13 de agosto de 2018
Baú do Seu João 23: Radinhos de pilha ( anos 60)
Desde que me conheço por gente vejo meu pai com um radinho, seja ao seu lado, na mesinha de centro da sala ou - preferencialmente - no banheiro enquanto rola um banho básico. A presença do tradicional rádio de pilha faz parte do cotidiano de toda uma geração do pós guerra e meu pai não fugiu à regra: dia de jogo, prévias, a partida em si e o pós-jogo eram etapas sempre acompanhadas nas ondas médias do dial. Esse dois aparelhos que compartilho aqui, ambos Made in Japan, são de uma segunda fase do meu pai, já casado. Portanto são de meados e final dos anos 60. Da primeira fase, solteira, quando às vezes tinha que dividir o rádio com os irmãos ( o mais novo torcia para o mesmo time - Corinthians; o outro, mais velho que o primeiro, mas mais novo que meu pai, era torcedor da Portuguesa) infelizmente não teve aparelhos de rádio sobreviventes para contar a história. Desse primeiro rádio que trago aqui, menorzinho, não me lembro direito pois eu era muito pequeno, mas do velho Spica, esse sim, vi ativo em pelo menos três décadas, do começo dos 70 ao final dos 90. Nos últimos tempos só meu pai entendia aqueles ruídos e grunhidos que saíam de suas entranhas, mas mesmo roufenho, gaguejante e arfante, o veterano companheiro estava ali, firme ( que nem geleia) em todos os jogos do timão. Hoje em dia meu pai assiste jogo mais na televisão, mas continua com um radinho disponível para emergências ou banho fora de hora. E no seu velho Gol 86 há também um rádio à postos. E esse dois, embora não funcionem mais, permanecem como troféus para meu pai, de um tempo em que jogo de futebol, além de melhor jogado, era imaginado com as cores, os movimentos, a respiração e o coração de torcedores fieis colados em seus radinhos de pilha.
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