbio ou recebendo prêmio importante em festival portentoso. E sempre foi assim. Desde os anos 40, quando começou a estudar música para fugir da profissão de alfaiate que o irmão mais velho lhe impingia. Bandeou pro lado do pai e dos outros irmãos, todos músicos. Em 1944 já tocava com o pai, Pedro Moura, em bailes populares de São José do Rio Preto, sua cidade natal. No ano seguinte, chega ao Rio e cai de cabeça nos estudos musicais e nos primeiros bicos como músico em gafieiras e inferninhos cariocas, até desenbocar no começo dos 50 nas grandes orquestras, primeiro na de Oswaldo Borba na Rádio Globo, e pouco depois transferindo-se para a TV Tupi com Zacharias e Sua Orquestra. Bom, a partir daí, super Paulo Moura dá asas a sua versatilidade e começa a se meter em vários projetos ao mesmo tempo. Grava com grandes músicos e cantores na EMI e na RCA Victor, entra para a cavalaria do exército - direto para a banda de música -, diploma-se como clarinetista na Escola Nacional de Música, toca com Leonard Berstein, e logo na sequência conhece Ary Barroso e sua fina orquestra, com quem viaja para o México. Ainda no início dos 50, enquanto excursiona com Ary Barroso, Paulo viaja à Nova York com o trompetista Julio Barbosa e ao tentar localizar seu ídolo Charlie Parker, acaba fazendo amizade com Dizzy Gillespie. Nessa época (e vejam só, ainda estamos em 1953), ensaia em sua casa com músicos considerados no futuro, precursores do que viria a ser a bossa nova, como João Donato, seu amigo desde sempre, Bebeto do Tamba Trio, e o "rapaz de bem" Johnny Alf, que visitava a turma para mostrar algumas de suas composições. Continua se aperfeiçoando nos estudos e perfilando sessions night para o pão do mês. Em 1956, finalmente um disco próprio: ao tomar conhecimento da gravação de Zé da Gaita para Moto Perpétuo de Paganini, se vira do avesso para executá-la na clarineta, em exaustivos ensaios e técnicas de respiração. O resultado da corajosa versão sai em um 78 rotações pela CBS que vira sensação nos programas de TV da época. Por esses tempos, organiza sua primeira orquestra, que chega a tocar semanalmente na Rádio JB e grava um 33 pela Sinter, mas logo Paulo se fixa na Rádio Nacional e aflora outra faceta de sua carreira que o seguiria dali por diante e lhe traria prestígio: a de arranjador e orquestrador, azeitada por preciosos ensinamentos de Moacir Santos e Maestro Cipó. Outro feito de herói, em pleno 1958 da guerra fria: acompanhar os cantores Nora Ney, Jorge Goulart, Dolores Duran, Maria Helena Raposo em excursão por território soviético. De quebra, na volta, grava o LP Sweet Sax, com standards americanos. No ano seguinte, entra para a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio, espaço que só iria deixar em 1978. Depois de 2 LPs, um com obras de Radamés Gnatalli e outro com tangos e boleros, Paulo adentra a bossa nova pela porta da frente, ao integrar o Bossa Rio, que iria participar do famoso festival da bossa no Carnegie Hall em 1964. Primeiro conjunto instrumental do movimento a incorporar sopros, o Bossa Trio surgiu das improvisações de Moura com Sérgio Mendes e o baixista Otávio Bailly no Beco das Garrafas e foi com essa formação que gravou o LP
Cannonball Adderley e o Bossa Rio, com o conceituado saxofonista, no mesmo ano do Carnegie. Outra contribuição essencial sua para a bossa foi a participação como arranjador de quatro faixas do LP Edison Machado é samba novo, um disco seminal para a música instrumental brasileira. No decorrer da década, se aprimora como arranjador e lidera formações cruciais no período: Orquestra Popular, Paulo Moura e Quarteto ( com Wagner Tiso, que começava aqui uma longa parceria, Luis Alves e Paschoal Meirelles) e Hepteto Paulo Moura, os dois últimos lançando uma sequência fundamental de LPs de bossa/jazz. Nos anos 70, não só continua múltiplo, como surpreende. O famoso Milagre dos Peixes Ao Vivo