27 de agosto de 2010

O melhor de Chico nas bancas

Hoje nas bancas chegou o primeiro disquinho/livreto da 'Coleção Chico Buarque' (Abril Coleções). Ao que parece, a Abril engata a mesma marcha da Folha, que lançou num fôlego só, coleção sobre bossa nova e na sequência, série com compositores da velha guarda da MPB, que termina justamente nesta semana, após 25 volumes. O formato é o mesmo, mas a nova coleção, além de focar um artista só, recupera os discos oficiais de carreira, lançados originalmente em vinil. Como a inclusão de todos os discos da longa carreira de Chico ficaria inviável para um lançamento desses, optou-se por uma seleção com os 20 discos mais relevantes, onde o principal jurado, ao que parece, é o próprio Francisco Buarque. A começar por esse primeiro, Chico Buarque 1978, que já na apresentação aparece como o disco escolhido pelo próprio compositor para inaugurar a coleção. Eu estou com ele: esse sempre foi, ao lado do Construção (1971 - o 2º da coleção) meu 'disco do Chico de cabeçeira'. As suas faixas misturam trilha de teatro e cinema, músicas liberadas depois de anos no cabide da censura e inéditas imponentes. Nesta amálgama surgem vários Chicos: o político (Apesar de Você/ Cálice/Tanto Mar), o cronista (Feijoada Completa/ Trocando em Miúdos/Pivete), o desbravador da alma feminina ( O Meu Amor/ Pedaço de Mim) e até o narrador satírico/crítico de si mesmo ( Até o Fim). Um clássico disco pra iniciar uma coleção interessante. Pra encerrar eu iria comentar sobre uma grande lacuna, que a primeira vista eu não havia localizado: Chico Canta (1973) não está entre as capinhas da coleção e eu já ia reclamar, por ser esse um clássico iminente, talvez o mais político deles e o mais decapitado ( há músicas sem letra nenhuma e outras com o áudio avariado). Mas então botei a vista em Calabar, o Elogio de Traição (1973) e saquei tudo: a coleção não só incluiu as músicas de Chico Canta, como manteve o nome da peça que na época foi censurada e não pôde dar nome ao disco. Uma boa surpresa inicial - veremos se o repertório será idêntico. De resto, alguns discos paralelos à discografia oficial, como o italiano, c/ arranjos de Ennio Morricone ( Per Un Pugno di Samba - 1970) e o ao vivo, e fácil de encontrar até hoje ( Ao Vivo Paris - Le Zenith - 1986). De lacuna mesmo, só o Vol.4 (1970), um disco bacana ( que inclui o desabafo Agora Falando Sério), mas que talvez o compositor não goste tanto, por ter sido uma imposição da gravadora após o fracasso de vendas do primeiro disco em italiano. O resto, só alegria: estão incluídos os imbatíveis Construção, Meus Caros Amigos (1976), Vida (1980) e Chico Buarque (1984). Os iniciais, que firmaram Chico como grande cronista, do naipe de Noel Rosa e Sinhô: Chico Buarque 1 (1966), Vol.2 (1967) e Vol.3 (1968). E os da última lavra, que se não chegam aos pés dos antigos, também não comprometem a obra. Resumo da Ópera do Malandro: entre violências gratuitas dos jornais diários, fofocas inúteis das revistas de celebridades e pornografia e futebol saindo pelo ladrão, a coleção Chico Buarque é um alento aos olhos de quem merece um oásis logo de manhãzinha, depois do café com pão de sexta-feira.

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