31 de julho de 2009

Maurício 50

Bidu, aquele esperto cãozinho azul dos quadrinhos, que conversa com as pedras e tem um dono cientista, está completando 50 anos em 2009. E como ele foi o primeirão na longa lista de personagens de Maurício de Sousa, o ano também comemora meio século de uma carreira surpreendente e incansável. Após uma infância repleta de heróis espaciais, cowboys e detetives, todos saídos das deslumbrantes páginas dos suplementos de quadrinhos e gibis que ele lia ardorosamente, Maurício saiu de Mogi das Cruzes bem moço, já com a idéia fixa de ser um desenhista de quadrinhos na capital. Como todo sonho só se realiza ao acordar para a realidade, o jovem artista bem que tentou mostrar seus desenhos para a editoria de artes da Folha da Manhã ( atual Folha de São Paulo), mas como a redação precisava urgentemente de um repórter policial, Maurício agarrou a oportunidade. E por essa via tortuosa, entre uma cobertura de assassinato aqui e um assalto acolá, Maurício pôde mostrar seus originais aos poucos, até o dia em que uma tirinha do Bidu finalmente apareceu nas páginas dominicais do jornal ( 18 de julho de 1959). Foi o pontapé inicial de uma jornada que não parou mais de subir e surpreender. Primeiro na própria Folha, onde dominou as tirinhas e dimensionou as páginas do suplemento infantil 'Folhinha de São Paulo' por pelo menos duas décadas. Depois, a arrancada e a consolidação de sua linha de gibis na Editora Abril, com Mônica (1970), Cebolinha (1972), Cascão e Chico Bento ( ambos de 1982). Quando mudou-se para a rival Editora Globo, no final dos 80, seu estúdio já havia se transformado em um imenso conglomerado gerador de quadrinhos ( incluindo a exportação para diversos países), livros, animação, merchandising, projetos sociais/educativos e produtos diversos - produção que se mantém mais ativa do que nunca hoje em dia, sob a chancela da MSP (Maurício de Sousa Produções) e da sua nova casa editorial, a Editora Panini, onde lançou seu mais recente sucesso, a 'Turma da Mônica Jovem'. E tudo isso começou com o cãozinho azul, no início acinzentado; nada mais do que uma transposição para o papel do estimado cachorro de infância do autor. Essa feliz idéia de desenhar a sua realidade, definiu os subsequentes personagens: Mônica, a filha meio 'bravinha" que vivia arrastando um coelhinho de pelúcia pela casa; Magali, a outra filha que adorava comer; Cascão, um colega de futebol que fugia da rotina do banho; Cebolinha, o da língua presa, outro amigo de brincadeiras. Foi esta perspicaz visão das coisas cotidianas, acrescida de um tino comercial incontestável, que transformou Maurício de Souza num verdadeiro midas dos quadrinhos brasileiros. Essa projeção trouxe muitas críticas, claro. As mais contundentes se referem à excessiva massificação de seus personagens, estampados em milhares de rótulos e embalagens e a falta de crédito dos roteiristas e desenhistas nas histórias dos personagens. Eu de minha parte, perdôo totalmente o velho Maurício, pois sem ele, talvez eu não conhecesse o fascinante mundo das HQs, não virasse colecionador desta arte e nem estivesse aqui escrevendo sobre este assunto. Entrei precocemente no mundo da leitura graças aos gibis dos personagens Disney e da Mônica, em 1972. E diferentemente do que a grande maioria ainda pensa, eu não desenvolvi preguiça mental nem fui mal na escola ao me tornar leitor de quadrinhos. Mas essa é uma outra história - aguardem em capítulos posteriores deste blog. Só fecho o post com uma conclusão: Maurício de Sousa atravessou este pantanoso e espinhudo mercado, com talento e destemor. Merece portanto, todas as honras e méritos. Deixo como homenagem, a imagem da capa da Mônica nº1, Editora Abril, 1970 (acima) - original da minha coleção e que parece ter saído da gráfica agora, tal seu estado de conservação. Essa eu não troco nem pelo Bidu nº1 ( Editora Continental - 1960), gibi que não durou muito e foi uma das primeiras experiências do Maurício de Sousa no campo das revistinhas.
O site oficial da Turma da Mônica é esse aqui.

