Invariavelmente, meu pai vinha do trabalho com algo que comprava na rua: se não era jornal, revista ou fascículo, podia ser alguma guloseima de mercadinho ou algum eletrônico exótico, uma ferramenta estranha ou um item tecnológico surpreendente que algum colega de "firma" lhe tinha apresentado ou dado a dica. Certa feita, adentrou nosso lar no fim do expediente com essa caixa suspeita, onde se lia: "Infraphil - o Calor que Cura". O "troço" peculiar era fabricado por uma marca famosa (a alemã Philips) e prometia curar o corpo de alguns males do cotidiano (queimaduras, luxações, machucados, sinusite, reumatismo, dores de dente) e até servir como tratamento de beleza, graças à exposição de sua luz infravermelha. O tal Infraphil tinha uma aerodinâmica arrojada e um design futurista e por algum tempo, meu pai fez um ritual diário de exposição ao raio infravermelho saído da grande "lanterna" frontal do dinâmico aparato, afinal, como dizia o folheto do aparelho revolucionário, "sua família precisa de calor". Assim foi, até que passado algumas semanas, numa noite como qualquer outra, meu pai guardou o Infraphil na caixa, enfiou no fundo de seu guarda-roupa e simplesmente se esqueceu de sua existência. Mais uma vez, como várias outras vezes, a rotina de casa voltava ao seu trivial. Pelo menos até uma outra aquisição inusitada do irrequieto Seu João, de preferência aquelas que prometiam mudar sua vida de um dia para o outro.
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