Ontem estava eu escutando na rede, músicas e depoimentos do grande menestrel Elomar. Parei em um programa documentário da TV Cultura postado no Youtube, onde alguns representantes da boa e escondida música dos grotões brasileiros explanavam sobre a genial obra de Elomar. Em uma dessas participações, gravou-se uma roda de cantoria com Saulo Laranjeira ( humorista e pesquisador cultural - o "político corrupto" da Praça) e Dércio Marques. Na hora me atentei na viola de Dércio e me lembrei que já ouvira seu nome e seus dedilhados em obras e faixas diversas da minha discoteca: em uma coletânea homenageando São Tomé das Letras; na produção de LP da Diana Pequeno, descoberta por ele ( e com quem foi casada); e no excepcional LP de sua estréia fonográfica, "Terra, Vento, Caminho" (1977), da gravadora Marcus Pereira, onde grava o ainda pouco conhecido Elomar ("Curva de Rio") e Ataualpa Yupanqui (talvez um dos primeiros brasileiros a interpretá-lo).
Como de praxe fui pesquisar um pouco mais sobre Dércio na internet; e mais uma vez levei um baita tranco: o artista faleceu em junho ( mais precisamente no dia 26/06) depois de uma operação delicada. Mais uma vez, a mídia de São Paulo e Rio ficou devendo sobre o falecimento de um legítimo e original artista de nossas raízes - saiu notinha no Terra, no Luis Nassif Online, uma boa matéria no Correio Popular de Campinas e o Wiki atualizou seu perfil ( as TVs passaram longe). O resto saiu na mídia mineira ( ele é natural de Uberaba e ultimamente vivia entre sua terra natal e a Bahia) e nordestina. Muito pouco para quem era reconhecido no meio como um dos grandes violeiros brasileiros. Para Xangai, companheiro de inúmeras apresentações, ele era "um musicaço, que deveria ser mais reconhecido por sua dignidade, competência e talento". Para Elomar, "o maior menestrel do Brasil". Violeiro, cantor, compositor, produtor e pesquisador musical, Dércio foi um dos maiores incentivadores e propagadores do folclore e das cantigas tradicionais da cultura popular. Dividiu palco com baluartes dessa tradição, como João do Vale, Heraldo do Monte, Oswaldinho do Acordeon, Elomar ( de quem foi um dos primeiros produtores), João Bá, entre tantos outros, e pesquisou exaustivamente as tradições e raízes musicais brasileiras, principalmente em seu cerrado natal.
Neste seara, destacam-se dois trabalhos primorosos: o disco "Fulejo"(Copacabana, 1983), onde mergulhou no Vale do Jequitinhonha atrás das verdadeiras congadas mineiras e o CD Folias do Brasil (2000), com foco na tradicional Folia de Reis. Ao lado de sua grande parceira em pesquisas, a irmã Doroty Marques, realizou um extenso trabalho de oficinas junto à 240 crianças de Uberlândia, que resultou no belo disco infantil "Monjolear", indicado ao prêmio Sharp em 1996. Um pouco antes já havia criado canções desse universo no disco "Anjos da Terra", para sua filha Mariana. Seu LP de 1979 pela Copacabana, "Canto Forte - Coro da Primavera", outro marco no nível do primeiro, foi produzido pela irmã Doroty e contou com um time formidável: Toninho Carrasqueira, Paulinho Pedra Azul, Oswaldinho do Acordeon, Heraldo do Monte, Zé Gomes, Irene Portela, o violonista Marco Pereira, etc. Também foi um dos primeiros compositores a inserir com seriedade o tema ecologia em suas músicas, principalmente sobre o bioma cerrado, tão presente em sua infância. Esse post, mesmo atrasado, é minha humilde homenagem à esse artista verdadeiro, que deixou pegadas profundas no solo brasileiro, principalmente em terras a muito abandonadas pelos holofotes midiáticos.
Algumas de suas canções/ interpretações:
* No programa Sr. Brasil do Rolando Boldrin: http://www.youtube.com/watch?v=8VDMwUu3LME
* Roda Gigante: http://www.youtube.com/watch?v=OFkkADAmrBM
* Marianinha: http://www.youtube.com/watch?v=QoLrR9su4yg&feature=related
* Natureza Oculta: http://www.youtube.com/watch?v=ZXU9k-mqWcA&feature=related
* Ciranda Lunar (com Daniela Lasalvia e Amauri Falabella) : http://www.youtube.com/watch?v=Rl3T9a8SeVU&feature=related
* Especial Cultura: http://www.youtube.com/watch?v=uOw3ux0qt1o&feature=related
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