Algumas das diversas atividades e lançamentos do ano "Maurício 50":
* Esse blog conta com diversos cartunistas homenageando o autor
* matéria complementar com detalhes da exposição, livros e projetos
* matéria específica sobre a exposição

29 de julho de 2009

Garimpagem 2


No outro post sobre garimpagem, destaquei a importante presença de Charles Gavin no campo da arqueologia discográfica. Citei também o pioneiro Marcelo Fróes, e seria tremenda injustiça não incluir aqui, detalhes de seu incessante trabalho de resgate e preservação da memória musical brasileira. Conheci o intrépido pesquisador carioca em meados dos 90 no Dedoc (Departamento de Documentação) da Editora Abril - onde tive o prazer de trabalhar por 12 anos e angariar bons amigos -, embora já topasse com sua assinatura em vários artigos, principalmente sobre os Beatles, uma de suas grandes paixões e responsável por sua entrada no jornalismo cultural. Também já tinha alguns exemplares do tablóide International Magazine, periódico musical fundado por Marcos Petrillo em 1990 e que contou com Marcelo Fróes como sócio e editor a partir de 1994. Aliás, não foi feito ou pelo menos não vi nenhum estudo sério sobre a importância deste veículo na história do jornalismo cultural, o que subestima o seu conteúdo irrepreensível. Suas longas entrevistas - que até viraram livro-, seu dinamismo editorial e a cobertura da música em todos os níveis e vertentes por quase duas décadas, fazem do IM uma primordial fonte de consulta sobre o período. O único porém é a sua distribuição, mas o jornal passa nesse momento por uma reestruturação que visa melhorar este e outros pontos. Mas voltando ao "agitador cultural" Marcelo Fróes, como ele mesmo prefere ser chamado, desde aquela época do nosso encontro ele já andava "fuçando" as gravadoras em busca de áudios originais, às voltas com a pesquisa de seu livro sobre a Jovem Guarda. Mas foi numa das visitas ao seu mestre e amigo George Martin, o homem por trás das inovações musicais dos Fab Four, quando presenciou seu trabalho nas fitas originais dos Beatles para o projeto 'Anthology', que ficou clara a sintonia com o seu trabalho no Brasil. O resultado deste 'insight' foi a produção da bem sucedida caixa de CDs "Ensaio Geral" pela Polygram, fruto de uma extensa garimpagem nas fitas originais de Gilberto Gil. A partir daí, seus projetos multiplicaram-se: em mais de 15 anos, quase duas centenas, entre livros, produções, CDs, DVDs e antologias diversas (ver aqui,cada projeto em detalhe: http://www.discobertas.com.br/projetos.php ).Toda essa ‘hiperatividade’ culminou no seu mais ambicioso e pessoal projeto até então: o selo Discobertas. Arquitetado em 2002 e lançado em 2006, só virou realidade em 2007, quando encontrou a providencial parceria da gravadora Coqueiro Verde, de Erasmo Carlos, capitaneada por Leo Esteves, seu filho. Ao longo de um ano, a empresa do Tremendão distribuiu os primeiros 20 produtos do selo, tornando-se imprescindível nesse período inicial de consolidação. Agora, a partir de agosto, Discobertas ganha ares de uma modesta gravadora, com fabricação e distribuição da Microservice, que já opera com gravadoras como Som Livre, MZA e Deckdisc. Já são vários lançamentos, onde destaco o primeiro projeto, “Zé Ramalho da Paraíba”, com registros históricos e inéditos do inicio da carreira do compositor nordestino e “O Trovador Solitário”, resgate em disco da antológica fita cassete gravada por Renato Russo em seu apartamento, só ele e o violão, no período entre o término do Aborto Elétrico e o início da Legião Urbana. Renato Russo, aliás, que virou amigo e confidente de Marcelo Fróes, dando-lhe o privilégio da última entrevista em vida.
Marcelo Fróes, que nunca se considerou pesquisador ou ‘arqueólogo discográfico’, preferindo o termo produtor, sempre foi multicultural, daí a dificuldade em classificar suas atividades. Advogado, escritor, editor, produtor, pesquisador. Pois, agora, Fróes, descobri mais uma: ‘discobridor’.

Conheça melhor o selo Discobertas.