de Milton Nascimento, gravado no Teatro João Caetano no Rio, tem sua batuta à frente da orquestra. Simultaneamente, a música Mandrake, feita com Wagner Tiso, faz inusitado sucesso nas rádios cariocas ( por ser tema instrumental). Em 1976, surpreende o mundo da música com o LP Confusão Urbana Suburbana e Rural com produção de Martinho da Vila, que vira clássico instantâneo ao unir percussão afro, sopro e chôro em temas próprios ou em parcerias com Martinho e Tiso. Com esse sucesso, Paulo Moura intensificou suas viagens internacionais, incluindo África e Ásia. Nesta fase, incluiu duas novas áreas em seu repertório: trilha ( como a que fez para Plantão de Polícia, na Globo) e atuação ( pequenas participações como ator no cinema). Entre meados dos 70 e toda a década seguinte, Moura mergulhou em duas ressurreições: a do Chôro, onde se tornou um dos líderes da retomada e o da Gafieira, a partir de uma descompromissada apresentação no Gafieira Estudantina, no Rio, que iria estender-se por oito meses e mudaria o foco de sua carreira. Os lançamentos vêm em torrente: Consertão (1982), com Elomar, Arthur Moreira Lima e Heraldo do Monte, belo encontro erudito/popular barroco, Mistura e manda (1983), uma retomada do espírito do Confusão Suburbana, e como tal , sucesso internacional, Clara Sverner e Paulo Moura (1983), primeiro projeto de muitos com Clara, Encontro (1984), com Clara Sverner (piano), Turíbio Santos (violão) e Olívia Byington (voz), Gafieira Etc & Tal (1986), Vou vivendo (1986), de novo com Clara Sverner, Quarteto Negro (1987), com Zezé Motta, Djalma Correia e Jorge Degas, cujo repertório foi tocado no Olympia de Paris e Clara Sverner e Paulo Moura interpretam Pixinguinha, de 1988 ( olha ela aí outra vez). Em 1992, mais um disco a constar nas listas tops da música instrumental internacional: Dois Irmãos, gravado com Raphael Rabello, pela Caju Music, que logo lhe faz ser agraciado com o Prêmio Sharp de Melhor Instrumentista Popular do ano e que iria se repetir em 1999, com o CD Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas, nas categorias Melhor Grupo Instrumental e Melhor Solista, trabalho que também lhe daria o Grammy Latino. O novo século entrou e Paulo Moura continuou com lançamentos de fôlego, do alto de seus setenta e alguns anos de janela: K-Ximblues, homenagem ao seu ídolo do sax K-Ximbinho (2001), o ao vivo Paulo Moura visita Gershwin & Jobim (2001), Estação Leopoldina, incursão pelos sambas dos subúrbios ligados pela rede Leopoldina de trens ( indicado ao Grammy de 2003), a inevitável parceria de Paulo Moura com o precoce Yamandu Costa em El Negro Del Blanco, de 2004, que lhe garantiu o Prêmio Tim de Melhor Solista Popular. Em 2006, o CD Dois Panos para Manga, concebido em uma reunião na casa do diretor de TV Mario Manga, traz surpresas e comoção no encontro de dois gênios. Paulo Moura reune-se ao amigo de adolescência João Donato em um sutil passeio pelo repertorio do Sinatra Farney Fã Club, aquele mesmo clubinho em que ambos desfiavam sons que se incorporariam no DNA da bossa nova. No ano seguinte, mais queixos caídos e ouvidos atônitos na audiência, com o CD Samba de Latada, trazendo sons do sertão pernambucano. Já o CD Pra Cá e pra Lá, de 2008, é mais um indicado ao Grammy. No ano passado, 76 anos nos ombros e fôlego de menino, excursionou para a Tunísia e Equador, com grande repercussão. No meio do ano, ainda guardou forças para o CD AfroBossaNova, em parceria com o guitarrista baiano Armandinho, e mais uma vez o calejado instrumentista mostrou que jazz, samba e batuque podem dar um suculento caldo. Paulo Moura, mexeu, remexeu, temperou e misturou a música brasileira por seis décadas. Muitos tentam essa mistura, mas no caso específico aqui, há um componente único: o super-sopro.
(com informações do site Paulo Moura e do Dicionário Cravo Albin de MPB)
Paulo Moura em ação, em shows e documentário:

