por Marcelo Tieppo
Era um garoto que ainda não gostava de Beatles e de Rolling Stones, pelo menos não como gostaria alguns anos mais tarde, e que gostava mesmo era de fazer gols pelas ruas do Brás e de sofrer ao ouvir o Corinthians pelo rádio de pilha.
Época de jejum e de promessas. O compacto ganho tinha de um lado o hino do Corinthians e de outro uma marchinha gravada por Silvio Santos, que tinha um trecho assim: "quem é que não vê que o Corinthians nasceu com o destino de ser campeão, reparem que quando ele perde é porque francamente o juiz foi ladrão. É minha opinião".
O fato é que o garoto prometeu tocar o hino só no dia em que o alvinegro levantasse uma taça. A vitrola foi ajeitada em 74, 76 e no segundo jogo da final de 77, mas nada de a agulha desencantar e o grito e o hino ficavam engasgados mais uma vez.
Naquele dia 13 de outubro de 77, o garoto limpou o compacto com capricho, comprou uma agulha nova, escutou a marchinha de Silvio Santos para se inspirar e deixou tudo pronto para finalmente ouvir o hino corintiano no último volume.
Depois do gol de Basílio, os minutos finais pareciam uma eternidade, mas como não há mal que dure pra sempre, o hino tocou 23 vezes assim que Dulcidio Wanderlei Boschilla apitou o fim do jogo.
No dia seguinte, ironia do destino, o garoto participou de uma competição de escolas no programa Silvio Santos. A tal marchinha não tocou nos intervalos, mas o hino corinitiano ecoou naquele estúdio da então TV Tupi mais 23 vezes.
Em tempo: o compacto tocou tanto nos anos seguintes que não suportou tamanha emoção e foi substituído alguns anos depois.
(Marcelo Tieppo é jornalista profissional, louco por música e corinthiano desde a barriga da sua mãe)
* Texto original do blog do autor com reprodução autorizada pelo mesmo: http://giattitieppo.zip.net/index.html
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