9 de janeiro de 2016

Lendo: "A Noite do Meu Bem - A História e As Histórias do Samba Canção"


Depois de um reveillon que praticamente não existiu para mim - às 10h30 do dia 31/12 eu, minha esposa e meus dois filhos fomos abordados por quatro indivíduos armados que acabaram levando o carro e também nossos pertences - e depois da burocracia decorrente do caso ( correria pra tirar documentos, bloqueio e pedido de novo cartão, bloqueio na operadora do celular, trâmites do seguro do carro), finalmente as coisas começam a entrar no eixo, o susto vai ficando um pouco mais distante e já dá pra voltar aos pequenos prazeres cotidianos, como ouvir um bom disco, tomar uma brejinha gelada nesse calor colossal e ler um bom gibi e um bom livro. Esse "A Noite do Meu Bem", última obra do Ruy Castro, eu ganhei de Natal, e pelo que já percebi nos primeiros capítulos, é mais um delicioso e fluído livro do autor que não só conta detalhes históricos de uma gênero musical - no caso o samba-canção - mas como é de seu feitio, adentra principalmente a alma e o coração dos que fizeram essa história acontecer. Eu sempre tive essa impressão, e este último não a tira: é como se o Ruy Castro tivesse vivido a época, sentando ao lado dos personagens citados, conversado com eles, participado de tudo aquilo descrito. Quando li os primeiros livros de sua autoria e depois descobri que ele tinha nascido em 1948, ou seja, mais ou menos a época que ele adora descrever, tive um susto, pois eu achava que ele era bem mais velho, principalmente por essa característica latente de contar a história como se fosse testemunha ocular.


O que já li deste último já me deixou entusiasmado: os primeiros capítulos já informam que foi graças à derrocada dos cassinos por lei do presidente Dutra no final dos 40, que houve uma debandada dos músicos, intérpretes e produtores para as nascentes boates, que por suas características próprias, acabaram absorvendo essa mão de obra e adaptando-a para um mundo mais cool, mais sussurrado, mais de penumbra. Essa nova adequação deu luz ( ou meia-luz) ao samba-canção, que acabou transformando toda a música brasileira subsequente. Muitos dessa fase de boates - Dick Farney, Antonio Maria, Dolores Duran, Doris Monteiro, Johnny Alf, Lucio Alves, Sylvia Telles, Tito Madi e um jovem compositor e pianista da noite chamado Antonio Carlos Jobim - foram os grandes alquimistas e precursores do fenômeno mundial que viria já no final da década seguinte: a Bossa Nova. O samba canção não pode ser injustamente "colado" à Bossa Nova, como se fosse um balão de ensaio desta, mas sua influência é inconteste. O biógrafo-cronista Ruy Castro continua nos brindando com histórias fantásticas e saborosas da noite, do Rio e de artistas além da média ( seus temas preferidos desde sempre) e nesse balaio sempre há informações precisas e bem pesquisadas das obras tramadas e lançadas no período contemplado. Lê-lo é estar junto com ele nessa época de ouro.


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