7 de fevereiro de 2015

Ron Mueck e Dom Quixote: algumas horas de fila podem valer a pena




No fim de semana passado, fiz em família dois programas que tinham como bônus extra algumas horas em filas extensas: a exposição do australiano Ron Mueck na Pinacoteca do Estado e a peça  "O Homem de La Mancha" , peça encenada no Sesi-SP com direção e versão de Miguel Falabella. Em ambos os casos, esperamos em filas por mais de 1 hora - a diferença é que a exposição era paga - barata, mas paga - e a peça tinha um esquema de distribuição de ingressos gratuitos um pouco antes da apresentação. Só de ver essas filas, a sensação imediata é de ojeriza e afastamento. Mas em casos como esses, quando o evento é muito compensador e único, a insistência e paciência em permanecer numa longa espera vale muito a pena no final. A exposição de Ron Mueck é única, por se tratar de obras com proporções totalmente fora do padrão - os tamanhos das esculturas humanas hiper realistas são diminutas ou gigantescas - e trazerem detalhes de pele, como rugas, manchas, cravos, veias, expressões faciais, além dos cabelos idênticos aos nossos, que impressionam e fazem quem está próximo às figuras expostas sentir que a qualquer momento, elas podem mover o rosto, piscar os olhos ou dar um passo à frente. Já a peça dirigida pelo hiperbólico Falabella faz não só a gente parar e pensar na condição humana - exatamente como era o intuito da montagem anterior, na época da ditadura - como traz para mais perto da nossa realidade brasileira toda a luta cotidiana de um sonhador que imagina um mundo mais justo. O diretor, muito feliz na junção, mistura nessa nova montagem o universo de Cervantes ao mundo hostil de nosso sistema psiquiátrico, principalmente o dos tempos de regime militar. Para isso,  tira da manga a figura peculiar e mágica do artista-paciente Arthur Bispo do Rosário, também conhecido por Gentileza, que viveu praticamente toda a vida internado num desses sanatórios e acabou se tornando uma lenda, ao fazer do seu cotidiano e de objetos ao redor, obras de arte pura. O seu personagem nem é tão esmiuçado pelo enredo, e nem precisa: sua presença como uma espécie de rei do local, dá o tom certo para a trama. O elenco segura muito bem a onda, com grande destaque para o protagonista, o ator Cleto Baccic, que dá um show na pele de Miguel de Cervantes e D.Quixote - e já recebeu diversos prêmios por sua interpretação ( a peça ganhou o APCA de 2014). O cenário de Claudio Tovar ( sim, o mesmo Tovar do antológico Dzi Croquettes) também impressiona.
As duas atrações ainda estão em cartaz em fevereiro, mas a exposição do Ron Muek termina em 22 de fevereiro. Mais informações nos links abaixo

Ron Mueck: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/Upload/file/faq-fevereiro.pdf 

O Home de La Mancha http://www.sesisp.org.br/cultura/teatro/o-homem-de-la-mancha.html


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