29 de maio de 2018

Mais despedidas em Maio

Mês terminando e incluo como homenageados do blog mais três personalidades que tanto fizeram para a cultura e história brasileira e que se despediram em maio;
ROBERTO FARIAS (1932-2018) - Diretor de cinema de muito sucesso e prêmios entre os anos 60 e 80, fez filmes cultuados como "Cidade Ameaçada" (1960), premiadíssimo e um dos primeiros policiais brasileiros; o ótimo e cult "Assalto ao Trem Pagador" (1962) e o político "Pra Frente, Brasil" (1982); e também sucessos populares como as chanchadas "Rico Ri a Toa" ( com Zé Trindade - 1957)) e "Um Candango na Belacap" (1961); o divertido "Toda Donzela tem Um Pai que é Uma Fera" (1966); e a trilogia com Roberto Carlos, "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (1968), "Roberto Carlos e o Diamante Cor-De-Rosa" (1970) "Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora" (1971) e "Os Trapalhões no Auto da Compadecida" (1986). Também fez o documentário "O Fabuloso Fittipaldi" (1973) e várias colaborações com a Rede Globo, desde pioneiros programas ao vivo nos anos 60 até seriados que se tornaram bem conhecidos como "Memorial de Maria Moura" (1994), "A Máfia no Brasil" (1984) e "As Noivas de Copacabana" (1992), além do polêmico "Você Decide", com participação do público no desfecho das histórias. Grande parte dos seus filmes no cinema teve a participação do irmão mais novo, o ator Reginaldo Farias ( acima, na foto, à esquerda), que ao seu lado, acabou abocanhando alguns prêmios de crítica. Nos últimos tempos era consultor na Globo Filmes.
ALBERTO DINES (1932-2018) - Pra mim, um dos maiores jornalistas que este Brasil já teve. Em várias pequenas revoluções editoriais a partir dos anos 50 que acabaram influenciando o modo de se fazer jornalismo, boa parte teve a mão e a mente de Dines. Começou como crítico de cinema nos início dos anos 50, na revista A Cena Muda. Logo estava na revista Visão, recém-lançada, a primeira redação onde teve total liberdade para exibir seus dons jornalísticos. Em 1957 foi pra Manchete, onde ficou pouco mais de dois anos, até ser contratado pelo Ultimo Hora, onde assumiu a direção do segundo caderno do jornal e causou em apenas um ano um grande rebuliço entre os leitores. Em 1960 começou a colaborar com a Tribuna da Imprensa e em seguida para o Diário da Noite ( de Assis Chateaubriand). Em ambos não chegou a esquentar a cadeira, tornando-se só uma fase de transição para talvez sua maior empreitada: a gestão como editor-chefe no JB de 1962 a 1973, permeada por batalhas contra a ditadura e modernas soluções editoriais, tanto em conteúdo como em design, para os cadernos do velho veículo carioca. Ironicamente foi mandado embora do jornal por publicar um artigo que criticava a passividade e subserviência dos donos para com o governo do estado do Rio. Ficou um tempo nos EUA - onde chegou a ser professor visitante na Universidade de Columbia - até ser chamado em 1975 por Claudio Abramo para assumir a sucursal do Rio da Folha de S.Paulo. Saiu-se com mais uma de suas ideias influenciadoras: sua coluna Jornal dos Jornais, que pioneiramente avaliava a própria imprensa. Em 1980 foi para o Pasquim, em sua última grande fase. A partir de 1988 fincou moradia em Portugal, colaborando com a Abril ( onde ajudou a fundar a Exame portuguesa) e criando o Observatório de Imprensa, cria da sua coluna na Folha, mas agora um veículo próprio, que acabou virando sua bancada e bandeira no jornalismo até o fim da vida, primeiro em papel e a partir de 1996 em sua versão eletrônica. Paralelamente ao jornalismo, fez uma emblemática mas esporádica carreira de escritor e uma jornada brilhante como professor. Como literato, escreveu mais de 15 livros, com destaque para "Morte no Paraíso - a Tragédia de Stefan Zweig" (1981) e "Vínculos do Fogo - Antonio José da Silva, o Judeu e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil" (1992). Ambos com uma profunda pesquisa sobre os temas que acabava se prolongando por anos. Curiosamente a obra lançada em 1992 aparecia como "Tomo I", mas embora Dines sempre comentasse que a segunda parte surgiria um dia, essa continuação não ocorreu ( pelo menos não com ele vivo). Desde que iniciei no jornalismo em 1989, sempre tive Dines como um de meus "mestres" na arte de noticiar. Sem dúvida nenhuma, o jornalismo brasileiro nunca mais foi o mesmo com a presença iminente de Alberto Dines nas redações. Espero de coração, que reservem uma boa cadeira de canto onde quer que ele esteja , para que alguma pequena revolução escrita comece sem demora e tudo continue como tem de ser.
(divulgação Globo) -- ELOISA MAFALDA (1924 -2018) - Eloisa era daquelas atrizes que viraram referência como personalidade de novela, tanto que fez poucos trabalhos no cinema e no teatro. De origem humilde, foi costureira, secretária e acabou atriz por acaso, quando ao acompanhar seu irmão para um teste de locutor na rádio Tupi, acabou passando também em teste para atriz de rádio-teatro. Logo estava na TV onde nunca mais saiu - primeiro na Tupi, depois na TV Paulista, que virou Globo. Na Vênus Platinada fez personagens inesquecíveis como Maria Machadão ( em Gabriela), Dona Nenê, na primeira versão de A Grande Família e Dona Pombinha Abelha ( em Roque Santeiro), um estrondoso sucesso. Há muitos anos sofria de Alzheimer e faleceu ao lado da filha em sua casa em Petrópolis (RJ).

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