10 de julho de 2010

Sönksen

Estava outro dia na casa do meu primo Roberto Alves Bezerra, professor dos bons, quando ele me veio com uma latinha sui generis que guardara por anos e encontrara agora, esquecida no fundo de uma gaveta. Não acreditei no que vi: a latinha branca em suas mãos era nada mais nada menos que a saudosa embalagem metálica ovalada das balas Sönksen!! Não resisti e cliquei-a para este post, homenagem à todas as guloseimas desaparecidas de nossa infância.

8 de julho de 2010

Vinte anos depois de Cazuza, Ezequiel Neves fecha seu longo, louco e generoso ciclo na cultura rock nacional


Ezequiel Neves quebrou o padrão de muitos crazys dos anos 70 e ao invés de viver 1000 anos em 10, viveu 74 anos à 1000 por hora. Incessante, irreverente e exagerado como seu amigo maior, Cazuza, sempre fez tudo o que lhe deu na veneta, e como não poderia ser diferente, resolveu partir no dia 07/07, dia da morte do cantor. Coincidências não existem, meus caros. Não para Ezequiel Neves.
Ezequiel foi um dos nossos mais importantes críticos de música, principalmente quando o assunto era rock. Participou dos veículos mais autênticos da década de 70, como a primeira versão brasileira da Rolling Stone, hippie até o osso e que não durou muito. A sua vida sempre foi pautada pelo rock, primeiro escrevendo, e logo empresariando bandas, caso do Made in Brazil, ainda em meados dos anos 70. Empresariando é modo de dizer, pois com ele a função se transformava em apadrinhamento mesmo, no bom sentido da palavra: brigava pelos pupilos, corrias atrás de shows, insistia com veemência nas rádios, e se fosse o caso, ajudava a carregar os instrumentos. No jornalismo, os pseudônimos utilizados não negavam sua preferência pelo estilo: Zeca Jagger e Zeca Zimmerman, em homenagem ao vocalista da sua banda preferida e o maior escritor do rock, Bob Dylan, respectivamente. Quando usou nome feminino , também deu bandeira para outra paixão sua ao longo da vida: Angela Dust era o apelido de uma droga sintética produzida nos 70.
No final da década, bandeou para a gravadora Som Livre a pedido do produtor Guto Graça Melo, onde trabalhou com cantores como Elizeth Cardoso e Cauby Peixoto. Quando voltou à mesma gravadora depois de um breve hiato, sua função já era mais parecida com um caçador de novos talentos e foi dentro da Som Livre, em 1982, que caiu em sua mão uma certa fita de um certa banda de rock novata. Essa demo, mal ele sabia, iria transformar sua vida para sempre. Segundo relatos do próprio Zeca, a fita estava em poder de Leonardo Neto ( atual empresário de Marisa Monte) e Nelson Motta ( o homem que estava em vários lugares ao mesmo tempo nos anos 70), que pensavam em incluir uma ou duas músicas daquele material em uma coletânea “jovem”. Ezequiel se apoderou da fita, se apaixonou no ato pela banda, e principalmente pelo abusado vocalista e suas letras fora do padrão rock -logo descobriu que era Cazuza, conhecido seu das noites boêmias do Leblon. Resolveu “assumir” os meninos e bateu de frente com a cúpula da Som Livre para lançar um disco inteiro, já que Cazuza era filho do todo poderoso João Araújo, presidente da empresa. O produtor tinha relações estreitas com o executivo, e acabou ganhando a parada. O resto é história: o Barão estourou, Cazuza logo ficou maior que a banda, Ezequiel participou de composições do vocalista (‘Codinome, Beija-Flor’ e ‘Por Que a Gente é Assim?’) e se tornou seu amigo/conselheiro ad eternum. Depois do desencarne precoce de Cazuza, Zeca seguiu a mil, pois como seu comparsa mesmo dizia, o tempo não para. Impulsionou Cássia Eller para as paradas, reavivou a carreira de Ângela Ro Ro e foi mostrado de corpo e alma no filme Cazuza, de Sandra Werneck. Continuou “guru” dos roqueiros e popeiros de plantão, dando forças para Frejat e seu Barão, Ritchie, Kid Abelha, entre outros.
Uma de suas últimas aparições na TV foi justamente no especial de Cazuza feito pela Rede Globo, onde mesmo debilitado por vários problemas de saúde, fez questão de dar seu essencial depoimento.
Então Ezequiel Neves finalmente cansou. Vinte anos depois de Cazuza, resolveu alçar vôo para outras dimensões. A mil por hora, tenham a certeza.