Baú do Malu 5

Dois dos melhores shows que vi na vida. Sting no Anhembi, no longínquo 06 de dezembro de 1987 e o extraordinário Rolling Stones, dentro do extinto Hollywood Rock, em 1995. Nosso amigo
"Ferroada" estava longe do The Police há 3 anos e já havia lançado três discos solos. Os dois primeiros ( The Dream Of the Blue Turtles, de 1985, e "Bring on the Night", de 1986) mostraram sofisticação e versatilidade com uma mistura bem dosada de pop e jazz, enquanto o terceiro (Nothing Like the Sun) já evidenciava o futuro 'world music' de sua carreira. Este primeiro show no Brasil capturou Sting muito à vontade, sem preocupações com a linha de montagem de hits que a existência do Police impunha e ainda longe da sombra do Raoni e da causa amazônica que lhe pesou os ombros e contaminou seu trabalho musical posterior.
Os Stones, ah, os Stones... quem me conhece sabe que sou stonemaníaco desde minha tenra adolescência. A banda mais longeva do Rock ( em 2009, 47 anos de estrada), já tinha planos para tocar no Brasil desde meados dos 70, mas os generais de plantão na época vetaram qualquer chance real. Falar que os Stones chegaram pra tocar em 1995 com tudo em cima é chover no molhado. Desde os anos 80, com a recuperação de Keith Richards no quesito drogas pesadas ( eu não falei de cigarros, alcool e outras drogas) e o dom de Mick Jagger para administrar o business da banda, os Stones se tornaram referência mundial em turnês gigantescas. E até hoje, depois de centenas de shows ao redor do globo - incluindo o Brasil em 1997 e em 2006, quando levou 1 milhão de espectadores à praia - a banda não só esbanja gás, como surpreende a cada turnê ao levar aos palcos tecnologia de ponta e gigantescas soluções cênicas.
Em 1995 eu fui. Em 1997, fui também e com Mister Bob Dylan de lambuja. Em 2006, não fui mas permaneci em transe absoluto no meio de sala, com a cerveja em punho e o coração aos saltos. Os Stones sempre foram pra mim um estado de espírito. O velho e inexplicável espírito legítimo do Rock.

25 de julho de 2009

Anos incríveis

Nesses tempos modernos em que a guitarra virou mera acompanhante da massa sonora 'enxuta' das bandas de rock, vale lembrar os anos incríveis desse instrumento que por muitos anos, chorou em longos solos, gargalhou em famosos duelos e dialogou em riffs memoráveis. No final dos 60, Joe Cocker revirou "With Little Help from My Friends" com um vocal spiritual avassalador e arrasou em sua antológica performance de Woodstock. Por trás deste arranjo eloquente está um vocalista demolidor e uma banda concisa, mas também um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Jimmy Page, que além de levar o rock a um outro patamar com o Led Zeppelin, ainda se tornou um dos músicos mais requisitados de estúdio na época. A versão gravada em disco conta com sua mão mágica, e coincidência ou não, reverberou como trilha sonora anos depois, em uma série chamada... Anos Incríveis.
Para relembrar essa segunda roupagem de "Little Help...", três momentos distintos:
*performance rara de Joe Cocker e banda:
http://www.youtube.com/watch?v=Ekta6EKhb2g&feature=related
*performance de Joe Cocker e banda em Woodstock
http://www.youtube.com/watch?v=uQYDvQ1HH-E&feature=related
* abertura do seriado "Anos Íncriveis":
http://www.youtube.com/watch?v=AQb0_0AIkt4

Som e Fúria 2

Falei do elenco da espirituosa minissérie 'Som e Fúria' e agora com o término da primeira temporada, nada mais justo do que comentar o desempenho de três figuras carimbadas que deram o ar da graça - e que graça - como coadjuvantes: Wandi Doratiotto, Arthur Khöl e Gero Camilo. Os dois primeiros, são amigos mesmo, há décadas, e já trabalharam juntos em vários comerciais da Brastemp e no Rá-Tim-Bum da TV Cultura. Wandi é bem conhecido do público paulista por ser fundador do irreverente Premê e apresentador durante longos anos do programa musical 'Bem Brasil' ( entre 1991 e 2007). Na minissérie, eles foram Ciro e Franco, dois atores futriqueiros da companhia de teatro que viviam comentando sobre tudo e todos nos bastidores. O grude em cena era para insinuar a homossexualidade do casal, que brilhou em aparições rápidas mas venenosas. Gero Camilo, de grande presença no cinema nacional, também fez bonito com seu personagem Naum. O guarda do teatro surgia em várias situações, ora como conselheiro, ora como crítico apaixonado por Shakespeare - e sempre com vivacidade e astúcia. Esses três destaques, juntamente com o afiado elenco, injetaram um pouco de paixão nos finais de noite pachorrentos da vênus platinada. Que venha a segunda temporada!

23 de julho de 2009

Grande Gonzaguinha!

Gonzaguinha foi único, daqueles que não têm imitadores. Questão de estilo e identidade. Gonzaguinha era Gonzaguinha e morreu Gonzaguinha, deixando pra posteridade, uma obra confessional e crítica desde o início. Um grande momento dessa brilhante carreira poderá ser conferido em agosto, quando será lançado o DVD ao vivo com show histórico de 81.
Mais sobre o assunto, no blog-irmão do meu parceiro Rick:
http://foton-atomo.blogspot.com/2009/07/registro-historico-de-gonzaguinha-em-81.html
E aguardem para inicio de agosto uma tabelinha dos dois blogs, que farão em conjunto pesquisa e reportagem mais profunda sobre Gonzaguinha. Ele tá meio fora da mídia, e isso não é nada bom pra gente...

