Ultimamente, principalmente na pandemia, passei a escutar sons recorrentes quando escrevia a trabalho no computador: Nick Drake, Elton John, Donny Hathaway, Astrud Gilberto, Johnny Alf, entre outros. E o querido Ruy Maurity era um deles - ouvi muito, muito, sua música profundamente brasileira, rural, que funde com perfeição folclore, crença, natureza e um olhar bem próximo daquele brasileiro que mora lá no fundo do Brasil, fora das mídias e das estatísticas. O som de Maurity me acompanha desde a infância, quando assobiei e cantarolei muito "Nem Ouro, Nem Prata" ("Eu vi chover, eu vi relampear") e "Marcas do que se Foi", que a família toda cantava anualmente nas festas de réveillon. O compositor, ao lado do seu parceiro José Jorge, foi figura carimbada nas trilhas de novelas por toda a década de 1970 e surgiu para a música no Festival Universitário do Rio de Janeiro com a música "Dia Cinco", dele e de Zé Jorge, no início da década. Além de "Nem Ouro Nem Prata" e "Marcas do que se Foi", outras músicas de seu repertório acabaram na boca do povo, como "Serafim e seus Filhos" (regravada por vários artistas e com direito a continuação) e "Menina do Mato". Os amigos e conhecidos são unânimes em dizer que Maurity era uma pessoa muito tranquilo e doce. Eu pude presenciar isso quando há uns quatro ou cinco anos atrás, resolvi ligar para ele, com a intenção de entrevistá-lo. Ele foi muito solícito e simpático, mas recusou meu convite: "Marcos, no momento eu só quero curtir os meus bichos e minha aposentadoria". Realmente, esse amor pelos bichos era latente em suas postagens nas redes sociais, geralmente com fotos de cães de todos os tipos. Até que no dia 01/04, no portal do seu irmão, o também compositor Antonio Adolfo, veio a notícia de seu desencarne, aos 72 anos. Que sua doçura ecoe na imensidão e sua entrada no outro plano venha com a tranquilidade que você sempre procurou colher aqui nessa vida.
Aqui, full, um dos grandes discos de Ruy Maurity:
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