5 de julho de 2010

O colossal legado de Aramis Millarch


Aramis Millarch foi um dos maiores jornalistas culturais do Brasil e deixou para a posteridade, números que impressionam: 50 mil artigos, escritos em cerca de 20 periódicos; 4 mil fitas ( cassete e de rolo) com 572 personalidades entrevistadas em 720 horas de gravações; um acervo pessoal de 32 mil discos, a maioria de jazz e MPB, e 5 mil livros, quase todos de cinema.
Aramis adorava o que fazia e escrever sobre cultura, travando contato com personalidades da área, era para ele necessidade básica, como comer e dormir. Nascido em 1943, antes dos 18 anos já era repórter e em 1962 iniciou a seminal coluna Tablóide no jornal Estado do Paraná, que manteve por longos 30 anos, até a sua morte, em 1992, um dia após completar 49 anos. Mas a coluna era só a espinha dorsal das múltiplas atividades das quais participou. Mesmo residindo em Curitiba, escreveu sobre música, cinema e cultura em vários veículos pelo Brasil, muitos deles assinados com um dos 10 pseudônimos que criou ao longo da carreira jornalística. No Última Hora, assinava J. Lyra de Moraes ( J de João Gilberto, Lyra de Carlos Lyra e Moraes de Vinicius de Moraes) e no fatídico AI-5, além de receber carta de demissão do jornal, ainda teve cassada sua autorização para ministrar aulas no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná. Laureado com o Prêmio Esso de Jornalismo, escreveu também para emissoras de rádio - Rádio Cultura foi uma delas - e com Elói Zanetti, produziu o programa Domingo sem Futebol ( Rádio Ouro Verde). Incansável, fundou e foi primeiro presidente da Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira, além de participar de inúmeros júris de festivais, debates e movimentos pró-cultura.
Felizmente, graças ao empenho de sua viúva, Marilene Zicarelli Millarch e do filho Francisco Millarch, todo esse legado descrito não se perdeu no tempo. A sua famosa coluna Tablóide pode ser consultada e pesquisada no site Tablóide Digital ( http://www.millarch.org/ ), página mantida pela família, que pretende disponibilizar digitalmente todos os artigos escritos pelo jornalista em 30 anos ininterruptos de colaboração na imprensa. Para esta imensa empreitada, criou-se, aliás, um link com instruções específicas para que qualquer colaborador voluntário participe da equipe de produção e ajude na indexação e revisão. Outro grande trabalho de resgate foi iniciado em 2006, quando os produtores Samuel Ferrari Lago, Rodrigo Barros Homem D’El Rey e Luiz Antonio Ferreira conheceram através de Francisco Millarch o gigantesco material guardado pelo jornalista com entrevistas em áudio e vídeo. Com o patrocínio da Petrobrás e captado pela Lei Rouanet, conseguiram finalizar e lançar em dezembro de 2009 o box Aramis Millarch – 30 anos de Jornalismo Cultural, incluindo oito DVDs e um livro biográfico, distribuído para 450 bibliotecas brasileiras e disponível por dois anos no site Tablóide Digital. Ali estão encontros inesquecíveis com grandes personalidades da nossa cultura: Elis Regina, Chico Anysio, Vinicius de Moraes, Gilberto Gil, Cartola, Hermínio Bello de Carvalho, Lúcio Alves, Carlos Lyra, Tito Madi, Toquinho, Flávio Rangel, Zuza Homem de Mello, João de Barro, Egberto Gismonti, Arrigo Barnabé, Francis Hime, Paulo Leminski, Herivelto Martins, Maysa ( em sua última entrevista), entre tantos outros. Um dos homens que mais lutaram pela preservação da cultura brasileira, Aramis Millarch teve seu esforço de uma vida recompensado: ao contrário de tantos acervos essenciais, destruídos e inutilizados pelo Brasil afora, o seu colossal legado vive e servirá de fonte para inúmeras gerações futuras.