22 de julho de 2009

Som e Fúria


O horário é meio ingrato para nós, peões - hoje por exemplo, começa 11h50, depois do jogo. Mas assistir "Som e Fúria" na Globo tá valendo muito a pena. Um bálsamo na telinha ante tanto angú de caroço que povoa a inócua programação da tv brasileira. O elenco vem inteiro bom: Felipe Camargo parece que espantou seus fantasmas e encarna com perfeição o diretor doidão; Andréa Beltrão tá um colírio - essa eu sou suspeito desde seus tempos de Zelda Scott no "Armação Ilimitada"; O Dan Stulbach, magistral como sempre; Pedro Paulo Rangel como "fantasma", hilário; a secretária faz-tudo Cecília Homem de Melo então, está sendo pra mim uma das melhores surpresas - eu desconhecia seu trabalho. Os jovens Maria Flor e Daniel Oliveira esbanjam frescor; Regina Casé, Paulo Betti, Rodrigo Santoro, Daniel Dantas, Débora Falabella, Leonardo Miggiorin - parece que a Globo liberou seus melhores, para deleite do melhor diretor brasileiro da atualidade, o internacional Fernando Meirelles. Ele não desaponta e comprova que não há limite para suas estrepolias cênicas e ângulos inusitados, mesmo que em alguns momentos, a linguagem televisiva dome sua fúria de cineasta. O roteiro, adaptado do original canadense por ele mesmo, é sutil, sarcástico e imerso em humor inteligente, coisa que há muito tempo não se vê em uma minissérie global. Ponto pra Globo, que de milênios em milênios, sai de seu pedestal platinado e dá uma arriscadinha em outras linguagens -e vejam só, também cabem na tv intuição, emoção e instinto; e essa pulsão aliada à técnica, pode muito bem transfigurar-se numa obra-prima.

21 de julho de 2009

Mais Michael

Eu mencionei o caríssimo Rogério Engelmann no post anterior e não poderia deixar de incluir aqui seu depoimento-homenagem que me chegou por e-mail no sábado(18) e que suscitou comentário-reportagem do caçula antenado Leo Engelman, além de dar o empurrão que faltava para que meu texto sobre MJ viesse à luz do blog. Na íntegra, ei-los, Engelmann Brothers:

"Caros,
Após longo hiato, volto a teia com minha homenagem póstuma a Michael Jackson. Deixando de lado toda a loucura (dele próprio, dos fãs, dos funerais, da mídia, do pai dele, etc...), em minhas reflexões observei que ele teve um papel importante na minha formação musical, pois no momento em que estava começando a ouvir realmente música (1978/79), o álbum Off the Wall bombava, e virou referência pra mim. E bomba até hoje. Ou seja, é eterno. Um clássico.
Arrisco a dizer que é um dos dez (cinco?) melhores da história da música pop/negra. Na minha opinião, seguramente o melhor da trilogia Off the Wall/Thriller/Bad.
Vou escrever estas memórias vinílicas em um novo "Passagens" tardio, provocado pelo passamento(...?) do grande Miguel, para quem sabe ser incluído no 'A gente era feliz e sabia'! 2.0".
Se não, fica como homenagem mesmo. Por enquanto, meu muito obrigado a Michael Jackson.
Por ter me ensinado a ouvir boa música negra. Que descanse em paz."

Rogério Engelmann

"Rogério, passei ontem à tarde no Extra Anchieta e parei para ver uma apresentação de um show ao vivo do MJ com a roupa mais característica dele - terno preto, camisa branca, luva e meias brilhantes - num DVD Blue Ray e em duas TVs LCD 42 polegadas Full-HD. Ao som e passos de Billie Jean.Preciso dizer mais ??? Parece incrível, mas juntos a mim e Ligia, estavam mais umas dez pessoas. O cara morreu há quase um mês e ainda é capaz de parar o andar das pessoas. Odiado por uns, cultuado por outros. MJ revolucionou.

Léo Engelmann

Obs: "A gente era feliz e sabia", mencionado no texto do Rogério, é o título do livro semi-inédito(!?) com memórias e depoimentos da nossa turma ( com dezenas de integrantes) formada nos anos 80 em São Caetano. "Passagens" é como ele batizou boa parte de seus capítulos autorais.

