20 de agosto de 2025

Cartão-Postal com Aquarela de Paulo Gomes

 


Lindo esse cartão-postal que comprei numa simpática lojinha em Paraty. Essa bela arte é de autoria de Paulo Gomes, um aquarelista com 60 anos de carreira (!) que é especialista em 'plein air' (a arte de pintar ao ar livre). Fui pesquisar sua história e me deparei com uma boa matéria na Fundação Roberto Marinho, de 2024; dela, extraí esse pequeno perfil do artista (além de músico,Paulo morou um tempo com a sensacional e injustamente esquecida Rosinha de Valença!). Segue abaixo...

Trajetória artística

Paulo Gomes nasceu no Rio de Janeiro, em 1950, no bairro da Penha. Decidiu ser pintor aos 9 anos e, desde os primeiros desenhos e cursos, não mudou de ideia. Aos 18, descobriu a paixão pela aquarela ao cursar a Sociedade Brasileira de Belas Artes, no Rio de Janeiro. "A aquarela é uma arte que me desafia, porque não permite errar ou apagar", diz ele.

Além de pintor, Gomes  também é percussionista e vivencia intensamente o verbo "festar", do dialeto de Paraty. Sempre ligado à música, conta que, na juventude, dividiu um apartamento com a violonista Rosinha de Valença, e conviveu com grandes nomes da música brasileira como Gal Costa, Maria Bethânia, Leny Andrade e Paulo Moura. "O artista é artista porque tem pensamento, atitude e comportamento de artista. Não é o que ele faz que o torna artista. Tudo o que faço, me proponho a fazer com arte", diz.

Entre os desafios da aquarela e do desenho técnico, especializou-se em cartografia mineral, traçando mapas do fundo do mar para empresas multinacionais, ao mesmo tempo em que aprimorava suas aquarelas. Em 1974, viajou para Paraty e se encantou com a atmosfera artística e boêmia da cidade, famosa como reduto de intelectuais e pintores modernistas como Djanira. Aos poucos, conectou-se com artistas locais, galeristas, e foi acolhido pelas famílias da região. Vendo em Paraty a oportunidade de viver de sua arte, estabeleceu-se na cidade em 1980.

Aos 74 anos, pai de quatro filhos e avô de oito netos, Paulo Gomes celebra sua jornada artística que, embora envolva outras paisagens e lugares mundo afora, tem Paraty como cenário mais frequente. “Essa exposição é um reconhecimento da minha história com a cidade, que acima de tudo é um lugar onde gosto de estar, afinal, ninguém fica onde não gosta”, diz. Quando não está em alguma esquina com seu cavalete, ele pode ser visto nos bares, tocando com amigos, ou no Atelier da Casa da Árvore, refúgio suspenso que construiu durante a pandemia.

Na aquarela do Brasil de Paulo Gomes tem samba e pandeiro e uma paleta de sensações em que arte e ritmo se encontram em harmonia.

(p.s. do Massolini: que quiser entrar em contato com o artista, o e-mail dele está na segunda foto lá em cima).