2 de julho de 2010

Soul Train - Trem da black music, inédito no Brasil

No ar entre 1971 e 2006, Soul Train foi um dos três programas mais longevos da televisão americana. Unindo música, platéia ao vivo e dança, mostrou em mais de três décadas o surgimento de diversos estilos da black music, além da aparição de vários artistas consagrados. O programa de auditório estreou em 02/10/1971 e virou cult já em seus primeiros tempos, por antecipar tendências, mostrar pela primeira vez estilos de dança - como o hip-hop e street styles do subúrbio e festejar com muito swing e balanço a cultura negra americana como nenhum outro. Um dos quadros de maior sucesso era o Soul Train Line Dance, onde dançarinos revezavam passos entre duas filas paralelas.Mesmo depois de seu término, em 23/03/2006 - 35 anos de existência portanto - continuou sendo exibido por mais dois anos em formato compacto como The Best of Soul Train, com seus melhores momentos. Chegou a ter também sua versão na televisão britânica e atualmente empresta a marca para uma grande premiação musical anual. As emissoras daqui nunca se interessaram em retransmití-lo, e pelo menos até onde eu sei, nem mesmo trechos chegaram até nós. Mas graças à internet, podemos hoje acompanhar toda a trajetória deste festivo e essencial programa, sempre apresentado pelo seu produtor executivo Don Cornelius. A Time Life chegou a compilar em 9 DVDs (!!!) o melhor do Soul Train, com 130 performances selecionadas e a Warner finaliza, com roteiro de Malcolm Spellman, adaptação ficcional para o cinema. Replicarão no Brasil? só com muita sorte. Fiquemos por enquanto com grandes performances disponíveis no Youtube ( e não são poucas), por ordem cronológica:
#(1971) -The Honey Cone - Want Ads - http://www.youtube.com/watch?v=17qH2wNtu-c&NR=1
#Episódio 26 (1972) - Curtis Mayfield -Get Down- http://www.youtube.com/watch?v=i0cNxS-MlpQ&feature=related
# Episódio 35 -The Jackson 5 -I Want You Back-http://www.youtube.com/watch?v=pBa56BSy_K4
# (1973) - The Jackson 5- Get it Together - http://www.youtube.com/watch?v=ieHDf6ViXAg
# Episódio 104 (1974) -The O'Jays -For the Love of Money - http://www.youtube.com/watch?v=OCkLEo-DT1Q
#(1974) - Isley Brothers - Whos's That Lady - http://www.youtube.com/watch?v=XXIxDSmtb84&feature=related
#(1975) - David Bowie - Interview+Fame - http://www.youtube.com/watch?v=g847umrk2jc
# Episódio 371 (1981) - Rick James -Superfreak - http://www.youtube.com/watch?v=zqBHC6f6Dko&feature=related
# (1981) (chute- não há referência de ano) -Brass Construction -One to One - http://www.youtube.com/watch?v=cNUKJR_UTgM
# (1983) - Con Funk Shun -You Are the One -http://www.youtube.com/watch?v=suamEHV1AK8&feature=related
# Episódio 464 (1985) - The Temptations - Treat Her Like A Lady- http://www.youtube.com/watch?v=KClf-hGluxA