Michael


A princípio eu não pretendia postar nada sobre Michael Jackson. A fofoca, a calúnia e o jornalismo marrom ( marrom de merda) viscejaram na rede, na TV, no rádio e na imprensa escrita desde a estranha morte do estranho Michael Jackson. Quase todos querendo tirar uma casquinha e esquecendo completamente o seu legado artístico. Eu fiquei completamente enojado disto - e também daquelas 'centenas' de amigos íntimos do artista, que apareceram de repente, do além - e resolvi me abster. A traição mútua foi outro motivo que me deteve. Explico: depois do espetacular e bem arquitetado Thriller, eu esperava que Michael Jackson alavancasse o pop a partir dali e reinasse com sua voz lapidada, sua dança inventiva e sua música condensada na dose certa entre o soul, o funk e o pop. Mas uma sucessão de fatores pessoais ligados a uma provável imaturidade e à Síndrome de Peter Pan estancaram o astro. Os últimos suspiros deste Michael Jackson talvez estejam na participação e co-autoria do mega-blaster hit "We are the World" e em algumas parcerias com Paul McCartney, entre outros. Tudo o que se viu a partir daí, porém, nada mais tinha a ver com música, som, dança - os talentos do artista davam lugar à Neverland, cor da pele, mudança de nariz, acidente em comercial da Pepsi, compra dos direitos das músicas dos Beatles, máscaras, reclusão, tribunais, etc etc. O álbum Bad, de 1987, aguardadíssimo, foi uma ducha de água fria pra mim, e eu que já estava atolado até o pescoço na MPB da faculdade de jornalismo, no rock caseiro da turma da rua e nas pesquisas musicais alternativas, me afastei de Michael Jackson. Foi minha vez de traí-lo. Ele, que na minha opinião, e concordando com meu amigo Rogério, fez um dos melhores discos blacks de todos os tempos, "Off the Wall", de 1979. O Michael Jackson dos 90 e deste século não frequentou portanto meus ouvidos - de vez em quando meus olhos o avistavam no Jornal Nacional ou em alguma revista semanal. Mas aquela já não era a mesma pessoa... talvez nem para ele próprio. É por essas e outras que assim que soube de sua morte, botei pra tocar o CD "Off the Wall", edição especial de 30 anos, que comprei no inicio do ano - pra vocês verem como 'aquele Michael Jackson', original de fábrica, eu nunca traí. E da mesma forma que eu e alguns comparsas gastamos o LP na época, furei o disquinho de tanto ouvir. Acho que me redimi com MJ. Descanse, cara.

Baú do Malu 4


A última relíquia de hoje, pois os ácaros já estão entupindo meus poros. Tenho certeza que pouca gente se lembra deste show. Projeto SP - 13 de novembro de 1987 -sob a alcunha 'Rush Hours", reuniu-se um guitarrista com muita folha corrida, Andy Summers -antes de tocar no The Police, ele já era um veterano na cena londrina, tendo tocado até no Animals -Stewart Copeland, baterista, também ex-Police e considerado um dos grandes do intrumento na década - e Stanley Clark, um dos maiores baixistas de todos tempos, na minha humilde opinião. Acho que o cara que fez o ingresso acima não conhecia nenhum deles, pois Andy virou Anty e Copeland saiu como Copelant. Estranha muito Stanley não ter virado Sdanley nas mãos deste alienígena. Acionei o Tico e o Teco, mas não consegui lembrar quem estava comigo neste show-o grande Rogério Engelmann era assíduo nessas aventuras musicais, Fabio Segatto (nobre Fabinho) também. O repertório também me foge, mas na minha vaga lembrança, eles fizeram uma grande 'jam' pautada no improviso. Mas o que me marcou desta reunião foi a performance de Stanley Clarke - ele simplesmente arrebentou com seu baixo.

Baú do Malu 3


1983 -Mais um documento histórico oitentista lá do fundão do meu baú. A Sunshine fez história em Santo André numa época em que o termo 'discotheque' já estava morto e enterrado e o termo subsequente 'danceteria' ainda não pegara. Tempos do funk de verdade, tocado na mão ( os baixos sangravam pelas caixas acústicas), Tim Maia de volta ao sucesso ( 'Descobridor dos Sete Mares'), Madonna ainda desmamando, Michael Jackson com todas as faixas do Thriller nas paradas, o rock nacional começando a soltar as asas. Enquanto isso, turmas como a nossa, ávidas por diversão, vestiam sua roupa de domingo, lotavam os ônibus intermunicipais, passavam por revista na porta, suavam às bicas na pista, dançavam aos pares música 'lenta' ( nesta época homem e mulher dançavam música romântica...juntos), tentavam ganhar sorteios ( como no anúncio acima) e voltavam para casa levitando, com as cabeças em órbita e os corações massageados. E totalmente energizados. Afinal, o combustível que alimentava aquelas matinées domingueiras nada mais era do que a nossa própria liberdade.

