3 de fevereiro de 2010

O fulminante Stevie Ray Vaughan

Conheci o jovem músico Bruno no fervilhante salão de cabeleireiro do Dinho e no meio do papo musical, quando falávamos sobre grandes guitarristas, ele cravou esta: "- Se o Stevie Ray Vaughan não tivesse morrido de helicóptero, mais cedo ou mais tarde morreria de coisas mais pesadas". Concordei e não concordei, porque desde que travei contato com a obra e a carreira de Stevie nos anos 80, senti sua urgência, que jorrava aos borbotões através dos riffs da guitarra e de seu decorrente e desaforado blues. Talvez o peso aqui nem seja droga ou alcool, dupla com quem travou grandes batalhas; quem sabe o peso do seu próprio blues? Houve chances e recomeços, como veremos adiante.
Esse Stevie fulminante foi o mesmo que deixou o "God of Guitar" em pessoa, Eric Clapton, de queixo caído. A mesma reação tiveram seus ídolos Buddy Guy e Albert King e talvez tivesse quem sabe, Jimi Hendrix, se vivo fosse. Seu virtuosismo, aliado ao mix de estilos adquirido dos mestres aqui citados (+ Freddy King, Albert Collins e Ottis Rush) modelou seu blues em algo novo e característico.
Depois de iniciar sua carreira tocando baixo na banda do irmão mais velho Jimmie (outra grande influência), no final dos 70, montou a banda Double Trouble, que o iria acompanhá-lo pelo resto da vida. Logo chamou a atenção de David Bowie, que o lançou em seu disco Let´s Dance, na faixa homônima e em China Girl. Seu debut junto ao Double Trouble foi em Texas Flood de 1983, um lançamento inspirado e inspirador, que o elevou no ato à "grande guitarrista do blues". Os discos subsequentes seguraram o nível, até 1986, quando um colapso nervoso, fruto de seus vícios cada vez mais constantes e pesados, o colocou em tratamento por um bom tempo. Sua volta, em 1989, foi por cima, fortalecida pela velha técnica e a pegada de sempre. Pena que essa segunda chance durou muito pouco: em 27 de agosto de 1990, um dia depois de um show magistral ao lado de Robert Cray, Eric Clapton e o brother Jimmie, Stevie se encaixou no helicóptero que levava a equipe de Clapton para mais uma apresentação conjunta, quando minutos depois, sob forte névoa, um choque violento da nave, jogou todos a bordo de encontro a morte. Aos 35 anos, faleceu um colosso da guitarra, intuitivo e visceral como tantos da história do blues rock; precoce e fulminante como outros tantos, a começar pelo pioneiro Robert Johnson, passando por Jimi Hendrix e Duane Allman. Para Eric Clapton, que depois de quase morrer, talvez não morra mais, Stevie Ray foi um amigo, irmão e companheiro de palco, e talvez por sina, mais uma perda em sua longa e acidentada estrada.
A "pedrada" Pride and Joy: http://www.youtube.com/watch?v=NU0MF8pwktg
O último show (com Cray e Clapton):

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