16 de novembro de 2015

Lira Itabirana, de Drummond, atualíssima

Rio Doce, antes e depois da tragédia
Com essas trágicas notícias recentes que nos chegam todo dia - guerras pelo mundo, chacinas, arrastões por todo o Brasil, os atentados em vários pontos de Paris com mais de uma centena de mortos, a tragédia ecológica e social em Mariana/Minas Gerais via Vale, com extensão para todo o Rio Doce, a perplexidade e a tristeza acabam chegando com força e invadindo inevitavelmente o cotidiano. Entre atos de solidariedade, mensagens de todo o tipo e até uma discussão sem cabimento sobre a hegemônica corrente solidária pró Paris em contraponto ao incidente em Mariana - como se isso fosse relevante diante dos dois ocorridos - muitos se lembraram da visionária poesia clássica de Drummond intitulada "Lita Itabirana". A poesia feita em 1984, já expunha a exploração predatória da mineradora Vale ( que já foi Vale do Rio Doce) na região ( no caso, a sua cidade natal Itabira, banhada por afluentes do rio), mostrando como a situação ainda é atual e não mudou nada nesses anos todos. A mineradora Samarco, responsável pela tragédia ambiental incalculável ( já foi decretado que o Rio Doce é um rio morto) tem entre as donas justamente a Vale. E aí, uma frase que eu ouvi muito ultimamente, abarca todos esses casos citados: "A vida não vale nada". Em todos os sentidos.

“Lira Itabirana”,

 Carlos Drummond de Andrade

I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

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