22 de julho de 2020

Mais uma vez, o Rádio (Homenagem de Leonardo Engelmann a José Paulo de Andrade - 1942/2020)



Em crescente audiência pela pandemia - as pessoas, em casa, passaram a ouvir mais o Rádio - não fica difícil afirmar que a História do Rádio muitas vezes se funde à História do Brasil e até do Mundo. Foi assim com as Diretas Já, movimento popular criado em apoio à emenda Dante de Oliveira para que o voto para escolher o primeiro presidente após a ditadura fosse feita pelo povo e não por parlamentares. Foi assim com o Repórter Esso com seu jargão incontestável "o primeiro a dar as últimas", quando os japoneses atacaram Pearl Harbor e quando do término da Segunda Guerra Mundial, entre tantas outras notícias.

Mas o Rádio também se caracteriza por uma outra figura de linguagem: o de ligar a emissora com o locutor. Foi assim quando José Silvério trocou a Jovem Pan pela Bandeirantes. Eu ouvi uma das primeiras transmissões dele na nova emissora e confesso ter rido de algumas vezes em que o Silvério quase pronunciou o nome da ex-emissora... Deve ter sido assim também quando Helio Ribeiro trocou a Capital pela Bandeirantes.

Rádio Bandeirantes.

Impossível não ligar o nome da emissora a José Paulo de Andrade. Durante 63 anos, Zé Paulo atuou no radiojornalismo. Desses, 3 anos na Rádio América e 60 (sessenta!) anos pela Rádio Bandeirantes, começando como rádio-escuta de placares de jogos de futebol. 10 anos depois, ele entrou no ar em definitivo com o programa mais longevo da História do Rádio: o matinal "Pulo do Gato", até hoje no ar.

Lembra-se que falei que o Rádio se confunde à História? Mais do que isso, ligar José Paulo de Andrade ao "Pulo do Gato" lembra a música "Xuxuzinho", de Roberto e Carvalho na voz da Rita Lee: Tristão e Isolda, Maria Bonita e Lampião, Tarzan e Jane, Zé Paulo e o Pulo do Gato. O casamento rendeu o apelido de Zé do Pulo.

"Poderia ser uma sexta-feira comum, mas tudo isso vai passar", disse Zé Paulo na abertura da última edição do Pulo apresentado por ele dia 03 de julho de 2020:



A morte de Zé do Pulo pegou muita gente de surpresa: o ícone das manhãs paulistanas foi mais uma vítima da Sars-Cov-2. Mas não virou um número. Zé Paulo fez as redes sociais se encherem de memórias afetivas. A grande maioria, formada hoje por trintões e quarentões, remeteu o jornalista com a escuta por osmose enquanto se arrumava pra ir à escola na miada do gato seguida por um "Olha a hora, olha a aula" ou mais cedo com a abertura "Acorda São Paulo // Do seu sono justo // Que é hora do Pulo do Gato", com a voz empostada em seguida "Bom dia São Paulo, bom dia Brasil, manhã do dia 30 de outubro de 1994, folhinha virando nessa Primavera".

Aqui, uma reportagem da TV Cultura sobre o programa que tem mais de 110 mil ouvintes por minuto:



Zé Paulo foi agora brilhar num Estúdio onde estão Alvarenga e Ranchinho, Gil Gomes, Lombardi, Vicente Leporace, Helio Ribeiro, Ricardo Boechat, Ary Barroso, Johnny Black e tantos outros que deram a vida pelo Rádio e vida ao Rádio.

(Leonardo Engelmann - radialista e entusiasta do Rádio)

2 comentários:

  1. José Paulo de Andrade nos deixou com um grande silêncio no rádio... Vai fazer muita falta... Belo texto Léo! Abraços a todos...

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