19 de outubro de 2010

O AcervoSorve 3 - Edições Fac-similares do Jornal "ex-" ( Coleção Completa) - Instituto Vladimir Herzog (2010)

Essa eu babei, abobalhei, embasbaquei, bambeei, quedei em êxtase. Compadre Paul Seven Lagoon me aparece com suas habituais sacolas culturais/literárias sortidas e entre tantas edições supimpas, eis que ele me joga na mão uma encadernação tamanho jornal, em capa bege e preta, que só pelo visual externo já me impressionou. Mas eu não esperava que ao abrir a "embalagem", toparia com a coleção completa de um dos mais importantes jornais da chamada "imprensa nanica" brasileira, o "ex-". Surgido no final de 1973, o jornal tablóide nasceu de uma morte. Explico: a revista underground Grilo, famosa por trazer ícones dos quadrinhos marginais/alternativos e sensuais como Robert Crumb, Volinski e Guido Crepax, há tempos estava na mira da linha dura, e ao chegar com muito custo na edição 48, mandou em seu rodapé (da pág 4 a 14) um aviso sem volta: "Stop-Press: a censura negou o registro do Grilo, por considerar o conteúdo desta revista atentatório à moral e aos bons costumes. O Grilo então recorreu à própria censura, retirando desta edição as histórias que o censor julgou inapropriadas para nossos leitores. Caso a resposta seja negativa, o Grilo passará a ser impresso em formato tablóide, ou seja, deixará de ser revista para ser jornal ( os jornais estão dispensados de registro de censura) e já a partir do próximo número -o 49 - circulará com o novo nome: "ex-". Adivinhem no que deu? o "ex-" nasceu, sem tempo para charutos e champanhes, sob a sombra tenebrosa do governo Médici. Para driblar e confundir os censores, tascou na sua primeira capa Hitler, nú, se bronzeando numa praia. E foi com essas armas, o humor, a metáfora, o escárnio,o olhar contundente por trás da imagem satírica, que as edições seguintes brindaram os leitores com capas antológicas e matérias emocionantes. Quadrinhos, suplementos literários, foto-reportagens, entrevistas. E como bem disse no encarte especial da coleção, o jornalista Dácio Nitrini, que participou de todas as edições do periódico: "O ex- é como se fosse neto da revista O Bondinho e filho do gibi underground Grilo. Sendo assim, é bisneto da mitológica Realidade, origem de um grupo formado por jornalistas brilhantes que provocaram saltos de qualidade editorial em vários veículos, inclusive rádio e tevê. Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Hamilton Almeida Filho, Mylton Severiano da Silva, Amâncio Chiodi, Paulo Patarra, entre outros".
O "ex-" durou 16 números e o último, com a capa estampando uma das reportagens mais corajosas do nosso jornalismo, encerrou qualquer possibilidade de sobrevivência ao bravo tablóide. Foi o único que noticiou com todas as letras a morte de Vladimir Herzog ("Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós" -outubro de 1975), mostrando para quem quisesse ver, a cena de uma farsa engendrada nos porões assassinos da ditadura. O jornal, que tinha nascido de uma morte editorial, morria desta vez por escancarar uma morte brutal. Mas não pensem que o núcleo citado por Nitrini entregou-se de bandeja. A edição seguinte -17 - permaneceu inédita. O "ex-" virou "Mais Um", com marcas latentes do ex- em suas páginas, mas que só durou um número - devidamente incluído nesta coleção ( além de uma edição extra - "Ex-tra"-  com Paulo Evaristo Arns e outra com o melhor do jornal, também inédita até agora). E outros nomes vieram depois, sempre no drible e na raça. A ditadura um dia acabou, mas esses jornalistas, que criavam jornais, levavam porrada e continuavam mesmo assim abrindo jornais, prosseguiram brilhantemente - o último "filhote" dessa turma é "Caros Amigos", que já virou década e mantém leitores fiéis. O Instituto Vladimir Herzog (logicamente) lançou essa preciosa coleção ao completar um ano em junho, em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de SP. Quem sabe não é a deixa para relançarem Grilo, Sol, O Bondinho, etc.
Seguem algumas capas- e que capas!- do 'ex-'. O 'ex-' brincava, mas não estava para brincadeiras...



Um comentário:

  1. Companheiro Marcão, apesar da censura, opressão , tinhamos um jornalismo sério, ético, hoje temos o PIG ( Partido da Imprensa Golpista ) que mente, omite, censura.
    Parabéns pelo texto que nos faz reviver e acreditar na nossa luta por um país digno para o nosso povo
    Abs
    Cido

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