Adoniran Barbosa foi o maior divulgador de São Paulo em seus sambas únicos, mas a recíproca, infelizmente, não foi sempre a mesma . Adoniran penou para ser reconhecido como compositor e depois de um início insípido ainda na década de 30, só voltou a compor duas décadas adiante, após criar diversos personagens ao lado do produtor Oswaldo Moles - que o consagraram no humor radiofônico - e participar de várias produções cinematográficas da época. No início dos 50, lançou dois compactos próprios, sem repercussão, até que encontrou a sua cara-metade em um jovem grupo de samba, que deu viço e originalidade às suas composições: estava decretada a imortal parceria Adoniran-Demônios da Garoa. A música nunca mais o largou, embora a carreira seguisse tortuosa: nos anos 60, um certo "Trem das Onze" deu combustível suficiente para que Adoniran e os Demônios sobrevivessem aos obstáculos da Jovem Guarda e dos Festivais, que sepultaram muita gente boa do samba. Nos 70, o compositor ainda teve grandes surpresas, ao gravar os primeiros LPs pelas mãos do obstinado produtor Pelão e ter suas gravações divulgadas por grandes intérpretes como Elis Regina e Clara Nunes. Mas tirando esses picos, o mestre sambista não foi homenageado, laureado e cultuado o suficiente em vida, o que é lastimável. São Paulo o esqueceu muitas e muitas vezes antes e depois da sua morte, em 1982. Agora, no ano de seu centenário, parece que finalmente o seu legado será reconhecido como patrimônio cultural paulista e brasileiro. Se o ano começou com o louvável lançamento de um CD tributo ( com Maria Alcina, Cristina Buarque, Oswaldinho da Cuíca, entre outros) e um furo hediondo - nenhuma escola de samba se lembrou de homenagear o centenário do compositor, nem mesmo a Vai-Vai - a coisa parece que tomou rumo de março pra cá e segue prometendo. Já rolou reedição da boa biografia do Celso Campos Jr. (Editora Globo) e shows bem cuidados ( como o memorável evento gratuito de ontem, no Ibirapuera, com a regência do maestro Amilson Godoy e participações de Jair Rodrigues, Arnaldo Antunes, Demônios da Garoa, Roger, Língua de Trapo, Eduardo Gudin, Vânia Bastos e Patty Ascher). Entre sexta-feira (30) e sábado(1), a Globo vai exibir o primeiro "Som Brasil" do ano, em homenagem ao compositor paulista. E no decorrer do ano teremos a abertura da Casa Adoniran, finalmente um museu à sua altura em São Paulo, o programa "Por Toda a Minha Vida" na Globo e o portal Adoniran na internet, idealizado por sua família ( link abaixo). Adoniran Barbosa multimídia! nada mais justo.
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