20 de julho de 2009

Baú do Malu 2


Essa filipeta é mais uma raridade resgatada de meus escaninhos. Quem entrou ou tá perto dos 'enta' lembra: domingueira no São Caetano E.C tinha som da Toco na pista e shows do nascente BRock. No detalhe, temos três atrações do clube para fevereiro de 1985 ( de cima pra baixo): domingueira com 'videoclip' no dia 24, carnaval com os 'sucessos da FM' ( dêem uma sacada na madame fashion da foto) e o show do emergente Paralamas do Sucesso, curtindo os louros de seu sucesso "Óculos" - o interessante nessa foto de promoção da banda é que o cara de óculos posando é o Bi Ribeiro e não Herbert Vianna, o verdadeiro míope do trio. Hey, anos 80!

Baú do Malu 1




Kiss circa 1983. Essa filipeta é coisa rara. Uma porque tá inteirona pra sua idade de 26 anos e outra porque 'inteirona' não é força de expressão no caso: o cara da bilheteria acabou não destacando o meu 'ticket' e o ingresso ficou ileso. Quando eu ajustar meus neurônios escreverei mais sobre esse show e o antológico Rock in Rio, entre outros do século passado.




19 de julho de 2009

ERRATA

Domingo friorento, o programão é fazer compra no supermercado. Estou eu e meu filho bisolhando a seção de discos e filmes do Coop quando em meio aos milhares de sertanejos na prateleira, me deparo com a capa de um CD da Som Livre intitulado "Duetos" do sempre fértil Zé Ramalho. Pois bem... viro o disquinho para ler as faixas e ver outras informações ( uma de minhas manias), e além de sacar que este "Duetos" é calcado quase totamente no rentoso show "O Grande Encontro" que reuniu Zé Ramalho, Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo na metade da década passada, percebo uma pequena tarja branca adesivada informando um erro de edição que me deixou abismado. Os dizeres eram mais ou menos esses: ERRATA: Nas faixas Galope Razante e O amanhã é distante, onde se lê Zé Ramalho e Geraldo Vandré, deve-se ler Zé Ramalho e Geraldo Azevedo." ??? Putz!! tudo bem que Geraldinho Azevedo foi companheiro de Vandré nos idos dos 60 e integrou o Quarteto Livre ( com Nelson Ângelo, Naná Vasconcelos e Franklin), grupo que participou da histórica "Caminhando". All right too que os dois fizeram juntos na mesma época a pungente 'Canção da Despedida', que ficou anos banida pela ditadura. Mas confundir o recluso Vandré com o requisitado Azevedo é coisa de quem não entende do riscado. Reflexo da atual política das gravadoras, que despejam lançamentos oportunistas nas prateleiras e na correria, descuidam totalmente do produto final. E sobra pros Geraldos...

18 de julho de 2009

GARIMPAGEM 1



A garimpagem musical virou coisa séria quando alguns aficionados pela preservação e memória da música brasileira resolveram arregaçar as mangas e com muita teimosia e determinação, tirar do limbo e dos porões das gravadoras, verdadeiros tesouros esquecidos. Entre esses desbravadores, Charles Gavin e Marcelo Fróes conseguiram destaque merecido pela importância de seus respectivos trabalhos. O primeiro, como quase todo mundo sabe, é baterista dos Titãs; o que talvez poucos saibam é que ele também já lançou livro, produziu discos e apresenta e edita um programa no Canal Brasil ( canal por assinatura) e outro na Rádio Eldorado. Todas esses projetos paralelos do instrumentista tem relação com a garimpagem musical, que começou em 1998, quando a Warner, gravadora dos Titãs na época, deu sinal verde para o seu projeto de relançar os dois discos do Secos & Molhados em um só CD. A empreitada surpreendeu a major - em menos de dois meses, o disco vendeu mais de 50 mil cópias - e Gavin não parou mais: nesses 11 anos resgatando acervos, recolou no mercado fonográfico mais de 450 obras, entre preciosidades como todos os 20 álbuns originais do selo independente Elenco, pedra fundamental da nossa MPB e achados não menos importantes, como o projeto 'Samba & Soul" pela Universal, que trouxe à tona Sérgio Sampaio, Gérson King Combo e Hyldon, entre outros do cast da Philips.
Merece também toda a atenção seus dois programas, "O Som do Vinil", pelo Canal Brasil, e "Quintessência" pela Rádio Eldorado, ambos com a mesma missão de esmiuçar a cada edição um disco clássico/primordial brasileiro. E pra provar que Gavin joga em todas as posições, teve ainda o livro capitaneado por ele e lançado em 2008, "300 Discos Importantes da Música Brasileira" (Editora Instituto Sou da Paz). A obra, em formato de LP, tem fôlego, com suas 434 páginas enriquecidas de fotos inéditas, resenhas e capas de todos os discos e o texto especializado dos tarimbados jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve. Com tudo isso, o preço final de R$ 230,00 ficou 'apimentado' para muitos mortais, mas ainda tem o acabamento, o jeitão de livro de arte, dois CDs inclusos e parte da venda revertida para o instituto que edita a obra. Pra quem pode, vale, e muito. Afinal, é mais um resgate do inesgotável Charles Gavin.