7 de agosto de 2025

Na Flip 2025

                       Minha visão do Ruy Castro em sua palestra na Flip, à beira da porta de entrada

Eu e a tropa aqui de casa (com a sempre presente sogra, claro), esticamos até a Flip 2025, que esse ano homenageou o grande Paulo Leminski, o poeta brasileiro que mais conseguiu aproximar a poesia do leitor brasileiro, sem baixar a guarda de sua escrita afiada e aguçada. Leminski estava em todas as partes - saraus, casas parceiras, na praça popular, nas estantes, nas rodas de conversa, nas palestras e naturalmente, nas rodas de violão. Afinal, ele se aproximou também da música popular e se tornou um letrista de mão cheia (vide as dezenas de músicas compostas com Moraes Moreira, entre elas, "Decote Pronunciado", "Promessas Demais" e "Desejos Manifestos"; "Xixi nas Estrelas", com Guilherme Arantes, talvez a maia famosa entre elas; e tantas outras, muitas que eram versos e foram musicados, como "Dor Elegante", com Itamar Assumpção e "Verdura", com Caetano Veloso). Em Paraty, além das filhas de Leminski, Áurea e Estrela (que fazem um trabalho estupendo de preservação do legado do pai) e da viúva e mãe delas, Alice Ruiz, que participaram de conversas e oficinas durante todo o evento, estava também em outras rodas o biógrafo Toninho Vaz, que fez o ótimo "O Bandido que Sabia Latim", biografia do escritor. Infelizmente, por conta de alguns trechos do livro que desgostaram a família, eles não são convidados para um mesmo encontro/recinto. Não encontrei nem a família, nem o Toninho na Paraty lotada, mas Leminski estava no ar, no folheto na mão da criança, no sarau repleto da praça e nas inúmeras conversas, prosas e palestras em que seu nome foi proferido. Em uma delas, logo no primeiro dia, o poeta e compositor Arnaldo Antunes emocionou a plateia quando recitou e cantou Leminski, depois de dizer que conheceu a escrita dele muito antes de se conhecerem e que para ele, o poeta curitibano era um elo muito visível entre o Concretismo e a Tropicália. Sem me prender à agenda oficial, planei pelas ruas e poças a base da intuição, o que me foi muito útil. Conheci poetas na rua, troquei livros, ouvi batuques, cantorias, rituais indígenas. Na Casa Sesc, fui contemplado com uma conversa cheia de piados e cantos misteriosos da maravilhosa Tetê Espíndola, cada vez mais jovial com suas medeixas brancas reluzentes, ao lado do biógrafo Fábio Schunck, na mesa "Observação de Aves e Preservação da Natureza". Foi nesse clima de "Pássaros na Garganta" que encontrei, depois de muitos anos, o jornalista Celso Masson, ex-Veja. Horas depois, já estava na porta da Casa Folha ( e ali fiquei, pois cheguei atrasado e não consegui entrar) assistindo o magnífico Ruy Castro - sou fã de carteirinha do seu texto há décadas - numa conversa intensa sobre o seu novo livro "Trincheira Tropical" (Companhia das Letras - 2025), que destrincha a Segunda Guerra no Rio de Janeiro. Nessa de ficar um tempão na entrada do evento, fui "encontrado" pela minha colega de jornalismo da Metodista (lá se vão quase 40 anos), Marina, com seu sorriso e simpatia intactos. Com o final da palestra, vieram grandes momentos. Na fila do autógrafo, conheci o Claudio Miranda, enteado de Ziraldo, e proseamos com gosto. E na hora da dedicatória, aproveitei pra bater um papo supimpa com Ruy (apesar da longa fila de espera atrás da gente) - falamos do Joselito e de seus personagens (que ele lia na infância); do quanto ele apreciou a biografia que fiz sobre esse mesmo artista; da Ebal e o seu encontro com o artista Max Yantok - Ruy ainda menino. Estava tão extasiado com a conversa, que acabei não vendo na hora a dedicatória: "Para Marcos, nosso historiador da caricatura, abração do R.C - Paraty - 2025". Que emoção!

Depois desses momentos inesquecíveis, faltava a cereja do bolo: curtir o passeio ao lado da patroa, dos filhos e da sogra - afinal, há 30 anos atrás, cá estávamos, eu e a Cris, curtindo uma maravilhosa lua-de-mel nessa cidade tão acolhedora e cultural. O ciclo se fecha? Nem pensar...a ideia é voltar sempre que possível, de preferência em outra edição mágica da Flip (nessa, só faltou encontrar o velho chapa Belinho, que mora e trabalha na região - na próxima dá certo!)

                           Paraty, oh, Paraty!

                         Nas praças e vielas, a literatura abraça a cidade

                           
                              No recinto lotado, Tetê solta seus pássaros da garganta.

                            Eu e Cris, em Paraty, trinta anos depois.