por Assênia Vinil Ossamo
Tendo uma coleção quase completa do rock nacional dos anos 60 aos 80, posso afirmar sem pestanejar: "Meu nome é Gileno" é um dos melhores discos do rock tupiniquim, em todos os tempos. Instrumental impecável, composições que grudam no ouvido, produção limpa, foi aclamado pela crítica e não vendeu tão bem na época de seu lançamento (1976), recebendo uma edição em CD em 1999, dentro da série "Jovem Guarda" da Sony. O discão tem várias misturas no caldo do rock, até resquícios da jovem guarda, mas definitivamente não é um vinil retardatário do movimento jovem sessentista, onde Leno se destacou já no seu final. Pra começo, tem participações e acompanhamento que não são pra qualquer um:a cozinha pesada da cultuadíssima banda O Peso,o ritmo de Paulinho Braga, um dos melhores bateristas brasileiros, a onipresença de Paulo César Barros, ele mesmo, lendário co-fundador da banda do irmão Renato nos Blue Caps, Dominguinhos, que não carece de apresentações e o encandescente Zé da Gaita, mito entre os músicos de todas as épocas. Com essa turma, dá pra segurar bem a fervura de qualquer caldo, mas Leno foi além: construiu um disco milimetricamente dosado, com partes iguais de peso, balada, saudosismo e veia roqueira.
Letra viajante empacotando um boogie danado ( Semente Cósmica), gaita e teclado ponteando saudades sessentistas ( Jovem Guarda), rock nostálgico com guitarra arrepiante ( Em busca do Sol), cuíca em perfeito casamento com o baixo e guitarra ( Depois do Carnaval), country rock de primeira ( Grilo City), balada arrasadora - caramba, o Fabio Junior dos tempos de "Ciranda, Cirandinha" apareceu uma ano depois e acabou perdendo a chance de gravar essa!! (Chuva do Amanhecer), versão honesta ( Luar do Sertão) , versão a la Stones ( Me Deixe Mudo), blues estradeiro ( Amigo Velho) e pop romântico ( Céu Dourado, do compositor Guilherme Lamounier, esse sim gravado pelo Fábio Júnior - só não sei se essa música também).
O disco ficou melhor ainda quando saiu em CD, em projeto do incansável Marcelo Fróes, pois foram acrescidas 4 faixas tiradas de compactos anteriores, bem adequadas à sua proposta: outra baladona nos moldes de Jovem Guarda, que vendeu horrores em seu lançamento ( Flores Mortas), rock and roll na veia ( Rock, Baby, Rock), pop setentista com outra letra saudosa ( Noites de Verão) e rockão de festa-baile ( É Tudo Rock'n'Roll). "Meu Nome é Gileno" é um disco a descobrir e certamente será uma grata surpresa para muitos, principalmente para quem deixar de lado o preconceito em torno da grife "Jovem Guarda". Parem de bobagem! o potiguar Leno, ex-Jovem Guarda, ex-parceiro de Lílian, amigão de Raul Seixas e compositor-cantor-instrumentista de mão cheia, fez e faz até hoje um rock autêntico e apaixonado. E esse petardo aqui, meus caros, é um grande momento dos anos setenta.
(Assênia "Vinil" Ossamo) - colecionadora e autora do livro inédito "Discos, Discos, Amigos à Parte"
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