# Programa "O Som do Vinil": sexta 21h30, sábado 13h30 e segunda-feira 16h - Canal Brasil (Net e Globosat)
# Programa "Quintessência": quinta 20h, reprise sábado 24h - Rádio Eldorado
# Para comprar o livro "300 Discos Importantes da Música Brasileira": http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2629762&sid=201923466101016650562367567&k5=F6EAFAE&uid=

17 de julho de 2009

Novos Mutantes

Serginho Dias sempre foi o mais Mutante dos Mutantes. Assim foi nos 70, quando não havia mais Rita Lee nem Arnaldo Baptista e ele manteve de cabeça erguida o legado da banda até o final da década - mesmo que os trabalhos já não lembrassem mais a transgressão verborrágica e a mistura instrumental dos primeiros trabalhos e pendesse exageradamante para a suíte progressiva. Mas nas entrelinhas, a "guitarra de ouro" ainda soava impávida. Ele seguiu solo, com muito sucesso, requisitadíssimo no exterior, mas nunca deixou de lado sua "mutação" genética. Quando os Mutantes voltaram neste novo milênio, a repercussão foi global - e os poucos shows que aconteceram não deixaram dúvida: a chama ainda brotava, e com luz intensa e vibrante. Rita Lee continuava ausente, Liminha não se envolveu, mas lá estavam os brothers Baptista, com o mesmo brilho nos olhos dos idos dos anos 60. Ronaldo Leme firme e forte na batera e os Mutantes quase completos. O vocal da Zélia Duncan não comprometeu e até deu outra coloração para a nova roupagem da banda. A nova formação , ovacionada pelo mundo, foi fulminante como um raio gama ( já que estamos falando dos Mutantes). Mas como da primeira vez, Sergio Dias segurou o leme ( e o Leme ajudou-o a segurar) e parece que agora o foco está mais nítido, mais a ver com as raízes psicodélicas da banda. Torço pelo Sérgio, porque embora muitos vejam só o lado capitalista da coisa ( e tem, logicamente - são profissionais), eu enxergo uma energia além, vindo da cabeça e da alma de um super músico que não vê os Mutantes como um 'negócio' apenas, mas a continuação de uma saga impressionante de vida e arte, em mutação constante. Quem puder ler o livro do Carlos Callado ( Editora 34) sobre os Mutantes, vai entender bem o que eu estou tentando mostrar.
Enquanto isso, ouçam a primeira e inédita faixa do novo disco dos Mutantes, 'Teclar', que sairá oficialmente em setembro. Tem sabor dos 60 e dos 70, com nuances de Secos e Molhados e caberia sem problemas em um disco dos próprios Mutantes em seus primeiros anos:

Pérola 2

Mais um petardo adquirido na feira do vinil. O compositor e músico Cláudio Nucci já fez de tudo um pouco em sua prestigiada carreira: fundou o Boca Livre, fez-se solo logo em seguida, participando de várias trilhas de novelas ( Pantanal incluída), lançou trabalho em dupla com seu parceiro de Boca Zé Renato e fez participações especialíssimas em diversos trabalhos de peso na MPB. Entre seu sucessos, a singela 'Acontecência' (c/ Juca Filho) e a obra-prima 'Sapato Velho' (c/ Mu Carvalho e Paulinho Tapajós), além das já clássicas canções do Boca Livre: 'Quem tem a viola' (c/ Zé Renato, Xico Chaves e Juca Filho), 'Toada' (c/ Zé Renato e Juca Filho) e 'A Hora e a Vez' ( c/Zé Renato e Ronaldo Bastos). O LP destacado acima é o primeirão de sua carreira solo, gravado entre 1980 e 1981 e já traz a citada 'Acontecência'. Aliás, essa época, entre os 70 e os 80, talvez seja a que reuniu mais feras de estúdio em menos metros quadrados - basta olhar as fichas dos LPs do período. Dêem uma sacada na lista de músicos deste disco:
Gordo - Zé Ró - Rodrigo Campello - André Tandeta - Dory Caymmi - Mauro Senise - Luís Alves - Marcio Nucci - Jaques Morelenbaum - João Firmino - Antônio Santana - Marcos Farina - Roberto Silva - Wagner Tiso - Botelho - Alceu


