Fui assistir finalmente "As Aventuras de Tintim", na telona, com a patroa e as crianças. E como bom fã dos quadrinhos originais de Hergé, entrei na sala de projeção encafifado. Embora admirasse os trabalhos anteriores de Steven Spielberg e Peter Jackson, fiquei desconfiado com o entrelaçamento de histórias ( O Segredo do Licorne + trechos de O Caranguejo das Tenazes de Ouro) e o tipo de animação ( captura de movimento - a arte é inserida depois das filmagens com os atores). Não custa lembrar que apesar da carreira consolidada, esta foi a primeira experiência de Spielberg com 3D e animação. Mas essa minha cisma evaporou-se logo nos primeiros instantes. Senti firmeza logo na abertura, ao ver os quadrinhos de várias aventuras originais caindo sobre os nomes dos atores e da produção. E na primeira cena, lá está o próprio Hergé entregando nas mãos de Tintim seu retrato pintado ( a sua cara na HQ). A técnica de animação, que eu já tinha visto antes e me decepcionara no quesito "emoção", desta vez me deixou extasiado com a perfeição dos detalhes ( rugas, sombras, paisagens e até pêlos no nariz do Capitão Haddock) e a naturalidade das expressões faciais e movimentos ( que nos faz às vezes esquecer que é uma animação). Relaxei de vez na cadeira ao perceber que os diretores imprimiram suas marcas sem comprometer as características essenciais dos personagens clássicos. Tintim está perfeito: impetuoso, corajoso, desconfiado e elétrico como tinha de ser. Milu, que em algumas aventuras impressas chega a conversar com seu dono, aqui só late, mas também aparece em todo o momento do filme, ativamente. Os irmãos Dupont e Dupond divertem sem extrapolações. O Capitão Haddock, pela própria trama, divide todas as atenções com o personagem principal e embora não esteja tão desbocado como nos quadrinhos e tenha seu alcoolismo mostrado ao extremo, conquista a platéia em cheio, justamente por suas fraquezas tão sinceras. Há cenas que lembram Indiana Jones? há excesso de aventura e correria em prejuízo do mistério e da investigação? Sim, este é o cinema Spielberg e sempre será. Mas também há uma reverência e respeito aos quadrinhos nunca vistos na Sétima Arte ( com exceções, talvez, de alguns heróis da Marvel - eu disse alguns). A soma de trechos idênticos aos álbuns de Hergé com sequências inéditas só enriqueceu a trama. Já faz tempo que eu parei de comparar Cinema e HQ - são artes que correm juntas, se adaptam uma a outra mas não se misturam. No caso de Tintim, as duas estão lá, sem forçar a barra, e é justamente a sua corajosa direção, ágil e sem o compromisso de explicações maçantes sobre os personagens e sem exageros nas referências, que a faz umas das melhores adaptações já feitas. Pior para o Oscar, que preferiu os inferiores "Rango", "Um Gato em Paris", 'Chico e Rita', "Kung Fu Panda 2" e o 'Gato de Botas'. Com Oscar ou sem, as aventuras de Tintim têm tudo para prosseguir no cinema. Spielberg, a quem Hergé sugeriu antes de morrer ser o único diretor apto a trabalhar com Tintim, pegou gosto pelo personagem e isso para ele é combustível.
Acompanhem outras resenhas e críticas no blog Tintim por Tintim. Para quem quer saber mais sobre os quadrinhos, o blog também é a melhor pedida:
http://www.tintimportintim.com/
sempre que personagem dos Quadrinhos são levados a tela a gente fica meio desconfiado até porque o histórico de barbaridade é muito longo mas desta vez acertaram em cheio!
ResponderExcluirÉ por aí, Veloso. Já estamos vacinados!
ResponderExcluirabs