MMass- Você fez trabalhos essenciais na gravadora Marcus Pereira, até hoje lembrados, a começar pelo disco do Cartola.
Pelão - Eu trabalhei o tempo suficiente na Marcus Pereira, que deu pra fazer alguns trabalhos. Deixei muitos projetos lá, que infelizmente não souberam fazer.
MMass- Da série de discos regionais da gravadora, você chegou a colaborar em quase todos?
Pelão – Alguns. Mapeamento fiz só o Centro-Oeste e o Sudeste, que fui produzir junto com o Theo (Nota: Theo de Barros, compositor e violonista, coautor de Disparada junto com Geraldo Vandré). Foi o Theo que me indicou. A minha parte, eu escolhia, fazia, e não tinha “não”. Pegava o carro – um Fusquinha – e saía por aí, com o gravador...
MMass – Como era a gravação em si? Era in loco?
MMaz – ...gravava na raça mesmo? Chegava lá na casa do violeiro, “toca aí”, “vambora”?...
Pelão – O melhor gravador que tinha na época era um Werzinho, mono. O Wer era legal porque foi um gravador de guerra, né? Servia pra dar porrada nos outros...
MMass – rs...guerra mesmo!
MMaz – rs...por causa do peso dele?
Pelão – O peso, o corpo pra proteger ele...então era legal pra externa.
MMass –Na linha de frente de batalha era você...e quem mais na equipe nessa época do mapeamento?
Pelão – Externa era eu...
MMass – O Theo não ia junto?
Pelão – Não, ele só emprestava o Fusquinha.
MMaz – E você gravava no interior das casas dos caras?
Pelão – Podia ser na casa ou em campo aberto mesmo. Na casa dos caras a gente pendurava os cobertores na parede pra não “bater” o som. Pra tentar fazer uma coisa melhor. O importante era registrar aquilo.
MMaz – E quem achava esse pessoal, aquele que dava as coordenadas: “tem um fulano ali, na cidade tal...”.
Pelão – Teve alguns que fui eu que descobri, porque fui atrás de um e achei outro. Às vezes falavam que não tinha ninguém na região. Eu insistia que tinha. Procurava as pessoas que eu conhecia na cidade que eram importantes, que conheciam o folclore, as músicas regionais. E como eu tinha sido da TV Tupi, isso sempre ajudava. O sujeito já conhecia ou tinha ouvido falar...
MMass – E nessas gravações vieram artistas mais conhecidos como o Renato Teixeira, né?
Pelão – Isso já foi em estúdio. O Renato tem aquela pesquisa do Chico Noca. Ele ia muito pra Ubatuba e conhecia o Chico Noca. Foi um projeto fantástico que deu um pouco de trabalho. Eu fui lá, gravei, trouxe a gravação e o Theo acrescentou o instrumental em cima. Ficou lindo. Leve. Só o Theo sabe fazer isso – é brasileiro pra cacete. Sem roubar nada.
MMaz – Então você ia lá, com o gravador de guerra, capturava os instrumentos...geralmente era o cara sozinho tocando ou ele trazia o pessoal dele?
Pelão – Eles sempre traziam os agregados. Eu gravei uma catira, que captei em Nova Odessa, que o João Biarini, que era um grande pesquisador – companheiro de Partido Comunista – falou; ‘Vai embora que aqui não tem catira nenhuma”. E eu sabia que tinha, mas não ia brigar com o cara. “Tá legal, João, obrigado”. E eu descobri um grupo de catireiro fantástico! E eu gravei os caras na casa deles. Nessa ocasião eu não tinha auto falante, só fones de ouvido, e o grupo de catira tinha doze pessoas, mais o pessoal lá fora, e eu tinha que pegar o canto deles e o sapateado. No fim deu tudo direitinho. O duro é que no fim todo mundo o queria escutar uma vez ou duas. Eu falava: “Não pode. Se eu passar mais uma vez, apaga”. Aí explicava o contrato, eles assinavam pra receber...tudo direitinho e documentado.
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