16 de julho de 2009

Pérola 1

Este é um dos preciosos LPs que consegui na feira do vinil. Nelson Coelho de Castro, eu só conhecia de nome - dos gaúchos eu conheço à fundo Kleiton/Kledir, o mano Vitor Ramil e o bardo Nei Lisboa. Esse disco é considerado o primeiro LP independente de um artista gaúcho e vem cheio de influências. Muito interessante e longe do lugar-comum - o cara tem personalidade e identidade própria.
Para saberem mais sobre o cultuado compositor:
http://nelsoncoelhodecastro.conexaovivo.com.br/

http://www.dicionariompb.com.br/detalhe.asp?nome=Nelson+Coelho+de+Castro&tabela=T_FORM_A&qdetalhe=art

LPs - Pérolas da Feira

Entre o mês passado e este, visitei as duas edições da Feira Livre do Vinil de Santo André e além da avalanche de bolachas raras e discos preciosos transbordando sob às vistas, tive a honra de papear com o multicultural Leo Engelman, meu conterrâneo de bairro e blogueiro-mor do evento, conhecer os idealizadores da nobre feira e reencontrar o discófilo e expositor Carlinhos, que eu já conhecia de outros "carnavais vinílicos". O papo resultante, obviamente, rendeu à beça. Falamos do incrível layout de capa do LP "caderno" da Fátima Guedes, que é adornado por espirais! explanamos sobre a heróica banda sulista americana Lynird Skynird, que perdeu alguns integrantes num acidente de avião e deve seu esquisito batismo à junção dos nomes de vários professores - os piores diga-se de passagem - pinçados do colégio pelos músicos. Discorremos sobre Roberto Carlos, Almôndegas ( antiga banda de Kleiton e Kledir) e a engrenagem relativa que move o valor cobrado por um disco de vinil. Na última edição, com a chuva desabando pra valer, acabei até perdendo o guarda-chuva - sinal qua a cabeça flanava bem longe da realidade. Depois dessa terapia toda, só me restava gastar os parcos trocos do fundo da carteira - e olha que eu encontrei belos e importantes LPs. Vou postar as respectivas capas com comentários pra cada um deles. Aguardem...
Blogs

Ainda não tenho uma lista aí ao lado, mas quero indicar desde já blogs brothers e afins.
O blog do meu chapa Rick Berlitz tá bombando faz um tempo e vale sempre uma conferida - vez em nunca, menos do que gostaria, colaboro com ele lá: http://foton-atomo.blogspot.com/
Outro chapa, o baterista Duda Moura, também merece uma olhadela. O blog dele sempre atualiza sua atarantada agenda de "instrumentista pra toda a obra". Confira: http://siteobaterista.blogspot.com/2009/05/duda-moura-lanca-novo-metodo.html e no proprio site ' o baterista' também.
Adoro passear pelo blog do TomZé, com muitas loucuras sóbrias do jovem/velho anarquista baiano: http://tomze.blog.uol.com.br/
Meu caro amigo Leo Engelmann, multicultural até a raiz, além de radialista da Rádio Metodista http://www.metodista.br/radio e RadioMPB www.radiobrasilmpb.com , ainda encontra tempo para outras piruetas musicais no blog da Feira Livre do Vinil, sob sua batuta: www.feiralivredovinil.blogspot.com
O Blog dos Quadrinhos do meu conterrâneo Paulo Ramos, um dos mais interessantes e completos sobre o tema, sempre vem com pautas significativas: http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/
E por fim ( mas prometendo uma continuação com mais dicas), antenem-se: muito em breve, o blog do Ziraldo, pelo UOL, estará no ar.

Alma de Almanaque

Caros,
três dias depois do Dia do Rock, eis que surge o Almanaque do Malu. O velho 'Instante Poesia' não será extinto, mas continuará em sua calmaria costumeira - uma postagem cá, outra acolá, duas por mês, sob os auspícios de Caymmi (para quem não conhece: http://instantepoesia.zip.net/). Este aqui, será o seu irmão hiperativo - cultura/arte/atualidades/música - um caldeirão de influências, memorabilia e clicks atuais, permeado por vivências e dicas pessoais. A torneirinha de tornados está aberta. Vamo lá!