Jards Macalé completou 70 anos de vida no início do mês e tudo leva a crer que 2013 será um grande ano para o compositor, visto o início comemorativo promissor à sua efeméride. O selo Discobertas, sempre "cavocando" raridades fonográficas, relançou no início do ano, o primeiríssimo disco de Jards, "Só Morto", originalmente um compacto duplo, e agora com a remasterização, acrescido de dez faixas resgatadas pelo produtor Marcelo Fróes entre 1970 a 1973. As músicas originais, lançadas em compacto de 1969 pela RGE (capa acima), são: "Soluços", "O Crime", "Só Morto (Burning Nights)" e "Sem Essa", todas gravadas com a participação da mítica banda Soma, de vida curta mas intervenções históricas, e ainda Naná Vasconcelos e Zé Rodrix. Além desse disquinho, o ano começou também com shows maravilhosos de Macau (apelido carinhoso dos mais chegados) e certamente vem muito mais por aí. Jards Macalé faz parte daqueles músicos extraordinários que certos círculos das gravadoras da ditadura militar quiseram taxar de "malditos" e que por um bom tempo realmente acabou colando neles e prejudicando deveras a carreira musical: além do próprio Jards, Luiz Melodia, Itamar Assumpção, Sérgio Sampaio, Tom Zé, entre outros. Todos eles com experimentações na manga , temperamento forte - e por isso não aceitando entrar no "jogo dos ratos" - e com uma discografia pequena em relação aos anos de labuta. Eu tenho do Jards os LPs Jards Macalé (de 1972) e Aprender a Nadar (1974), clássicos absolutos que eu não largo mão. Tenho também o CD com o Naná Vasconcelos, que saiu pelo selo Rock It. Com a internet veio enfim a redenção desses músicos únicos e nesse século XXI se tornaram benditos e conhecidos pela molecada antenada e tribos culturais espalhadas pelo país. Jamais poderia ser taxado de "maldito" um músico como Jards, que produziu e trabalhou com afinco em clássicos discos pós-tropicalistas como Transa (Caetano Veloso) e Le-Gal (de Gal Costa), além de seu trabalho consistente de direção com Maria Bethânia desde o show Opinião (1965). Fez uma das músicas mais emblemáticas da era Médici ("Vapor Barato", com Waly Salomão, regravada várias vezes e hit nas mãos do Rappa). Fez história em festival (FIC) ao chocar direita e esquerda na apresentação gritada de Gothan City (música dele e de Capinam, de 1969), onde foi vaiado sem exceções (e comentado depois por ele assim: - "dormi bendito e acordei maldito"), o que lhe deu pilha para uma performance ainda mais chocante seis anos depois, quando devorou maçãs e rosas no Festival Abertura ao cantar "Princípio do Prazer". Foi um parceiraço nos anos 70 do seu ídolo Moreira da Silva. Pintou e bordou desde então, mesmo sendo categoricamente limado das grandes gravadoras - participações especiais e trilhas sobraram entre os anos 80 e 90, à margem dos poucos discos lançados. E nesse século que começa, Jards Macalé já lançou duas vezes mais discos que entre os anos 70 e 90, além de shows sempre lotados. Jards faz 70 com muita sede&fome&vontade. Para saber todos os detalhes dessa saborora carreira ( que tem mais do que os 50 anos que andam dizendo por aí) vale a pena ler a entrevista/biografia feita a alguns anos por Dafne Sampaio do site Gafieiras, talvez o mais completo perfil do músico. E pra completar, a última, mais econômica, feita para a Folha neste mês e algumas das músicas do disco resgatado.
http://gafieiras.com.br/entrevistas/jards-macale/biografia/
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/96560-quero-viver-mais-70-para-consertar-as-merdas-que-fiz.shtml
http://www.youtube.com/watch?v=vrLiI9wv5oE (Só Morto)
http://www.youtube.com/watch?v=sqc09e2iDLI (Sem Essa)
http://www.youtube.com/watch?v=_7UZJSiRsI8 (O Crime)
acho que posso dar uma força com algumas informações que não ficaram claras no texto, contudo, a minha ideia não é nem ofender, nem exibir sabedoria, mas dividir conhecimento e ajudar na construção, espero não ser mal compreendido:
ResponderExcluir1) ser maldito, nos anos 70 era elogio;
2)Jards Macalé, na primeira metade dos anos 70 (anos da ditadura) pertencia ao cast da Philips/Phonogram (depois PolyGram), um dos maiores selos do país dentro de uma multinacional, depois gravou, ainda nos anos 70, pela Som Livre, outra gravadora gigante;
3)Jards Macalé não dirigiu Maria Bethânia no Show Opinião , mas sim, era violonista do espetáculo. Dirigiu Maria Bethânia em outras oportunidades, aliás, uma parceria absolutamente genial;
4)Vapor Barato é expressão máxima na voz de Gal Costa, Gravada em 1971 em compacto duplo, e regravada ao vivo no mesmo ano no LP duplo Gal FA-TAL, atualmente regravada no CD "GAL-Recanto Ao Vivo (2013)", a versão do Rappa (sem dúvida um grande hit), provaelmente vá se perder no tempo, até mesmo por não fazer jus à qualidade da composição, já que altera bastante a melodia impressionante do Jards Macalé;
5) Viva Jards Macalé!
espero ter colaborado, caso contrário, perdoem a intromissão.
(luciano)
Opa, Luciano, suas intervenções não só são bem vindas como pertinentes. A expressão "maldito" realmente foi dúbia por um tempo, mas para alguns, como Sergio Sampaio e Itamar Assumpção, a alcunha impregnou e foi péssima - somada, como disse, ao comportamento inconstante. Até podia ser elogio, mas Macalé, como muitos, detestava ( ele chegou a dizer mais de uma vez: _ Maldito é a...). Quando eu mencionei à margem das grandes gravadoras, eu estava me referindo ao período pós- Morengueira, quando ele virou independente mesmo.Você está certo: a direção de Macalé não começou no Opinião - ali foi o início da parceria. E concordo com você: que dupla! Quanto ao "Vapor Barato", eu não me aprofundei na Gal, pois estou cozinhando uma grande pauta com ela pra breve. Realmente a gravação dela é insuperável. Citei a versão do Rappa, de levada reggae, pois ela fez um baita sucesso e mostra como a música de Macalé extrapola gerações. Um viva duplo para Jards! valeu pelos toques, Luciano - te espero mais vezes por aqui. abs
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